28 março 2010

"Mais do que a "alegria da posse", promete a alegria da inscrição na sociedade." Clóvis de Barros Filho (ECA)







Para quem se lembra dessa peça, ela foi veiculada por um tempo e posteriormente proibida pelo CONAR. Uma ONG elaborou uma outra, onde crianças de rua eram mostradas em diversas situações, sob o "mantra" : "eu não tenho, você tem...", como uma forma de responder à essa lunática propaganda eutenhovocênãoteeeeeem.

O documentário abaixo é fantástico, se tiver tempo, assista. Refletir sobre a criação de um pequeno exército consumista é necessário, pois manusear o desejo infantil e transformá-lo em um mecanismo de lucro desenfreado é algo assustador.










25 março 2010

Alunos, alunos e alunos ( com atualizações)


Frases que ouvi essa semana;

"Prô, você tem blog, twitter...você é moderninha.."

(Moderninha, aguenta essa.;0)

Enquanto começamos a preparar o projeto Livrinho de Pré-história, na quinta série:

"Minha cabeça está tão cheia de ideias que eu acho que vai explodir!" (Gabriel)

Claro que eu fico hiper feliz com isso, morro de rir, acho o máximo. Mas como nem tudo são flores nesse mundão de meu Deus, um outro menino, na mesma sala, no mesmo projeto, decreta;

"Eu odeio esse livro, vou odiar fazer, vou odiar o tempo todo."


O que me anima é aluno empolgado. Nada mais desanimador do que aluno com cara de nada, preguiça de respirar e ombros caídos. Ai, meus sais, não aguento.
Adoro quando a sexta inteira levanta a mão, perguntando milhares, milhões de coisas que parecem brotar naquelas cabecinhas geniais.
Os clássicos.."e se?"

" E se o cara é suserano de um e vassalo de outro, mas os dois estão em guerra...quem ele ajuda?"

" E se o mensageiro não chegar a tempo?"

E as clássicas perguntas romãnticas:

" E se o senhor Feudal se apaixonasse por uma serva?"

O bacana é tentar mostrar uma outra forma de olhar e sentir o mundo, diferente da nossa, com outras cores e valores.
Mas é divertido, por que o "e se" é quase sem fim.

As oitavas fizeram seu primeiro debate, uma das turmas foi muito bem, considerando-se ser a primeira atividade e não ter tido pesquisa, apenas preparação simples.
Mas ainda penso que preciso de RedBull para conquistá-los.


A sétima entende rápido, lê bem e escreve melhor ainda. Em uma atividade simples, um mini seminário, grupos pensam em fazer power point, grupos pensam em se apresentar como uma pequena peça.
E me procuram, de laptop na mão, para ler os mini roteiros bem bolados sobre Absolutismo.


****

Publiquei esse post hoje à tarde, na escola. De lá, fui com outros professores em uma gostosa Temakeria da cidade. Um dos donos, um jovem muito bonito, olha e diz:
- Você não é a Vivien?

Gente, foi meu aluno. Lembro dele garoto, foi demais reencontrá-lo. Fiquei sabendo que outros da época do Farroupilha - escola que adorei trabalhar - aparecem por lá.
As lembranças vem aos borbotões: aulas, trabalhos, provas, barracos, bagunças, broncas, risadas. Cara, ser professora há 16 anos é algo muito engraçado. E muito bom.

E é por isso que eu acho que estou onde eu realmente deveria estar.

21 março 2010

Eu gosto de domingo

















Implico com quem não gosta de domingo. Acho clichê murmurar..."hum, quando escuto a musiquinha do Fantástico...". Ah, cara, com tv a cabo, livros, internet e O MUNDO TODO, só assiste Fantástico quem quer.
Ainda tropeço com quem diz que não tem "tempo para ler". Gente, nem vou me dar ao trabalho de argumentar, certo?
De mais a mais, sempre fui uma ardorosa defensora da segunda feira: dia internacional do começo das dietas, dos novos projetos, dia de rasgar foto de ex, dia de procurar novos rumos. Segunda é um grande dia, gente, é sim.
Quarta já é complicado: emperrada no meio da semana, indecisa, algo assim, meio PSDB.
Segunda não, segunda se coloca.
Hoje fiquei um tempão - na verdade, enquanto escrevo, estou ouvindo - um canal no youtube que descobri graças à Época: o MasPoxaVida, engraçadíssimo.
Existe uma dúvida quando à veracidade do autor: o fulano é um real geek ou um ator fazendo esse personagem?
Pouco importa para mim, já que o texto é incrivelmente engraçado e suas piadas realmente fazem parte do universo geek. Eu sugiro que você assista, sempre é bom encontrar novas formas de humor.
De resto, planejo passar no shopping com Daniel. Vou reformar seu quarto e há muita coisa pra escolher, como cama, estantes, etc.
Mas domingo de professor nunca é só lazer, nunquinha da silva; uma boa pilha de textos da moçada da quinta série me espera para corrigir e devolver para a reescrita.
Nosso projeto é escrever um livrinho - totalmente manuscrito, ilustrado, coisa e tal - sobre pré-História. Depois scaneio alguns e mostro aqui.
Bom domingão a todos.

