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30 agosto 2011

O Susto que a Rita me deu


Desde que comecei a ler a Rita, eu adorei.
Eu gosto quando ela fala das descobertas dos filhos. Eles estão naquela idade fascinante em que entendem o mundo aos poucos, de forma única, parecem ser uma versão do Flaneur de Baudelaire - tão bem discutido por Benjamin- que se perde e descobre a cidade com o olhar único da "primeira vez". Quando a Rita fala sobre os filhos, eu vejo o mundo se descortinando pra eles e isso me encanta.
Eu gosto de tantos outros temas que ela trata, mas tantos, que se eu ficasse falando aqui, ia ficar uma rasgação de seda quase insuportável, então, escolhi uma coisa.
A Rita está participando de um Meme muito bacana sobre leitura, são trinta sinopses de livros - com motes diferentes - em trinta dias.
O tema dia 06 era um livro de seu autor favorito. Depois de relativizar um pouco esse conceito do "favorito", Rita me fez pular da cadeira.
Porque ela disse o que eu sentia sobre Clarice Lispector , mas nunca havia conseguido traduzir. Hoje, Rita foi minha Clarice.

Disse a Rita:


"Ela veio tarde, eu já estava na faculdade. Mudou tanta coisa, mudou minha relação com a linguagem, mudou minha forma de estudar literatura, mudou minhas preferências. Irreversível. Clarice é irreversível: não posso mais sem ela. Maior que as mudanças foi justamente o seu oposto: o reconhecimento. Leio Clarice aos sustos: como ela sabe? Eu não contei isso pra ela! Pois ela sabia. Tinha a lupa que mostrava as almas. Bruxa."
(grifo meu)

02 junho 2011

O Melhor aniversário


Dia primeiro foi meu aniversário, ou seja, ontem.;0)
Há tempos não tenho uma comemoração tão gostosa, tão perfeita. Amigas queridas: Frou, Dica, Mariza, Kátia, Fátima, Cecília, Andréia e Cris foram almoçar comigo em um japa que adoro. (As amigas queridas que não puderam ir como a Mara, Solange e Chris fizeram falta, mas eu ainda cobro essa saída.)
São amigas que fiz ao longo do tempo que estou aqui, no colégio, na Unicamp e nas escolas que trabalhei, gente que conheço há tempos ou que conheci ontem, mas já virou amiga de infância.
O papo rolou, a comida estava ótima, ganhei vários presentes bacanas e - ahá! - tive direito a bolo, parabéns e quase cedo ao um choro que veio louquinho pra sair, mas foi contido na unha. Porque foi muito, muito bom.
Incrível como a irmandade feminina é forte e poderosa: nada pode derrubar um grupo forte de mulheres, ah, não pode. Isso ficou claro pra mim ontem, quando penso em alguns "probleminhas" - em breve vocês saberão do que falo - e sinto essa amizade fraternal das minhas amigas, tenho uma certeza inquebrantável que tudo vai dar certo.
Depois do almoço que se alongou até quase jogarem água nos nossos pés, pra mostrar que o restaurante havia fechado, fizemos uma ultima parada em um Café, pois se a conversa está boa, pra que parar?
À noite, na casa dos meus pais, curti meu tio e minhas primas, e olha o bolo de novo, gente. Isso tudo sem contar a cantoria dos meus aluninhos fofos, que já me deixaram feliz logo pela manhã.
Eu disse, o melhor aniversário..de muitos que virão.;0)

03 março 2011

Quo vadis











Em breve estarei de notebook em punho, pronta pra blogar furiosamente. Porque sou uma sem-net, certo? Já faz um tempo que blogo dos lugares possíveis ( casa da minha mãe, lan...) e isso enche. Mas dias melhores virão.
Por hora o que posso dizer é que estou com as turmas mais legais que já tive: Quintas são sempre quintas, afáveis, engraçadinhas, curiosas. As sextas estão empenhadas em fazer peças medievais e se desdobram em ser atores, diretores, roteiristas e figurinistas. As sétimas me deixaram descabelada com as posições conservadoreas e autoritárias que tem, mas estão dispostos a discutir, debater, não tem a supostas verdade absoluta que alguns alunos pretendem vomitar por aí. Não. Eles querem aprender, debater, perguntar. E eu adoro. As oitavas são turmas excepcionais: empenhadas, criativas, uma delícia. Vão fazer um debate sobre doutrinas políticas e acho que vai rolar: porque com eles, tudo rola.
De resto, na minha política de ser feliz todo dia...recebi amigos queridos em casa: foi ótimo, adorei preparar os petiscos ( homus e antepasto de berinjela, direto do Rainhas do Lar) e adorei conversar com aqueles queridos.
Nos últimos dois dias tive um tratamento vip: fui almoçar ontem e hoje na casa de amigas queridas e ..uau. Uma me serve comida orgânica, chá francês e aceita criar um blog ( yes!) a outra me presenteia com torta, sorvete e solicita uma "aula de facebook".
Confessem...vocês não acham que tenho as melhores amigas do mundo?

