27 abril 2010

Trabalho de preso



















"Trabalho de preso" era como denominávamos aquele trabalho desgraçado, repetitivo, chato pra burro, que nos dava um salarioziiinho, bem zinho, chumbrega, que era depositado em nossas parcas contas no final dos 80.

Nessa época eu trabalhava em um lugar que não parava - já contei uma de nossas façanhas aqui, quando o rodízio dos turnos nos permitia viver umas horas sem o acoite de Dona Onça, a "otoridade" do setor - havia sempre alguém trabalhando.

Como toda "otoridade' burocrática, D. Onça era chata, mesquinha e autoritária.

Só quem trabalhou em lugares caóticos sabe que o caos gera um tipo muito idiossincrático de humor, afinal, sem isso não há chances de sobrevivência.

Uma das piadas idiotas que nos faziam rir era chamar o café de veneno. E era um veneno: era horroroso e tenho certeza que nossas insistentes e irritantes conversas sobre como o-café-era-horrível, faziam com que a fulana da limpeza caprichasse em torná-lo ainda pior. Pequenas vinganças, sacumé.

Havia um dos digitadores - porque essa era nossa chatérrima função - que era uma figura: engraçado, emendava uma piada na outra, um deboche no outro e fazia todo mundo se acabar de rir. Menos d.Onça, óbvio. Tadim da d. Onça.

Me lembro dele chamando todo mundo, estalando os dedos:

- gente, corre....hoje o veneno tá demais.....

Para manter a temperatura adequada aos computadores, a fulana deixava a sala gelada. Esse cara, um negão gordo e alto, colocava o capuz da blusa e amarrava, se transformando em um versão extra gg da fofolete. E agourava a maluca:

- se Deus for justo ela tomba...

O território ali era de risadas, pois só isso fazia com que as horas passadas ali pudessem ser "suportáveis". É a criação no caos.

Em um final de ano, quando tiramos o amigo secreto, trocamos bilhetinhos por um tempo. Os bilhetinhos, endereçados aos amigos ( "para vivien de seu amigo secreto", "para joão de seu amigo secreto"balablabl) eram colocados em uma caixinha e trocados algumas vezes ao dia.

Acontece que o 'amigo secreto" que havia me tirado deixava textos tão engraçados, tão interessantes que o pessoal pedia pra ler alto todo dia. Parava tudo, todo mundo queria ler o texto que eu recebia.

No início, percebiam que eu ria sozinha lendo os tais bilhetes, porque eram ótimos. Curiosos, os outros funcionários começaram a pedir pra ler também e com todo bom "boca a boca" , fizeram uma bela propaganda dos textos que eu recebia.Em pouco tempo eu tinha que ler em voz alta pra todos, que rolavam de rir com meu escritor particular.

Eu dividia os textos, mas os chocolates que ele colocava eram só pra mim, porque com chocolate não se brinca.

O grande lance era descobrir quem era esse meu "amigo secreto escritor".

Fofocaiadas à parte, só soubemos quem era no dia da festa de fim de ano, onde ganhei um livro incrível do Thomas Mann e ele as glórias dos fãs.

Deve ter sido o primeiro sucesso literário dele.

Será que virou blogueiro?












*******publicado originalmente em abril de 2009.

25 abril 2010

Café Filosófico




Um dos lugares que gosto de ir em Campinas é no centro cultural da cpfl. Pra quem ainda não foi, fica a dica: uma programação que cobre a semana toda, com palestras, filmes, peças teatrais.
Eu gosto, em especial, da programação de sexta, do tal Café Filosófico. ( Se você não é da região, pode acompanhar a programação pela web ou ver a reapresentação pela Cultura, aos domingos, vale a pena)
O lugar é agradável: antes do Café abrir, você pode fazer hora em um lounge gostoso, com dezenas de revistas sobre Cultura e História, brasileiras e estrangeiras, um luxo.
Depois que o acesso é liberado, é só entrar e esperar. Mas isso dentro de um bar/restaurante gostoso, onde você pode petiscar alguma coisa ou jantar mesmo. Eu sugiro o creme de palmito ( perfeito) ou uma porçãozinha saborosa com beringela, tomate seco e sardella.
Dá pra conversar, beber, comer. Às sete começa a apresentação. É inegável o bom gosto, eles convidam professores interessantíssimos no naipe de Olgária Matos e Renato Janine Ribeiro - ambos são, inclusive, curadores de séries.
Nessa sexta, fui ver Yves de La Taille. Ele chegou com seu visual de homem-do-saco e falou lindamente.




















