26 novembro 2010

No dia dos professores, saudades do José Luiz

Eu pensei em falar sobre o dia dos professores, pensei em comentar as coisas incríveis que acontecem, o provilégio que é poder participar de momentos tão importantes da vida das pessoas.
Mas não quero falar como professora, quero falar como aluna que fui.
Eu gostaria de falar do José Luiz, ou Zé luiz, pra nós, seus alunos no ensino médio. Zé Luiz me apresentou a música de Chico Buarque, me apresentou ao terrores da didadura em debates em que nós, os alunos, nos inflamávamos, inquietos com tanta coisa com a qual discordávamos. Foi certamente a pessoa mais importante na minha formação intelectual e politica na adolescência. Eu mal podia esperar por suas aulas e quando ele dizia: "alguém tem alguma colocação a fazer"? podia contar com minha mão erguida, palpites, opiniões e muitas, muitas duúvidas. E eu não era a única. Os outros palpitavam, discordávamos entre nós, concordávamos, decidiamos continuar o papo no bar do Beto ( Coisa que ele discordava, aliás, com veemência. Ele argumentava que a localização do tal bar era ilegal, dado que ficava na frente de uma escola. Mas nós, tomados pela tolice ingênua e linda da juventude, achávamos lindo continuar o papo da aula ali, no nosso queridissimo Bar do Beto)
Era fins de 80 e nós queríamos mudar o mundo. As aulas dele faziam as coisas terem um sentido diferente.
Nós nunca o deixávamos sair da sala de aula, sem ir atrás, ainda discutindo, perguntando, questionando. Zé Luiz - incrivelmente parecido com Sidney Poitier - foi meu professor de História e com ele conversei sobre livros, filme e política, muita política. E ele tinha toa a paciência do mundo com minha pressa juvenil e minhas tolices.
Exatamente por isso fico tão feliz quando acontece comigo, quando um aluno me acompanha ao final da aula, ainda com discussões por terminar. Exatamente por isso, sinto uma infelicidade extrema quando escuto um enfadado "sei lá" ou um dar de ombros para a aula, para o tema, para o mundo. Uma atitude me leva ao paraiso, a outra, ao inferno.
Quanto terminei o colegial e passei na Unicamp, voltei pra dar um beijo, milhões de obrigadas e um livro do Manuel Puig. Só depois de formada, já trabalhando, entendi o olhar de felicidade que ele tinha para mim naquele dia.
Hoje, no dia dos professores, vinte anos depois, só posso dizer que sou professora graças a ele e até hoje, digo para meus alunos uma frase que ele sempre repetia:

"Gostaria que vocês nunca perdessem a capacidade de se indignar"

Zé, um grande beijo pra você.




####publicado originalmente em 2008 e republicado agora, com atualizações.

18 novembro 2010

Os chatos











É muito bom ser professora. Eu já contei tanta coisa de alunos...já falei disso, disso e disso. Mas hoje eu queria falar sobre o Lado Negro da Força.Porque nós, professores, também temos o nosso ladinho Dart h Vader, vamos combinar.
Eu gosto dos meus alunos, sempre gostei.Em todos os anos como professora, só não gostei de dois alunos. Mas não foi só não gostar, eu confesso aqui, eu detestava aquelas criaturas.
Uma era uma garota chata. Chata, gente, chata...não era bonita, nem feia, nem burra, nem inteligente: era um zero à esquerda. Era uma tentativa patética de ser indisciplinada, mas era tão chata que nem adeptos pra bagunça conseguia.
Nada contra os indisciplinados: em geral, são engraçados, criativos, me dei bem com grande parte deles. Mas essa coisinha aí eu confesso, eu passava longe, eu doava, eu preferia não ter conhecido.
Mas o pior era o menino. Eu fui sua professora há muitos anos, hoje ele é adulto.
Era uma criança medonha e deve ser um adulto medonho, não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe, sacumé?
Ele era um lindo garoto, no maior padrão angelical: olhos imensos, azuis, cabelinho loiro.Mas eu vou dizer pra vocês....nunca conheci um menino tão cruel com as outras crianças, tão sádico, tão manipulador.Tudo com os grandes olhos ingênuos negando....
Vocês podem estar ai pensando que vou queimar no fogo do inferno por dizer isso, mas eu não tenho culpa de ter dado aula pro Bebê de Rosemary crescido!
O moleque parecia saído de um filme de terror, saca criancinha malévola no estilo A Profecia???
Nunca vi aquilo, tão jovem e tão escrotinho.
Pra se ter uma idéia, os professores chamavam a criatura de "anti cristo". Um dia, na sala dos professores, a professora de português dizia:
- Ah, eu venho dirigindo e rezando, rezando...
( risadas de todos)
- Aí eu me imagindo colocando a mão na cabeça deles e rezando...
( risadas de todos)
Sério, povo, a turma era tenebrosa messs.
- E o "anti cristo", você também abençoa??
- Até que eu eu tento, mas pelo sim e pelo não, não dou as costas pra ele não...