31 janeiro 2011

Personagens de Angeli soltos pelo mundo































No sábado fui ao Delta Blues com minha queridíssima Michela.
Eu não ia lá há longos quatro anos. Me desculpem os fumantes, mas lugar fechado catingando cigarro é uó. Agora com a lei tucanesca o lugar realmente fica melhor. Porque pra conter o barulhão tem um teto meio rebaixado...isso com todo mundo pitando? Inferno. Deixei de ir.
Pois a versão nova e sem cigarro é melhor. Tá bom ,todo mundo pode começar a me vaiar, vai ouvir blues sem fumaça? , vai tomar toddynho, eu sei, eu sei. Sou da turma do toddynho mess..;0)
O caso é que decidirmos ir. Michela é super rock in roll, a noite sempre é bacana com essa minha amiga, sempre rimos demais. De tudo , de todos, de nós mesmas, claro.
Chegamos antes do show, pra poder conversar, coisa e tall.
Em cinco minutos chega um careca americano e pede pra sentar em nossa mesa. Como a casa tem poucas mesas e já dividi com outras pessoas, nem liguei, claro. Mas o careca puxava papo e passou a noite insistindo em pagar bebidas pra gente.
A garçonete avisava: poem na conta do careca...
Mas não, né? Fala sério. Porque vamos combinar, ele era meio chatinho.
Mas a noite foi boa demais: o som foi Creedence e foi realmente de primeiríssima linha.
Mas claro que com toques de humor - pelo menos no nosso olhar. O vocalista fazi o tipo Tio COntador: bigode, calvicie engolindo a cabeça, barriga. Mas abria a boca e era show de bola. Incrivel.
Não me achem pentelha...mas o baterista era a cara do Larry, gente.
<
Bizarro ver o Larry se acabando na nateria. Bizarro.
Eu sempre observo com distanciamento. Sabe aquelas cenas clássicas onde uma pessoa está em cirurgia e morre um pouco - tá, morre um pouco é doideira, mas vá lá - e fica planando sobre todos e observando? Então. Eu fico olhando todo mundo como se eu estivesse em outro mundo. E acho que todo mundo parece personagem do Angeli.

Não imaginem que me acho superior ou coisa parecida. Vixe,nem conto para vocês como minha autocrítica é cruel...Mas eu acho qas pessoas tão engraçadas. Tão curiosamente engraçadas.
Mas o público lá é bem interessante realmente: velhos roqueiros cabeludos-calvos, jvoens tatuados, jovens não tatuados, motoqueiros de moto clubes e suas esposas, no maior climão familia. Um cara com um visual clássico de professor - professor de quimica! - cantando tooodas as músicas, acompanhado de sua versão aos quinze anos, que também estava hipnotizado pelo show.
Na lista dos chatos, tinha um bêbado que foi colocado pra fora, doidinho pra arrumar confusão, apelidado pela Mi de Joselito. Vocês entendem, tadim, o problema é que ele não sabe brincar.
Só digo pra vocês que foi ótimo.

25 janeiro 2011

Uma ligação do outro lado do oceano







Foi em 2000. Eu estava sozinha em casa, em um sábado à tarde, dormindo. Não estava em um período lá muito feliz, encarando uma segunda separação. Estava morando em um apartamento com Daniel, dando aulas e tentando ser a Malu Mulher de novo. O telefone tocou, atendi ainda sonolenta. Uma voz feminina com sotaque português perguntou se eu era a Vivien. Eu disse que sim, sem saber com quem falava.
Para minha felicidade, rindo, ela disse:
- Não reconhece mais sua amiga do outro lado do oceano?
- Adriaaaaaanna
...?
Foi demais. A Dri foi minha amiga de escola, juntas estudamos, fofocamos, badernamos, consertamos o mundo em intermináveis conversas no Caicó ou no Ilustrada, cantamos, confidenciamos coisas.
Eu não via a Dri desde que ela havia ido pra Portugal, anos atrás.
Foi uma risada só, quando tentamos colocar todas as novidades dentro daquele papo no telefone.
- Espera, espera....heim?...olha, o Pitty está perguntando se você ainda é jeitosinha como no tempo da escola..
- (risadas) Fala pra ele que estou fazendo regime, tô sempre fazendo regime agora
..
E foi um tal de passa o telefone pra ele, volta o telefone pra ela, aquela baderna de amigos que se querem bem.
A partir dali e graças a internet, continuamos a ter contato. Tivemos ótimos momentos aqui no Brasil, quando ela veio no ano passado.
Agora, para minha surpresa, vejo que Fábio, seu filho mais velho e que hoje mora na Inglaterra, vai se casar ano que vem. E eu o carreguei no colo, literalmente, era um fofo de cabelos angelicais.
Eu sei, sou uma tia coruja. Mas tenho todos os motivos do mundo.
A Dri sempre lembra, como no comentário do post abaixo, que eu e Pitty gostávamos de Legião, diferentemente dela, que nunca nos acompanhava na cantoria de Faroeste Caboclo do bar do Beto, nosso ponto de encontro na frente da escola.
Mas ela já se rendeu ao bom gosto, né, Dri?
Tempo bom, gente boa, lembranças boas.





