28 abril 2007

Oxum


Não custa nada dar uma proteção pra esse blog. Tenho sorte de ter amigos queridos e fantásticos leitores que vem aqui.
Mas como a internet é um mar muito grande, nunca se sabe que tipo de doido pode chegar.
Que aqui seja uma Casa de paz e que mantenha os loucos babosos sempre longe.

27 abril 2007

Aula, Walter Benjamin e uma Chata que atrapalha

Deliciosa a aula que assisti sobre Walter Benjamin esses dias: a professora, que admiro profundamente, consegue ser interessante, sagaz , sem ser pretenciosa, sem aquele ranço prepotente que a Academia infecta às vezes. Sua fala é sempre muito rica pra mim. Cheguei em casa e fui reler os capítulos discutidos, depois da apresentação a releitura foi completamente ressignificada e eu adoro isso. Vou usar Benjamin em momentos cruciais do meu projeto, no tocante a linguagem e narrativa, em especial. Depois conto mais.
Só teve um porém: uma fulana não parava de interromper com perguntas que pareciam satisfazê-la mais do que a própria resposta, que ela não ouvia.Eu odeio quando perguntelhos se utilizam de um espaço coletivo pra um exercício de masturbação do ego. Principalmente quando é ego de gente chata, gente chata devia pagar multa pra conviver com os outros. Principalmente quando a aula deveria acabar as cinco da tarde, já eram seis e meia e todo mundo tinha compromissos e começava a deixar a sala, o que é embaraçoso.

E o Rafael ainda me vem defender a moça: era só o que me faltava, Rafael bonzinho. É o fim dos tempos.

Wagner Moura, o homem que existe


E não sei vocês, mas me tornei admiradora desse cara aqui. Acho que é um dos melhores de sua geração. No meio de tantos com aquele insuportável estilinho Malhação Da Globo, Wagner Moura me surpreende a cada papel: um mano completo em Carandiru, impressionante, domina a tela em cenas chocantes. O jeito de falar é perfeito, o corpo fala junto:é um mano drogado.

E o mano se transforma em nordestino, em galã, em qualquer coisa.

Atualmente me convence no papel de vilão em horário nobre: a naturalidade com que ele fala me faz duvidar que seja uma novela, ele me parece real, me convenço que é real. Fantástico.
Tem alguma coisa na forma com que ele conduz a fala que me dá essa impressão.

E nem critiquem a novela, porque estou achando ótima. Sei que a divisão irmã boa e imã má é batida, mas dá certo desde Caim e Abel, sacumé, alguns clichês são eternos.

De qualquer forma, a estrela é esse cara aqui.

alunos e avós II


Essa história é mais recente, deve ter uns três anos. Eu estava trabalhando em outra escola, totalmente diferente, mas muito interessante. Escola católica, estrutura monstruosa, luxo, coisas assim.

Eu estava fazendo chamada e sempre comentava o nome dos alunos ( hoje em dia, trabalhando nos cursos de engenharia, isso já não existe, por uma questão prática), falava o significado ou contava sobre um xará histórico, algo assim.

Um dia, empaquei em um sobrenome.

- A., você tem um sobrenome super bonito: Caro. É o sobrenome de um pintor super importante , sabia? o Bernardo Caro.

- Você gosta dele?

- gosto muito...sou fã. E ele mora aqui mesmo na cidade!

- ( toda feliz) ele é meu avô.

- sério????? - quase dando uns pulinhos.

- Ahã.

- (pra turma) Pessoal, vocês sabiam que a A., é neta do Bernardo Caro???

( interrogação geral)

- ele é um pintor super importante, blablabalbalabl.......

- ( pra A.) Diga pro seu avô que adoro o trabalho dele, ok?

- Vou dizer sim, Vivien - toda sorridente.


***** minutos depois , no corredor *******


Aluno - a A., tá se achando lá no pátio, porque você disse que o avô dela é um artista importante.Ninguém sabia....


Descobrir a própria família e a própria identidade é uma viagem,muitas vezes o olhar do Outro pode ajudar.


