Mostrando postagens com marcador saudade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador saudade. Mostrar todas as postagens

25 janeiro 2011

Uma ligação do outro lado do oceano







Foi em 2000. Eu estava sozinha em casa, em um sábado à tarde, dormindo. Não estava em um período lá muito feliz, encarando uma segunda separação. Estava morando em um apartamento com Daniel, dando aulas e tentando ser a Malu Mulher de novo. O telefone tocou, atendi ainda sonolenta. Uma voz feminina com sotaque português perguntou se eu era a Vivien. Eu disse que sim, sem saber com quem falava.
Para minha felicidade, rindo, ela disse:
- Não reconhece mais sua amiga do outro lado do oceano?
- Adriaaaaaanna
...?
Foi demais. A Dri foi minha amiga de escola, juntas estudamos, fofocamos, badernamos, consertamos o mundo em intermináveis conversas no Caicó ou no Ilustrada, cantamos, confidenciamos coisas.
Eu não via a Dri desde que ela havia ido pra Portugal, anos atrás.
Foi uma risada só, quando tentamos colocar todas as novidades dentro daquele papo no telefone.
- Espera, espera....heim?...olha, o Pitty está perguntando se você ainda é jeitosinha como no tempo da escola..
- (risadas) Fala pra ele que estou fazendo regime, tô sempre fazendo regime agora
..
E foi um tal de passa o telefone pra ele, volta o telefone pra ela, aquela baderna de amigos que se querem bem.
A partir dali e graças a internet, continuamos a ter contato. Tivemos ótimos momentos aqui no Brasil, quando ela veio no ano passado.
Agora, para minha surpresa, vejo que Fábio, seu filho mais velho e que hoje mora na Inglaterra, vai se casar ano que vem. E eu o carreguei no colo, literalmente, era um fofo de cabelos angelicais.
Eu sei, sou uma tia coruja. Mas tenho todos os motivos do mundo.
A Dri sempre lembra, como no comentário do post abaixo, que eu e Pitty gostávamos de Legião, diferentemente dela, que nunca nos acompanhava na cantoria de Faroeste Caboclo do bar do Beto, nosso ponto de encontro na frente da escola.
Mas ela já se rendeu ao bom gosto, né, Dri?
Tempo bom, gente boa, lembranças boas.





*****texto publicado anteriormente em agosto de 2008.

20 setembro 2010

Dicionário de Gogoiês


Pra quem conviveu com minha avó Gogóia, era fácil entender. São termos antigos, uns reais, outros inventados por ela mesma.












Babilônia: mulher desarrumada, com roupa estranha. Pode ser substituido por "mal ajambrada". ex: " Olha aquela babilônia ali, ah,que coisa...!"

Guarda Vestidos :guarda roupa, ainda que seja de homem.Ex :"pega ali,no guarda vestidos dos meninos.".

Os "meninos":os sete filhos bigodudos.

As "meninas":as cunhadas velhinhas.


prestimosa : moça prendada e com iniciativa.



ajutório: Ajuda, auxílio nas coisas da casa. "Vivinha, você não vai dar um ajutório pra sua mãe?"


escrúpulo :nojo . Ex " Fulana não come isso, você sabe, ela é muito escrupulosa".



consetir : permitir, deixar.ex: "Papai jamais consentiria isso."

Tágio : apelido do irmão favorito, Carlos.


incomodada : menstruada.



escurruluimcumtrim : acabou. Não, não me peçam pra explicar, não faço a menor ideia.


macaco-do-rabo-comprido: aquele que pede de volta um presente que recebeu, baseado em uma historinha que ela contava. ex;" Devolve isso pra ela, seu macaco-do-rabo-comprido!"

$$$$ Ri muito.Alguém me "explicou" o significado correto para a palavra escrúpulo....rsr....bom,pessoa não-leitora, se ela usasse dentro do código correto...não teria porque estar nessa lista,certo?
ah,adivinha! Babilônia também significa outra coisa...rá!