*****texto publicado anteriormente em agosto de 2008.

03 janeiro 2011

Histórias de horror para colorir

















Éramos em cinco professores na mesa do Piola. Eu sempre achei o preço de lá um verdadeiro roubo, mas vocês sabem como sou provinciana. Meus fashion amigos iam sempre e decidi ceder, algumas vezes.
Então, após o papo básico cinema-música-política, a conversa caminhou para a infância de cada um.
Claro que qualquer ouvidinho curioso que estivesse buscando bordas do nosso papo, imediatamente sacaria que ali o estilo "infãncia-momento-feliz" não existia.
Eram pequenas histórias de horror, que provocavam gargalhadas. Dentre todas, me lembro desta aqui:
Um dos professores, alto, bonitão e engraçado, desfiava o rosário de sofrimentos de sua infãncia. Nada grave, nunca cortou cana pra sobreviver, apenas foi criado de forma muito rigorosa. Até os 18 anos, não tomou refrigerante. Sua mãe proibia e ele respeitava isso sistematicamente. O caso é que quando achou que era adulto, quando entrou na unicamp, se matou de tomar coca-cola, com ares de pecado eterno. Disse que comprava e tomava, triunfal.
Usou mochila do Cebolinha até o terceiro ano do ensino médio, comia solitariamente uma maçã nos intervalos que pareciam durar séculos.
Mas o pior, o pior mesmo, aconteceu no pré.
Em uma aula, ele sentiu que uma quantidade considerável de gases queria sair de seu traseiro, assim, em plena aula.
Com uma força hercúlea, segurou as pontas, até que a natureza venceu. Infelizmente, junto aos tais gases, seu traseiro expulsou também uma pequena - mas lamentável - quantidade de um outro elemento mais escatológico.
Entrou em pânico. Parado, estático, esperou um momento. Pediu pra sair e foi direto para o banheiro, onde tirou a cuequinha. Com medo de ser descoberto, teve a genial idéia de escondê-la. Saiu, assobiando, olhando pra um lado, pro outro, decidiu ir até a quadra e esconder a prova do crime dentro do cano da trave de futebol.
Voltou pra sala, pensando ter cometido o crime perfeito.
Dias depois, uma servente balança, diante de todas as crianças, uma cuequinha - devidamente limpa - perguntando de quem seria. A criançada se torce de rir, e K., estático, ficou olhando fixamente a cuequinha.
Diante dos nossos risos, disse:
- Era do piu-piu. Eu sempre odiei o piu-piu.



********publicado originalmente em 2008.

02 janeiro 2011

What a wonderful world



Fazer um balanço de 2010 foi prazeroso. Tem um problema pegando, mas ainda não é hora de comentá-lo aqui no blog. Por hora, as coisas boas.
A melhor foi começar a trabalhar em uma escola que adoro. Isso foi o deflagrador para várias outras pequenas e deliciosas coisas, felicidade de pobre, certo? Risos.
Comprei um carro: popular, óbvio. Mas pra mim,uma limosine. Coloquei armários na cozinha - que é pequena, óbvio, ahhahah, mas que ficou absolutamente deslumbrante.
Depois de quatro anos fingindo que aquele pequeno cômodo não existia....fiz um lavabo. Já tinha avisado que eram alegrias de pobre, pessoas, não me xinguem. Lavabo é tudo de bom, ficou lindo, ficou fofo, ficou roxo e ficou florido. A pia, nem te conto, de sobrepor,um luooooxo.
Andei meses de rasteirinha, por conta de uma dorzinha chata nos pés. Passou e voltei aos saltos. Deus existe.
Li bastante, trabalhei bastante, fui ao Café Filosófico, dormi muito, retomei com seriedade alguns tratamentos médicos. Vergonha na cara também faz bem.
Passei o reveillon com Karen e Bia, ,que são, sem sombra de dúvida, algumas das pessoas com quem eu mais gosto de conversar. Foi um presente da blogosfera.
Perdi um tio, que além de tio era padrinho, mas estou tão convicta de que ele está em um estágio/esfera/lugar melhor - porque ele merece isso - que estou em paz.
Tenho pensado muito sobre a valorização das pessoas com quem convivo. Sempre tive a política clara dos "momentinhos", de curtir à exaustão coisas pequenas, porque são os detalhes que dão saber. Sei que isso cai fácil na pieguice, mas não sei como figir dela...rs...saca essa coisa de ficar feliz com cheiro de pão fresco? Achar a lua linda, achar fofos os gatinhos pulando, essas porras todas? Então. Sou assim, quero ser assim, milito em ser assim.
E eu tenho certeza de que 2011 será um ano daqueles, cheio de alegrias, de encontros,de risadas, de livros, muitos livros, de filmes, de chocolate - ops, chocolate não pode, saco...- e de paz.
Pra terminar, coisas que curti em 2010: o Facebook, a Lola, cuja leitura sempre me faz refletir e a Rita, que sempre me comove.
E além de todas essas alegrias, eu tenho uma presidentA.

Ano de ouro.





26 novembro 2010

No dia dos professores, saudades do José Luiz

Eu pensei em falar sobre o dia dos professores, pensei em comentar as coisas incríveis que acontecem, o provilégio que é poder participar de momentos tão importantes da vida das pessoas.
Mas não quero falar como professora, quero falar como aluna que fui.
Eu gostaria de falar do José Luiz, ou Zé luiz, pra nós, seus alunos no ensino médio. Zé Luiz me apresentou a música de Chico Buarque, me apresentou ao terrores da didadura em debates em que nós, os alunos, nos inflamávamos, inquietos com tanta coisa com a qual discordávamos. Foi certamente a pessoa mais importante na minha formação intelectual e politica na adolescência. Eu mal podia esperar por suas aulas e quando ele dizia: "alguém tem alguma colocação a fazer"? podia contar com minha mão erguida, palpites, opiniões e muitas, muitas duúvidas. E eu não era a única. Os outros palpitavam, discordávamos entre nós, concordávamos, decidiamos continuar o papo no bar do Beto ( Coisa que ele discordava, aliás, com veemência. Ele argumentava que a localização do tal bar era ilegal, dado que ficava na frente de uma escola. Mas nós, tomados pela tolice ingênua e linda da juventude, achávamos lindo continuar o papo da aula ali, no nosso queridissimo Bar do Beto)
Era fins de 80 e nós queríamos mudar o mundo. As aulas dele faziam as coisas terem um sentido diferente.
Nós nunca o deixávamos sair da sala de aula, sem ir atrás, ainda discutindo, perguntando, questionando. Zé Luiz - incrivelmente parecido com Sidney Poitier - foi meu professor de História e com ele conversei sobre livros, filme e política, muita política. E ele tinha toa a paciência do mundo com minha pressa juvenil e minhas tolices.
Exatamente por isso fico tão feliz quando acontece comigo, quando um aluno me acompanha ao final da aula, ainda com discussões por terminar. Exatamente por isso, sinto uma infelicidade extrema quando escuto um enfadado "sei lá" ou um dar de ombros para a aula, para o tema, para o mundo. Uma atitude me leva ao paraiso, a outra, ao inferno.
Quanto terminei o colegial e passei na Unicamp, voltei pra dar um beijo, milhões de obrigadas e um livro do Manuel Puig. Só depois de formada, já trabalhando, entendi o olhar de felicidade que ele tinha para mim naquele dia.
Hoje, no dia dos professores, vinte anos depois, só posso dizer que sou professora graças a ele e até hoje, digo para meus alunos uma frase que ele sempre repetia:

