27 maio 2011
Tio neném e suas histórias
Tio Neném era irmão de meu avô Belo: aquela história que já mencionei por aqui...dois irmãos paulistas e tropeiros, que levavam os bois do pai fazendeiro, casando com duas irmãs cariocas.O que causou uma certa peculiaridade, pois todos os primos tem absolutamente todos os parentes em comum,algo diferente e bacana: primos-irmãos.
Uma vez, quando eu tinha uns seis ou sete anos, sentada no seu colo para ouvir histórias da antiga fazenda - a Dourada - percebi uma coisa engraçada:
- tio...
- fala.
- você está careca...tem uma carequinha aqui....
- ah, mas ninguém sabe...- rindo - como você foi descobrir? Olha, você penteia meu cabelo e esconde essa careca, tá?
Super feliz, acreditei que só eu sabia que ele era careca. Quando o via, corria pra pentear seus cabelos, esticando alguns fios e tampando aquilo que apelidamos de "minha descoberta".
E eu adorava vê-lo, adorava as histórias de quando ele fugia das aulas pra nadar no rio, gostava das traquinagens, gostava de um mundo de menino de fazenda com lendas e bichos.
E ele tinha a mesma verve que meu avô: as histórias tinham efeitos especiais, silêncios, sons, barulhos de vento e rugido de onças, me deixando hipnotizada.
Uma vez, em sua chácara, me encantei com um porquinho. Isso, um porquinho, filho de porca...Quem pensou em uma coisinha como porquinho-da- índia errou, era um pequeno leitão.Oinc.
Ele me deixou levar o porquinho para casa - ou melhor, para o apartamento onde eu morava - com a promessa de trazê-lo quando estivesse maior.
"Chiquinho" andava com roupinhas de boneca, capinha, pagão e outras coisas que minha avó costurava pra mim. Tomava leite de chuquinha, corria e fazia um barulho enorme ao escutar o barulho da tal chuquinha batendo no chão. Umas batidinhas eram suficiente pra ver aquele porquinho, de capa vermelha, correndo pela sala.Oinc,oinc.
Morreu pequeno e chorei horrores, mas tio Neném me consolou, com aquele jeito de quem nasceu pra ser avô.
***Texto publicado originalmente em 2007.
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Por intermédio de quem você teria tomado conhecimento das figuras de Norman Rockwell?
ResponderExcluir:-)
Carmencita, por um ex namorado desenhista.;0)
ResponderExcluirMaravilhoso, né? Tem outras imagens dele por aqui.
Que linda história.
ResponderExcluirTivemos Vivien, o privilégio de ter tios ricos em histórias.
A impressão que tenho é que isso não existe mais, pois os filhos mais jovens, já não tem nem avô nem tios-avós que tenham tantas histórias para contar. Ou não como essas que têm sons e vida própria.
Essas lembranças são muito gostosas, e acredito que devem provocar grande espanto no Daniel.
São valiosas, e devem ser preservadas.
Beijos
Que belo relato, teu tio devia ser uma figura. Infelizmente não pude conviver com meus avôs, apenas com as avós, uma delas sempre contou ótimas hisstórias de seu tempo de jovem.
ResponderExcluirBeijos.
Ah, Vivien! Dá um tiquinho desse seu tio pra mim, vai!!! Amei ele...
ResponderExcluirPs - porco em apartamento?!?!?!? Maria Helena era muito paciente, aff...
Nossa, Vivi, como você escreve bem!
ResponderExcluirE acho que escrever bem é saber observar muita coisa, o que nos passa fora e o que nos passa dentro. TExto lindo de linda que é. Beijo carinhoso.
Nhãim
ResponderExcluirVocê teve um porquito, Foca! Que coisa fofa
Também queria ter um!
Vivien, histórias familiares. Quem não as tem? Todos temos nossos tios Nenê.
ResponderExcluirBeijo, menina
Delicia!
ResponderExcluirbeijo
Saudades.Coisa boa quando é assim.
ResponderExcluirQue coisa incrivel, um porquinho dentro de um apartamento!
ResponderExcluirDevia ter sido muito divertido.
O final do meu conto está lá no http:www.cuidadoestaoteespiando.blogger.com.br.
Te aguardo!
Beijo!
Maith
Vivinha,
ResponderExcluirQue gracinha a tua estorinha com o vo. Adoro ler as tuas memorias e as da Cleise tambem. Adoro meus avos. Acredito que sou quem sou pelo amor que recebi deles. Eles moram em meu coracao e nao passa um dia sem que eu sorria quando me recordo do carinho recebido. Acho mesmo que nossos avos sabiam o grande segredo de fazer com que todos nos, cada um de uma maneira diferente, nos sentimos tao especiais e "favoritos" em seus coracoes. Que sortudas somos, nao?!
Um beijao bem grandao. Saudades. Lisa
Vivinha, amei e só pra te contar, também ganhei, mas a minha era uma porquinha, a Rosinha. Ele não me deixou levá-la para São Paulo e acho que acabou numa das ceias de natal ou ano novo, junto com um daqueles perus que o vô embebedava com cachaça.hahaha!
ResponderExcluirgente, vc já teve um porco!
ResponderExcluirque sonho!
História, memória, ficção.
