25 fevereiro 2010

Mundos e mundos




Depois de três anos dando aulas em faculdades da cidade, voltei a trabalhar com a moçada de quinta a oitava. E é realmente um outro mundo.
As turmas de quinta são sempre interessantes: fase de transição e mudanças, onde tem que conviver com vários professores e milhares de novidades. Topam tudo, vão na frente da sala de aula, pulam, reclamam que o colega pegou o caderno, a caneta, o boné. Levantam a mão e querem responder às questões, ainda que sua resposta seja idêntica a do colega. Falam todos ao mesmo tempo e é hercúlea a tarefa de ensiná-los a organizar as falas, sem atropelos.
As meninas tem trinta milhões de canetinhas coloridas; meninas e meninos fazem grupos à parte; fazem perguntas fofas.
As sextas já são pré-adolescentes; meninas e meninos trabalham juntos, paqueram, discutem. As meninas comandam as equipes, brigam com os garotos, se tiram nota baixa. Cobram dedicação. Topam a maior parte das atividades, são animadas, estão sempre pilhadas.
As sétimas são um encanto: jovens o suficiente pra se animar, maduros o suficiente pra elaborar melhor as discussões. Poucas coisas são tão gratificantes quando ensinar História pra essa moçada.
Divertidos, trabalham bem e produzem de forma interessante.
As oitavas passaram pelo "portal do mal", são definitivamente adolescentes, então acham a vida um tédio, os pais um tédio, os professores um tédio e não veem a hora de bater o sinal pra se jogar no msn.
Dentro esse universo paralelo adolescente - povoado de bandas, filmes e vampiros - existem jovens bastante curiosos, inteligentes e interessantes. ( Dentro daqueles corações adolescentes ainda há vida..rs)
Estou bastante animada, mil projetos bacanas, material novo, estrutura nova, tudo é um estímjulo.
Semana que vem vou explorar uma Lousa Digital, coisa que ainda não fiz e morro de curiosidade. Nesse final de semana faço um curso com os autores do material usado, coisa que sempre facilita o trabalho.
Nessa semana, uma aluna conversando com um ou outro professor sobre música, conseguiu sacar o gosto de cada um: baixou e gravou cds personalizados pra cada um de nós.
Me diga uma coisa: não é de uma delicadeza ímpar?





Alunos


Juro que ouvi:

Fulano (12 anos)

- professora, com todo respeito, sua blusa é sexy....

( a frase já seria engraçada...mas o "com todo respeito" é pra derreter qualquer um)


Mês passado, uma aluna jovem e bonita apresentando trabalho no curso de engenharia e o Sicrano ( 33 anos) de olhos compridos à lá lobo mau pra cima da menina:

( eu, repressora total) - Sicrano, sossega aí , você é casado e tem três filhos que eu sei...

( Sicrano, rindo) - poxa, professora, boi amarrado também pasta......

( Se ele mandasse um "cavalo velho gosta de capim novo" eu juro que levava uma tamancada no meio da idéia)


Uma aluninha de 13 anos vem me procurar:

- professooooora......
- fala...
- sabe o fulano?
- ahã.
- você sabe que a gente fica, né?
- sei, você contou.
- então...
- ......
- quando a gente fica é super legal, mas quando a gente se vê aqui na escola, ele nem fala comigo. Na hora do intervalo, ontem, eu falei oi e ele nem olhou! nem olhou!!
Uma hora manda um monte de email, uma hora a gente fica...e uma hora ele nem fala comigo.....isso é normal???

( O que eu poderia dizer? que talvez ele não crescesse nunca? Que isso poderia acontecer com ela até os 30, vixe, não......então, eu menti)


Há anos eu trabalhava em uma escola, como professora de História, no ensino fundamental. A escola tinha salas ambiente, turmas pequenas, muito bacana. Um dia, no meio da minha aula, um aluninho que eu adorava, todo descoladinho, cabeludo, aparece com um buquê lindíssimo pra uma aluna. Claro que eu deixei entregar e claro que minha aula acabou ali.
As meninas todas ficaram histéricas, em volta da presenteada, como umas abelhas barulhentas e alegres. A dona das rosas, estava roxa, rindo.
Eu estava curtindo tudo aquilo, fui dar um beijo no cavalheiro mirim:
- o professor Tal disse pra eu dar as flores na SUA aula...disse que você ia adorar. Você adorou, né, Vivien??