******* queridos, leiam os textos que deixei linkados aqui, são três textos que gosto muito e que traduzem bem a vida dentro de sala de aula. Beijos.**********

15 novembro 2010

A Lolita de Nabokov


Sempre que eu ouvia a expressão Ninfeta, imaginava que se referia a garotas adolescentes bonitas e sensuais. Qual não foi a minha surpresa ao ler Nabukov.
O protagonista, cônscio de sua pedofilia, descreve a ninfeta como meninas entre nove e doze anos (!), que mesclariam, para os olhos turvos do personagem, sensualidade e ingenuidade. Não que olhar para meninas de quinze anos não seja repulsivo vindo de um homem barbado, mas olhar para uma criança de nove consegue ser mais asqueroso ainda.
O livro é fantástico.( Eu sempre prefiro obras onde o leitor pode se embrenhar no imaginário das personagens, para além dos que colocam o foco na ação. Em outras palavras, me interessa mais como as personagens percebem a ação, como elas decodificam a ação, do que a ação em si.
Por isso gosto tanto de Virginia, Berlim, do Biajoni.)
No caso de Lolita, a trama efetivamente é chocante. O personagem, H.H. se perde em delírios pedófilos até que consegue encontrar sua presa ideal: a filha da dona da casa onde ele se hospeda.
Não vou abarrotar esse texto de spoilers, porque vocês devem efetivamente ler a fonte, os clássicos não são clássicos por acaso, enfim.
De forma que prefiro chamar a atenção do eventual leitor desta Casa para alguns pontos: a trivialidade da menina, uma adolescente absolutamente comum, que é sequestrada da sua infantilidade e presa a um universo porco de um adulto repulsivo. Ele mesmo percebe o quanto a destrói, seja com seu ciúmes doentio, seja com sua rotina de prostituição, onde os objetos de consumo juvenis são moeda de troca para sexo.
Uma das coisas que achei curiosamente cruel foi a forma como H.H. compreende as mulheres: não há meias palvras, ele sente repulsa por elas. São descritas de forma vulgar, pouco atraente, grosseira e tola. A própria Lolita, garante ele seria interessante por no máximo três anos, pois perderia a "nifescência" e se tornaria - horror dos horrores - uma jovem universitária.
Existe todo um universo curioso dentro de mentes doentias, Nabukov é consciente disso e explora toda a sordidez desse homem que teme mulheres. Por isso, pela maleabilidade estonteante com ele manuseia as palavras e pela pérfida forma como o personagem vê as pessoas, é necessário ler Nabukov.

09 novembro 2010

Roda Viva versão "Como É Essa Coisa?"









Alguém por favor por de explicar exatamente o que aconteceu com o Roda Viva? Primeiro: é sério que o Heródoto Barbeiro dançou porque perguntou sobre os pedágios para o José Pedágio Serra? Sério?
Ah, caraca.
Bom, pra quem quatro blocos, sendo que o último serve para o "balanço" dos participantes. Em outras palavras, todo mundo diz que foi bom, ótimo, muito rico e que gostaria de fazer mais perguntas para o entrevistado, que dá uma jogada de confete de volta.
Sabe jogador dando entrevista? Falando sempre a mesma coisa? "Vamos dar tudo de si (sic), fazer um bom jogo, um grande futebol, o time está unido e seguir a instrução do professor e blábláblká". Gente, é igual. Mesmo papo repetitivo, inútil e abosolutamente previsível.
Augusto Nunes, que era meu ídolo na adolescência e juventude, por quem eu suspirava pelo charme e pela inteligência, está um fiasco. Não tanto pela aparência, os anos o atingiram em cheio, mas ainda dá um caldo. Mas perguntas superficiais, má condução de resposta, impaciência e outros problemas me fazem olhar pra ele com profunda decepção.
Marilia Grabriela é uma chata, mas isso não tem conserto. O pior de tudo é que ela e Paulo Moreira Leite gesticulam tanto que me lembram a entrevista - no mesmo programa - de José Celso Martinez Corrêa, que estava tão histriônico que as pessoas começaram a escrever perguntado se ele estava drogado. Um pé.
O que mais me incomoda mesmo são as perguntas vagas, mal elaboradas, que se repetem com aquela profusão de gestos e terminam com "como é essa coisa? " ou " como é isso?", o fim da picada, o fim dos tempos, o apocalipse das entrevistas.
No Roda Viva de ontem estava Contardo Calligaris - pausa para o suspiro apaixonado - que foi absolutamente brilhante e charmoso como sempre. Parecendo ficar surpreso com o nivel das perguntas. Quando indagado por Augusto Nunes se "ele conseguia se analizar ou precisava de alguém para isso", respondeu com um certo sorriso matreiro que "não se analizava, porque ninguém se analiza, é preciso do Outro para isso".
Sem desenvolver a resposta, foi quase lacônico, como quem diz: meu filho, pesquise antes de falar batatada...
De resto, a entrevista por boa por conta dele. Mona Dorf, jornalista convidada, foi sem sombra de dúvidas a melhor e mais elaborada. O resto..."ah, como é esa coisa?"
Faça-me o favor.