"Gostaria que vocês nunca perdessem a capacidade de se indignar"

Zé, um grande beijo pra você.




####publicado originalmente em 2008 e republicado agora, com atualizações.

09 agosto 2010

AtaqueDeBobeira.com.br

















É isso que dá ter amigas desde a adolescência, as criaturas crescem, amadurecem, mas não adianta. Quando juntas, agem como se fossem as mesmas malucas que eram quando calouras na Unicamp, em 1989.
Ai na foto: Pat fazendo careta e puxando Frou para um lado, eu puxando pra outro e Frou rindo.
Vixe maria, tem jeito não...três retardadas, digo isso pra vcs.
Sorte minha, ter amigas há tantos anos e ainda fazer micagem. E fotografar. E colocar no blog.
Ou seja, é muita disposição pra pagar mico, né?
Isso é saúde mental, crianças, juro!

13 julho 2010

Recife, ah, Recife...





Preciso de muito tempo pra contar tudo, o ateliê de Francisco Brennand,a a coleção de Ricardo Brennand, meu medo de tubarões, as tapiocas que não gosto, os resturantes charmosos, Olinda...e principalmente, os amigos.
Encontrar amigos blogueiros foi muito, muito bacana e contarei tudo por aqui.
Por hora, leiam a queridissima Jan, e esperem por mais.;0)
Na foto: Jan, Daniel, eu e Cynthia.

27 abril 2010

Trabalho de preso



















"Trabalho de preso" era como denominávamos aquele trabalho desgraçado, repetitivo, chato pra burro, que nos dava um salarioziiinho, bem zinho, chumbrega, que era depositado em nossas parcas contas no final dos 80.

Nessa época eu trabalhava em um lugar que não parava - já contei uma de nossas façanhas aqui, quando o rodízio dos turnos nos permitia viver umas horas sem o acoite de Dona Onça, a "otoridade" do setor - havia sempre alguém trabalhando.

Como toda "otoridade' burocrática, D. Onça era chata, mesquinha e autoritária.

Só quem trabalhou em lugares caóticos sabe que o caos gera um tipo muito idiossincrático de humor, afinal, sem isso não há chances de sobrevivência.

Uma das piadas idiotas que nos faziam rir era chamar o café de veneno. E era um veneno: era horroroso e tenho certeza que nossas insistentes e irritantes conversas sobre como o-café-era-horrível, faziam com que a fulana da limpeza caprichasse em torná-lo ainda pior. Pequenas vinganças, sacumé.

Havia um dos digitadores - porque essa era nossa chatérrima função - que era uma figura: engraçado, emendava uma piada na outra, um deboche no outro e fazia todo mundo se acabar de rir. Menos d.Onça, óbvio. Tadim da d. Onça.

Me lembro dele chamando todo mundo, estalando os dedos:

- gente, corre....hoje o veneno tá demais.....

Para manter a temperatura adequada aos computadores, a fulana deixava a sala gelada. Esse cara, um negão gordo e alto, colocava o capuz da blusa e amarrava, se transformando em um versão extra gg da fofolete. E agourava a maluca:

- se Deus for justo ela tomba...

O território ali era de risadas, pois só isso fazia com que as horas passadas ali pudessem ser "suportáveis". É a criação no caos.

Em um final de ano, quando tiramos o amigo secreto, trocamos bilhetinhos por um tempo. Os bilhetinhos, endereçados aos amigos ( "para vivien de seu amigo secreto", "para joão de seu amigo secreto"balablabl) eram colocados em uma caixinha e trocados algumas vezes ao dia.

Acontece que o 'amigo secreto" que havia me tirado deixava textos tão engraçados, tão interessantes que o pessoal pedia pra ler alto todo dia. Parava tudo, todo mundo queria ler o texto que eu recebia.

No início, percebiam que eu ria sozinha lendo os tais bilhetes, porque eram ótimos. Curiosos, os outros funcionários começaram a pedir pra ler também e com todo bom "boca a boca" , fizeram uma bela propaganda dos textos que eu recebia.Em pouco tempo eu tinha que ler em voz alta pra todos, que rolavam de rir com meu escritor particular.

Eu dividia os textos, mas os chocolates que ele colocava eram só pra mim, porque com chocolate não se brinca.

O grande lance era descobrir quem era esse meu "amigo secreto escritor".

Fofocaiadas à parte, só soubemos quem era no dia da festa de fim de ano, onde ganhei um livro incrível do Thomas Mann e ele as glórias dos fãs.

Deve ter sido o primeiro sucesso literário dele.

Será que virou blogueiro?