Homem bonito


A Lulu estava falando sobre o que é uma mulher bonita. Eu estava pensando em falar sobre homens bonitos. Não que eu não tenha falado sobre isso. Já andei tagarelando sobre isso aqui e aqui.

E só tenho uma certeza; não há receita, não há unanimidade. Graças a Deus.

Mas esse post aqui é ra saber a opinião de vocês: homens e mulheres que passam por aqui.

O que é um homem bonito?

Péssima notícia


O Senado aprovou a redução da maioridade penal para 16 anos. Eu já tinha comentado sobre isso nesse post e meu filho também.

Não vi uma discussão séria e sistemática sobre a conjuntura que gera violência. Vi apenas "debates" sobre a questão punitiva. É como se a conversa fosse sobre a dosagem de remédio pra baixar a febre, sem tratar a infecção. Sei que a analogia é pobre, mas estou irritada e não consigo pensar em outra coisa.

Não consigo imaginar como uma solução tacanha e populista dessa possa vir a melhorar a questão do cotidiano das pessoas. Se os problemas de educação, saúde e alimentação, itens básicos pro exercício da cidadania não são resolvidos, como querer conter a violência?
O que me choca é que parece que esses itens, intrinsecamente relacionados a essa questão, não aparecem nas discussões.
O que me espanta não é o garoto que se torna traficante, o que me espanta é o garoto, dentro da favela que não se torna traficante. Se a porta da sua casa vai ser chutada da mesma forma, se ele pode morrer - com bala do tráfico ou dos "hôme" - se ele vai ganhar uma merreca se estiver dentro da legalidade, por que ele ficaria dentro da legalidade?
Eu me sinto tola em dizer coisas de uma obviedade tão gritante. Tão gritante.

25 abril 2007

Rpg & Educação

Amigos, na última vez que apresentei meu trabalho no simpósio da Ludus Culturalis, dei uma entrevista pra uma rádio de São Paulo.
Meu eguinho de professorinha besta adora dar entrevistas todas as vezes que fiz isso, pra jornais e revistas, fiquei toda nojentinha por diiiiias. Pobre é fogo, vocês sabem.
De qualquer forma, quem quiser saber um pouquinho sobre minha pesquisa sobre RPG dentro do ensino de História, me escute aqui.
Quem quiser trocar figurinhas sobre isso, me escreva, o email está no perfil: use e abuse.

21 abril 2007

Cantando no chuveiro


Eu escuto várias músicas e penso que gostaria de ter talento pra escrever algo assim. Canto o tempo todo, Daniel fica me enchendo, diz que não aguenta mais minhas músicas de velho...que todas elas tem "oxalá, mar, amor e maria...ou tudo isso".
Fico louca com a profundidade do Chico, com a diferente sonoridade de João Bosco, com a intensidade da Tatiana Rocha. Mas essa aqui, simples de tudo, eu canto sem parar.Já disse aqui e repito, sou uma romântica daquelas incuráveis.Todas as vezes que me apaixono é pra sempre.
E sempre deixo isso claro, porque não sei ser sutil e porque não quero aprender a ser sutil.
Deve ser bacana ser vamp, totalmente demais, mas deixo pra aprender isso em uma outra vida, nessa já era.
Porque eu acho que as pessoas devem ser óbvias.
Essa música aqui eu posso não ter composto, mas eu concordo, me identifico, exatamente por ser absolutamente simples e clara, talvez até óbvia, como acho que as relações devem ser e porque toda mulher gosta de rosas, de rosas, de rosas.