08 fevereiro 2010

As moiras


Eu estava saindo do supermercado,com minha mãe. A velhinha me abordou:
- oi. Você pode me levar pra casa?
Foi tão rápido, respondi sem pensar:
- claro que posso.
Minha mãe foi racional:
- Mas a senhora está sozinha? Com quem a senhora veio?
Ela explicou que tinha vindo sozinha, mas que era difícil voltar de ônibus, com as compras. Olhei as compras dela, sacolinhas amarradas em um carrinho de feira.
Fomos pro meu carro, mas era difícil colocar o carrinho de feira na mala.
Ela organizava:
- Nós três juntas vamos conseguir, vai, vamos lá, um, doi,três!!!
Tive de chamar um funcinário pra ajudar, ela falava, lúcida e animadamente.
Contou que era sozinha, não tinha casado ou tido filhos, que tinha tido uma sobrinha que a ajudava, mas a sobrinha havia morrido.
Ela parecia minha avó, falava como minha avó e aquilo me doeu de forma insuportável. Eu dirigia e chorava , achando ótimos poder esconder isso nos óculos escuros.
Pensei naquela cena insólita: na tríade feminina, a mulher, a senhora e a velha.
Tenho mania de achar que tudo é um sinal, tudo significa algo além do que posso ver. Aquele dia, pra mim, foi um sinal.
Me comovi com a velha e sua solidão, me comovi com a velhice que iria chegar pra minha mãe e pra mim, me comovi com a saudade descomunal que sinto de minha avó.
Ela contou da vida, falou muito, me abençoou. Disse pra chama-la de Detinha, porque todo mundo a chamava assim.
Deixei dona Detinha em um prédio de classe média, onde o porteiro veio ajudar a tirar o carrinho e a velhinha. Muito cuidadoso com ela, porque ela inspira isso.Eu disse que era perigoso, que ela não deveria fazer isso, mas ela riu e disse que sempre tinha gente boa no mundo, gente pra ajudar.
Abracei chorando a d.Detinha, esperando que ela continuasse com essa gana de lutar contra a solidão e com esse jeito de avó.




***Publicado originalmente em março de 2007.

29 janeiro 2010

Sexta musical - Chico

"(...) esse amor adiado..esse amor que fica pra sempre...né...essa idéia do amor...do amor que existe...algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não se desperdiça, que passa-se o tempo... milênios...e aquele amor vai ficar até debaixo dágua...vai ser usado por outras pessoas...amor que não foi utilizado..porque não foi correspondido, então ele fica ali..fica ímpar.. pairando ali...esperando que alguém apanhe e ...complete a sua função ...de amor" ( Chico Buarque, em entrevista sobre "Futuros Amantes")






***post originalmente publicado em junho de 2008.

08 janeiro 2010

A pianista e o violeiro I



Minha avó era uma dondoquinha carioca que se orgulhava de seu piano. Meu avô era um filho de fazendeiro paulista que trabalhava como tropeiro da fazenda. Ambos tinham grana, um certo status e uma vida bastante confortável.


Minha avó, Gogóia, se mudou para uma fazenda no interior de São Paulo, onde o pai foi se tratar de uma série de problemas de saúde. Lá conheceu um jovem chamado Gabriel, que era tão lindo com seus irresistíveis olhos azuis, que já tinha o apelido que carregaria até ser avô: Belo.


Belo e Gogóia namoraram e casaram: ela com 19 anos , recém orfã , ele com pouco mais de 20, tornado pobre por um negócio equivocado do pai. Perderam a fazenda e tiveram uma vida de privações. Diferentemente da juventude, passaram uma vida apertada e difícil. E tendo oito filhos, tudo era ainda mais trabalhoso. Mas devo dizer que não me lembro de tê-los visto reclamando disso.


Minha avó nunca mais teve seu piano, mas isso é tema pra outra história.


Meu avô continuou tocando seu violão, como eu já contei aqui, algumas músicas, como Índia,são impossíveis de ouvir: eu simplesmente choro mesmo, mesmo que eu tente dar uma de durona, é fogo, não dá. Abro a boca.Me comove demais.
Ele tinha uma bela voz de seresteiro e algumas das noites mais lindas que tive na infância foram no sítio do meu padrinho: os tios , tias, primos, sentados nas cadeiras e redes, sob a luz do lampião, ouvindo meu avô cantando e tocando violão. Dá um nó na garganta só de lembrar.

Tenho sonhos nonsense com eles. Conversamos muito nesses sonhos.


- vó, agora que você morreu , vou te ver menos, né?


- ah, vai ser assim.....rindo


E falamos normalmente: ela do lado de lá e eu do lado de cá.