Sua fala foi sobre a questão da relação moral que existe na educação. Ele inicia sua fala dizendo que Camus, ao preencher uma ficha, ainda criança, escreve que sua mãe é doméstica e se envergonha. Rapidamente, se envergonha de sua vergonha, tendo em vista que sua relação e respeito pela mãe deveria ser maior do que seu problema em ter ou não dinheiro.
A partir daí, começa sua fala, perguntando quantas crianças teria a segunda vergonha citada, atualmente.
Compara duas relações metafóricas com a vida: o peregrino e o turista. Carregando propositalmente nas tintas, apresenta alguém que se insere em culturas, que valoriza o processo de caminhada e outro que exige rapidez e deseja ser servido.
"O peregrino deseja experiências na sua trajetória, o turista quer berimbaus".
Insistindo na relação consumista, superficial e "clientelista" ( na falta de uma expressão adequada) do sujeito com a vida e a sociedade, fala sobre o tédio, suicídio e a fragilidade nas relações.
Ao argumentar que a sociedade atual se preserva da dor ou da ameaça de dor, que necessita de ações, diversões e prazer constantes - eu não conseguia parar de penar em Admirável Mundo Novo - afirma:" Romeu e Julieta seriam impensáveis hoje"
Eu gostei. Não vou me alongar aqui, volto a falar sobre isso depois, mas gostei da abordagem e concordo em grande parte.
Como já disse aqui, discordo da errônea nostalgia por um passado idílico familiar, mas ele não faz isso. Um ou outro que levantou e perguntou fez, mas ele não.
Eu tive vontade de perguntar, mas me intimidei diante da câmera e fiquei quieta com minha coca-cola. Talvez outro dia, talvez outro dia.
















Comprei o livro e ele tem uma estrutura simples, simples: uma conversa entre ele o o Cortella. É uma leitura mais arejada, mais palatável, não me parece ter o rigor e a profundidade de uma obra acadêmica, mas me pareceu bastante interessante. Parece cumprir seu propósito. Mas isso eu conto quando resenhar.
Sexta estarei lá de novo, pra ver Sérgio Rizzo falando sobre a representação da família no cinema.
Bora?

20 abril 2010

Distorções






Tem muita coisa divertida nesse mundo, mas uma das mais engraçadas é a super valorização do ego. Olha só, não nego que todos tempos um ladinho - mais ou menos escondido - que seja um tanto quanto ególatra, não nego mesmo.
Mas tudo tem limite nessa vida.
Auto-elogio setenta vezes por dia? Hum...desculpaê, mas é coisa de bicho inseguro, que chora no chuveiro.
Eu sei que é triste, mas eu acho hilário.

18 abril 2010

sááááááábado de sol!

































