
Não é novidade para ninguém que parte da humanidade tem uma necessidade de conviver com o horror,com a violência,em um êxtase sádico asqueroso.Não foram poucos os que berraram para gladiadores no Coliseu,nem tampouco os que foram assistir aos espetáculos de decapitação do período do terror francês.Muitos outros elementos estão envolvidos nisso,claro,eu sei.Mas uma boa dose de curiosidade mórbida também.
Basta ver onde se formam filas quilométricas quando a Unicamp abre suas portas...o quê? você ainda tem dúvida?Sim,formam-se filas
mastrodônticas na anatomia,isso mesmo,pra ver corpos.
Também não é novidade para ninguém que parte da imprensa vive dessa curiosidade,alimentando-a calorosamente.
Mas os fatos recentes,ainda que eu saiba de tudo isso,me chocaram.
Estou falando da menina Isabella,que morreu na queda de seis andares,na cidade de São Paulo.
Eu não sei quem foi,a polícia também não,a investigação ainda está aberta.
Mas parte da imprensa já julgou,já condenou e faz um circo aterrorizante,incitando as pessoas ao ódio.
Ontem eu vi uma emissora que ficou HORAS discutindo esse assunto,ou melhor,
concluindo com uma autoridade dada sei lá por quem,que o pai seria o assassino.
Pode ser,não sei.Mas o fato é que a condenação dessa pessoa de forma precipitada pode fazer reviver - como lembrou a Frou ontem - o caso da Escola Base,onde os donos foram acusados e perseguidos pela imprensa por uma suposta agressão sexual dos alunos.
Apesar de provada sua incocência,hoje em dia estão arrasados,sem dinheiro,sem respeito,sem saúde.Sua vida foi para o lixo.
A polícia,querendo mostrar serviço a população,já acusava o pai nas primeiras horas:acharam um fulano dentro de uma situação realmente confusa e parecem querer provar sua competência.
Fiquei pasma,eles deduziram que o corte da rede protetora foi feito com uma tesoura e - pasme,leitor - acharam uma tesoura na casa.Oh!!! algo absolutamente fora do normal,certo? afinal ninguém tem tesoura em casa? você tem??? que horror,pode ter sido você.
Por algum motivo que não entendi,os jornalistas chamam a mãe de "mãe biológica".
OU eu fiquei louca ou não entendo nada:"mãe biológica" não é a forma de tratamento da mãe que apenas pariu enquanto outra criou?
Esse não é o caso,a menina era criada e morava com a mãe.
As mães leitoras daqui da Casa já deixaram recado na escola dos filhos dizendo "
olá,aqui é a mãe biológica do fulano"?Ora,pipocas.
Alguém ouviu uma criança falar "
pára,pai" e isso virou manchete.Eu estou falando sério.Um vizinho pode localizar com tanta perfeição de onde veio essa frase?
Uma vizinha do prédio da frente viu o casal chegando juntos.Ela usava binóculos?
Um jornalista(!) com cara de "saquei tudo,crianças,me ouçam e aprendam",ficou horas ontem,instigando a população a ver o pai como assassino.
Vários desocupados deixaram seus - aparentemente poucos - afazeres para ficarem do lado de fora da delegacia,fofocando.
Que medo dessa gente.
Nos primeiros momentos,a mãe da menina disse que duvidava de uma suposta culpa do pai,por perceber o carinho e amor com que ele sempre tratou a menina.
Essa mãe ficou três horas e meia trancada com uma delegada,na saída,disse que queria que a "
justiça fosse feita".Uma mãe que acabou de perder a filha de forma brutal,seria alguém perfeitamente influenciável,não seria?
Presos e separados,a madrasta e o pai estão na mira dessa imprensa mórbida,onde poucos dão sinal de lucidez - como fez Alexandre Machado,hoje de manhã,lembrando inclusive,da Escola Base - e outros prometem a população sedenta de sangue:"separados,eles entram em contradição..."
Claro que sim,podem até se acusar,inclusive.Essa técnica já colocou mãe contra filho,avô contra neto.
Torquemada que o diga.