Mas a saudade ainda é insuportável.


NOITE CHEIA DE ESTRELAS

(cândido das Neves)


Noite alta, céu risonho,a quietude é quase um sonho...

O luar cai sobre a mata,qual uma chuva de pratade raríssimo esplendor.

Só tu dormes, não escutas o teu cantorrevelando a lua airosaa história dolorosa deste amor.


Lua, manda a tua luz prateadadespertar a minha amada!

Quero matar os meus desejos,sufocá-la com meus beijos...

Canto, e a mulher que eu amo tantonão me escuta, está dormindo.

Canto e, por fim,nem a lua tem pena de mim,pois, ao ver que quem te chama sou eu,entre a neblina se escondeu.


Lá no alto a lua esquivaestá no céu tão pensativa...

As estrelas tão serenas,qual dilúvio de falenas,andam tontas ao luar...

Todo o astral

ficou silente para escutar o teu nome entre as as dolorosas queixas ao luar!




Essa foi uma das poucas reproduções que encontrei no youtube. Não é um cantor famoso, é um anõnimo que cantou e postou a música que gosto tanto e que tanto me lembra o vovô.
Duvido que um Botelho escute isso sem lutar contra o choro.





****publicado originalmente em 2007.

28 julho 2009

"Mudaram as estações, tudo mudou.."







Semana passada houve um encontro muito importante pra mim. Fui na casa da Di, uma querida amiga da Unicamp que eu não via há anos e reencontrei ano passado, acompanhada de Mara, outra amiga querida, com a qual eu já havia recuperado contato há tempos. Só faltou a Frou, que machucou o pé e ficou em Campinas.
Esse ano faz 20 anos que a gente se conhece. Mara e Di são de 88 e eu e Frou de 89. Mara me "adotou" quando eu era uma caloura deslumbrada e continua sendo minha eterna veterana.
As meninas moravam na mesma república, onde havia festas divertidas, onde conheci o pai do Daniel.
Sim, eu vou falar as meninas, claro, porque quando a gente se reúne, parece que nenhum desses vinte longos anos se passou.
A intimidade é a mesma, o humor implacável da Mara exatamente o mesmo, a delicadeza da Di imutável. Isso é absolutamente único.
Fiz bons amigos em alguns lugares que trabalhei. Mas olho pra trás, para os dois últimos lugares, que fiquei anos e só consegui fazer - no máximo - colegas de trabalho cuja amizade finaliza assim que as aulas acabam.
No almoço em São Paulo, houve espaço pra sessão remember - claro - mas houve espaço pra nossa vida atual, nossos alunos, nossos filhos.
Fiquei pensando que privilégio é poder ter amigas assim, cujas décadas podem ser praticamente minutos.
Acho que a gente perde pessoas, por conta do cotidiano, até do descuido. Eu me esforço pra manter amigos assim por perto, porque no fim das contas, é isso o que importa.

13 junho 2009

Cantando para o Dino

Dino é o apelido de Daniel, recebeu esse apelido do pai aos cinco ou seis meses e ficou. Dino, Dininho, Dinão. Ainda bem que ele não lê meu blog, ia ficar bravo com essas baboseiras de mãe.
O fato é que quando Daniel era bebê, tinha aquele hábito bebezístico de acordar muitas vezes durante toda a noite. Tínhamos um acordo: eu levantaria durante a madrugada e o pai acordaria pela manhã, para que eu pudesse ficar um pouco mais na cama. Claro que ficava meio difícil dormir com os dois brincando na nossa cama, mas eu era insistente.
Para fazê-lo dormir, cantava as milhares de cantigas de ninar, aprendidas com minha mãe. Ao contar isso, parece que estou no quartinho dele, na penumbra, cantarolando aquelas músicas todas com aquele bebezinho cheiroso e fofo no meu colo. Que delícia.
Quanto ele era bem pequeno, eu o pegava nos braços, quando era um neném maiorzinho, deixava a cabecinha apoiada no ombro, enquanto eu o ninava.
Mas eu tinha outra estratégia, durante as tardes. Para fazer Daniel engrenar na sonequinha da tarde, deitava-o no carrinho e ficava balançando suavemente, enquanto ele ouvia essa música aqui.
Era batata, era ouvir e desmaiar, todo relaxado.
Vejam que bom gosto aparece no berço, literalmente.