Sexta feira meu filho foi em um show, na verdade, no seu primeiro show. Ele tem 17 e eu, até agora, não havia deixado ir. Antes que pensem que sou A repressora, já digo que não sou, ele se locomove sozinho, não é do gênero mamãe-leva desde os 13.
Faz compras pra mim, divide responsabilidades ( bem, isso quando ele não me enrola) e tal. Mas sair à noite pra mim é complicado: tenho medo de uma gama tão variada de coisas que nem começo a dizer.
O fato é que uma hora ele teria que ir. Foi com a namorada e um grupo de amigos.
Combinei dele me ligar antes de entrar, quando saísse e etc.
Você ligou pra mim? Ele também não.
E quem disse que eu dormi? Gente, a aflição de não saber se está tudo ok, de não ver o filho debaixo da sua asa, protegido de tudo e de todos, é muiiiito feroz.
Nada de sono, a noite passou e eu ali, olhão aberto.
Seis horas da manhã, definitivamente em pé, fui trabalhar.
O dia todo, aulas expositivas em um cursinho para enem: pauleira, aula, aula, aula. Café, água, mais água, aula, aula, mais café, um pouco mais de café, água, água.
O bacana é que os alunos estão interessados, tudo flui, é um prazer trabalhar com eles.
Fim de tarde e fim de aulas, encontro meu filho, e ele com a cara mais santa do mundo, diz:
- Desculpa, esqueci de te ligar.
Resultado? Não fui na peça que iria. Não fui no show que eu já tinha até o ingresso, porque adoro Tais Reganeli. Dava pra fazer alguma coisa além de vegetar na frente da tv?
Não dava. Filhos, ah, filhos.