*******publicado originalmente em abril de 2009.

04 março 2010

A apresentação



Eu trabalho com RPG & Educação há alguns anos, esse é o tema de minha pesquisa. Já tive a oportunidade de apresentar partes desse trabalho aqui em Campinas, em São Paulo, Curitiba e no Rio. Na última vez que fui apresentar no Rio, dividi a mesa com um professor da Usp, vejam como sou chiquérrima. Ganho pouco mais me divirto, certo?
Faz um tempo, participei de um encontro sobre Freinet aqui na Unicamp. Como eu conhecia as organizadoras, elas tiveram a gentileza de me colocar pra dividir a mesa com esse meu Amigo, de quem já falei aqui.
Tínhamos muita conversa pra colocar em dia e um queria ver o rumo do trabalho do outro, foi ótimo.
De manhã, assistimos essa ou aquela palestra, encontramos pessoas e papeamos, o de sempre em congressos assim.
Fomos almoçar e voltamos apressados pra sala: arrumamos tudo, tínhamos levado material de aluno, painéis, blablablá.
Aí sentamos e esperamos.
Esperamos.Esperamos....e-s-p-e-r-a-m-o-s.......
A primeira a surtar, evidentemente, fui eu:
- Fulano, não vem ninguém...ninguém...!
- Mas eu vi a lista de inscrições, estava lotada....
- ..........
-.............
- Eu sabia que isso ia acontecer, ai me horrível , tô me sentindo toda rejeitada...(risos nervosos)
- Vamos escrever na lousa? assim..."vão se ferrar seus desgraçados.."...(risos)
- (risos)
- Vivi, vamos ver o nome de todo mundo....aí vamos perseguir, se eles forem apresentar alguma coisa, a gente enfia um monte de nome na lista...só pra eles ficarem com cara de bunda!!!
- Igual a nossa agora??? Que droga, ninguém...( desolada)

Uma moça coloca a cabeça dentro da sala:
- Oi, tá muito cedo ainda, né??
- ?????????
-???????
( moça) falta muito pra começar? é que eu gosto de chegar antes....

Olhamos para o relógio, estávamos prontos UMA hora antes. Sofremos pra diabo, por pura precipitação. Ataque de vivien crônico.
Aos poucos a sala encheu, contamos a história pra relaxar e funcionou.
E foi bom demais.


***post originalmente publicado em 2007.

01 março 2010

Bizarre love triangle


Faz alguns meses, fui em uma dessas festas anos 80. Foi uma festa na casa de uma amiga muito querida, com quem comecei a jogar RPG.
Foi divertida, dançante demais. Eu gosto em especial dessas festas porque na década de 80 especificamente, quando eu era adolescente, não ia a nenhum lugar pra dançar. Todos esses lugares, aqui em Campinas, eram abarrotados de mauricinhos tenebrosos e patricinhas absurdas. Se hoje, que sou muito mais tolerante, isso ainda me irrita, na época, era absolutamente intragável.
Nesse tipo de festa, cada música que toca me joga em uma situação específica: uma saída bacana, uma viagem maluca, um namorado, uma paixaozinha básica.
Na festa da R., em um determinado momento, ela serviu um bolinho chamado Madeleine.
Explico: quando eles fizeram uma disciplina com o Marco Aurélio Garcia - ele de novo nesse blog...- leram um livro de Proust em que o personagem comia as tais madeleines e evocava lembranças agradáveis, de uma nostalgia gostosa. Eu não li, tô vendendo o peixe pelo preço que comprei.
Quando R. e o marido estiveram pela última vez na França - uia que chique - compraram os tais bolinhos em um supermercado e os trouxeram.
Assim, a festa parou, R. explicou e distribuiu os tais bolinhos.
Todo mundo, ritualisticamente, comeu e suspirou, esperando as lembranças docemente nostálgicas. Quando começou a tocar Bizarre love triangle, eu tive que sorrir, a tal música me remete automaticamente pra 1989, quando eu tive a maior paixão da minha vida. Que me tirou o chão. Achei um "sinal". ( Tudo eu acho que é um sinal....rs)
Em um post bem bacana, Rafael argumentou que quem tem saudades dos anos 80 não tem saudades da época, mas de si mesmo. Acho que acertou completamente.
Eu tenho saudades de mim.


