30 junho 2008

A Avó de cabelos azuis








Por mais que o título pareça uma referência ao realismo fantástico, não é.
Eu tive uma avó com cabelos azuis e isso foi a primeira coisa que vi no livro novo do Lord: os cabelos de sua avó. Graças a um produto chamado Shampoo Cinza, as vovós ficavam com os cabelos azulados. Eu sempre achei lindo.
No meu casamento, minha avó errou o ponto e foi com o cabelo lilás.
O livro, narrado do ponto de vista de um menino, conta com ilustrações deliciosas e com aquelas cores vbrantes que seduzem qualquer criança.
E é sempre delicioso ver o mundo a partir dos olhos de uma criança.
O texto apresenta com delicadeza a relação entre neto "Tatá" ( que apesar de ser o mesmo apelido do pai, era diferente, porque era um "Tatá de neto") e sua avó, uma relação tão calorosa e especial que faz com que qualquer um que tenha tido a sorte de conviver com sua avó -
como eu - fique morrendo de saudades.
Eu tive a alegria de participar do lançamento do livro: fui com meus amigos Clélia e Arnaldo que me apresentaram ao Bap, um ilustrador pra lá de divertido.
Foi delicioso ver Jayme, Walter e Aninha, que gosto tanto, rever - ainda que rapidamente - Guga.
Conhecer pessoalmente a Vivina de Assis Vianna, foi uma honra pra mim, eu nunca ia imaginar isso há vinte e três anos, adorei.
Uma personagem digna de nota foi a ex-professora do Lord Caco, uma velhinha "composta" ( o que no dialeto da minha avó, significava ser muito elegante ), que ficou ao lado do ex-aluno, evidentemente cheia de orgulho.
Uma noite com livros de avós, antigas professoras e blogueiros?
Delícia.

26 junho 2008

Viajantes no Brasil








Eu estava pensando na tal maldição Langsdorff outro dia. Eustáquio me garantiu que ela acabou, está encerrrada.
Gosto de ler os viajantes do século XVIII, Gosto de ver as pinturas descritivas, cheia de detalhes do cotidiano ( como em Debret) ou da flora ( como em Rugendas), qualquer um que leia meu blog sabe o quanto eu gosto da força das imagens e esses dois, ora bolas, já foram tema de mil teses e vão continuar sendo.
Ler viajantes tem aquele apelo irresistível de perceber o novo pelos olhos de outros, de perceber a dificuldade da compreensão da alteridade. E tem seus momentos de humor, ora pipocas,como Spix e Martius acreditando que caranguejo era uma espécie de de inseto ( um piolho gigante? que nojo) e coisas do gênero.
No caso de Langsdorff, minha preferência é clara: além dele ser de uma inteligência ímpar e uma história que beira ao realismo fantástico ( enlouquecer, à pé, no meio do Brasil é um exemplo disso), tive o provilégio de trabalhar com microfilmes de papéis escritos de próprio punho por esse alemão genial.
O fato de ler um material desses, ver a letra do fulano, perceber peculiaridades dessa aventura, me faz pensar que a realidade é - muitas vezes - tão ou mais incrível do que a fantasia.

21 junho 2008

O Acidente







Adoro Souzas, adoro mesmo e meu filho também . A gente sempre aparece nessa cidade linda, pequena, bucólica e meio hippie pra almoçar aos domingos.
Mas aquele dia a gente tinha ido tomar café em um lugar super charmoso, com quintal enorme, árvores, uma delícia.
Bom, tô voltando pra Campinas, cantando no voltante, toda felizinha,quando vejo um garoto de bicicleta ,segurando a traseira de um ônibus.
Claro que o instinto "tia" fala mais alto que qualquer coisa e tentei resolver o erro do idiota: se o tal besta pensasse sozinho, não seguraria na porcaria do ônibus....buzinei e de uma maneira não muito delicada, disse que ele ia se ferrar se continuasse com a tal brincadeira arriscada.
Bom, dito e feito.O ônibus acelerou, o garoto soltou e foi garoto-bicicleta-garoto-bicicleta-garoto-bicicleta...transformado em uma bola vermelha que foi bater na mureta da estrada.
Parei o carro com o instinto "tia" apitando, chutei os indefectíveis tamancos e saí correndo no meio da estrada, a própria mulher maravilha campineira, só faltando a musiquinha de fundo ...oidiotadogarotovaimorreraimeudesesse babacavaimorrerpáraalguém...não precisei nem acenar ou parar carro nenhum, uma viatura da polícia já vinha atrás do fulano - na verdade, nem era garoto, um galalau de 30 anos , filhinho de papai que tinha roubado a bicileta pra poder cheirar o resultado.
Sobreviveu e nunca mais ouvi falar dele.

