30 março 2009

Sobre a natureza dos gatos


Pois é, Renildes está apaixonada. Está maluca pelo Malcom X, meu lindo gato preto. Mas Renildes não entendeu ainda que esse romance impossível já nasceu fadado ao fracasso, desde a primeira ronronada desse gato sacana.
Porque ele é gato e essa é a natureza dos gatos. Ele simplesmente não compreende a euforia estabanada dela, que ao vê-lo na sala, corre, torpeça, cai, de língua de fora, risonha.
Eles até que brincam bastante, até mais do que eu supus ser ele capaz, mas sempre menos do que ela quer. Ela mordisca a orelha dele, ele dá patadinhas suaves nela. Um tempão.
Até que ele enjooa, aí, não tem choro , nem vela. Não adianta ela apelar , segurando-o com a pata.
Ele pula pela janela baixinha tão rápido que só resta a Renildes fazer aquela cara de pidona e bater com a patinha no vidro, uma ,duas, muitas, muitas vezes.
Ele deita no jardim e lambe a pata. A gente aconselha:
- se manca, Renildes..... se manca...
-Renildes, vem pra cá, nem adianta que agora ele não vai entrar.
Mas ela continua na janela, batendo com a patinha.
Depois de um tempo, ela deixa a janela e vai brincar com o paliativo que encontrou: um sucedâneo de Malcom X, uma velha meia preta do Daniel, que ela morde, abraça, brinca.
- Não é o Malcom, bobona....rs.....te deram o pirulito e tiraram, né, menina?
Ela olha pra mim, olha pra janela e morde a tal meia. Coitada da Renildes...não entendeu que essa é a natureza dos gatos.
E Malcom X continua no jardim, lambendo as patas, sem dar a mínima.
Gatos.....



**** post publicado anteriormente em fins de 2006.

26 março 2009

Tempo Rei


Três na sala. Fulana, Sicrana e Beltrano.
Fulana deitada no sofá, descabelada, com cara de bunda.
Sicrana, com o telefone na mão:
- Então, tô ligando lá na farmácia....eles entregam o floral aqui mesmo.Você vai ver, floral é bacana, porreta, tiro e queda.
Fulana:
- ...hum...
Beltrano:
- Você deveria tomar empatiens.
Fulana, abrindo um olho só:
- Pra quê que serve...?
- ah...é bom pra impaciência. Assim como você está, o bom mesmo é rescue.
Fulana pensou que cara deveria estar pra ele dizer "assim como você está". Tentou ajeitar o cabelo, pensou em sentar, mas desistiu, ficou deitada, com cara de bunda.
Sicrana ri:
- Rescue é uma beleza....beira o fantástico - fazendo gesto de quem pega uma corda - resgata, sabe? Você quer ser resgatada?
Fulana, com riso nervoso:
- Alguém me tire daqui...
Sicrana:
- você está com uma cara melhorzinha.....está mais pra Jekill...antes estava Hyde....
Beltrano:
- o ruim de floral é que dá pesadelo pra caramba.
Fulana:
- o quê??? Além de tudo vou ter pesadelo??
Sicrana, conciliadora:
- Não ....não é assim.Bom, depois de um tempo, você sabe, floral coloca os bichos pra fora.
Fulana, de olhos arregalados:
- ãh???? Eu tô f***. Colocar os bichos pra fora?!
Sicrana:
- E aquele que eu te dei pra dormir, foi bom?
- Vixe maria.
- Eu te liguei , você dormiu rápido.
- Cheguei, tomei e apaguei.
- E acordou melhor? ( animada)
- Não.....( riso nervoso)
- Olha que amiga que sou...te dei um daqueles que não tomo nunca.
- Aqueles que a dra. X "miguela"?
- É.
- Amiga mesmo
.
Beltrano ainda diz que Fulana deve tomar Rescue. Sicrana e Beltrano discutem sobre florais. Fulana engole em seco, ainda vai ter que trabalhar.
Os jilós também trabalham.

********** Tempos depois...****************




Soube que a Fulana se mudou: viajou com um personal de 1.95m pra Israel e foi morar em um kibutz. Dizem que tiveram uma briga homérica sobre os territórios ocupados e ela quebrou um ou dois pratos na cabeça dele.
Parece que depois Fulana passou um tempo em Paris com um escultor que falava latim. Bom, não entendi ao certo se ele falava latim, mas duas palavras parece que ele sabia à perfeição.
Mas Fulana se desentendeu com o escultor, arrumou sua mala e se mudou. Disse que ia tentar os pintores...
Viajou sem rumo uns meses, trabalhando aqui e ali. Pintou o cabelo de vermelho, tatuou um símbolo da cabala na nuca e mudou o nome pra Sarah.
Hoje dirige uma galeria de arte alternativa e mora com seus três namorados no Soho.

*** Posts anteriormente publicados em dezembro de 2006, os comentários constam nos posts originais.

20 março 2009

Vocês ouviram?

Sem fazer a apologia do filme, que é ingênuo e cheio de equívocos, percebo que ele lida com algumas questões simbólicas interessantes, assim como é uma versão "para colorir", da jornada do Herói de Campbell.
Mas não é esse o tema desse post. Não, não meus queridos.
A minha pergunta é: vocês prestaram atenção no nome que ele grita?
Richard Gere, arrasadoramente lindo de terno - adoro terno - com flores na mão e gritando....ouçam, ouçam...ai, ai.

