Eu pensei em falar sobre o dia dos professores, pensei em comentar as coisas incríveis que acontecem, o provilégio que é poder participar de momentos tão importantes da vida das pessoas.
Mas não quero falar como professora, quero falar como aluna que fui.
Eu gostaria de falar do José Luiz, ou Zé luiz, pra nós, seus alunos no ensino médio. Zé Luiz me apresentou a música de Chico Buarque, me apresentou ao terrores da didadura em debates em que nós, os alunos, nos inflamávamos, inquietos com tanta coisa com a qual discordávamos. Foi certamente a pessoa mais importante na minha formação intelectual e politica na adolescência. Eu mal podia esperar por suas aulas e quando ele dizia: "alguém tem alguma colocação a fazer"? podia contar com minha mão erguida, palpites, opiniões e muitas, muitas duúvidas. E eu não era a única. Os outros palpitavam, discordávamos entre nós, concordávamos, decidiamos continuar o papo no bar do Beto ( Coisa que ele discordava, aliás, com veemência. Ele argumentava que a localização do tal bar era ilegal, dado que ficava na frente de uma escola. Mas nós, tomados pela tolice ingênua e linda da juventude, achávamos lindo continuar o papo da aula ali, no nosso queridissimo Bar do Beto)
Era fins de 80 e nós queríamos mudar o mundo. As aulas dele faziam as coisas terem um sentido diferente.
Nós nunca o deixávamos sair da sala de aula, sem ir atrás, ainda discutindo, perguntando, questionando. Zé Luiz - incrivelmente parecido com Sidney Poitier - foi meu professor de História e com ele conversei sobre livros, filme e política, muita política. E ele tinha toa a paciência do mundo com minha pressa juvenil e minhas tolices.
Exatamente por isso fico tão feliz quando acontece comigo, quando um aluno me acompanha ao final da aula, ainda com discussões por terminar. Exatamente por isso, sinto uma infelicidade extrema quando escuto um enfadado "sei lá" ou um dar de ombros para a aula, para o tema, para o mundo. Uma atitude me leva ao paraiso, a outra, ao inferno.
Quanto terminei o colegial e passei na Unicamp, voltei pra dar um beijo, milhões de obrigadas e um livro do Manuel Puig. Só depois de formada, já trabalhando, entendi o olhar de felicidade que ele tinha para mim naquele dia.
Hoje, no dia dos professores, vinte anos depois, só posso dizer que sou professora graças a ele e até hoje, digo para meus alunos uma frase que ele sempre repetia:
"Gostaria que vocês nunca perdessem a capacidade de se indignar"
Zé, um grande beijo pra você.
####publicado originalmente em 2008 e republicado agora, com atualizações.
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26 novembro 2010
No dia dos professores, saudades do José Luiz
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01 maio 2010
Café Filosófico - Sérgio Rizzo

Nessa sexta voltei ao Café Filosófico: a bola da vez era Sérgio Rizzo, que falou sobre a representação da família no cinema.
Deve ter sido duro pra ele, que entende tanto de cinema, fazer um recorte para uma apresentação em uma hora: era tema pra um ano de aulas, certamente.
Alternando a fala com pequenos trechos de filmes, Sérgio Rizzo falou sobre como a indústria cinematográfica criou estratégias de controle e auto-censura e como isso foi paulatinamente sendo quebrado.
Apresentou também um contraponto aos filmes norte-americanos, falando sobre o neo-realismo francês e vertentes do cinema italiano e argentino.
Foi a primeira vez que levei Daniel e ele adorou. Curtiu o lugar, a apresentação e até as comidinhas que beliscamos antes da palestra.
Ficou combinado que seria nosso programa de sexta. Acho que consigo um espaço com ele porque não entro em concorrência nem com a namorada, nem com amigos.
( Porque não sou biruta, queridos)
Então fica assim: toda sexta, no café.
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28 abril 2010
25 fevereiro 2010
Alunos