10 abril 2010

@EncForadoEixo



A coisa já começou certa pelo título: uma proposta que tira o foco dos grandes centros e passa a oferecer discussões em outras paragens.
Eu vi o #encForadoEixo divulgado no twitter, vi que ia ser aqui em Campinas e fui.
Cheguei totalmente estranha no ninho, imediatamente percebi que a maioria transitava por áreas ligadas à publicidade e não é esse meu foco de interesse. ( A não ser quando é pra ler os textos perspicazes e críticos da Denise, Lola e Baxt). Enfim.
Confesso que pensei como Angeli faria a festa, traduzinho caricaturalmente os tipos presentes...porque todos somos tipos, vamos combinar. ( Nada pessoal, queridos, quando vou a encontros de historiadores, penso a mesma coisa.)
O encontro teve um caráter informal que me agradou e que vai ao encontro da própria internet, que ao aproximar pessoas que forma substancial, quebrou certos paradigmas de conduta.
O início foi antológico: um professor da PUCC, Wagner Mello, abriu as apresentações.
Começou demonstrando total falta de familiaridade com as novas propostas midiáticas e educação, pois, ao se sentir incomodado com o banner eletrônico que reproduzia uma página de twitter, FICOU EM PÉ NA FRENTE, eu juro sobre o pc, ele fez isso. Ficou lá, em pé, para que as pessoas prestassem atenção somente nele.
Olha, alguém que não compreendeu que nativos digitais conseguem assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, não pode falar de novas mídias e educação.
Ele divagou sem transparência conceitual: citou alguns autores de forma superficial que ficaram ali, sem que houvesse, efetivamente, uma condução de seu raciocínio.
E citou Aristóteles em inglês. Gente, foi uma tentativa bobinha de dar um ar acadêmico à apresentação. Quer citar no original? Cita em grego, então...rs
De resto, a apresentação mostrou tentativas ainda rudimentares de se implantar elementos relacionados à novas mídias dentro da faculdade campineira.
E não pensem que vou puxar sardinha para minha universidade não, porque não vou. Já ouvi cada batatada na Unicamp sobre internet e afins que nem sei como sobrevivi.
Acredito que a Educação como um todo continua encerrada em um olhar extremamente preconceituoso em relação à rede e suas - gingantescas - possibilidades. Para além disso, há que se perceber um receio patológico em minha classe em relação à mudança de paradigmas ( Eu sempre juro que não vou repetir clichês, mas é mais forte do que eu, me domina.)
Ao final da apresentação, depois de ter sido convidado a falar sobre cases de sucesso por um integrante do auditório e NÃO fazendo isso a contento - por razões óbvias - o palestrante foi indagado por @cerasoli da seguinte forma:
- Professor, esquecemos de perguntar: qual é sua arroba?
O professor, diante do mediador atônito, solta uma sonora gargalhada e diz:
- Isso depois eu respondo.
Pessoas, pessoas, ou ele não entendeu a pergunta, ou não tem twitter. Seja um caso ou outro, o que ele estava fazendo ali?
Para deixar o público feliz, entretanto, tivemos a presença de @luizcarioca, redator e blogueiro, que acertou a mão o tempo todo. Ou quase.
Citou os autores na mosca e colocou um vídeo que eu procurava já tempos, pois só havia assistido em um curso, Michel Serres, relativizando as "perdas" da tecnologia.
G-e-n-i-a-l.
O redator narrou experiência profissional, contou situações, deixou claro que opta por experimentar algo para realmente compreender seu processo, como fez com seu Blog: criou um para entender sua dinâmica.
Eu disse pra ele que achava que tinha mandando um grande unfollow, mas nem me lembrava o motivo, mas ele já havia avisado a plateia que sua fala nem sempre é suave, mas pode pegar na veia mesmo. Por isso, volta e meia, recebe uns unfollows nervosos. Melhor assim, nada pior do que povo que faz média.
É importante salientar que @luizcarioca tem um domínio fácil do público e que, certamente, todo mundo ficaria muito mais tempo ouvindo-o falar sobre sua forma de enxergar a rede.
Claro que ao se definir como anarquista eu imaginei Kropotkin rolando em cólicas: publicidade/consumo e anarquia só podem estar na mesma frase se for para um negar o outro, né, crianças?
Após um coffe que propiciou um papo com as pessoas, a palestra final foi do @interney: essa passeou por outras paragens.
Edney Souza, o @interney, se absteve de citar autores: fez uma apresentação correta, enxuta, pragmática. Optou por não discutir essas questões em nível acadêmico e mandou bala fazendo uma apresentação que era um relato do trabalho feito pelas agências publicitárias que utilizam novas mídias, especificamente, a @pólvora.
Para meus espanto total, pouquíssimas pessoas tinham visto o vídeo do greenpeace, censurado pela Nestlé, fato que o inspirou a dar um cutucão bem dado. Afinal, povo, a plateia ali não era formada por profissionais que se interessam por novas mídias e blablablá? Putz, mexe a bunda, cidadão.
Também me surpreendeu a pouca quantidade de perguntas para ele: visto que é uma das pessoas pioneiras nessa área, não havia nada que eles quisessem saber?
Estranho.
Mas creio que a plateia tenha gostado, pois a apresentação teve um forte cunho profissional: o cara sabia o que estava falando. Não estava baseando em hipóteses ou suposições, estava falando sobre algo do seu cotidiano.
Eu gostei do Encontro, certamente irei nos outros: só não prometo elogiar tudo ou ser "neutra", porque ninguém faz História e sai acreditando em "neutralidade". Mas prometo ser justa, ou procurar ser.