ResponderExcluirVivi, acho que tem a possibilidade de ser grande historiador o que tem a possibilidade de fazer bem uma narração. Além de historiador, pode ser um montão de coisas em termos de ocupação além de sobrinha, filha, mâe, irmã, amiga etc.
Você tem isso de sobra.
Ah, claro que acho q quem é bom narrador, soube escutar o vivenciado. Mesmo que depois, alterando a realidade vivida,em geral, para os ficcionistas. Mas vai dizer q os historiadores não alteram "a realidade" e quê "realidade", cara pálida.
Nesse texto livre de quaisquer ismos, só poderia transbordar carinho; tão movimentado, acompanhando as linhas, fica o nosso coração. Grande narradora!
Beijão querida.
Alguns tios, primos,irmãos ou avôs são especiais. No meu caso, foi o meu avô, autor das histórias que ouvia com o maior deleite.
ResponderExcluirAnna, são histórias maravilhosas e tenho sorte de ter vivido isso.;0)
ResponderExcluirTiago, acredito que eu tenha me interessado por História influenciada por meus avós.;0)
ResponderExcluirCláudia, com certeza ela era....rs
ResponderExcluirSibila, um elogio seu é sempre algo pra alegrar o dia.;0)
ResponderExcluirCarol...hahahah....to aqui imaginando seus posts sobre porquinho...rs
ResponderExcluirValter, temos sorte.;0)
ResponderExcluirDudi, que honra sua presença por aqui.;0)
ResponderExcluirVolte sempre.
Magui, essas são saudades boas.;0)
ResponderExcluirBisa, to com saudades de ler seu blog.;0)
ResponderExcluirQuerida Lisa, foi muito bom ter convivido com eles.;0)
ResponderExcluirBom ver vc por aqui!
Key, comeram a Rosinha...heheheh
ResponderExcluirbeijos, querida.
Renata, um porco de capinha....sr
ResponderExcluirSibila, vc me deixa feliz e com vontade de escrever.;0)
ResponderExcluirLino, adoro histórias de avós.;0)
ResponderExcluirVivinha,
ResponderExcluirA ideia de um porquinho no apartamento eh hilaria!!!
Que historia bonita!
:o)
Frou, imagina o Chiquinho vestindo um pagãozimho feito por minha avó.;0)
ResponderExcluirVi.. eu adoro ler suas histórias. Essa foi mais uma. Porquinho? Eu tive uma pintinho, que cresceu e foi parar num sítio. E eu recebia um ovo por semana da minha tia....rssss.
ResponderExcluirSandrinha, que bom que vc gosta!!
ResponderExcluirDeu saudades do meu porquinho.;0)
Me senti tão lisongeada com a homenagem que fiquei na obrigação de falar do seu avô. Está lá na Kamicleta, dá uma olhadinha e depois me conta o que achou! Beijos.
ResponderExcluirKey, já fui, já li e já chorei.;0)
ResponderExcluirGostei de reler a história do tio Neném e do porquinho.
ResponderExcluirBeijos menina.
Aninha, que saudades de vcs!!!
ResponderExcluirgrande beijo.
Viven, linda história. Veja como as coisas simples são as mais bonitas, não é? E são as que ficam realmmente gravadas em nossa memória. Tive primos-irmãos também. Duas irmãs casadas com dois irmãos, que tiveram filhos.
ResponderExcluirGostei da história. Reminiscências assim são sempre belas.
Beijos
Adelino, agora conte um pouco da sua...quero saber como foi!
ResponderExcluirbeijos.
Vivinha,
ResponderExcluirque saudades!!!!!???? Tio Nenê era uma figura . Sorte nossa termos vivido rodeados por familiares tão especiais.
O Chiquinho morreu, porque não se acostumou com tanta higiêne e conforto.
Bjs
Mamãe
Mãe, vida de porco pode ser boa...rs
ResponderExcluirbeijos.
meu bisavô por parte de avó materna tb era tropeiro, só que mineiro. Eu adoro ouvir as histórias das minhas tias, e tb cresci com esse mesmo imaginário de roça. Mas nunca me encantei com porco. Só com pinto! ;)
ResponderExcluirMeu bisavô por parte de avô paterno também era tropeiro, só que mineiro. Eu adoro ouvir as histórias das minhas tias, e tb cresci com esse imaginário de roça. Mas nunca me encantei com porco. Só com pinto... ;)
ResponderExcluirana...ahhhahahahahahahahahah........vc estava indo tão bem....rs
ResponderExcluirbeijos.
Ai, um porquinho bebê! que sonho! E olha, eu não tive a oportunidade de conhecer nenhum dos meus avós, nem tios avós, mas dou um mega valor. Os avós da Clara tem perfis completamente diferente e ela é apaixonada por todos eles. Vai ser um barato ouvir ou ler essas histórias delas mais tarde :-)
ResponderExcluir***Anna, tive a grande sorte de ter todos os meus avós até ser adulta. Além deles, tios e tiaa-avós, que tornaram a vida muito, muito mais doce.;0)
ResponderExcluirE só alguém assim pode dar um porquinho-bebê de presente, certo?
beijos, querida.
Vivinha
ResponderExcluirLer e reler histórias da família é sempre muito gostoso.
Bjs
***Mãe, eu adoro lembrar dessas coisas.;))
ResponderExcluirbeijos.
A história do porquinho é demais!!!
ResponderExcluirbjs
Frou
:o)