23 maio 2009

Dia de rever gente





Eu sai mais cedo de um curso que faço aos sábados pra ir direto pra livraria Cultura, porque minha querida amiga Andréia T. Couto estava lançando um livro : O Lutador, um romance que vou resenhar aqui, aguardem.
Andréia é uma pessoa ímpar: fez Letras, Mestrado em Comunicação, Doutorado em Desenvolvimento Sustentável (na Engenharia Agricola, uia), morou na Alemanha, na França e há alguns anos encanou que iria escrever algo sobre Ruanda.
Beleza, pesquisou, fez contatos, mala, juntou uma grana e se aboletou em um avião rumo a África Central. Voltou no ano seguinte e preparou um livro reportagem, porque, mesmo com esse currículo bacana, decidiu fazer outra graduação, agora em Jornalismo. E fez.
Conheci Andréia Couto em 1993, quando éramos professoras na mesma faculdade. Hoje lembramos de umas histórias pitorescas de lá, qualquer hora eu conto.
O que eu adoro nela é esse jeito de se jogar no mundo, essa independência, essa vivacidade que quem a conhece sabe como é.
Hoje, além da alegria de conversar com ela e com seu marido Henrique - segundo ela, "uma delícia, um homem que não se acha mais nem com lanterna acesa" - ainda revi um monte de gente da Unicamp, pessoas que não via há séculos.
Fomos conversar em um bar : um bar anônimo, escondido, coisas de intelecutal, sacumé. Bar Bambu, anote aí.
Eu, como sou uma pobretona, gosto de lugares mais bonitos, porque pobre gosta de luxo, como ensinava o mestre Joãozinho Trinta, mas gostei desse: porções deliciosas, sandubas indescritíveis e cervejas de todas as partes. Como só tomo refri, a cerveja foi um toque bacana só pra ver mesmo.
Conto melhor depois, inclusive as explicações sobre as escolhas profissionais de cada um : Dudu, por exemplo, foi fazer Filosofia pra fazer a Revolução.
Somos filhos de outros tempos.
Vale dizer, por hora, que gostei muito. E agora, eu vou me enfiar debaixo do edredon com o romance da Andréia, e conto tudo para vocês.
Té mais.

01 maio 2009

Compulsão

Só mais um pouco:


Have You Ever Seen The Rain? (tradução)
Creedence Clearwater Revival
Composição: J.C. Fogerty

Você Alguma Vez Viu A Chuva?

Alguém me falou há muito tempo
que há uma calmaria antes da tempestade.
Eu sei; vem vindo há algum tempo.

Dizem que quando terminar choverá num dia ensolarado.
Eu sei; brilhando como água.

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia ensolarado?

Ontem e nos dias anteriores,
o sol estava frio e a chuva estava forte.
Eu sei; tem sido assim toda a minha vida.
E para sempre assim será
através do ciclo, rápido e devagar.
Eu sei; isso não vai parar, eu me pergunto.

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia glorioso?

Yeah!

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia ensolarado?

