
A coisa já começou certa pelo título: uma proposta que tira o foco dos grandes centros e passa a oferecer discussões em outras paragens.
Eu vi o #encForadoEixo divulgado no twitter, vi que ia ser aqui em Campinas e fui.
Cheguei totalmente
estranha no ninho, imediatamente percebi que a maioria transitava por áreas ligadas à publicidade e não é esse meu foco de interesse. ( A não ser quando é pra ler os textos perspicazes e críticos da
Denise,
Lola e
Baxt). Enfim.
Confesso que pensei como
Angeli faria a festa, traduzinho caricaturalmente os tipos presentes...porque todos somos tipos, vamos combinar. ( Nada pessoal, queridos, quando vou a encontros de historiadores, penso a mesma coisa.)
O encontro teve um caráter informal que me agradou e que vai ao encontro da própria internet, que ao aproximar pessoas que forma substancial, quebrou certos paradigmas de conduta.
O início foi antológico: um professor da
PUCC, Wagner Mello, abriu as apresentações.
Começou demonstrando total falta de familiaridade com as novas propostas midiáticas e educação, pois, ao se sentir incomodado com o banner eletrônico que reproduzia uma página de twitter, FICOU EM PÉ NA FRENTE,
eu juro sobre o pc, ele fez isso. Ficou lá, em pé, para que as pessoas prestassem atenção somente nele.
Olha, alguém que não compreendeu que nativos digitais conseguem assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, não pode falar de novas mídias e educação.
Ele divagou sem transparência conceitual: citou alguns autores de forma superficial que ficaram ali, sem que houvesse, efetivamente, uma condução de seu raciocínio.
E citou Aristóteles em inglês. Gente, foi uma tentativa bobinha de dar um ar acadêmico à apresentação. Quer citar no original? Cita em grego, então...rs
De resto, a apresentação mostrou tentativas ainda rudimentares de se implantar elementos relacionados à novas mídias dentro da faculdade campineira.
E não pensem que vou puxar sardinha para minha universidade não, porque não vou. Já ouvi cada batatada na
Unicamp sobre internet e afins que nem sei como sobrevivi.
Acredito que a Educação como um todo continua encerrada em um olhar extremamente preconceituoso em relação à rede e suas - gingantescas - possibilidades. Para além disso, há que se perceber um receio patológico em minha classe em relação à mudança de paradigmas ( Eu sempre juro que não vou repetir clichês, mas é mais forte do que eu, me domina.)
Ao final da apresentação, depois de ter sido convidado a falar sobre
cases de sucesso por um integrante do auditório e NÃO fazendo isso a contento - por razões óbvias - o palestrante foi indagado por @cerasoli da seguinte forma:
-
Professor, esquecemos de perguntar: qual é sua arroba?O professor, diante do mediador atônito, solta uma sonora gargalhada e diz:
-
Isso depois eu respondo.Pessoas, pessoas, ou ele não entendeu a pergunta, ou não tem
twitter. Seja um caso ou outro, o que ele estava fazendo ali?
Para deixar o público feliz, entretanto, tivemos a presença de @luizcarioca, redator e blogueiro, que acertou a mão o tempo todo. Ou quase.
Citou os autores na mosca e colocou um vídeo que eu procurava já tempos, pois só havia assistido em um curso,
Michel Serres, relativizando as "perdas" da tecnologia.
G-e-n-i-a-l.
O redator narrou experiência profissional, contou situações, deixou claro que opta por experimentar algo para realmente compreender seu processo, como fez com seu Blog: criou um para entender sua dinâmica.
Eu disse pra ele que achava que tinha mandando um grande
unfollow, mas nem me lembrava o motivo, mas ele já havia avisado a plateia que sua fala nem sempre é suave, mas pode pegar na veia mesmo. Por isso, volta e meia, recebe uns
unfollows nervosos. Melhor assim, nada pior do que povo que faz média.
É importante salientar que @luizcarioca tem um domínio fácil do público e que, certamente, todo mundo ficaria muito mais tempo ouvindo-o falar sobre sua forma de enxergar a rede.
Claro que ao se definir como anarquista eu imaginei Kropotkin rolando em cólicas: publicidade/consumo e anarquia só podem estar na mesma frase se for para um negar o outro, né, crianças?
Após um
coffe que propiciou um papo com as pessoas, a palestra final foi do @interney: essa passeou por outras paragens.
Edney Souza, o @interney, se absteve de citar autores: fez uma apresentação correta, enxuta, pragmática. Optou por não discutir essas questões em nível acadêmico e mandou bala fazendo uma apresentação que era um relato do trabalho feito pelas agências publicitárias que utilizam novas mídias, especificamente, a
@pólvora.Para meus espanto total, pouquíssimas pessoas tinham visto o vídeo do
greenpeace, censurado pela Nestlé, fato que o inspirou a dar um cutucão bem dado.
Afinal, povo, a plateia ali não era formada por profissionais que se interessam por novas mídias e blablablá? Putz, mexe a bunda, cidadão. Também me surpreendeu a pouca quantidade de perguntas para ele: visto que é uma das pessoas pioneiras nessa área, não havia nada que eles quisessem saber?
Estranho.
Mas creio que a plateia tenha gostado, pois a apresentação teve um forte cunho profissional: o cara sabia o que estava falando. Não estava baseando em hipóteses ou suposições, estava falando sobre algo do seu cotidiano.
Eu gostei do Encontro, certamente irei nos outros: só não prometo elogiar tudo ou ser "neutra", porque ninguém faz História e sai acreditando em "neutralidade". Mas prometo ser justa, ou procurar ser.