****post originalmente publicado em outubro de 2006.

20 dezembro 2009

Virgínia Berlim















Ultimamente, já andei comentando isso por aqui, tenho feito a releitura dos livros na sequência. A primeira vez que leio é com pressa e gulodice, a segunda, na sequência, é com calma e saboreando. Imitando a tal leitura extensiva de séculos anteriores estudada por Chartier. A leitura que se repete, se repete.
E hoje, o livro que passou por essa primeira e segunda mordida foi Virgínia Berlim de Luiz Biajoni.
O livro é curto e encerra em si o início, o (não)desenrolar e o fim de um amor. Amor do personagem principal - cujo nome não chegamos a saber - por Virgínia, sobre quem pouco ou quase nada nos é dado a saber. O estilo é instigante, as palavras são exatas e a angústia que vai assolando o personagem magicamente toma conta do leitor.
Virgínia aparece na história como um ser insosso; "para mim, ela era como as outras; uma escriturária sem sal. Nem bonita eu a achava. Uma loira pálida, peitos pequenos, bunda caída". O autor ainda a socorre rapidamente; " Era jovem e tinha um certo frescor, umas sombrancelhas arqueadas, inquisidoras".
Mas é enfático: "Mas no geral, era ninguém."
Essa frase perseguiu minha leitura e durante todo o desenvolver da trama eu me perguntei quem era Virgínia.
Mas não sei, uma ninguém.
A despeito disso essa personagem beija o narrador surpreendentemente, iniciando algo confuso - e doloroso - para ele.
Como foi para Virgínia? Não sei.
A história é narrada do ponto de vista do narrador e assim como ele, ficamos limitados a figura do observador, vendo Virgínia entrar e sair do apartamento sob olhar do narrador.
O livro pode( aliás,deve)ser lido com o acompanhamento do cd que vem no encarte. Uma idéia original que consegue colocar o leitor um pouco mais profundamente no apartamento do narrador e dentro de sua ansiedade.
Um apartamento de um homem "soturno" - chamado assim por algumas namoradas e por ele mesmo - com livros e muitos discos de vinil. Sim, vinil.
Apesar do livro não trazer localização delimitada do tempo onde se passa a história, o médico que o atente tem celular, assim, suponho que o autor colecione vinil por opção, não necessidade técnica.
Assim, sem sobre aviso, Virgínia entra na vida no narrador. Mas não se trata de um romance, de uma paixão avassaladora ou romântica da parte dela(ou se trata?). Virgínia entra e sai do apartamento do narrador algumas vezes nos dias em que ele está impossibilitado de sair.
Após o surpreendente beijo, sem compreender exatamente o que havia se passado, ele ouve música, bebe uísque e tropeça no copo, cortando furiosamente o pé.
Então temos o narrador recluso à força. Cortado profundamente, sem equilíbrio, sem ficar em pé, um pouco ridículo. Ou seja, se não fosse um corte no pé, seria a melhor descrição para alguém apaixonado.
Curiosamente,tomado pelo corte e pela paixão,o narrador está indefeso diante do que acontece.
A mercê das dores que o imobilizam : "o pé latejava e sentia uns calafrios. Não sabia se era por causa do pé ou por causa..."(pág.11)
Em alguns momentos tem clareza do objeto de sua dor/desequilibrio:
"Virgínia era a causa desse ferimento, dessa confusão toda. Se não estivesse aparecido aqui eu estaria hoje, restaurado, pronto, inteiro, intacto." (pág.11)
Mas ele não está intacto.
O narrador é tomado pela ansiedade, pelo desejo da presença de Virgínia, de quem ainda não sabemos - e nem saberemos -muita coisa. Ela não fala, ela não se mostra, ela recua quando ele tenta fazer com que ela apareça.
Enquanto isso, jorra amor do narrador, mesmo quando a pia do banheiro quebra e jorra água por todo lado ( o símbolo mais sexual dentro do universo onírico), absolutamente sem controle.
Assim,de uma hora para outra, depois de uma das despedidas dela que a ele pareceu definitiva, ela morre.
"Foi nesse domingo quente de verão que ficamos todos sabendo que Virgínia estava morta."
Todos nós: o narrador, o namorado médico, a mãe, a polícia e nós, os leitores. Sabemos que estava morta, que fora em um quarto barato de hotel e que talvez possa ter sido suicídio. O bilhete no bolso, que hora parecia poesia, hora bilhete suicida e hora receita de bolo, desaparece. Ela desaparece.
Então, com em quase todo amor, nasce de repente, dói e dá prazer, morre e cicatriza. Como o corte do narrador.

E eu terminei o livro com a sombra de Virgínia, quem era a garota de bunda caída, cabelos tingidos, tropeçando nos cadarços,que havia morrido? Por mais que eu leia e ouça o cd, acho que nunca vou saber. Nem o narrador.
Na introdução do livro o Alex Castro diz que o "Bia escreve pra caralho". Mas como eu sou uma dama, não digo essas coisas. (Mas que ele escreve pra caralho, ah, escreve.)

24 novembro 2009

Você chorou?



O filme é de 73, mas obviamente só o assisti uma década depois. Em uma era jurássica onde eu fazia teatro amador e poucas pessoas tinham vídeo cassete, combinei com duas amigas do meu grupo de fazermos uma sessão de filmes. Os escolhidos, depois de muitos debates, foram os muitos românticos, do estilo bem mulherzinha mesmo.
Era 84 ou 85, acho. Eu, Tatinha e Magali, três "atrizes" dedicadíssimas, escolhemos esse filme, fizemos um monte de porcarias pra comer e ficamos falando
( um pouco mal, um pouco bem) dos nossos namorados e dos nossos incríveis futuros.
No meio do tal filme, cochilei. Acordei depois e insisti que elas recolocassem a fita ( a fita, olha isso..rs), para que eu assistisse o final do filme.
Caracoles: aquele carinho triste que ela faz no cabelo ( liiiindo) dele foi o suficiente, chorei cachoeiras de sofrimento adolescente, diante do riso das minhas amigas.
E como boa adolescente maluca, coloquei a cena de novo e me debulhei...de novo.
A história, um tanto óbvia, é bonitinha: o garotão WASP e a menina-judia-politizada, começam com briguinhas e se apaixonam, blábláblá.
Algumas cenas são antológicas, como quando ele a visita e ela exulta e dorme ao seu lado ou quando existe o choque cultural com os amigos, etc.
Mas o final, ah, o final. Acho que choraria mesmo se visse hoje.
Sou uma romãntica inveterada, vocês me entendem.

28 julho 2009

"Mudaram as estações, tudo mudou.."