15 março 2009

Watchmen - Depois de 18 anos






Quanto eu tinha 22 anos, namorava J., que viria a ser meu marido e pai de Daniel. Ele era um aficionado por HQ, colecionador e responsável por minha total conversão ao universo dos Quadrinhos.
Passamos nosso primeiro reveillon juntos em Paraty e foi aí que conheci Wachtmen.
Pra quem não conhece - pare de ler esse texto, vá comprar e ler, rápido, rápido! - é uma graphic novel brilhante, escrita por Alan Moore e colocada no papel por Dave Gibbons.
É um clichê dizer que Wachtmen revolucionou a cena HQ, mas eu preciso repetir esse clichê, porque revolucionou também todo o meu olhar para essa gama de personagens e histórias. Depois de ficarmos na festa de Ano Novo, voltamos para a pousada em que estávamos hospedados: me atraquei com o Quadrinho e li, inteiro, até o amanhecer. Foi meu reveillon com Alan Moore. Como boa compulsiva que sou, simplesmente não conseguia parar de ler aquela maravilha, que era diferente de tudo que eu havia lido.
Wachtmen trabalha com uma década de 80 paralela, onde gangues dominam as ruas, a ameaça de guerra nuclear é eminente e Nixon está estatelado no poder.
Dentro disso, a HQ transita em três tempos específicos: a década de 40, onde os Minutemen se fantasiavam e saiam às ruas para defender os norte-americanos e eram ovacionados por isso; na década de 60, onde um grupo tenta recriar isso, tendo apenas o Comediante da "turma antiga" e a década de 80, onde os mascarados cairam na ilegalidade, sendo hostilizados por boa parte da população.
Tudo isso em um clima irônico, que desconstrói toda a aura comum nos heróis: o Comediante é um fascista hiper violento, a primeira Silk Spectre,uma mulher que explora a ultra sensualidade da fantasia, a segunda, sua filha, que entra na dança por imposição materna; Rorschach, cuja identidade é revelada apenas na prisão, dono de uma integridade ímpar, violência rara e moralismo tacanho, e muitos outros, interessantes e originais.
O fato é que a nostalgia é o tom constante na HQ, dado que os primeiros mascarados estão velhos e olham com saudades e ternura para tempos áureos.
O plano de Adrian Veidt, o Ozmandias, é muito próximo ao que já apareceu em várias criações de ficção científica, com em Babylon V ou Heroes: a concepção de que uma grande desgraça coletiva traria a paz forçosa e que a destruição de milhões de vida, salvaria bilhões.
Não posso falar mais nada, ou o post vira spoiler, certo?
Quanto eu li essa graphic novel, no reveillon dos meus 22 anos, desejei ardentemente, que se tornasse filme. Com medo, porque porcas adaptações me dão arrepios.
A adaptação em questão, apesar de não captar essa ironia em relação a homens fantasiados combatendo o crime, consegue transmitir a nostalgia presente na HQ, consegue transpor para as telas personagens já-não-humanos, como dr. Manhattan e aquele eterno bonito-meio-bobo, como o segundo Nite Owl.
O filme tem uma trilha sonora incrível, só pecando algumas poucas vezes, tem a caracterização dos meus sonhos e procura ser bastante fiel a obra original, apesar dessa não ser a opinião de Alan Moore, cujo nome não aparece nos créditos.
O sonho americano, idealizado, ridicularizado e ressignificado, é isso que vemos em Watchmen. O sonho americano de malha colorida.

02 dezembro 2008

Queridos Amigos


Eu entrei na Unicamp em 1989, me formei em 1992. Desde então, muita água passou debaixo da ponte e alguns amigos eu perdi de vista. Alguns sairam do país, outros foram pra outros estados, outros deixei de ser amiga, outros perdi de vista. Mas tenho na minha vida alguns deliciosamente escolhidos, que entra ano, sai ano, continuam fazendo parte do meu cotidiano.
Alguns eu vejo mais, alguns mantenho contato por email e marco encontros eventuais, mas estão presentes na minha vida.
Outro dia, eu estava pensando em uma amiga que não via há pelo menos oito anos. Edilene, de uma turma anterior a minha, que morava na mesma república que Mara, uma das pessoas mais engraçadas que já conheci. Mara e eu nos falamos por email, sempre marcamos um almoço em um japonês aqui de Campinas e continuamos colocando a fofoca e as risadas em dia.
A Edilene foi pra Itália, foi pra Fortaleza e eu a perdi de vista. Mas com uma googada, consegui achar a faculdade onde ela dá aulas e escrevi para ela.
Depois de todos esses anos - que descobrimos ser dez...- a amizade continua a mesma, o que me deixou muito feliz.
Rindo, lembramos que conheci meu ex marido, pai do Daniel, em um aniversário dela à fantasia, onde eu estava de dark, ela de cigana, Mara de freira..isso foi um passo para olharmos as fotografias e descobrirmos aqueles jovens fantasiados e felizes.
Como ela está morando em São Paulo, combinamos um almoço no sábado passado: foi ótimo. Ela convidou um casal extremamente simpático, a conversa fluiu tranquila e foi ótimo saborear aquele banquete à italiana.
Sua mãe estava lá e também pude conhecer seus dois filhos: um garotinho lindo e uma menininha fofa. O marido, um historiador italiano que veio pesquisar aqui, não estava no Brasil, mas vou revê-lo depois, com certeza.
Acho que a vida vai levando os amigos pra longe, ainda que morem na mesma cidade, são as pequenas coisas do cotidiano, a rotina do trabalho, tudo isso vai ocupando toda a nossa vida. E se não olharmos com um pouco mais de cuidado, pessoas importantes simplesmente viram fumaça.
Eu faço questão de manter as pessoas que gosto - e que valem a pena - dentro da minha vida, e a Di vale, como vale.