( Adorei .Tomara que ele tenha continuado assim.;0)



***post originalmente publicado em novembro de 2006.

21 fevereiro 2010

Sábado Em Cena - Matrix

Ok, sei que hoje é Domingo, mas a sessão se chama Sábado em Cena e adoro seguir as tradições que eu crio.
Enfim: escolher Matrix era algo claro para mim, pois é um filme emblemático que adorei, seja porque representa de forma genial a Alegoria da Caverna, seja porque os efeitos são inusitados, seja porque a narrativa é instigante. Acho que eu poderia continuar citando motivos.
O difícil pra mim foi definir uma cena - mesmo porque várias estão indisponíveis - porque existem várias cenas antológicas.
Escolhi essa pela força: ao descobrir sua essência Neo consegue dominar o exterior. Como sempre fui uma entusiasta do poder do sujeito face às estruturas, essa cena é fundamental para mim. E além de tudo, olha só a carinha do Keanu Reeves...ai, ai.








12 fevereiro 2010

Eu, a Lu e a última dieta










É certo que o ano começou com boas notícias. Confesso que os primeiros dias do ano não foram bons, coisas chatas aconteceram, fiquei triste, coisa e tal. Mas nem vou cair me lastimando aqui, porque não vou dar nomes aos bois e o post ficaria sem pé nem cabeça.
Só sei que os primeiros dias me valeram pra uma coisa: aprendi que existem mais malucos e egoistas no mundo do que eu imaginava. Mas, dito isso, vamos ao que interessa.
Como estou bastante animada com as coisas boas que tem acontecido, resolvi dar um plus: vou fazer dieta.
Ahá, eu ouvi! Você murmurou..."de novo?". Sim, caro leitor, de novo. Com sorte, será a última, ou melhor, a bem sucedida.
Quem quiser acompanhar essa saga, leia meu outro blog, ACNA, que divido com a Lu do Epa.
Te espero por lá. Boas frutas e verduras a todos.

11 fevereiro 2010

Crianças monstro - com atualizações

LI na Época desta semana que a rainha da bateria de uma escola do Rio seria uma menina de sete anos. Pois é, povo, os pais surtam e depois não sabem porque os filhos são rascunhos do inferno no papel de pão.
Alguns que se preocupam com a sanidade mental da garota já entraram com processo, querendo impedir a coisa toda. Os pais, envoltos na maior vibe narcisista, teimam em dizer que a fantasia da garotinha é comportada ( mini saia e mini blusa, acho que o "não comportada" pra eles seria fio dental) e tentam por toda lei colocar a litle perua rebolando na frente de marmanjos.
E aí, mesmo psicólogos e juízes apontando a inadequação do papel, a hiper exposição e o estímulo a sexualização precoce, os pais brigam na justiça pelo direito de decidir.
Eu sempre me pergunto quem pode defender as crianças dos pais...porque na ânsia de provarem que tem um poder quase divino sobre os filhos, expoem essa moçada a papéis absurdos.
Isso me lembra os medonhos desfiles de miss-mirim, com garotas que são verdadeiros travecos em miniaturas, completamente exageradas, sabe aquela coisa bem Texas? Então. Dureza, gente, dureza.
Mas isso merece um post à parte. Por hora, em "homenagem" às meninas feitas "estrelas" por conta da vaidade familiar, deixo com vocês a deprimente cena de O Que terá Acontecido a Baby Jane?, onde Baby Jane ( Betti Davis), uma ex estrela mirim, tenta voltar aos áureos tempos, fazendo o que sabe fazer: sendo menina....apesar de ter envelhecido. Assistam comigo.