09 abril 2010

O medo da teletela









Acho uma delícia revisitar os autores. Imagino o quanto do próprio leitor impregna a obra, a tal ponto de fazer a releitura, uma operação divertida e surpreendente.
Sempre me lembro que quando me divorciei, li A Peste - eu sei, eu sei, Camus foi escolha equivocada para o momento - e fiquei barbaramente impressionada com o livro. A idéia de estar acuado, limitado, impossibilitado de se deslocar, o medo presente, foram extremamente impactantes para mim.
Anos mais tarde, ainda que tenha gostado da mesma forma, não senti a asfixia da primeira leitura, pois minha localização, enquanto leitora, era outra.
Lembro perfeitamente do impacto que senti quando li 1984 pela primeira vez. Era adolescente e de lá pra cá, reli umas tantas vezes. Fiz isso por esses dias.
A ácida crítica de Orwell tem o poder de ser atual, ainda que a esquerda tenha se remodelado. Creio que todas as críticas gigantescas que ele faz, cabem em qualquer estrutura totalitarista, pois o controle é sempre sua base, mas é indiscutivelmente - infelizmente - que os socos atingem ao que muita gente - como eu, por exemplo - sonhou durante muito tempo.
Imagino que a esquerda só poderá ter uma nova face, que responda às necessidades comptemporâneas, se tiver a coragem de enfrentar discutir elementos como esse.
Discutir a ficção macabra que teve base em uma realidade não menos macabra, como foi o punho solene de Stálin.
Por mais que a direita me enoje - e me enoja totalmente - não posso mais deixar de ver o mundo sem as reformulações, sem a perestroika, sem a glasnot e sem...viva!..o Grande Irmão.
De certa forma, isso me deixa angustiada, me deixa com a síndrome de geração coca-cola, pois ao criticar e ter ojeriza ao capitalismo, não encontro esperança no que pensava ser o socialismo.
De mais a mais, conheço pessoas tão controladas, tão vigiadas, que vivem uma vida sem o mínimo de privacidade, em um arremedo assustador da ficção de Orwell.
O que prova, sem dúvida, que os controladores se mordem de medo de perder seus controlados....e isso seria tão, tão interessante.


***publicado originalmente em 2008.

vote em.....


Como estou contando as aventuras das quintas séries, vale a pena lembrar disso aqui: durante muitos anos, eu utilizei uma estratégia lúdica pra discutir questões relacionadas ao processo democrático.

Como as crianças tinham que discutir conceitos como cidadania, democracia e poder, percebendo as diferenças entre essas concepções quando de sua criação e hoje, fazíamos o seguinte: cada grupo escolhia um personagem mitológico grego e se preparava pra sua eleição.Formavam uma equipe que iria fazer sua campanha.

Começavam com uma reunião pra dividir tarefas, passavam pra pesquisa sobre o seu personagem e dos outros, faziam material de propaganda, discursos, jingles. E se preparavam pra o momento que mais gostavam, a hora do debate.

A idéia era utilizar a pesquisa para "questionar" a competência do outro candidato. Assim, eles tinham a seguinte estrutura: pergunta - resposta - réplica - tréplica. Dois cronometravam e todos debatiam.

- Como você pode defender o seu candidato....? Zeus era infiel!

- Não dá pra confundir vida privada com vida pública!!!

- Mas se ele trai a mulher...pode trair os eleitores....balbalbalbal


@@@@@@


- Seu candidato estimula o alcoolismo!

- Dionísio não prega o alcoolismo , isso fazia parte da cultura deles e...bnlabalbalbal


@@@@@@



- Sua canditada, Athena, é incoerente. Ela é a deusa da sabedoria e da guerra..!

- você está sendo anacrônico, eles pensavam diferente da gente e....


( cada vez que eles falavam "anacrônico" eu tinha um treco)



@@@@@@


- Sua candidata é fútil, só pensa em beleza exterior..

- ISSO não é verdade, Afrodite se casou com Hefestos, o deus mais feio de todos!

- casou porque foi obrigaaaaaaada e blablabla...



Isso durava algumas aulas, eles discutiam um pouco antes de dar a resposta, suados e felizes, alguns fantasiados, outros com crachá do seu candidato.


Em geral, respeitavam as regras: não poderiam dar brindes ou colocar cartazes fora da delimitação.Palavrões também eram proibidos, mas às vezes a própria "denúncia" era um problema...( "professora, ele falou foda, falou fooooooda, foooooooodddaaaaa...!!!!")

Algumas mães entravam na jogava, ajudando com o material que eles traziam, aparecia , por vezes, um Poseidon com barba , coroa e tridente, por exemplo.

A experiência foi muito interessante pra mim e, pelo que notei, pros meninos também. Como acompanhei várias turmas crescendo, conversamos sobre essa atividade anos depois. Até hoje recebo mensagens por email e no orkut.
Meu projeto é que eles vivenciassem o processo democrático, experimentando-0 , envolvendo-se nele. Gostava de perceber que assim eles também desenvolviam a argumentação, o trabalho em equipe, a ética. Recebi denúncias de "compra de votos" que deram em "cpi" extremamente rigorosas. Quero pensar que contribui, ainda que de forma simples, pra formação da cidadania desses meninos.