23 outubro 2008

Queridos tios, queridas tias







Na segunda feira dessa semana, minha tia Sueli faleceu. Minha tia já havia casado com meu tio Antonio Carlos antes do meu nascimento, assim, para mim, ela sempre esteve na mimnha família, ela sempre esteve por aqui.
Tia Sueli era o avesso da vovozinha convencional : ela era muito engraçada, falavra milhões de palavrões, brincava com todo mundo. E era, sem dúvida, uma eterna apaixonada pelo marido, que aliás, ela chamava assim mesmo, de "Marido". A ponto do Daniel, quando pequeno, achar que o nome dele era "tio Marido".
Me lembro dela olhar para meu tio e dizer pra mim, sorrindo e brincando:
- Olha o meu marido, ele não está bonito?
Os dois ficaram juntos durante 45 anos, entre namoro e casamento. Juntos mesmo, com uma cumplicidade rara, única e feliz.
Na madrugada de segunda feira, estávamos lá com eles, dando o apoio que conseguíamos para ele, para minhas primas, para todos. Eu não saberia descrever a dor dele e o vi chorar pela primeira vez na minha vida. Me senti tão impotente, diante dos dois, que gosto tanto, que foram meus padrinhos de casamento, que sempre estiveram perto de nós.
Eu nem tinha como chegar lá, estava à pé e liguei pra Frou. Como amizade de verdade não tem hora, minha amiga me levou até o velóro às duas da manhã, sem pestanejar.
Valeu, Frou.
Com todos lá, calados e acabrunhados, vi meu tio ao celular.
- Os "meninos" estão chegando.
"Os Meninos" são os irmãos dele e de minha mãe, que ao todo formam oito : sete "meninos" e uma "menina".
E realmente, eles vieram do Rio, em cinco horas, enfiando o pé no acelerador.
Difícil descrever para vocês o que senti quando meus tios sairam do carro. Eram meus tios, duas primas, duas tias ( uma tão jovem que chamamos de "tiazinha"). Eram "os meninos".
A sensação de proteção foi imediata, foi como se uma força sobre humana tivesse chegado e tudo iria dar certo.
Eles e minha mãe ficaram ao lado do meu tIo Antonio Carlos todo o tempo, literalmente. Simplesmente o seguiram para todo o lado, como se pudessem carregar um pedaço do seu fardo, tornando-o mais leve. Como se pudessem dividir sua dor, para que não fosse tão grande.
Não consigo descrever em palavras o que houve, mas foi uma prova de amor fraterno muito intensa e muito linda.
Meu tio falava sobre as pequenas coisas, as coisas ínfimas que deixamos que abalem as relações, as besteiras pelo que discutimos, como tudo isso é pequeno, como ele se arrpendia de não ter dito mais vezes que a amava. Eu acho que ele disse, de deiversas formas, mil vezes que a amava: ao ser atencioso ao extremo, ao fazer suas vontades, ao ser companheiro, ao estar presente, ao amar de verdade.
Perder a minha tia me fez olhar pras pessoas com outra perspectiva, me fez ver como preciso aproveitar o tempo que estamos juntos.
Tenho certeza que tia Sueli está em paz, está em um lugar melhor, divertindo os anjos com suas histórias, seu jeito e seus c**** inevitáveis e deliciosamente peculiares. Só quero que meu querido tio, minhas primas, todos eles, encontrem tranquilidade apesar da saudade.


09 setembro 2008

Anos Dourados

















Anos dourados
Chico Buarque
Composição: Tom Jobim/Chico Buarque

Parece que dizes
Te amo, Maria
Na fotografia
Estamos felizes
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador
Vai ser engraçado
Se tens um novo amor
Me vejo a teu lado
Te amo?
Não lembro
Parece dezembro
De um ano dourado
Parece bolero
Te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
E desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais



01 agosto 2008

O Tempo não pára



Assisti "Cazuza" ontem. Já tinha visto no cinema, já tinha gostado e já tinha me desmilinguido de chorar.