39


Dia 01 de junho farei 39 anos. Será o último ano dos trinta, dai deixarei de ser balzaquiana pra ser sei lá o quê. Quarentona, certo? Parece tão solene escrito aqui. E parece tão simples na minha cabeça.
Me lembro de uma entrevista que vi com Meryl Strep, onde ela disse que , quando fez quarenta, se sentiu, pela primeira vez, à vontade com a idade.
Talvez seja assim pra mim também. Sempre me senti mais velha que meus amigos. Na graduação, alguns amigos me chamavam de mãe, por meu incontrolável instinto materno que se satisfazia, na época, com eles.
Me lembro com carinho de mim mesma na adolescência. Acho que essa coisa rumar pros quarenta faz a gente elaborar um certo "balanço" da vida: fiz isso, não fiz aquilo, dei mais ou menos certo ali,acertei em cheio aqui, fracassei acolá. Pra fazer isso, sempre penso nos sonhos que eu acalentava quando era garota.
Ganhei e perdi coisas por esses anos, mas ganhei uma coisa incrível: perdi a angústia. Perdi a sensação de saudade de algo que não sabia o que era. Ganhei uma calma que só a maternidade pode me dar. Ainda sou ansiosa, qualquer um que conviva comigo mais de cinco minutos percebe isso, mas é diferente. Tirando honrosas e horrorosas exceções, essa ansiedade não dói.
Hoje eu sei que tudo que vivi, não foi tempo perdido.

20 abril 2007

Neo-trans-pós-new-feminismo(s)


Quando eu era adolescente a detestava. Achava símbolo de futilidade, de fragilidade intelectual.
Já adulta, comecei a prestar atenção em suas músicas, em seus shows, na esperteza com que ela manipula atitudes "polêmicas", na relação interessante com a sexualidade, na suas sacadas de marketing, no seu toque de midas pra negócios, na sua mutação constante e quase initerrupta.
Agora eu adoro essa mulher.
Acho que representa um modelo de "feminismo" bastante interessante, onde a sexualidade é uma forma de poder e de conquista. Gosto mesmo, e não me desculpo.

Pandora


A Eva estava falando disso e resolvi roubar sua idéia. Ela descrevia o que tinha dentro da bolsa , as milhões de coisas que ela coloca na ali.
Aí revolvi mexer na minha, porque bolsa de mulher é sempre uma história.
Eu gosto de bolsas, tenho várias, de diversas cores, gosto de dar uma combinadinha básica. É divertido. A minha favorita é uma vinho, roxa, sei lá, uma nuance dessa cor. Fica chique se eu disser fúcsia? Essa cor existe ou eu sonhei com isso?
Dentro dele tem carteira, claro, ultimamente meio magra de grana, foto do Daniel, do meu pai, documentos, todos originais - eu sei, se eu perder, me ferro de verde e amarelo, mas uso assim mesmo.
Batom vinho, gloss. Praticamente só uso isso. Pó compacto. Pente, escova de dentes com caixinha, cartões de algumas pessoas que tenho que procurar e sempre esqueço, papéis com anotações de coisas que tenho que fazer e esqueço, chocolate ( mas só às vezes...), bolsinha indiana pra guardar moedas, caixinha de côco baiana pra guardar moedas, moedas soltas no fundo da bolsa.
Celular claro, uma bosta que não toca. Chaves de casa, chaves do carro.
Canetas, lápis. Remédio pra dor de cabeça. Filtro solar 50.
E na sua , o que tem?

Linha, agulha, tecido


Eu estava lendo a Anna e vendo que ela costura. Comentei por lá: ainda quero aprender a costurar. Duas irmãs de minha avó eram costureiras, faziam coisas lindas, fantásticas mesmo. Eu adorava aquele barulho da máquina de costura, antiga, linda, que reivindiquei e hoje é minha. Nenhuma delas está aqui, minha avó também não está, mas a máquina - daquelas com pé de ferro - agora está comigo.

Como eu contei na Anna, há alguns anos, quase 15 , tentei aprender a costurar.

Primeiro vamos saber porquê: bom, quando o Daniel nasceu , eu me sentia tão forte, tão especial, que achava que poderia criar qualquer coisa. A sensação de ter gerado vida e gerar alimento era muito, muito intensa. Eu nunca me senti tão mulher-maravilha com naquela época.