04 novembro 2010

Porque os homens que não gostam de hq me irritam


Conversando com um fulano, recém apresentado pra mim, no Franz :
- O que é isso nessa sacolinha, história em quadrinhos?
- Sim.
- Você gosta?
- Adoro.
- Ah....é.....esse Marvel escreve bem mesmo, heim?
-...................


(2007- Colégio de freira)
Saindo da sala dos professores. O professor me pára:
- Vivien, você já viu o vocalista do Ira?
- Ahã...sei. O que é que tem?
- Lembrei de você, ele está parecendo aquele ET do Matrix....você vai saber, você gosta dessas coisas....
- ( ET...? Do Matrix..?) ( cara de dúvida)
- É...aquele assim...( faz um gesto de garra com a mão )
- Ah...o Wolverine...( sorriso amarelo )

Gauchismos








Faz algum tempo, o Bia me emprestou alguns livros bacanas, entre eles, o Música Perdida, escrito por Assis Brasil. Na época, muito impressionada com o livro, escrevi uma resenha e a publiquei aqui.
Agora, vendo que a Copa de Literatura vai acontecer, vi que o autor estaria envolvido e achei seu email. Joguei a vergonha no saco e escrevi para ele - mesmo com aquele receio de ser pentelha - e mandei a resenha.
Para minha grata surpresa, ele me respondeu rapidamente e de forma absolutamente gentil. O que reforça minha tese que a arrogância pertence aos mal amados e medíocres, pois quem tem uma carreira sólida e respeitabilidade, não precisa desses artifícios.
Para felicidade do meu ego querido, o professor Assis Brasil elogiou a resenha e pediu (!!!) para linká-la em seu site. Quasei pulei, né, crianças. Afinal, o que uma blogueira comum como eu estaria fazendo por lá? Adorei mesmo, pra mim é uma honra poder dar meus pitacos dentro da obra de um autor tão especial.
Após alguns emails, tomado de "gauchice", Assis Brasil escreveu:

"Buenas (desculpa; é que acordei muito gaúcho, hoje).
Tua bela resenha já está no meu site, inclusivamente com um link para o teu blog.
Mais uma vez, miles de gracias,
e um quebra-costela bem cinchado do
Assis Brasil
PS.: minha gauchice passa; amanhã estou normal..."


Depois de rir com a expressões peculiares desses sulistas, perguntei se poderia publicar isso no meu blog. E ele, ainda no arroubo da gauchice, respondeu:


"Buenas e me espalho! Nos gordos dou de plancha e nos magros
dou de talho!
Mas é claro, guria, podes botar o meu chasque no teu blog.
Vai ficar mais lindo que beijo de prima, e eu mais faceiro
que guri penteado.
Um quebra-costela bem cinchado do
Coronel Assis Brasil [todo gaúcho-homem é coronel --
ainda estou sob o ataque de gauchidade. Depois do meio-dia,
quando eu já tiver engraxado o bigode com um costilhar de
ovelha, já serei brasileiro de novo]"


O site do professor(ou coronel?) Assis Brasil é esse aqui, e pra quem não leu, minha resenha é essa.

*** publicado originalmente em abril em 2008.

01 novembro 2010

O meu país tem uma mulher presidente























"E cada pai e mãe olhe agora nos olhos de suas filhas e diga: a mulher pode".

( Dilme Roussef)



E fica a dica pára quem quer ler sobre preconceito e machismo nessa campanha histórica: aqui e aqui.