Juro que ouvi:
Fulano (12 anos)
- professora, com todo respeito, sua blusa é sexy....
( a frase já seria engraçada...mas o "com todo respeito" é pra derreter qualquer um)
Mês passado, uma aluna jovem e bonita apresentando trabalho no curso de engenharia e o Sicrano ( 33 anos) de olhos compridos à lá lobo mau pra cima da menina:
( eu, repressora total) - Sicrano, sossega aí , você é casado e tem três filhos que eu sei...
( Sicrano, rindo) - poxa, professora, boi amarrado também pasta......
( Se ele mandasse um "cavalo velho gosta de capim novo" eu juro que levava uma tamancada no meio da idéia)
Uma aluninha de 13 anos vem me procurar:
- professooooora......
- fala...
- sabe o fulano?
- ahã.
- você sabe que a gente fica, né?
- sei, você contou.
- então...
- ......
- quando a gente fica é super legal, mas quando a gente se vê aqui na escola, ele nem fala comigo. Na hora do intervalo, ontem, eu falei oi e ele nem olhou! nem olhou!!
Uma hora manda um monte de email, uma hora a gente fica...e uma hora ele nem fala comigo.....isso é normal???
( O que eu poderia dizer? que talvez ele não crescesse nunca? Que isso poderia acontecer com ela até os 30, vixe, não......então, eu menti)
Há anos eu trabalhava em uma escola, como professora de História, no ensino fundamental. A escola tinha salas ambiente, turmas pequenas, muito bacana. Um dia, no meio da minha aula, um aluninho que eu adorava, todo descoladinho, cabeludo, aparece com um buquê lindíssimo pra uma aluna. Claro que eu deixei entregar e claro que minha aula acabou ali.
As meninas todas ficaram histéricas, em volta da presenteada, como umas abelhas barulhentas e alegres. A dona das rosas, estava roxa, rindo.
Eu estava curtindo tudo aquilo, fui dar um beijo no cavalheiro mirim:
- o professor Tal disse pra eu dar as flores na SUA aula...disse que você ia adorar. Você adorou, né, Vivien??
( Adorei .Tomara que ele tenha continuado assim.;0)
***post originalmente publicado em novembro de 2006.
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11 setembro 2009
"Mudaram as estações, tudo mudou.."

Trabalhei a maior parte do tempo como professora de História pra pré-adolescentes e adolescentes. Quem é professor, sabe o que digo, ninguém sabe exatamente o que é conseguir atenção, até falar sobre a Revolução francesa pra molecada de 13 anos.
Realmente, conseguir a atenção de quarenta adolescentes é uma tarefa hercúlea. Estou falando em atenção, atenção mesmo, não silêncio sob chibata.
Trabalhei em diversas escolas particulares da região de Campinas, tive a sorte de trabalhar com diretoras extremamente criativas, que apoiavam inteiramente os projetos que desenvolvi.
Coordenação já é outra História. Em alguns lugares trabalhei com coordenadoras incríveis, que me ensinaram muito, em outros, com burocratas sonsas, das quais tenho alergia. Porque vamos combinar, nada pior do que gente sonsa, pé de pato, mangalô.
Acabei indo trabalhar exclusivamente em faculdades da região. Como toda escolha, ganhei e perdi. Ganhei novos desafios. Engana-se quem pensa que se exige mais do ensino superior. Minha experiência em escolas de ponta me mostraram como a maior parte delas tem um nível que algumas faculdades não atingem, por vários motivos.
No começo, adorei a diminuição do stress - trabalhar com adultos é outra coisa - mas senti falta da energia das crianças, da animação.
Se antes eu conhecia todos os meus alunos, nome, sobrenome, gostos específicos...eu os via três vezes por semana, por anos. Entretanto, no momento da relação universitária me vi diante de salas cheias, das quais me lembro de poucos nomes, pois é humanamente impossível lembrar de todos os alunos de uma sala de 70.
Em cada um dos níveis, há aspectos interessantes e aspectos horríveis.
O lado gostoso é sentir que fiz parte da vida deles, que influenciei de alguma forma.
Uma ex aluna queridíssima, Naíma, hoje aluna de jornalismo na Usp, brincou comigo no post abaixo, lembrando-se do livro que eu dei no seu aniversário de 15 anos.
Agora há pouco, antes de chegar na casa da minha mãe, encontrei um ex aluninho. E não adianta, eu sou uma tia mesmo, ele é adulto e eu o vejo como garotinho, como quando contava histórias na aula.
Quanto ao tempo que fiquei com os adultos, passei por várias turmas bacanas - e umas tão chatas que nem vale a pena comentar...- mas as minhas prediletas, foram, sem dúvida, uma turma de Computação ( onde trabalhei com uma matéria de introdução a sociologia) e uma turma de calouras da pedagogia ( onde trabalhei com uma disciplina sobre novas tecnologias).
Turmas interessantes, inteligentes, antenadas e, principalmente, com uma fome de conhecimento, com um desejo de pensar, que não se vê todo dia. Morro de saudades deles.
As escolhas são assim, recheadas de perdas e ganhos. Agora estou fazendo outras escolhas, mas o que vou ganhar e perder, ainda não sei.
Mas quando eu descobrir, conto.;0)
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