Aí veio uma vontade incrível de fazer coisas: queria mexer com cerâmica, fazer pão, costurar. Coisas eu sempre achei meio máginas, meio ritualísticas.

Mas meu ex-marido estava acostumado a me ver como a intelectual que gostava de política, que era ligada em outas coisas muito diferentes desse universo.Não me sentia presa a estereótipos: estereótipos são sempre tacanhos, as pessoas são maiores do que um estigma.

Não deixei de ser uma coisa pra ser outra, apenas agreguei coisas na antiga Vivien. Mas ele costumava dizer que tinha "namorado a Raquel e casado com a Ruth", numa referência ao remake "gêmea má x gêmea boa" que estava rolando na época.

Mas eu estava mais pra Visconde Partido ao Meio costurado: as duas partes, ou melhor, as várias faces de uma pessoa, de uma mulher. Não precisava escolher entre livros e panelas, podia ter ambas. Mas ele não entendeu isso.

De qualquer forma, ainda quero aprender, mas não posso negar, sou ruim demais. Disse isso na Anna: sou ruim mesmo, o pouco que consegui fazer ficou todo mocorongo, torto, uma desgraça.

Mas um dia vou sair toda linda e vestida "by Vivien".

Vai ser legal e vou contar aqui.

Procura-se


Procura-se vaga para professora, historiadora, consultora pedagógica e/ou blogueira.

Quem souber de algo pra salvar essa pobre alminha aqui, escreva para vivien_morgato@yahoo.com.br e receberá, inteiramente grátis, um curriculum e um agradecimento.

Nada é pra já


Minha querida Clélia sabe como adoro essa música.
Não adianta, gente, sou uma romântica incurável, inveterada.

Para a Cynthia


Minha amiga Cyn, que andou sumidérrima, disse que não foi no show desse cara aqui.Fez uma boa crítica, pertinente e legítima.
Mas eu sou daquelas, Cyn, me derreto por esse fulano desde os 15 anos. E me derreto toda ainda.
Essa música aqui é uma das que mais abalam, porque em muitos momentos da minha vida, como hoje, por exemplo, traduziu tudo com perfeição ímpar. Tem dias que é assim mesmo.
Eu confesso, sou uma delas, eu também amo esse homem.

Requentando IV

Tá bom, sexta feira é dia de ser egocêntrica, certo?
Eu vim toda animada pra escrever, mas me aborreci com emails de chefes, problemas de trabalho e o humor foi pras cucuias.
Boa sexta, queridos.

19 abril 2007

Pão novo


Como meu amigo Arnaldo me disse que estou dando "pão velho" pra quem vem aqui, está aqui um "pão novo".
Eu assisti uma breve reportagem (?) sobre um encontro cultural (?) entre guaranis e apaches.
A repórter pede ao cacique para entrar na casa, lá dentro, diz:
-geeeeennnnteee....
A mulher entra, diz geeeeente. A reportagem(?) já não prometia.Só faltava ela dizer:"que gracinha, eles tem cocarzinho....e redinha...ai, que meigo". Eu estava esperando isso.
O diálogo era insólito, a fulana olhava para as camas e colchões e perguntava:
- Foi sempre assim ou antigamente era diferente?
(resposta possível) - Foi sempre assim, usamos camas e colchões desde Cabral, sabia não???
(resposta do cacique) - Não, tivemos algumas modificações nos últimos anos.
Ela não parava nunca:
- vocês mudaram muito ou está igual antigamente?
( resposta possível) - "antigamente" , quando ,cara pálida?
( resposta possível) - não mudamos nada, sempre usamos chinelos havaiana e short.
( resposta do cacique) - mudamos um pouco, com roupas e língua. Mas ainda temos muitas tradições milenares.

Não preciso continuar, vocês já sacaram a dela. Agora me diz, com tanto jornalista competente no Brasil, porque eu vejo tanta porcaria por aí?