18 março 2010

alunos e avós I


Essa história tem uns dez anos. Eu trabalhava em uma escola deliciosa, com sala ambiente, turma pequena e interessante, onde experimentei e aprendi muito.
Uma das atividades que eu fazia e gostava muito era ajudar as crianças a escrever a biografia dos avós, trabalhos que saiam comoventes, lindos.
Uma das vezes, pedi a uma aluna que convidasse sua avó pra conversar com a turma. Elas toparam: preparei a moçadinha - uma turma maluca de quinta série, e já falei como as turmas de quinta série são...- pra receber nossa convidada.
Ela era uma senhora já bem idosa, bonita, simpática, cabelinho branco e colar de pérolas, "Composta" - diria minha avó.
Ela era ucraniana, falou sobre sua infância, as brincadeiras, família, tudo o que eles perguntavam.
A curiosidade deles era infindável, foi delicioso. Ela era o centro das atenções, da forma mais respeitosa que vocês puderem imaginar.
Contou que ainda muito jovem, fez um treinamento como paraquedista e foi para o exército, trabalhar como uma espécie de enfermeira, durante a segunda grande guerra. Contou sobre toda as mudanças trazidas pela guerra.
Explicou que foi se despedir dos pais, que choravam muito, e disse que em alguns meses eles se veriam novamente, não precisavam se preocupar.Ela fez uma pequena, emocionada e significativa pausa e acrescentou:
- Eu nunca mais vi meus pais.
A turma estava em um silêncio total. Jamais vou me esquecer da carinha deles, quando ouviram essa frase. Contou sobre sua vinda para o Brasil, sobre a pobreza que passou, sobre a barreira da língua. Disse o quanto se esforçaram para que todos os - oito - filhos estudassem, falou com orgulho sobre isso, sobre filhos e netos brasileiros.Saiu da sala com beijos das crianças e tão feliz quanto eles. E ficou na minha história pra sempre.***publicado originalmente em abril de 2007.

16 março 2010

Releituras e novas leituras


Faz algumas semanas li Amoz Oz pela primeira vez. Não sabia e nem sei nada sobre ele, comprei o livro por acaso, em uma dessas promoções da Fnac. ADOREI.
O livro se chama A Caixa Preta e é essa "caixa preta" que abrimos aos poucos , através da narrativa dele. O texto todo é elaborado através de cartas e telegramas de diferentes personagens, onde é possível construir e desconstruir a imagem que fazemos de cada um deles e da própria história.Delicioso, inquietante.
Comecei a ler Scott Fitzgerald por esses tempos: não sei se gostei ou não. Não detestei, dá pra ler. Olha que coisa deprimente de se dizer de um autor!! "dá pra ler"...é mais ou menos quando uma mulher conhece um homem e diz "ah, ele é educado". Bom, se ele é "educado", não sobrou um só elogio pra fazer, um caos.Mas assim que terminar o livro, comento melhor.
Reli A Dama das Camélias - não riam! ando assim, com romantismos infantis...rs - ele tem sim sua beleza, claro. Apesar de repetir o esquema "mulher fatal se apaixona e se torna imbecil". E o detalhe dela usar camélias brancas vinte e cinco dias por mês e vermelhas durante cinco....eca....rs.....que nojo! "não venha na minha casa hoje, camélia vermelha".
Reli A Idade da Razão, do Sartre. Lembro que tinha me impactado tanto!
Li com prazer porque a escrita é saborosa, desce goela abaixo como um vinho gostoso.
Mas pelamordedeus...que personagens são aqueles?
A Marcelle é uma neurótica semi-agorafóbica, chata, inútil.
O Daniel é o típico misógino - manipulador. A Lola é uma coitada cheiradora e caçadora de franguinhos bobos. O Bóris É o franguinho bobo. A Ivitch deve ter sido a personagem mais idiota que eu já vi: devia cantar REBELDE! Guria frígida que não suporta que a toquem...
Em uma das cenas bobocas, em um bar, ela se corta, mostra o sangue pra outra mulher, em uma dessas cenas "pra chocar".ZZZZ.......
"Eu sou má, viu? olha que rebelde que sou.....uiuiuiui!!!", batendo o pezinho.Jesus.
Mas o pior mesmo é o Mathieu: um professor que se relaciona quase o tempo todo com esses dois últimos citados, dois jovens alunos. No frigir dos ovos: um inseguro que precisa do olhar ingênuo de um aluno pra se auto afirmar, assim, cita dois ou três autores, uma ou outra frase de efeito e posa de intelectual. Me poupe.
Em um determinado momento, Bóris diz que o viu falar de Kant, bebendo vários uisques, sem se embebedar.
1) o cara falou de Kant = um chato.
2) o cara falou de Kant babando no uisque = pelamordedeus
3) o cara falou de Kant babando no uisque pra um aluno = patético.
Eu ainda vou reler os outros da trilogia, não será um esforço porque eu realmente gosto do trato que Sartre dá a palavra. Só ri muito desses personagens.
Vale a pena lembrar, que quando eu li, mais ou menos na idade da Ivitch, achei tudo maravilhoso. Oh, céus.



