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22 março 2011

Histeria coletiva





Vamos ser francos....algumas imagens não são assustadoras?

01 novembro 2010

O meu país tem uma mulher presidente























"E cada pai e mãe olhe agora nos olhos de suas filhas e diga: a mulher pode".

( Dilme Roussef)



E fica a dica pára quem quer ler sobre preconceito e machismo nessa campanha histórica: aqui e aqui.

05 outubro 2010

'"Tropa de Elite, osso duro de roer" - post sobre o primeiro filme







A primeira pessoa que vi falando do Tropa de Elite, foi a Andréa .Eu nem sabia o que era BOPE.De lá pra cá, fugi dos textos que falavam do filme, para tentar assistir com menos bagagem,com mais abertura para minha propria análise.De cara havia a questao, ser ou não fascista , não dava pra não pensar nisso.Porque apesar de não ler as análises, alguns dos temas das discussões sobre o filme sempre acaham chegando, só dá pra fugir totalmente, indo pra Marte. ( Ou preenchendo diários de classe, claro).
Não achei fascista, não achei que faz a apologia ao Bope. Mas abre o flanco para essa interpretação, afinal, mostra o ponto de vista do Nascimento e isso, muitas vezes, acaba desenvolvendo uma cumplicidade entre espectador e filme.
Então, para um expectador mais afeito a porrada e que tem simpatia por "justiceiros", parece ser uma apologia.
Por mais que seja óbvio - e é obvio - é importante falar sobre a questão plástica do filme e no seu tempo: o ritmo dele é instigante demais,ele é visualmente interessante e os atores são um show à parte. Se eu disser mais uma vez que adoro Magner Moura, vou acabar ficando ridícula.Mas eu não temo o ridículo quando ele é bem intencionado e assim, repito: o cara é simplesmente um dos melhores atores que já vi.
Gosto de filme com narrador, gosto dessa coisa que acaba sendo uma forma de modelar meu olhar, direcionar. Nesse caso, o narrador era um personagem que eu sentiria aversão logo de cara. E senti mesmo.
Pra mim não adianta mostrar o lado "papai em crise", "marido com apartamentinho ferrado" para eu simpatizar: a História prova que homens terriveis no trato social podiam ser adoráveis em casa. O filme "A Queda - as últimas horas de Hitler", apresenta o fuhrer sendo carinhoso com o cachorro, entre um surto e outro, por exemplo.
Ao msotrar o cotidiano, o personagem deixa de ser apenas o Outro e o vilão por exelência,como ficou reduzido o Baiano ( em apenas uma cena ele é visto com a mulher e filho),passa ser um cara comum. E os caras comuns não são monstros, são?
Ah, gente, são.
E a HIstória prova.Mas para algumas pessoas, pode parecer que não.Esse é um dos pontos que abrem o flanco para a interpretação "pró bope", creio.
Impossível não ver como a autoridade, ou melhor, como o grande prazer no abuso da autoridade e da violência estão impressos no Capitão Nascimento.
Em busca de valores éticos louváveis - como a repulsa a corrupção e a convivência pacifica entre policiais e traficantes - Capitao Nascimento se advoga o direito de "trazer a doze".Assim, ainda que sob um objetivo correto, Nascimento cede/entra/mergulha na lei da selva.
Se alguém me disser que os traficantes fazem o mesmo, vou ficar irritada.Porque se a lei for usar as memas estratégias e regras da marginalidade, voltamos a barbárie. Aliás, é exatamente isso que vivemos, o que é deprimente.
Me apavoro em pensar que vivo em um mundo onde um ou outro "capitao nascimento" decide quem vive e quem morre. Policial e padre, pra mim, só à distância.
E muita distância.
Obviamente sei que o cotidiano deles é estressante e coisa e tal, não creio que seja possível não surtar eventualmente ,ou tomar bola, como o Nascimento.Mas isso não significa que direi que apoio. Tenho repulsa por justiceiros e afins, tanto quanto qualquer outro tipo de violência.