A reportagem falava , enfim, do encontro entre guaranis e apaches. Os últimos, com máquinas fotográficas, pouco se diferenciavam de turistas convencionais.
O tal encontro se limitou em psedo-shows em que uma e outra descendência das tribos se limitou a observar e dizer "legal".
Não é por nada não...mas minha concepção de troca cultural é um "pouco" diferente disso.Esse tipo de atividade, destituída de significado mais profundo, praticamente não acrescenta nada, a não ser fortalecer uma interpretação superficial sobre a população indígena, sua realidade e diferenças culturais.

17 abril 2007

Requentando (II)

Com o mesmo motivo do post anterior, aqui vai mais uma requentada.

Requentando

Eu sempre postei bastante, mas esses dias está meio difícil, em função do acúmulo de trabalho.
Mas requento aqui esse texto com vocês. E vamos vivendo.

12 abril 2007

Perdida entre escritores


Eu "vi", por esses dias, a escritora Vivina de Assis Viana, lá no Lord.

Me lembrei de tê-la visto falando, na Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, o primeiro encontro que assisti, lá nos idos 80, com 16 anos.

Nunca vou esquecer, era tudo tão intenso, tanta gente, tantos livros, eu me perdia na empolgação. Lembro de ter visto Vivina, uma das coisas que ela disse foi que alguém ( leitor? crítico?) notou que sempre nos seus livros, o personagem-pai estava lendo. Eu achei essa imagem tão interessante, e mais interessante ainda, surgida do seu inconsciente : notada pelo Outro.

Lembro que alguém da platéia mandou um recado mal educado, dizendo que "nem todo pai lia e balablablabalbalba". Sempre tem um burro de plantão.

Lembro de ouvir o Eric Neponucemo, profundamente espirituoso, lembro de tentar ver Orígenes Lessa, que estava doente e não foi. Achei o Antunes Filho meio histriônico, mas a fala foi brilhante.

Lembro da Ruth Rocha com uma fala divertida, atrasada e com um casaco exótico. Lembro de ter conversado muito com uma estudante de História da Usp, mal sabendo que eu mesma seria uma estudante de História da Unicamp, poucos anos depois.

Ela estava toda derretida pelo Ignácio de loyola Brandão, coisa que me chocou;

- que veeeeelho, fulana!!

Afinal, com 16 anos, qualquer um mal passado dos vinte já é um senhor idoso.

Mas me lembro com mais ardor de ter visto Maria Clara Machado, miúda, elétrica, em pé, falando e deliciando a todos.

Ela contava que , em uma das apresentações de Pluft, o fantasminha estava aflito porque a mãe não dava atenção, ocupada no telefone com a prima Bolha. Maria Clara disse que uma menininha de uns sete anos, levantou, no meio da platéia e gritou:

- liga não , Pluft!!!!! minha mãe também é assim!!!!!!

A platéia veio abaixo.

Eu estava tão emocionada, tão maravilhada. Pra quem viveu enfiada nos livros, pra quem era uma nerdezinha crônica que brincava de imitar estilos de autores brasileiros descrevendo o caminho da escola, aquilo era o paraíso. Os escritores estavam lá, andando no meio dos seres humanos.Eu não sei, talvez pra mim, escritor fosse algo diferente de ser humano.
Eu tinha acabado de me mudar do Rio para Campinas, tinha ido pra São Paulo unicamente pra assistir a bienal. Era um novo mundo pra mim.De certa forma, foi um ritual de passagem.

E foi tão intenso, que lembro, ainda que vinte anos tenham se passado.