Semana passada houve um encontro muito importante pra mim. Fui na casa da Di, uma querida amiga da Unicamp que eu não via há anos e reencontrei ano passado, acompanhada de Mara, outra amiga querida, com a qual eu já havia recuperado contato há tempos. Só faltou a Frou, que machucou o pé e ficou em Campinas.
Esse ano faz 20 anos que a gente se conhece. Mara e Di são de 88 e eu e Frou de 89. Mara me "adotou" quando eu era uma caloura deslumbrada e continua sendo minha eterna veterana.
As meninas moravam na mesma república, onde havia festas divertidas, onde conheci o pai do Daniel.
Sim, eu vou falar as meninas, claro, porque quando a gente se reúne, parece que nenhum desses vinte longos anos se passou.
A intimidade é a mesma, o humor implacável da Mara exatamente o mesmo, a delicadeza da Di imutável. Isso é absolutamente único.
Fiz bons amigos em alguns lugares que trabalhei. Mas olho pra trás, para os dois últimos lugares, que fiquei anos e só consegui fazer - no máximo - colegas de trabalho cuja amizade finaliza assim que as aulas acabam.
No almoço em São Paulo, houve espaço pra sessão remember - claro - mas houve espaço pra nossa vida atual, nossos alunos, nossos filhos.
Fiquei pensando que privilégio é poder ter amigas assim, cujas décadas podem ser praticamente minutos.
Acho que a gente perde pessoas, por conta do cotidiano, até do descuido. Eu me esforço pra manter amigos assim por perto, porque no fim das contas, é isso o que importa.

23 maio 2009

Dia de rever gente





Eu sai mais cedo de um curso que faço aos sábados pra ir direto pra livraria Cultura, porque minha querida amiga Andréia T. Couto estava lançando um livro : O Lutador, um romance que vou resenhar aqui, aguardem.
Andréia é uma pessoa ímpar: fez Letras, Mestrado em Comunicação, Doutorado em Desenvolvimento Sustentável (na Engenharia Agricola, uia), morou na Alemanha, na França e há alguns anos encanou que iria escrever algo sobre Ruanda.
Beleza, pesquisou, fez contatos, mala, juntou uma grana e se aboletou em um avião rumo a África Central. Voltou no ano seguinte e preparou um livro reportagem, porque, mesmo com esse currículo bacana, decidiu fazer outra graduação, agora em Jornalismo. E fez.
Conheci Andréia Couto em 1993, quando éramos professoras na mesma faculdade. Hoje lembramos de umas histórias pitorescas de lá, qualquer hora eu conto.
O que eu adoro nela é esse jeito de se jogar no mundo, essa independência, essa vivacidade que quem a conhece sabe como é.
Hoje, além da alegria de conversar com ela e com seu marido Henrique - segundo ela, "uma delícia, um homem que não se acha mais nem com lanterna acesa" - ainda revi um monte de gente da Unicamp, pessoas que não via há séculos.
Fomos conversar em um bar : um bar anônimo, escondido, coisas de intelecutal, sacumé. Bar Bambu, anote aí.
Eu, como sou uma pobretona, gosto de lugares mais bonitos, porque pobre gosta de luxo, como ensinava o mestre Joãozinho Trinta, mas gostei desse: porções deliciosas, sandubas indescritíveis e cervejas de todas as partes. Como só tomo refri, a cerveja foi um toque bacana só pra ver mesmo.
Conto melhor depois, inclusive as explicações sobre as escolhas profissionais de cada um : Dudu, por exemplo, foi fazer Filosofia pra fazer a Revolução.
Somos filhos de outros tempos.
Vale dizer, por hora, que gostei muito. E agora, eu vou me enfiar debaixo do edredon com o romance da Andréia, e conto tudo para vocês.
Té mais.

13 maio 2009

O dia que eu não estava na lista










Acho que eu já disse aqui, tenho um fraco por professor. R. foi um amálgama de professor, namorado e amigo. Atualmente é leitor eventual dessa Casa, apesar da distância.

Ele foi quem me apresentou a alguns autores que nunca tinha lido, quem me estimulou a discutir e -segundo ele -foi a motivação pra eu fazer História.
Mas isso é egocentrismo dele.
O fato é que eu adorava suas aulas, isso é verdade.

Na época do Colégio, eu, R., Dri, seu então namorado e atual marido , Pitty, e outros amigos saíamos da aula e fazíamos um pit stop no bar da frente. Estudávamos à noite e sexta feira era obrigatoriamente dia de beber e jogar conversa fora.

Olhando agora, mais velha e infinitamente mais careta, acho um absurdo grande parte das coisas. Bebíamos por lá e íamos a pé até uma parte do Cambuí, cheia de bares, apelidada carinhosamente de Setor. Isso em uma era pré diluviana em que se podia andar a pé em Campinas, durante a noite.

Na sexta feira, era dia de ver Tati e Carô no Ilustrada, o bar mais bacana da época.

Me lembro de uma noite , andando ao lado da prefeitura, quando um garoto de rua desceu correndo, disparado e apavorado, fugindo de dois jovens.

O garoto agarrou as pernas de R., talvez percebendo, de alguma forma, que poderia ser protegido por ele.

R.segurou o garoto, falou calmamente com os perseguidores - que haviam sido assaltados pelo menino - e resolveu tudo. Mas com uma firmeza, um olho no olho, que não deixava espaço pra discordar. Os caras foram embora, o garoto foi salvo. E eu só pensava : "uau..."

Acostumada aos colegas histriônicos, aquele controle todo da situação era cinematográfico pra mim.

Na época, me encontrava com meu amor eterno da época lá no Setor, ele saia da agência e ia direto pra lá. Tinha ciúmes de R., coisa que só fui entender mais tarde. Antes que eu mesma notasse, ele já tinha notado meu interesse. Se é que dá pra entender isso.
Após o fim do relacionamento com esse namorado, houve algo muito bacana com R.
Como eu estava saindo de um relacionamento que havia me ocupado toda a adolescência e eu estava muito "mudééérninha", vivemos uma coisa esquisita no melhor estilo "relacionamento aberto".Eu achava o máximo na época, mas de forma alguma repetiria a dose hoje em dia.
Já disse, sou infinitamente mais careta.
Quando eu decidi terminar com ele, continuamos muito amigos.Tínhamos um gostoso ritual, cada vez que ele vinha pra Campinas:sair pra almoçar, conversar o dia todo, se despedir sem angústia. Era bom.
Depois, ficamos muito tempo sem nos ver.

