
Fui assistir
Tropa de Elite II com Daniel nesse feriado. Adorei.
No começo,o discurso de extrema direita do capitão - ou melhor, coronel - Nascimento, interpretado de forma genial pelo insuperável Wagner Moura, me arrepiou. Caraca. Pensei: mas que porcaria, vou ter que ouvir mesmo isso? Vou ter que ver meus alunos desenhando a caveira como belos inocentes úteis? Vou ouvir todos os reaças dessa cidade elogiarem essa fala?
Wagner Moura é um cara que existe, sua maneira de criar o personagem é dotada de uma intensidade rara e assustadora. Seu carisma natural é transferido para o persongaem, o que também é um problema.
Mas creio que esse inicio seja fundamental para o desenrolar do filme, pois ao perceber que seu inimigo é outro, Nascimento vai caminhando em convergência ao seu duplo/oposto/perfeito: o personagem Fraga, defensor dos direitos humanos, deputado e ...segundo marido da ex do capitão. Assim,os dois opostos vão se alinhando ao descobrirem inimigos em comum.
Fraga é apresentado ao público em uma aula - que eu gostei,aliás - e ganha território ao negociar com presos rebelados. Ele aé chamado para negociar com os presos e segue rapidamente, em um helicóptero. Para desgosto do BOPE, Fraga se nega a entrar com colete, dando legitimidade e força ao personagem, que dialoga firmemente com os revoltosos.
Para não furar o filme com
spolier, me limito a dizer que há uma incrivel transformação no personagem central, que atinge seu ápice no final.( Não conto, oras, assistam.) Além disso, a certeira e caricatural crítica ao politicos presos ao poder da Mídia, à corrupção policial e às milicias trazem angústia ao espectador:
como conviver com essa lama toda? É algo pra se pensar. E pra se discutir.
Outro ponto interessante é a apresentação da midia ralé, do jornalismo marrom de último nível, algo que se vê com frequencia nas tvs e que, infelizmente, tem público garantido. Ao ouvir as risadas da plateia diante de um ator que apresentava um desses programas de sensacionalismo barato, me perguntava se riam dele ou com ele.E quer saber? Acho que era com ele mesmo. Triste isso.
Algo que me perturba muito é a associação que parte da molecada faz entre o Bope, a ausência de corrupção e a tortura. Os policiais desse batalhão, aparentemente contrários às maracutaias tão comuns dentro das outras corpirações, não titubeiam em usar qualquer tipo de tortura e/ou assassinatos. Assim, para um espectador desavisado, vai tudo no mesmo pacote, e a porrada e os assassinatos seriam legítimos.
Vale a pena ficar atento para o discurso do protagonista no final. Vale a pena atentar para isso.
Qualquer outro que assista e que tenha o menos senso crítico vai compreender.Longe de fazer a apologia das estratégias do Bope, o filme à lá Senhor da Guerra, aponta outras esferas e infinitas possibilidades de violência e exploração.
O
Alex Castro diz que falar que algo é um "soco no estômago" não é elogio. Mas esse filme é isso: um forte, incômodo e doloroso soco no estômago.