10 abril 2007

Blogando


Outro dia, no trabalho, Tar estava comentando que, no meu blog, eu comento essas coisas.
Leia-se em essas coisas: pequenas cenas de infância, causos como o primeiro beijo e outras coisas.
Eu quero contar uma história, só isso.Se eu tiver que olhar pra mim, olhar pra minha vida, pra ter uma história pra contar, que seja assim. Não foi assim que tantos criaram histórias? Elas precisam ser realmente exógenas?
Não quero que sejam alheias , quero que sejam histórias que me toquem, me irritem, me divirtam...mas que tenham, todas, sentido pra mim.
Eu disse mais ou menos isso na Tati, quando ela colocou o anônimo louco dela pra correr. E eu li algo bem nesse sentido no Alex Castro: questionado por um leitor, ele disse que não queria bancar essa ou aquela imagem, queria contar uma história.Contar uma história.
Já disse aqui que esse blog é um dos meus atuais maiores prazeres. Já gostava da blogosfera quando ficava lendo e comentando por aí, gosto mais ainda , podendo escrever sobre o que eu quiser. E mais do que isso: revendo, remodelando ( ou não ) o que penso, graças aos comentários que gosto tanto. Comentários que são - com eu disse pro Arnaldo na última vez que ele escreveu aqui - post dentro do post, criando uma outra forma de ler, interativa, dinâmica e curiosa.
Por isso eu blogo, por isso leio e por isso comento.

08 abril 2007

a extinção da vovozinha


Acho que participo da última geração que teve a vovó tradicional, estilo D.Benta - mas sem tanta erudição - com cabelinho branco, vestindo chemisier e fazendo tricô.

Acho fantásticas a neo-avós, entre elas , minha mãe. Avós que trabalham, dirigem carros, se mantém vaidosas e não sucumbem aos cabelos brancos. Eu adorava o cabelinho branco de minha avó e seu jeito matriarca de ser. Sei que isso é único e poético.

Mas sou uma historiadora sem saudosismo, gosto das mudanças, mudo com elas e espero continuar assim.

Quando uma aluna dizia que a avó "estava no nordeste com o namorado" ou que a tinha ajudado no trabalho de História , "porque adorava ler, discutir e era desembargadora "( Ambas histórias são exemplos reais de muitos outros) eu achava o máximo.

E quando vejo mulheres na faixa dos sessenta anos, mantendo não só a vaidade, mas a beleza da maturidade e não pretendendo ter vinte ( com algumas escravas do botox) , acho o máximo.

Aqui em casa temos umas piadinhas internas com minha mãe: sugerimos que ela use avental, que faça gloriosos almoços de domingo. Ela faz um muxoxo, ri e diz que prefere pagar o restaurante. Quem tem mãe ariana sabe como é. O bicho aceita sempre que os outros digam a última palavra....que deve ser: sim.

Eu venho de outra geração, pra mim, o avental não é o mesmo signo. Ela tem ojeriza por ele, porque representa um modelo que ela procurou destruir. Eu o uso com prazer, porque a geração dela fez esse trabalho pela nossa: estraçalhou paradigmas e criou novas imagens femininas.

E o signo mudou, como tudo sempre muda. E eu adoro isso.

Talvez , em uma mudança-retorno, eu seja uma vovó D. Benta.

Não sei, só sei que serei uma avó blogueira, com certeza.

07 abril 2007

Heroes


Meu amigo, vizinho e um dos mais assíduso leitores dessa Casa, M., me convidou pra um programa absolutamente irrecusável: maratona Heroes. Eu e Daniel fomos, intrépidos, prontos pra virar a noite, nessa "balada" deliciosa.

Estavam outros amigos e fomos recebidos com cachorro quente, muito cachorro quente. ( Regime, alguém ai falou em regime...??)

Daniel resistiu bravamente até as três e meia, quando M. foi fazer bolo e café. Muito bolo e muito café. Gente , o paraíso na Terra.

Pouco tempo depois do bolo, Daniel capotou no sofá. Saímos dali às sete, sem ter visto tudo, mas sem aguentar mais. Depois de rir muito, dormi o sono dos justos até as duas da tarde.

Eu adorei Heroes, adorei a trama, adorei o inusitado dos personagens ( o visionário drogado, o "chupador de habilidades" meio problemático, a maluca duas caras, todos). Achei a trama mais do que envolvente, dinãmica, com dose certa de humor ( Hiro Nakamura, claro)

Ainda assim....creio que não bate em Lost. Mesmo que consiga costurar a trama de forma tão original, na minha opinião, Lost apresenta e reapresenta seus personagens. Seja mostrando fatos que fazem reavaliar a personalidade dos fulanos, seja modificando-os na própria dinâmica da história.