*****

Acabei de ler: parabéns aos "pais do ano", estão criando mais uma mutante.

Um pouco de mitologia pra falar de um dia idiota OU O contraste


As histórias mitológicas são mesmo antológicas.
Hoje pensei na Pedra de Sísifo: uma pedra que ele era obrigado a carregar montanha acima, que, inevitavelmente caia de novo. Para que ele voltasse, carregasse ...ela caísse....ele voltasse, carregasse. Em uma repetição insuportável.
Pensei também em Dâmocles, que , ao dizer para o rei que esse tinha poderes incríveis e , portanto, tinha a melhor vida do mundo, foi convidado a sentar no trono em uma festa. Sobre o trono, escondida, estava uma espada segura apenas por um fio da crina de um cavalo.
Governar era estar todo o tempo com uma espada sobre a cabeça.
Passei o dia carregando a Pedra de Sísifo com a Espada de Dâmocles sobre a cabeça.
Sim, foi mesmo um dia de bosta.


******


Esse post foi publicado em 2006, de lá pra cá, as coisas pioraram, pioraram, pioraram....até que finalmente, começaram a melhorar.
Hoje me sinto completamente longe de Sísifo e de Dâmocles, moro em uma casa que adoro, trabalho em lugar delicioso, meus alunos são interessantes, meu filho é incrível.
A vida pode ser bem bacana.;0)

08 fevereiro 2010

As moiras


Eu estava saindo do supermercado,com minha mãe. A velhinha me abordou:
- oi. Você pode me levar pra casa?
Foi tão rápido, respondi sem pensar:
- claro que posso.
Minha mãe foi racional:
- Mas a senhora está sozinha? Com quem a senhora veio?
Ela explicou que tinha vindo sozinha, mas que era difícil voltar de ônibus, com as compras. Olhei as compras dela, sacolinhas amarradas em um carrinho de feira.
Fomos pro meu carro, mas era difícil colocar o carrinho de feira na mala.
Ela organizava:
- Nós três juntas vamos conseguir, vai, vamos lá, um, doi,três!!!
Tive de chamar um funcinário pra ajudar, ela falava, lúcida e animadamente.
Contou que era sozinha, não tinha casado ou tido filhos, que tinha tido uma sobrinha que a ajudava, mas a sobrinha havia morrido.
Ela parecia minha avó, falava como minha avó e aquilo me doeu de forma insuportável. Eu dirigia e chorava , achando ótimos poder esconder isso nos óculos escuros.
Pensei naquela cena insólita: na tríade feminina, a mulher, a senhora e a velha.
Tenho mania de achar que tudo é um sinal, tudo significa algo além do que posso ver. Aquele dia, pra mim, foi um sinal.
Me comovi com a velha e sua solidão, me comovi com a velhice que iria chegar pra minha mãe e pra mim, me comovi com a saudade descomunal que sinto de minha avó.
Ela contou da vida, falou muito, me abençoou. Disse pra chama-la de Detinha, porque todo mundo a chamava assim.
Deixei dona Detinha em um prédio de classe média, onde o porteiro veio ajudar a tirar o carrinho e a velhinha. Muito cuidadoso com ela, porque ela inspira isso.Eu disse que era perigoso, que ela não deveria fazer isso, mas ela riu e disse que sempre tinha gente boa no mundo, gente pra ajudar.
Abracei chorando a d.Detinha, esperando que ela continuasse com essa gana de lutar contra a solidão e com esse jeito de avó.




***Publicado originalmente em março de 2007.

06 fevereiro 2010

Sábado Em Cena - Spártacus

Provavelmente, esse seja o clichê mais arrebatador que eu conheço. Ele foi repetido, de diversas formas, em diversos filmes - como em Para Wong Fu, Obrigada por tudo - e tantos outros.
Na minha leitura é sempre o momento áureo em que o protagonista se sente não apenas totalmente aceito, mas apoiado a qualquer preço.
Meus alunos sempre curtiram essa cena. E você?