***** Post publicado originalmente em 23/09/06

19 junho 2008

Jocasta e Édipo - I




Encontro a criatura que eu chamo de filho no msn - ele estava na casa da avó - vejo o nick "Toddy" e pergunto:
- filho?
- não.
-??
- mula sem cabeça....
- o que vc está fazendo ai?
- batendo um bolo de banana.
- hahahahah...palhaço.
- seu filho.


*******
_Hoje você não me escapa, mãe, vai aprender a jogar xadrez, larga esse livro.
- ah, não...eu tenho preguiça...xadrez é muito chato...
- você já jogou?
- não, é chato, ué.
- ??????
- vai, vem cá, depois eu faço massagem por meia hora.
- bom, se é assim....
- olha só, aqui é o rei e ele anda assim, tá vendo...? e a rainha e....mãe! você não está prestando atenção...!
- tô sim, tô sim. Mó sacanagem esse jogo, todo mundo quer comer a rainha....rs
- que comer a rainha o quê!....quer capturar o rei..
- ah, tá...
- vai prestar atenção??? olha só, o que você faz quando um aluno não está estimulado? Me ajuda aí, mãe.....
- pô, filho, você sabe que tenho o maior preconceito com esse jogo....imagino um velho chato com cachimbo na boca e cara de intelectual.....
- mãe, vamos fazer assim....a gente podia comprar outros bonequinhos...sabe?
- ( interessada) por exemplo?
- ah, o Homem Aranha podia ser o bispo, o Wolverine o rei....e a rainha podia ser... o Shun.....ahahah
- hahahahahh..
- Ou a gente podia fazer um combate DC contra Marvel...
- Você joga baixo comigo, Daniel....rsr...tá bom....como é que eu movo essa torre aqui????


****** texto pulicado originalmente em 18/12/2006

18 junho 2008

Imperdível








Olá, povo. Recebi um convite delicioso e quero dividir com vocês, veio do talentoso desenhista Maurílio DNA.
Quem for aqui da região de Campinas está convidado para ir.


"No dia 18 de junho a chegada do navio Kasato Maru ao Brasil trazendo os primeiros imigrantes japoneses completa 100 anos.

"Nagai Tabi" quer dizer "longa Jornada" em japonês e nesta exposição os professores e alunos da escola expoem sua visão sobre as várias facetas da cultura japonesa e do centenário da vinda dos primeiros imigrantes para o Brasil.

"Tabi Wa Mithizure" - As pessoas que você encontra na sua jornada ficam com você para sempre.

Quando: 20 de junho (sexta-feira) a partir das 20:00h
Onde: Hotel Vitoria NewPort - R. Santos Dumont, 291 - Cambuí

Ainda na abertura da exposição haverá lançamento/venda/noite de autógrafos das revistas em quadrinhos "FRONT Especial 1 - Centenário da Imigração Japonesa" e "ITO Samurai".



Nos vemos por lá.


**********

Eu leio o convite e caio sempre nessa parte, que adorei:
"Tabi Wa Mithizure" - As pessoas que você encontra na sua jornada ficam com você para sempre".
Uau.

17 junho 2008

Ensaio Sobre a Preguiça


Faz mais de vinte anos, eu tinha dezesseis anos e trabalhava em uma empresa que funcionava 24 h por dia. Literalmente. Meu turno era das seis ao meio dia, tinha conseguido essa pseudo-promoção aprendendo a digitar na hora do almoço: passei então a trabalhar como digitadora e em turnos de seis horas.

Nosso grupo era formado por meia dúzia de pessoas, o mais velho, o meu "chefe" - eles adoravam distribuir carguinhos porcaria pra ver se conseguiam controlar a turba assassina de funcionários - deveria ter pouco mais de vinte anos.

Os outros funcionários chegavam às oito: tínhamos , então, duas horas sem vigilância.

Começamos comprando coisa na padaria e fazendo um café da manhã coletivo. Mas isso começou a ficar cada dia mais longo, cada dia, enrolávamos mais.

A estratégia era a seguinte: ligávamos os pcs e ficávamos vagabundeando, até quase oito horas.

A nossa média de produtividade caia a cada dia, e "ninguém" sabia o motivo....

Digitadores tão rápidos perdendo produtividade...um mistério.

O mistério foi descoberto um dia. Estávamos na recepção: todo mundo deitado pelos sofás, eu , sem sapatos, com a cabeça no colo do meu "chefe", que mexia no meu cabelo ( ô, delicia) e ainda cantava pra mim. Tempinho bom....