Algumas críticas afirmam que Lost abre muitas vertentes e não as fecha, frustrando o expectador. Eu, particularmente, dicordo. Acho profundamente estimulante.

Mas Heroes foi o que eu esperava.E virei fã.
E assistir assim, em dose cavalar, foi delicioso.

04 abril 2007

os acéfalos de Jim Jones


Outro dia eu conversava com uma amiga sobre notícias e filmes que marcaram a nossa infância e início da adolescência. Lembramos, entre gargalhadas, do Homem Cobra, um filme pra lá de trash que aterrorizou uma geração. Lembramos do desastre de avião onde os sobreviventes comeram carne humana.

Mas eu estava me lembrando de Jim Jones e o massacre na Guiana. Me lembro de ler sobre o suicídio coletivo daquelas pessoas, dos seguidores do tal pastor, mentor, lunático de plantão.

Durante muito tempo, aquilo ficou na minha mente: as fotos na Manchete, a planta da fazenda, a descrição de homens , mulheres e crianças que se mataram propositalmente, para seguirem a opinião de Jim Jones.

Me assusto com os seguidores, com aqueles que preferem infiar qualquer coisa goela abaixo - ainda que seja veneno - apenas porque não podem, não querem ou não conseguem discordar.
E percebo como a questão de estar no grupo, estar na matilha, é nevrálgica. Temendo a exclusão, o indivídio se perde dentro do grupo e encontra nele, sua proteção e afago. Assustador.

E penso, sempre, como discordar, como não seguir a matilha, pode ser libertador.Pode garantir ser um indivíduo, certo ou errado, mas um indivídio que pensa por si mesmo. Sem a necessidade da aprovação, do afago infantil, do meneio de cabeça.Penso que discordar, se há necessidade disso, pode proteger seus princípios.
Pelo menos, pode impedir o veneno de agir.

Sobre o rabino


Eu ainda não digeri a história, mas não consigo fazer piada com ela. Me chocou e ainda não entendi, nada, absolutamente nada.

Mas Branco Leone no post o rabino vai às compras, fez uma reflexão bacana. Vale a pena ler.

Um susto


Tentei aprender alemão algumas vezes. Na primeira, estava no ensino médio e frequentava o Hans Staden, que na época, era um dos melhores aqui da cidade. Aluna relapsa, gostava da aula, gostava da língua, mas não estudava.
Na época da inflação galopante que estourava meu parco salário - tinha o tal "gatilho" que não resolvia a parada - eu tive que parar, por motivos absolutamente práticos: não dava pra pagar.
Na unicamp frequentei algum tempo, continuei relapsa. Agora sei que : ou sento a bunda e estudo pra valer ou nunca vou sair de poucas e magras frases naquela língua absurdamente linda.
Há algum tempo, me matriculei em um curso perto da casa que morava: faria umas aulas particulares até poder me encaixar em um determinado nível. A professora, uma giganta loira e magra, me disse que eu teria aulas com seu filho. Nem pestanejei: imaginei um ratinho branco insosso. Como nunca fui muito ligada aos loiros, de cara, imaginei um homem pouco atraente.
Rapá...
No dia da aula, apesar de eu tentar fazer aquela cara básica de paisagem, quase surtei. O cara era um Thor. Muito alto - e eu tenho loucura por homens altos - simpático, sorridente. E lindo. Mas lindo de doer a vista.
E quem disse que eu conseguia me concentrar sozinha naquela sala com aquele homem todo falando aquela língua gutural?
Uma das lições, ele mostrava lá um deseinho e perguntava onde era meu quarto, onde ficava minha cama. Gente, isso aí, dito pelo Thor , em alemão, era de chorar.
Eu gaguejava uma ou outra resposta. Wunderbar!!! ele dizia, com aquele sorriso angustiante de tão lindo.
Não deu , gente, larguei o curso.