No conto "A Coleira do Cão", Rubem Fonseca demontra, de forma absolutamente genial, como um policial acaba se envolvendo, se deixando seduzir pela possibilidade de usar qualquer método, de estar além da lei e mais do que isso, de efetivamente se sentir envolvido pelo poder da violência: de ser pego pela "coleira do cão".
Nesse conto,filmado pela Globo com o excelente Murilo Benício, um delegado honesto tenta trabalhar dentro de uma esfera de lagalidade, até perceber que todos na delegacia - menos ele, como descobriu - estavam atravancados com uma rede de corrupção e abuso de poder.
Até que ele mesmo se sente seduzido, tomado, pela chamada coleira do cão, onde o poder, associado a uma fálica arma o transforma.
Inevitável pensar no prazer que proporciona aqueles policiais a chegada, o terror, o tal tapa na cara. Um amigo de infância, hoje policial no Rio , diz pra quem quiser ouvir que "dar tapa na cara é bom pra caramba".
O persongaem Neto, notadamente perturbado,com a cena hiper "Taxi driver" ,que seria o escolhido ( doido por doido...)para substituir o líder do BOPE é morto. Sua morte é vingada pelos companheiros. Sim, vingada, ou seja, um conceito fora da legalidade, onde o policial se torna também juiz e carrasco.
A responsabilidade dada ao coletivo, sintetizada na crítica ao uso do baseado dos universitários é e não é interessante. Em um primeiro momento, com minha patológica aversão ao Estado, penso que o coletivo pode e deve exercer seu poder: usar drogas cria a marginalidade? Em parte, sim.
Mas a questão principal é: usar drogas, pura e simplesmente, cria a marginalsidade?
Não.
Eu sei que vcs vão dizer que estou usando um grande clichê, mas por incrível que pareça, para alguns espectadores do filme , ainda há que se apontar: as condições sócio econômicas criam a marginalidade, em alguns casos, fica impossível fugir dela.
O fato de haver usuários de drogas não tornou eu ou você que está lendo, traficantes. Mas se nossas condições fossem outras, poderia ter tornado.
Eu confesso que me incomodei um pouco com a visão tortuosa que foi transmitida acerca dos universitários. Concordo em parte, mas como toda generalização é burra, creio que apresentar absolutamente todos os estudantes como "garotos-danoninho-esquerda-festiva" é exagero.E aquela aula que reduziu Foucault a papo de botequim com secundaristas foi o fim da picada. Ali era só pegar um professor para dar assessoria, porque um bom professor torna palatável textos densos. E se evitaria aquela cena - insólita - da aula.
Arnaldo Jabor inexplicavelmente acredita que tem a capacidader de traduzir o inconsciente coletivo, desta forma, diz que não foi o olhar sádico que teve peso sobre o público, mas a forma que o público se sentiu "vingado".Acho pertinente sua interpretação, mas acho tolo acreditar que uma chave explicativa dá conta da leitura do público.Aliás, ele disse isso baseado em quê? Achologia é terrível.
Fiquei pensando sobre as estratégias de treinamento do BOPE, em grande parte, parecidas com o treinamento espartano e também próximo ao que se vê expresso na pesquisa "Tortura Nunca Mais". Nesse caso, o policial tortura os amigos, passa por tortura. Depois disso, arrebentar com qualquer um fica fácil, principalmente se for o Outro, o inimigo, o diabo, ou sei lá como eles traduzem isso.
No momento da tortura, o cara confessa, mente, bota a mãe no meio, diz que assinou o livro do capeta com o sangue de bebês. Qualquer um que tenha lido Guinzburg ou outro historiador que pesquisou o Santo Ofício percebe isso.
Assim, acho que algum personagem que relativizasse um pouco esse olhar maniqueísta de Nascimento, que questionasse suas ações poderia contrabalaaçar um pouco a narrativa.Ainda que sob a ótica do BOPE, acho que tenderia a possibilitar uma interpretação mais aberta e múltipla.
Então, ainda que eu não acredite que o diretor tenha elaborado um filme para tecer loas a esses métodos policiais, me deparo com William Wach soltando essa piadinha-pérola, ao falar sobre corrupção da polícia.
"é..o capitão Nascimento não gostaria nada disso..."
Pois é, o capitão América também não.


