12 setembro 2008

A plebe rude






Não é difícil dizer porque me fascinei tão rapidamente pelo movimento Anarquista.
Porque esses militantes, ainda no início do século passado, já compreendiam as mulheres como cidadãs, como pessoas que podiam estudar e produzir.
Havia espaço pra intelectuais como Berta Luz ou Maria Lacerda de Moura ( essa última, escrevendo livros com títulos como "Amai-vos e não vos multipliqueis" ou "Fascismo – filho dileto da Igreja e do Capital ") usando pedagogia Ferrer e se destacando como professora e anarquista.
O incrível nesses caras é que dentro de uma estrutura escolar violenta, autoritária, dogmática e cerceadora, eles criaram escolas mistas, onde os alunos podiam frequentar laboratórios, debater e - maravilha das maravilhas - eliminaram as avaliações com notas.
As avaliações deveriam servir para que o aluno percebesse suas falhas, seus limites, não para que fossem excluídos e/ou que houvesse uma competição feroz, ou pior ainda, que fossem vítimas de vinganças de professores hostis.
Claro que agora, com todos os alunos enlatados na concepção de que é necessário haver nota, fica difícil nadar contra a maré. Estudar sem esse tipo de avaliação requer uma autonomia, uma independência que os alunos poucas vezes são estimulados a ter.
Meu primo, professor da faculdade de medicina em uma univerdidade federal concorridíssima, diz que tem ímpetos de matar a criatura, quando um aluno pergunta:
" isso cai na prova?"
Preferia queimar todas as provas, buscando um aluno que estudasse por outros motivos, como queriam meus anarquistas.
Há alguns anos, pensei em escrever um trabalho comparando a concepção de imprensa que eles tinham, com a veiculada na chamada imprensa burguesa. Porque os libertários tinham a certeza de que a imprensa era um meio de divulgação de idéias, que era uma ferramenta. Nunca tentaram entrar no teatrinho da "imparcialidade".
Não escrevi esse trabalho, mas participei de duas pesquisas que incluiam os ácratas e isso me deu a oportunidade de ficar horas no Arquivo Edgard Leuenroth, lendo sofregamente jornais como A Plebe, O amigo do Povo, A Batalha, entre tantos outros.
Melhor do que isso, impossível.
Bom, há algo melhor sim. melhor seria se essa perspectiva anarquista, esse estímulo a autonomia, a cooperação, a ação do coletivo, fosse desenvolvida por todos. Mas eu confesso que já não espero mais isso.

09 setembro 2008

Anos Dourados

















Anos dourados
Chico Buarque
Composição: Tom Jobim/Chico Buarque

Parece que dizes
Te amo, Maria
Na fotografia
Estamos felizes
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador
Vai ser engraçado
Se tens um novo amor
Me vejo a teu lado
Te amo?
Não lembro
Parece dezembro
De um ano dourado
Parece bolero
Te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
E desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais



06 setembro 2008

Ser ou não ser? Eis a questão.
















Batman é um filme tremendo. Se você ainda não assistiu, vá correndo ao cinema mais próximo, porque está perdendo um filme incrível.
Eu tentei não ler nada sobre ele, porque não queria nenhum spoiler estragando minha leitura do filme, mas a trágica morte de Heath Ledger acabou me fazendo ler sobre ele e sua atuação. Então, o que vou dizer não me surpreendeu e nem vai surpreender vocês: Ledger está absolutamente impressionante como Coringa. Aterrorizante, irônico, "senhor do caos" como ele mesmo se apresenta, um legítimo morador do Arkan.
E é exatamente isso que me seduz como leitora, a loucura presente nos inimigos do Cavaleiro das Trevas, loucura essa que os faz ser encerrados no Asilo Arkan, e não presos, porque mais do que meros ladrões, eles são psicóticos.
Talvez tanto quando o próprio Batman, na dualidade tão bem comentada pelo Rafael: Batman como um duplo em relação ao Coringa, ambos sendo lados equivalentes de uma mesma moeda.
Essa dualidade parece ser expressa novamente em Duas Caras, a maior expressão do maniqueísmo em termos de HQ, em minha opinião.
A transformação de Bruce em Batman, a forma como ele se refere ao Morcego, como Outro, como Entidade, é incrivelmente interessante. A mudança da voz - que fica roucamente sexy - é um dos passos da caracterização que me lembra o método stanislavski. Nesse caso, Bruce Wayne, o "ator" se apropria de um personagem "Batman", e se envolve com ele, em um mergulho frenético. Uma vez dentro desse personagem, tomado por ele, paulatinamente se torna o próprio morcego e Bruce Wayne se torna cada vez mais o "personagem": o mauricinho babaca e mulherengo.
Então...quem seria real? Batman ou Bruce?