***texto publicado orginalmennte em 2006.

10 março 2010

Grupo de Teatro, vinte anos depois







Acho que vocês já notaram que estou preocupada em manter laços afetivos que são importantes pra mim. Porque a vida atropela a gente, sempre digo isso aqui e é verdade: a vida atropela e a gente perde as pessoas por aí.
Por isso quero ter um esforço sistemático de incluir na minha vida, no meu cotidiano, pessoas que foram e são cruciais pra mim.
Uma coisa já notei: se a amizade foi feita na infância ou na juventude, ela tem uma força ímpar. Os anos passam e os ataques de bobeira continuam...para nossa glória.
Domingo fui almoçar na Tatinha, minha amiga dos tempos de teatro amador.
Encontei Josie, sua irmã e Junior, amigos queridos também da época das oficinas stalislawisquianas e afins..rs
Josie estava com os filhos, eu levei Daniel, Tatinha estava com primas e o - sempre simpático - marido em casa. A gente comeu muiiiiito - a dieta foi pro espaço - e riu horrores. Mas foi risada de socar a mesa, de perder o fôlego...lembrando das festas , dos bafões dos amigos, de uma amiga querida mas muiiiiiito, muiiiiito folgada, das festas maravilhosas que a gente fazia com um som vagabundo, espaço curto e grana ausente. Tempinho bom demais da conta.
Junior tem o dom de contar histórias...todas elas ficam engraçadas na sua narrativa.
Mesmo detalhes - ele dizia que Tatinha recebia um espírito carioca nas peças e falava arrastado "eu sou uma mulherrrrr" - são únicos e hilários, com sua interpretação.
As meninas - claro que vou chamar minhas amigas assim, dá licença...- são pessoas que gosto demais. Agora vocês podem contar com uma coisa, sempre vou me encontrar com elas e vou contar tooodos as antigas históricas bafônicas aqui.
Me aguardem.


06 março 2010

Minha veterana


Quando entrei na Unicamp, minha vida mudou totalmente. Era um mundo novo, com debates, leituras e situações completamente diferentes pra mim.
Logo nos primeiros cinco segundos, fiquei amiga de Mara, que se tornou minha eterna veterana, como a chamo até hoje.
É realmente curioso como algumas amizades surgem rápida e espontaneamente e como isso cria um elo forte e duradouro.
Lá naquela época vivemos coisas incríveis...aulas, festas, papos intermináveis, tudo o que rola na vida acadêmica. Depois de formadas, a gente se perdeu um pouco de vista, foram alguns anos sem se ver ou conversar.
Em um mundo pré internet, isso acontecia.
Mas depois de um tempo, graças a um amigo em comum, a gente se reencontrou e continou a papear e rir como se nenhum minuto tivesse se passado.
Periodicamente, a gente se encontra em um restaurante japa gostoso aqui de Campinas: o papo não pára, é sempre uma delícia.
Foi isso o que aconteceu ontem e foi bom pra caramba. Além do mesmo curso ( História na Unicamp) agora rola outra coisa em comum: trabalhar na mesma rede de escolas, o que propicia uma boa troca de figurinhas.
A vida corre que é uma coisa, ontem eu tinha vinte, hoje tenho quarenta...e um.
(As duas garotas da graduação casaram, tiveram filhos, se formaram, trabalham, etc e tal. Mas quando se encontram, tem vinte anos de novo.)
Milton estava certo, amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção.;0)


