
Andei pensando sobre crianças nesses dias. Mais precisamente, sobre o autoritarismo infantil.
Não é difícil perceber porque regimes totalitários utilizaram crianças e adolescentes a seu favor: nesse período da vida, longe da relativização da maturidade, é muito fácil ser profundamente maniqueísta. Tudo parece ser certo ou errado; branco ou preto. Crescer envolve perceber - nas palavras de uma amiga - que existe uma grande "variedade de cinzas entre o branco e o preto".
Mas os pequenos ditadores não percebem isso, e o que é pior, tem uma concepção equivocada do mundo como um grande mercado onde as pratelereiras estão repletas de opções para eles mesmos, eles se imaginam o centro, o motivo da existência da humanidade, que parece sempre dever algo aos pequenos reis.
O resultado me assusta.
Não tenho uma interpretação ingênua e romântica de um modelo antigo de família, um modelo que a história mostra que nunca existiu. Não olho o passado remoendo: oh, como tudo era tão bom...não, não penso assim.
Acredito que muitas das relações passadas eram calcadas em um modelo repressivo, onde as crianças e adolescentes não tinham voz.
No sentido de dar voz às crianças, os adultos ( pais, avós, tios, etc), se esforçaram para oferecer uma nova forma de estabelecer relações.
Mas parece que o tiro saiu pela culatra.
Acostumados a receber e receber, dotados de uma visão simplista de mundo dividido entre bem X mal, imbuídos da concepção de que o mundo feito para eles, os adolescentes, dedo em riste, exigem, julgam, insultam e magoam. Sempre atolados em uma perversa idéia de que foram ludibriados(!), que os adultos estão em débito.
Vale a pena lembrar que os criadores dos pequenos nazistas foram seus pais. Ao rechear aquelas jovens almas com ódio, passaram, tempos depois, a ser objeto desse próprio ódio.
O jovem ditador crê que nada deve a ninguém: ele é sempre aquele que recebe. O pequeno ditador, dedo em riste, não parece capaz de ver o que recebeu, porque está muito ocupado cultivando suas cobranças initerruptas e egocêntricas.
Nunca acredita que o que recebe possa ser suficiente. Ele exige, ele insulta. Por algum motivo, ele se julga nesse direito.
Temo pela sociedade que virá, com esses pequenos déspotas egoístas.
Como no vídeo abaixo, creio firmemente, que se nada for feito, se não combatermos esse egocentrismo perverso, o que nos restará será limpar o traseiro desses jovens imperadores sem autonomia.
@@@@@ Post originalmente publicado em maio de 2008, em "homenagem" a todas as crianças ranhetas, manhosas, autoritárias, interesseiras, grosseiras e os malucos que criam esses seres.