(Não sou crítica de cinema, não tenho nem saco pra papos muito profundos, quando a pessoa começa a falar sobre a fotografia,

hummmm...durmo. Confesso: se a pessoa diz que o filme é "bárbaro" , eu tendo a não assistir, porque quem fala "bárrrrbaro" é sempre chato pra burro. E se gostar de Tarkowiski então.....zzzzzzzzzzzzzzz.................................)

Voltando ao filme: vou pelo óbvio, o Cazuza baixou no Daniel de Oliveira, só tem essa explicação. O garoto estava incorporado, a expressão, o tom de voz , o gestual, Cazuza, Cazuza puro.

Eu ainda acho que o Cazuza era um filhinho de papai chato pra diabo, mas gente, um artista com poucos. Gosto incrivelmente de praticamente tudo que ele escreveu e/ou cantou, me toca horrores. Já postei Exagerado outro dia, provavelmente eu coloque outras ainda, porque todo mundo merece Cazuza.

A angústia do tempo passado e perdido, o medo constante e irremediável da morte estão presentes de forma tão intensa no filme, que dói. Com isso, não posso e nem consigo negar, me identifico muito. Uma amiga uma vez me disse que tenho pressa de viver, acho que tenho mesmo. Acho que esse medo impulsiona essa pressa exagerada.


O Tempo Não Pára

Composição: Cazuza / Arnaldo Brandão


Disparo contra o sol

Sou forte, sou por acaso

Minha metralhadora cheia de mágoas

Eu sou um cara

Cansado de correr

Na direção contrária

Sem pódio de chegada ou beijo de namorada

Eu sou mais um cara

Mas se você achar

Que eu tô derrotado

Saiba que ainda estão rolando os dados

Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão

Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas idéias não correspondem aos fatos

O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não pára

Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar

Às vezes os meus dias são de par em par

Procurando uma agulha num palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer

Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer

E assim nos tornamos brasileiros

Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro

Transformam o país inteiro num puteiro

Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas idéias não correspondem aos fatos

O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não pára

Não pára, não, não pára

Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão

Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas idéias não correspondem aos fatos

O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não pára

Não pára, não, não pára







Post publicado originalmente em novembro de 2006.

28 julho 2008

"Entre todos os amores e amigos, de você..me lembro mais"

Para você, que já foi meu melhor amigo e vai ser sempre de quem me lembro mais.



17 junho 2008

Ensaio Sobre a Preguiça


Faz mais de vinte anos, eu tinha dezesseis anos e trabalhava em uma empresa que funcionava 24 h por dia. Literalmente. Meu turno era das seis ao meio dia, tinha conseguido essa pseudo-promoção aprendendo a digitar na hora do almoço: passei então a trabalhar como digitadora e em turnos de seis horas.

Nosso grupo era formado por meia dúzia de pessoas, o mais velho, o meu "chefe" - eles adoravam distribuir carguinhos porcaria pra ver se conseguiam controlar a turba assassina de funcionários - deveria ter pouco mais de vinte anos.

Os outros funcionários chegavam às oito: tínhamos , então, duas horas sem vigilância.

Começamos comprando coisa na padaria e fazendo um café da manhã coletivo. Mas isso começou a ficar cada dia mais longo, cada dia, enrolávamos mais.

A estratégia era a seguinte: ligávamos os pcs e ficávamos vagabundeando, até quase oito horas.

A nossa média de produtividade caia a cada dia, e "ninguém" sabia o motivo....

Digitadores tão rápidos perdendo produtividade...um mistério.

O mistério foi descoberto um dia. Estávamos na recepção: todo mundo deitado pelos sofás, eu , sem sapatos, com a cabeça no colo do meu "chefe", que mexia no meu cabelo ( ô, delicia) e ainda cantava pra mim. Tempinho bom....

A porta fez um barulho, não dava tempo de correr, apesar de alguns terem tentado: um dos donos havia chegado.Foi aquela situação constrangedora em que ninguém sabe o que dizer.

Quem tentou correr, foi pego no meio, tipo desenho animado. Levantamos vermelhos, sem dar nem desculpa. Eu calcei meus tênis - porque nessa outra vida eu usada tênis e não pintava as unhas, era uma outra Eu - subi para trabalhar, morrendo de vergonha.

Subimos meio rindo, meio assustados. Nunca ninguém falou disso, mas nunca mais tomamos nosso super café da manhã de duas horas.



****** texto publicado originalmente em 19/03/07