05 março 2010

A apresentação II











Já que nos post abaixo estou contando sobre uma apresentação, vai mais uma historinha.
Um dos encontros que mais gosto de participar é o promovido pela Ludus Culturalis. Além de ser um momento de mostrar o meu trabalho e conhecer os outros, ficou sendo, pra mim, o período do ano em que mais troco figurinhas com gente que gosta de rpg, hq, e outras coisas de geeks.Uma delícia.
É tão divertido revê-los. Com certeza, as conversas mais divertidas que tive foi jantando com esses amigos. Alguns filmes eu jamais consegui ver com meus próprios olhos, depois de terem sido destruidos brilhantemente por eles.
(Algumas histórias eu ainda preciso blogar...)
No ano passado minha apresentação foi em um auditório enorme, mas enorme de verdade. Eu fiquei super bem, até cinco minutos antes de começar.
Comecei a ver aquele povo entrar, o coração disparou e o ar foi embora, todo ele, sem dó nem piedade. Pânico total.
Continuei conversando com os amigos com quem estava, sentindo o sangue sumir do rosto e pensando " Agora eu despenco aqui no chão...".
Subi e fui pra mesa: eu sempre peço pra falar antes, como o pânico sempre vem e preciso de uns segundos pra domina-lo, se eu tiver que esperar, tenho medo de não conseguir. Ok, me apronto para começar.
Mas meu colega de mesa chama uma psicóloga.
E eu não entendendo necas. Ela sobe, pega o microfone, fala um pouco, em pé, sobre ludicidade, exagerando nos gestos e me deixando com vergonha por ela. E eu ainda não entendendo.
Ela continua, diz que todos vão relaxar e devem acompanha-la.
Ai começa a bater palmas, dar uns pulos, fazer umas coisas lá na frente.
Na minha frente: e eu, com cara de naaaada, sorrindo amarelo, sussurro pra ele : " Não temos que fazer isso, né?"
"não " - ele respondeu baixinho - " Também morro de vergonha..."
Depois de ver a platéia bater na própria bunda e dar uns gritinhos estranhos, eu já estava mais calma. Com vontade de rir, mas estava calma.
Minhas imagens no data show ficaram absolutamente gigantes e lindas, um belo trabalho feito por um amigo.
Deixei de discutir um monte de temas, mas acho que deu pra dividir um pouco da experiência que tive com as crianças, deu pra mostrar um pouco de como eu acredito que deva ser a educação, de como eu tento caminhar.



****post originalmente publicado em março de 2007.

04 março 2010

A apresentação



Eu trabalho com RPG & Educação há alguns anos, esse é o tema de minha pesquisa. Já tive a oportunidade de apresentar partes desse trabalho aqui em Campinas, em São Paulo, Curitiba e no Rio. Na última vez que fui apresentar no Rio, dividi a mesa com um professor da Usp, vejam como sou chiquérrima. Ganho pouco mais me divirto, certo?
Faz um tempo, participei de um encontro sobre Freinet aqui na Unicamp. Como eu conhecia as organizadoras, elas tiveram a gentileza de me colocar pra dividir a mesa com esse meu Amigo, de quem já falei aqui.
Tínhamos muita conversa pra colocar em dia e um queria ver o rumo do trabalho do outro, foi ótimo.
De manhã, assistimos essa ou aquela palestra, encontramos pessoas e papeamos, o de sempre em congressos assim.
Fomos almoçar e voltamos apressados pra sala: arrumamos tudo, tínhamos levado material de aluno, painéis, blablablá.
Aí sentamos e esperamos.
Esperamos.Esperamos....e-s-p-e-r-a-m-o-s.......
A primeira a surtar, evidentemente, fui eu:
- Fulano, não vem ninguém...ninguém...!
- Mas eu vi a lista de inscrições, estava lotada....
- ..........
-.............
- Eu sabia que isso ia acontecer, ai me horrível , tô me sentindo toda rejeitada...(risos nervosos)
- Vamos escrever na lousa? assim..."vão se ferrar seus desgraçados.."...(risos)
- (risos)
- Vivi, vamos ver o nome de todo mundo....aí vamos perseguir, se eles forem apresentar alguma coisa, a gente enfia um monte de nome na lista...só pra eles ficarem com cara de bunda!!!
- Igual a nossa agora??? Que droga, ninguém...( desolada)

Uma moça coloca a cabeça dentro da sala:
- Oi, tá muito cedo ainda, né??
- ?????????
-???????
( moça) falta muito pra começar? é que eu gosto de chegar antes....