A porta fez um barulho, não dava tempo de correr, apesar de alguns terem tentado: um dos donos havia chegado.Foi aquela situação constrangedora em que ninguém sabe o que dizer.

Quem tentou correr, foi pego no meio, tipo desenho animado. Levantamos vermelhos, sem dar nem desculpa. Eu calcei meus tênis - porque nessa outra vida eu usada tênis e não pintava as unhas, era uma outra Eu - subi para trabalhar, morrendo de vergonha.

Subimos meio rindo, meio assustados. Nunca ninguém falou disso, mas nunca mais tomamos nosso super café da manhã de duas horas.



****** texto publicado originalmente em 19/03/07

06 junho 2008

Caminhando na terra dos Perpétuos


Volta e meia eu falo sobre sonhos aqui. Já cansei de dizer que tenho uma vida onírica muito rica, não raro, desejo me mudar pra lá.
Outro dia, sonhava com um longo corredor iluminhado por archotes, andava por lá, chamando:
- Morpheus..Morpheus..!
É isso que dá ser doida pelo Neil Gaiman.
Sonho com cores, cheiros, sonho de forma extremamente sensorial. Já sonhei em desenho, com música, com narrador, já sonhei livros e filmes. Sempre acho tudo lindo, mas nunca me lembro ao certo.
Só brumas, cara, só brumas.
Já até me apaixonei em sonho. Acordei, meio lerda ainda, ainda com um pouco de paixão em mim. Mas acordei. Claro, claro.
Agora sonho em paz, parece que meus filmes internos estão em uma fase zen, se desvencilhando de uma série de medos, de ansiedades.
Parece um bom processo.



04 junho 2008

Vivinha em São Paulo III ou O ônibus


Quem me conhece, sabe que eu faço promessas internas.Por exemplo, quando tinha onze anos jurei que nunca namoraria um homem que lavasse carro no domingo, assistisse futebol e tivesse barriga de cerveja.
Bem que eu preciso de uma dietinha, mas os homens que passaram por minha vida não precisam. Nem lavam carro. Muito menos assistem futebol com barrigão de fora.
Uma das juras é que eu evitaria até o último segundo a possibilidade de tomar ônibus. Mas nesse caso, diferentemente do hipotético barrigudo, eu estava cansada de conhecer.Tomei muito ônibus: vazio, cheio, limpo, sujo, hora vazia, hora do rush.Chega, sem essa de ônibus.
Mas aqui eu andei, quando fui pra casa da Lu Farias, onde conheci aquela família linda e atenciosa, onde passei uma tarde muito bacana, papeando, tomando café e vendo que existem outros fãs de Babylon 5 no mundo.Essa possibilidade de conhecer melhor os amigos blogueiros é algo que me deixa feliz.
No ponto de ônibus,rumando para a casa da Lu, uma menina pequena me olhava:
- Que cor "é" seus olhos?
- castanhos - respondi.
- tira o óculos "preu" ver?
Não é o máximo como criança simplesmente consegue se comunicar com todos?
Por mais que eu deteste tomar ôninus - e eu já disse que detesto - é bacana perceber como dá pra se conhecer mais das pessoas, pra trocar coisas, pra ver outras vidas que não a minha apenas.
Minutos depois sentou uma velha. Constrangida, me pediu um real. Dei três, ela riu sua risada sem dentes, disse que ia dar "até pra comprar leite".
Eu já estava com vontade de chorar ali, velhos me comovem, velhos solitários me cortam o coração.
Essa velhinha mora sozinha, as filhas moram no interior do Paraná, disse que morava em São Paulo há anos, ainda ficava aqui porque era mais fácil para se tratar, para pegar remédios no posto de saúde, essas coisas.
Tirou os remédios da sacola, me explicou pra que serviam, na ânsia de papear com alguém.Um toque escatológico aliviou tudo, ela dizia:
- esse aqui é pra eu urinar bem, por causa do rim, sabe? ah, mas eu urino...urino que é uma beleza.
Eu ri da história de xixi da velhinha e continuamos conversando. Ela contando, eu escutando e pensando em um clichê que me pareceu doloroso: em uma cidade tão imensa, quantas pessoas seriam solitárias como aquela velha que andava sozinha, morava sozinha e conversava com uma estranha, após pedir um real.
A solidão dela me cravou nos ossos, doeu, assustou.
Ao entrar na casa da Lu, momentos depois, recebi uma golfada de felicidade: uma família amorosa, alegre, unida. Fiquei pensando na nossa sorte e fiquei pensando na velhinha.


**** texto publicado originalmente em julho de 2007.