E eu me diverti muito, muito mesmo.




@@@ publicado originalmente em 2007.

01 abril 2010

Novela : lado A e lado B



Eu vejo novela e gosto: só colocam porcaria no ar porque querem, afinal, existem autores de talendo e atores fantásticos.
O caso é que seriar uma história não faz dela, necessariamente, uma má história. Mas como já contei aqui, conversando com um amigo que hoje é roteirista da Globo, ouvi algo mais ou menos assim; "Temos que escrever porcaria, porque nivelamos por baixo, competimos com porcaria...". Triste, heim?
Mas o fato é que assisto. E sempre achei que comunicação de massa TEM que ser discutido, dada o seu poder, a sua inserção social.
Vamulá.
No caso da atual novela das oito, Viver a Vida, tenho alguns pitacos a dar:

* Atuação magistral de Aline Moraes e Lilian Cabral, que conseguem se superar a cada trabalho.

* Mateus Solano arrasando na pele dos gêmeos. Além de um ator de primeira, um fofo, uma coisa.

* Fotografia deliciosa, já vale a novela.

* Bárbara Paz arrasando como anoréxica bebum: além de uma atuação brilhante, um tema complexo e importante que massacra jovens brasileiras.

* Todas as informações sobre acessibilidade dadas na novela, sem papo com cara de sermão barato, estão imbuídas na história de forma inteligente.


Mas eu quero é falar do lado B:

* Sei que infidelidade é comum, rola e tal. Mas nessa novela, TOOODOS são infiéis sistematicamente. Em uma festa, o namorado flerta com uma louca qualquer, nas fuças na namoradinha jovem. Em outra, o marido dá cantada em uma desconhecida, enquanto a mulher enche a cara. A mesma mulher que, entediada de sua vida vazia, tem um grande dilema : trair ou não trair. Fato que é motivo de piadas da amiga.
A amiga da personagem principal, observando a primeira crise do casamento desta, diz:

- Relacionamento é como cristal, partiu, não tem jeito. Joga fora e compra outro.

Juro em cima do pc que ouvi essa pérola.
Vamos comprar, gente, é promoção. Ainda que a infidelidade exista, que as crises existam e que casamentos acabem, essas interpretações levianas são um saco.
Fica tudo sendo a mesma coisa: artigo que pode ser comprado.
Aí é a prima que avança no quase-caso da outra prima, a prima que dá corda pro marido da casada corna( aqueeeela que divide a vida entre academia e ...academia).



* o personagem do José Mayer merece um tópico só pra ele: é o protótipo do tio sukita em sua pior versão. O autor teve a infelicidade de criar cenas em que ele agride Dora - uma personagem dúbia e estranha - e a despeito disso, é recebido por ela em um arremedo de amor-ódio que não cola.
Quando ela diz que vai trabalhar na casa, ele retruca, com vozinha rouca ( péssimo):
- Vai trabalhar aqui...tem que fazer o serviço todo.
Quase vomitei, povo.
O autor acha meeeeesmo isso erótico? Onde? Em novela mexicana ou peça de circo do interior?


* Trabalho infantil me assusta, já comentei aqui, já coloquei a Beth Davis aterrorizando o público em O que Terá acontecido a Baby Jane? Porque efetivamente acho um risco expor crianças ao universo do trabalho, ao universo da ficção e todas as suas neuras.
Aquela menininha é uma fofa, mas eu penso nos astros mirins norte americanos, todos surtados e tenho pena da garota.


Esses são alguns dos pontos que me chamam a atenção na novela. Pena, né? Com tanta gente talentosa, eles ainda escolhem o Manoel Carlos do Leblon e suas velhas histórias repetidas.