Há alguns anos, nos reencontramos em São Paulo, ele vinha pra cá e combinamos de nos ver por lá.Um final de semana pra matar a saudade.
Já fazia alguns anos que não nos víamos. Foi bom e foi ruim. Acho que eu fui esperando o professor e ele foi esperando a aluna e "eles" não foram.Confesso que foi estranho.

Em um determinado momento, desse final de semana de remember, R. começou a relembrar as mulheres que passaram por sua vida. Sei lá porque. Fulana, Beltrana...todas lindas e inteligentes, blablabla.E eu ouvindo.

Mas ele me pulou. Eu estava deitada no sofá e pensei: "porra, ele me pulou".

Não corrigi, nem brinquei com isso. Só pensei que não estava na lista.Foi tão frustrante, me senti como se ele tivesse roubado algo que era "direito" meu, direito a parte de sua história. Talvez eu devesse ter dado um pedala bem dado, exigindo meus direitos, "ô meu filho, você está na minha lista, c***!"

Um dia ainda escrevo pra ele e digo isso. Ou deixo ele ler aqui.



**** publicado originalmente em 13/04/07.

05 maio 2009

A Novela Cor de Rosa do Bia








Em primeiro lugar, quero dizer que gostei do livro. Começo logo explicando isso, para que ninguém ache que as críticas que faço impliquem em não gostar da leitura, porque gostei.
Dito isso, vamos aos trabalhos. Optei por não fazer ruma resenha propriamente dita, porque isso implicaria em encher de spoilers aqui. Digamos que seja um comentário sobre a leitura.
Bom, mais uma coisa, uma coisinha. Vou tomar a liberdade de chamar o livro apenas de "Uma Novela Cor de Rosa", como Bia fez quando falou na FILC. (Assim evito piadas como a da Karen, que chamou "Ô, Bia, vem logo autografar a NOVELA da Vivi..", e não, ela não falou "novela", a doida.)
Então, vamos ao texto, de uma vez por todas.
Na minha opinião livro é oscilante: alterna cenas com vigor dramático e fortes cores cinematográficas - me arrisco a dizer que você consegue ouvir o barulho da batida do carro de Tiago - sem perder o rítmo e o foco, com cenas absolutamente dispensáveis.
Cenas que ficam perdidas e mal se sustentam, aparentando uma inserção no texto à forceps. Parecem estar ali apenas para marcar território, para alimentar a aura "ousada" já iniciada em Sexo Anal. Aliás, acho Virginia Berlim tão superior a Sexo Anal que realmente não compreendo porque se fala mais dele. Enfim.
O livro começa muito bem, mas perde o ritmo e fica entrecortado com cenas que poderiam ter sido reescritas. A cena em que Monique assedia o dr. Lobo é tão bizarra que poderia ser roteiro de pornochanchada anos 70. Mas obviamente esse era o intuito do autor, que constroi outras cenas que transitam entre o cômico e o escatológico sistematicamente.
As personagens femininas são um caso à parte, em uma trajetória que vem desde Virgínia Berlim, passando por Sexo Anal e culminando em Uma novela cor de rosa, elas são sempre notoriamente amorfas. Nem diria burras, elas são "um nada" - como na descrição de Virgínia - e seguem profissões que enchem seus dias sem maiores compromissos intelectuais. Valéria diz que poderia ser manicure ou cuidar de crianças, não há nenhuma ligação mais intensa com sua profissão ou com qualquer coisa mais profunda, são mulheres assustadoramente rasas. O curioso é que são muitas: uma horda de mulheres-nada.
Por alguma razão, as mulheres dos livros do Bia são absolutamente insossas, incultas e até tolinhas. Quando alguma é mais forte ou intensa, isso se dá no âmbito da sexualidade. Mulher mais poderosa é mulher comedora e pensa com os países baixos.
Ponto a ser discutido com mais vagar, mas por hora, apontado aqui neste texto.
Diferentemente de Sexo Anal, que mostrava o lado perverso da imprensa marrom, a história de Uma Novela Cor de Rosa perpassa um jornaleco de uma cidadezinha de 100 mil habitantes, não há, portanto, cenas grotescas que apresentem o lado B do jornalismo. No máximo, apresentam a parte burocrática e cotidiana. Isso é fascinante: o texto não procura mostrar o lado fascinante, mas o lado mesquinho, pequeno, rodrigueano mesmo.
Porque você pode esperar tudo de Biajoni enquanto escritor, menos que ele seja óbvio.
Curiosamente, parte significativa dos homens casados do livro é vidrada por travecos. As meninas são visitadas geralmente nas segundas feiras, que seria o dia dos casados da cidadezinha fazerem a festa, após a frustração do final de semana com a esposa.
O jornalista escroto de Sexo Anal reaparece aqui, apaixonado por Tiago, assim, inustitadamente, surge uma história de amor gay. Isso também não é explorado, Bia não cai em pieguismo politicamente correto simplista. É um amor, ponto.
Sem dúvida, Tiago é o personagem mais interessante - ainda que não inspire empatia propriamente dita - mas, comparado aos outros, é o mais complexo e curioso. O motivo de sua morte - não vou ser tão sacana e contar, fiquem sossegados - é fabuloso: é cínico, é doente, é brilhante.
O tom do livro permite ao leitor imaginar que tem em suas mãos um possível roteiro, como eu já disse, o tom cinematográfico é interessante, bem elaborado e o melhor de tudo, profundamente original.
Imperdivel.