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Já comentei aqui com vocês que sempre tive uma relação tranquila com minha fé, nunca entrei em elocubrações teóricas, nunca filosofei, nunca questionei. Por um simples e prosaico motivo: eu gosto de ter fé. Ponto.
Confesso que também tenho pouquíssima paciência com quem acaba por questionar, porque vamos e venhamos, quem leu um ou dois livros de Nietzsche, umas beiradas de Marx e vem pagar de intelectual, hum, não, não, nem escuto. Meneio a cabeça com um sorriso paralizado, pensando como posso correr dali.
Claro que inúmeras pessoas questionam, de forma sistemática e profunda, a existência de Deus. O bacana é que, em minha experiência, quanto mais intelectualizado, mais tolerante é o indivíduo e menos propenso a vomitar regras e dogmas.
E eu continuo com minha prática: topo discutir religião, claro, que é a relação humana com qualquer concepção de divindade, mas não topo discutir a existência de uma divindade.
Porque acho idiota, gente. Acho totalmente impossível de provar cientificamente.
Impossível, totalmente impossível.
E tô pouco me lixando, porque de
positivista, não tenho nada, nada mesmo.
Afinal, ainda que a importância da Ciência seja inquestionável, atribuir a ela um suposto poder absoluto é um tremendo equívoco. Afimar, meramente, que algo é ou não "científico" não termina uma discussão.
Porque as teorias de Lombroso eram aceitas como científicas e inquestionáveis, teorias racistas que chegaram a subsidiar o nazismo, por exemplo. As estratégias de normatização social que procuravam exterminar com toda "degenerescência"- nem que para isso, os asilos ficassem abarrotados de pessoas que fugiam aos padrões sociais vingentes - tudo isso era assinalado como científico. Atitudes autoritárias com essas e outras, provocaram rebeliões populares como a Revolta da Vacina.
O fato é que o autoritarismo que reside em berrar verdades absolutas é tão tacanho em um cientista quanto em um religioso.
Nós da História já abandonamos o conceito de verdade absoluta há tempos, se alguém quiser ficar com ele, beleza.
Desde o ano passado, estou indo em uma igreja Presbiteriana. Gente, adoro. Fui com uma amiga da Unicamp e foi amor à primeira vista. Gostei da comunidade, gostei da profundidade das reflexões do pastor, gostei da tolerância.
Apesar de, enquanto professora, saber da tradição cultural dos protestantes históricos, a imagem dos pentecostais estava muito forte em minha mente.
O que é um grave erro conceitual, certo? Confundir os Históricos com os Pentecostais, enfiar tudo na mesma gamela.
Mas a imagem dos pentecostais está impressa na mídia, com o eterno trinômio: terno barato + leitura canhestra da Bíblia + voz rouca aos berros.
Nessa igreja que frequento, presbiteriana, fui conhecer pastores cultos, que foram professores, conversando sobre seu doutorado e utilizando a literatura como interface nas pregações.
E, é claro, a tolerância.
Vocês sabem, tolerância, relativização dos conceitos, isso é condição
sine qua non para que eu efetivamente participe de algo.
A despeito de um querido amigo blogueiro que tirou um sarro camarada dessa minha nova tendência, acho que realmente achei um canto pra mim.
Agradeço a outro amigo, o
Bruno, por ter me levado em uma maneiríssima festa de candomblé, agradeço a Cláudia por me explicar as minúcias do catolicismo, aos amigos de outras orientações, aos amigos budistas, aos espíritas e é claro, as amigas bruxas, né,
Tati?
Todo mundo me explicou um pouco, me ensinou um pouco e eu gostei de todos.
Um amigo me contou que João XXIII disse, em relação a multiplicidade de religiões:
"
o que nos une é maior do que o que nos separa." Escolhi outro caminho não por ser o melhor, muito menos o único. Escolhi porque foi a língua que preferi falar.
Mas tenho certeza que seria feliz em qualquer outra, porque estou convencida de que Deus é poliglota.