

Eu vejo novela e gosto: só colocam porcaria no ar porque querem, afinal, existem autores de talendo e atores fantásticos.
O caso é que seriar uma história não faz dela, necessariamente, uma má história. Mas como já contei aqui, conversando com um amigo que hoje é roteirista da Globo, ouvi algo mais ou menos assim; "Temos que escrever porcaria, porque nivelamos por baixo, competimos com porcaria...". Triste, heim?
Mas o fato é que assisto. E sempre achei que comunicação de massa TEM que ser discutido, dada o seu poder, a sua inserção social.
Vamulá.No caso da atual novela das oito, Viver a Vida, tenho alguns pitacos a dar:
* Atuação magistral de Aline Moraes e Lilian Cabral, que conseguem se superar a cada trabalho.
* Mateus Solano arrasando na pele dos gêmeos. Além de um ator de primeira, um fofo, uma coisa.
* Fotografia deliciosa, já vale a novela.
* Bárbara Paz arrasando como anoréxica bebum: além de uma atuação brilhante, um tema complexo e importante que massacra jovens brasileiras.
* Todas as informações sobre acessibilidade dadas na novela, sem papo com cara de sermão barato, estão imbuídas na história de forma inteligente.
Mas eu quero é falar do lado B:
* Sei que infidelidade é comum, rola e tal. Mas nessa novela, TOOODOS são infiéis sistematicamente. Em uma festa, o namorado flerta com uma louca qualquer, nas fuças na namoradinha jovem. Em outra, o marido dá cantada em uma desconhecida, enquanto a mulher enche a cara. A mesma mulher que, entediada de sua vida vazia, tem um grande dilema : trair ou não trair. Fato que é motivo de piadas da amiga.
A amiga da personagem principal, observando a primeira crise do casamento desta, diz:
- Relacionamento é como cristal, partiu, não tem jeito.
Joga fora e compra outro.
Juro em cima do pc que ouvi essa pérola.
Vamos comprar, gente, é promoção. Ainda que a infidelidade exista, que as crises existam e que casamentos acabem, essas interpretações levianas são um saco.
Fica tudo sendo a mesma coisa: artigo que pode ser comprado.
Aí é a prima que avança no quase-caso da outra prima, a prima que dá corda pro marido da casada corna( aqueeeela que divide a vida entre academia e ...academia).
* o personagem do José Mayer merece um tópico só pra ele: é o protótipo do tio sukita em sua pior versão. O autor teve a infelicidade de criar cenas em que ele agride Dora - uma personagem dúbia e estranha - e a despeito disso, é recebido por ela em um arremedo de amor-ódio que não cola.
Quando ela diz que vai trabalhar na casa, ele retruca, com vozinha rouca ( péssimo):
-
Vai trabalhar aqui...tem que fazer o serviço todo.
Quase vomitei, povo.
O autor acha meeeeesmo isso erótico? Onde? Em novela mexicana ou peça de circo do interior?
* Trabalho infantil me assusta, já comentei aqui, já coloquei a
Beth Davis aterrorizando o público em
O que Terá acontecido a Baby Jane? Porque efetivamente acho um risco expor crianças ao universo do trabalho, ao universo da ficção e todas as suas neuras.
Aquela menininha é uma fofa, mas eu penso nos astros mirins norte americanos, todos surtados e tenho pena da garota.
Esses são alguns dos pontos que me chamam a atenção na novela. Pena, né? Com tanta gente talentosa, eles ainda escolhem o Manoel Carlos do Leblon e suas velhas histórias repetidas.