Olhamos para o relógio, estávamos prontos UMA hora antes. Sofremos pra diabo, por pura precipitação. Ataque de vivien crônico.
Aos poucos a sala encheu, contamos a história pra relaxar e funcionou.
E foi bom demais.


***post originalmente publicado em 2007.

02 março 2010

Sobre a confiança


Meu irmão caçula esteve esses dias em Campinas. Está trabalhando em São Paulo e estou sentindo sua falta. Ele é quatro anos mais jovem do que eu, o suficiente pra eu achar, quando era criança, que era meio que meu filhinho.

Carregava no colo, usava de cobaia na minha escolinha - ele entrou alfabetizado na escola, vejam quanto eu aluguei o fulano....- sacaneava um pouco, contava historinha.

Meu irmão cresceu e ficamos muito amigos. Só ele me faz rir , quando tenho crises de fúria: é só ele fazer uma cara palhaça e dizer:

- oooonça, calma....

Aí eu começo a rir e a raiva já foi pro pé.

Ele tem um humor que adoro e nos comunicamos por mínimos sinais, dá pra ter uma conversa inteira assim, minha amiga Tati comentou isso outro dia. E dá mesmo.

Quando aprendi a dirigir - tarde, com 27, 28 anos - só conseguia guiar se ele estivesse no carro. Sério. Se ele não estivesse eu não conseguia, veja só.

Um dia ele estava cheio de mochilas, ia voltar pra cidade onde cursava arquitetura e não tinha ninguém em casa pra levar até a rodoviária.

- Bom, Vivinha, você vai ter que ir me levar. Depois você volta legal, você já sabe dirigir bem...

- Ricardo, não dá...sem você eu não consigo....( me descabelando) você é minha peninha do Dumbo!!!

- ( gargalhando) A peninha não servia pra nada, ele voava sozinho, lembra??? daaaa.........

Fui, levei e voltei, com o coração disparado, dirigindo a barcona que meu pai tinha na época( só fui ter meu carro com 29). Mas foi incrível.




***post originalmente publicado em abril de 2007.

01 março 2010

Bizarre love triangle


Faz alguns meses, fui em uma dessas festas anos 80. Foi uma festa na casa de uma amiga muito querida, com quem comecei a jogar RPG.
Foi divertida, dançante demais. Eu gosto em especial dessas festas porque na década de 80 especificamente, quando eu era adolescente, não ia a nenhum lugar pra dançar. Todos esses lugares, aqui em Campinas, eram abarrotados de mauricinhos tenebrosos e patricinhas absurdas. Se hoje, que sou muito mais tolerante, isso ainda me irrita, na época, era absolutamente intragável.
Nesse tipo de festa, cada música que toca me joga em uma situação específica: uma saída bacana, uma viagem maluca, um namorado, uma paixaozinha básica.
Na festa da R., em um determinado momento, ela serviu um bolinho chamado Madeleine.
Explico: quando eles fizeram uma disciplina com o Marco Aurélio Garcia - ele de novo nesse blog...- leram um livro de Proust em que o personagem comia as tais madeleines e evocava lembranças agradáveis, de uma nostalgia gostosa. Eu não li, tô vendendo o peixe pelo preço que comprei.
Quando R. e o marido estiveram pela última vez na França - uia que chique - compraram os tais bolinhos em um supermercado e os trouxeram.
Assim, a festa parou, R. explicou e distribuiu os tais bolinhos.
Todo mundo, ritualisticamente, comeu e suspirou, esperando as lembranças docemente nostálgicas. Quando começou a tocar Bizarre love triangle, eu tive que sorrir, a tal música me remete automaticamente pra 1989, quando eu tive a maior paixão da minha vida. Que me tirou o chão. Achei um "sinal". ( Tudo eu acho que é um sinal....rs)
Em um post bem bacana, Rafael argumentou que quem tem saudades dos anos 80 não tem saudades da época, mas de si mesmo. Acho que acertou completamente.
Eu tenho saudades de mim.


****post originalmente publicado em outubro de 2006.