*suspiro*

15 março 2009

Watchmen - Depois de 18 anos






Quanto eu tinha 22 anos, namorava J., que viria a ser meu marido e pai de Daniel. Ele era um aficionado por HQ, colecionador e responsável por minha total conversão ao universo dos Quadrinhos.
Passamos nosso primeiro reveillon juntos em Paraty e foi aí que conheci Wachtmen.
Pra quem não conhece - pare de ler esse texto, vá comprar e ler, rápido, rápido! - é uma graphic novel brilhante, escrita por Alan Moore e colocada no papel por Dave Gibbons.
É um clichê dizer que Wachtmen revolucionou a cena HQ, mas eu preciso repetir esse clichê, porque revolucionou também todo o meu olhar para essa gama de personagens e histórias. Depois de ficarmos na festa de Ano Novo, voltamos para a pousada em que estávamos hospedados: me atraquei com o Quadrinho e li, inteiro, até o amanhecer. Foi meu reveillon com Alan Moore. Como boa compulsiva que sou, simplesmente não conseguia parar de ler aquela maravilha, que era diferente de tudo que eu havia lido.
Wachtmen trabalha com uma década de 80 paralela, onde gangues dominam as ruas, a ameaça de guerra nuclear é eminente e Nixon está estatelado no poder.
Dentro disso, a HQ transita em três tempos específicos: a década de 40, onde os Minutemen se fantasiavam e saiam às ruas para defender os norte-americanos e eram ovacionados por isso; na década de 60, onde um grupo tenta recriar isso, tendo apenas o Comediante da "turma antiga" e a década de 80, onde os mascarados cairam na ilegalidade, sendo hostilizados por boa parte da população.
Tudo isso em um clima irônico, que desconstrói toda a aura comum nos heróis: o Comediante é um fascista hiper violento, a primeira Silk Spectre,uma mulher que explora a ultra sensualidade da fantasia, a segunda, sua filha, que entra na dança por imposição materna; Rorschach, cuja identidade é revelada apenas na prisão, dono de uma integridade ímpar, violência rara e moralismo tacanho, e muitos outros, interessantes e originais.
O fato é que a nostalgia é o tom constante na HQ, dado que os primeiros mascarados estão velhos e olham com saudades e ternura para tempos áureos.
O plano de Adrian Veidt, o Ozmandias, é muito próximo ao que já apareceu em várias criações de ficção científica, com em Babylon V ou Heroes: a concepção de que uma grande desgraça coletiva traria a paz forçosa e que a destruição de milhões de vida, salvaria bilhões.
Não posso falar mais nada, ou o post vira spoiler, certo?
Quanto eu li essa graphic novel, no reveillon dos meus 22 anos, desejei ardentemente, que se tornasse filme. Com medo, porque porcas adaptações me dão arrepios.
A adaptação em questão, apesar de não captar essa ironia em relação a homens fantasiados combatendo o crime, consegue transmitir a nostalgia presente na HQ, consegue transpor para as telas personagens já-não-humanos, como dr. Manhattan e aquele eterno bonito-meio-bobo, como o segundo Nite Owl.
O filme tem uma trilha sonora incrível, só pecando algumas poucas vezes, tem a caracterização dos meus sonhos e procura ser bastante fiel a obra original, apesar dessa não ser a opinião de Alan Moore, cujo nome não aparece nos créditos.
O sonho americano, idealizado, ridicularizado e ressignificado, é isso que vemos em Watchmen. O sonho americano de malha colorida.

12 março 2009

O Rio Nilo na sala de aula


Quando eu trabalhava com ensino fundamental, tive experiências inesquecíveis. Algumas já contei aqui, outras eu gosto de lembrar.

Uma vez, junto com uma 5a série animada - e me parece que todas as 5as séries são animadas até as orelhas...- tive uma idéia aparentemente bacana: pra finalizar um trabalho que eles estavam desenvolvendo sobre Egito Antigo, faríamos um grande painel na sala.

Peguei o material na sala de artes: papel pedra, papel sei-lá-o-que que parece água, canetinhas, brilhinhos, toda uma parafernália maluca.

Era menino desenhando na mesa, no chão, pendurado no ventilador, uma farra.

Só que eu não tenho essa perspectiva do conjunto, essa noção estética, essa coisa da criação plástica, sou horrível nisso. Horrível pra valer, eu não faço a mínima idéia de como alguém pode ser cenógrafo ou arquiteto, me parece um tipo de conhecimento alquímico que nunca terei. Acho lindo. Absolutamente lindo.

Começamos a fazer um enorme rio Nilo, o papel que parecia água acabou e uma das meninas emendou um papel crepom. Esse também acabou e um garotinho colocou outro papel crepom, de outra cor. Foi uma emendação sofrível, entortada pra "parecer" um rio, tosca.

Eles desenharam pirâmides, sarcófagos e barcos. Cada um de um tamanho.

Quando tudo estava colado. Cruzamos os braços e apreciamos, com cara de intelectual em galeria de arte. Finalmente, alguém falou;

- professora...tá feio pra caramba....

Caímos na risada. Estava feio, estava horrível, desproporcional, medonho. Olha, rimos muito.

Eles decidiram não tirar, a sala ficou com aquilo pendurado. Até que foi trocado por nossa próxima idéia brilhante.



**** post publicado em 2007, republicado em atenção às minhas turmas de Pedagogia, repletas de animação, idéias e milhões de perguntas.
Beijo pra vcs!

04 março 2009

Corujas de todo o mundo, uni-vos!





Algumas vezes acho que falo muito do meu filho por aqui, mas é compreensível, venho que uma longa linhagem de corujas.
Saca só o olhar completamente corujal da minha mãe para mim, no batizado do Ricardo ( meu irmão arquiteto e lindo) em 1972.
Quem disse que uma imagem diz mais do que mil palavras, acertou em cheio.