*****post originalmente publicado em 2007.

Pretendo ver o Tropa de Elite II, então, vamos esquentando os tamborins.

17 setembro 2007

O texto da Mel









Lendo o blog da Mel, me deparei com esse texto. Pedi autorização dela para publicá-lo, porque acho que o racismo deve ser combatido sistematicamente, diariamente, sem tréguas. E nada melhor do que ouvir quem levou na própria carne pra ter mais certeza ainda.Acompanhem a Mel:




"Obtive meu primeiro emprego com carteira assinada em 1996, aos 15 anos. Fui contratada para ser atendente de uma das lojas Arby´s, um fast food de sanduíches de rosbife. Comecei em novembro. Em dezembro tive meu primeiro salário (recebia R$ 1,96 por hora) e fui ao shopping Ibirapuera (o mais próximo, dado que eu trabalhava na Alameda dos Maracatins) comprar uma calça jeans de cintura baixa. Há tempos queria ter uma. Todas as meninas usavam modelos assim. Geralmente eu herdava roupas que não cabiam mais em minhas irmãs, logo não podia me dar ao luxo de ter preferências. Mas naquele dia de dezembro de 1996 seria diferente: com meu primeiro salário eu compraria uma calça exatamente do jeito que eu queria.

O tempo apaga muitas coisas da memória como, por exemplo, o nome da loja que escolhi para fazer minha tão almejada compra. Entretanto não apaga outras como a sensação de ser sumariamente ignorada dentro desta mesma loja. As vendedoras, todas brancas como as clientes que estavam por ali, escolhendo e provando roupas, não se deram ao trabalho de perguntar nada, de oferecer ajuda... enfim: eu era absolutamente invisível naquele lugar. Inegável mal-estar. Vontade de sair dali o quanto antes. Sorte que a loja era do tipo que deixava a mercadoria à mão. Sozinha procurei a calça e encontrei um provador livre. Sozinha me dirigi ao caixa para efetuar o pagamento. A moça do caixa me sorriu e perguntou onde estava a minha comanda. Eu disse que não tinha uma. Ela então perguntou quem me atendera. Ninguém, respondi. Por um momento ela ficou me olhando. Como se houvesse entendido coisa que eu aprendera a entender desde muito cedo. Paguei a calça, peguei minha sacola e fui embora.

pCreio que todo adulto negro lembre de pelo menos uma dezena de episódios de racismo pelos quais tenha passado. Digo isso chutando baixo. Eu nunca parei para contabilizar (até porque tenho mais o que fazer da minha vida), mas enquanto escrevo este pequeno texto vão me aflorando na memória muitos, muitos mesmo. Desde o colega da pré-escola, Eduardo, 5 anos, que numa brincadeira infeliz de “beijo, abraço ou aperto de mão” cuspiu no chão depois de beijar minha bochecha até o constrangimento de, numa agência de empregos da Barão de Itapetininga, ser “avisada” pela entrevistadora que a vaga pela qual eu me interessara era só para quem estivesse “fazendo faculdade”. A fulana tinha meu currículo nas mãos, mas não se deu ao trabalho de olhar o documento: para ela bastava olhar o tom da minha pele e, a partir dele, julgar meu grau de instrução.

Algumas pessoas que se posicionam contra a concessão de cotas para negros nas universidades alegam como motivo principal a dificuldade de apontar, num país tão miscigenado, quem seria de fato negro. Haveria uma dificuldade em apontar o fenótipo. Engraçado que quem nasceu negro neste país sabe exatamente o fenótipo que o faz ser preterido quando se candidata a uma vaga de recepcionista, por exemplo. Não quero com esta declaração me posicionar a favor das cotas. Este é, aliás, um defeito da minha formação. O professor Kabengele diz que os educadores têm a obrigação de ter uma opinião formada sobre este assunto, o das cotas. Eu confesso que não tenho uma, ainda. Toda vez que começo a pender para uma posição, surge um outro questionamento que me faz rever tudo... Em todo caso eu não comecei a blogar para escrever sobre as cotas. Isso aqui é sobre outra coisa.

O racismo dói e ao mesmo tempo revolta. Quando criança, mais nova e inexperiente, doía mais que revoltava. Hoje revolta mais que dói.

Setembro de 2007. Vou almoçar com uma colega da seção. Não sei por que cargas d´água falamos numa outra pessoa que também trabalha na FEA. A colega, rindo, me pergunta se eu estava falando da “dominó”. Fico intrigada com o apelido, não entendo. Ela me explica que M., um outro funcionário da FEA, dera esta apelido àquela pessoa a quem nos referíamos por se tratar de “uma negra com pinta de branco”.

Preciso dizer que perdi a fome?

Atitudes deste tipo me incomodam tremendamente muito mais que demonstrações de racismo declaradas. Quando trabalhei na Atento tive uma amiga, de quem gostava muito, que desde a primeira visita a sua casa me avisara “Minha vó não gosta de negros”. Eu ia sempre visita-la preparada para o tratamento hostil. A criatura de seus 80 e poucos anos permanecia na cozinha enquanto eu estivesse na sala. Eu, da minha parte, fazia de tudo para ir embora logo. Assim nos (des)entendíamos e a vida prosseguia. O comportamento do M. me incomoda por ser velado. Duvido que, se colocado frente a parede e questionado se seria de fato um sujeito racista, M. responderia “sim, eu sou”. Imagino que se desvencilharia da questão com uma alegação do tipo “foi só uma brincadeira” ou coisa que o valha.

Não é preciso ter cursado Letras e nem ser um às em análise do discurso para perceber o racismo presente no apelido e na expressão “preto com pinta de branco”. A colega de trabalho da FEA em questão, a apelidada de “dominó”, veste-se muito bem, com muito bom gosto por sinal. Para o racista M. este esmero significa um distanciamento da negritude e conseqüente aproximação ao “mundo dos brancos”, mundo dos “bem-vestidos”. Alguém duvida que isto seja racismo?

Lembro-me de, mesmo criança e incapaz de compreender muitas coisas, questionar o porquê de certas atitudes alheias que doíam em mim. Como o exemplo do pequeno Eduardo que, aos 5 anos, numa brincadeira de “beijo, abraço e aperto de mão”, cuspiu no chão na frente de todos depois de beijar minha bochecha. Demorei alguns anos para entender que a culpa não é do Eduardo, mas sim de seus pais e/ou demais adultos que de alguma maneira vão incutindo o gérmen do racismo em seus filhos, sobrinhos, netos, afilhados, etc. A criança é resultado de seu meio. Assim, boçais racistas como M. vão, infelizmente, plantando suas sementes podres e gerando pequenos Ms Juniores...

Ps: Como não sei quem lê este blog, me contive e optei por não citar abertamente o nome do racista funcionário da FEA em questão. Não se trata de medo, nem nada do tipo. Ocorre que o episódio além de não ter acontecido diretamente comigo me foi narrado em 3º pessoa. Não posso sair por aí fazendo acusações porque teria que prova-las. Duvido que o racista em questão assuma o que disse. De pessoas assim só é de se esperar a covardia. "