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A primeira pessoa que vi falando do Tropa de Elite, foi a
Andréa .Eu nem sabia o que era BOPE.De lá pra cá, fugi dos textos que falavam do filme, para tentar assistir com menos bagagem,com mais abertura para minha propria análise.De cara havia a questao, ser ou não fascista , não dava pra não pensar nisso.Porque apesar de não ler as análises, alguns dos temas das discussões sobre o filme sempre acaham chegando, só dá pra fugir totalmente, indo pra Marte. ( Ou preenchendo diários de classe, claro).
Não achei fascista, não achei que faz a apologia ao Bope. Mas abre o flanco para essa interpretação, afinal, mostra o ponto de vista do Nascimento e isso, muitas vezes, acaba desenvolvendo uma cumplicidade entre espectador e filme.
Então, para um expectador mais afeito a porrada e que tem simpatia por "justiceiros", parece ser uma apologia.
Por mais que seja óbvio - e é obvio - é importante falar sobre a questão plástica do filme e no seu tempo: o ritmo dele é instigante demais,ele é visualmente interessante e os atores são um show à parte. Se eu disser mais uma vez que adoro Magner Moura, vou acabar ficando ridícula.Mas eu não temo o ridículo quando ele é bem intencionado e assim, repito: o cara é simplesmente um dos melhores atores que já vi.
Gosto de filme com narrador, gosto dessa coisa que acaba sendo uma forma de modelar meu olhar, direcionar. Nesse caso, o narrador era um personagem que eu sentiria aversão logo de cara. E senti mesmo.
Pra mim não adianta mostrar o lado "papai em crise", "marido com apartamentinho ferrado" para eu simpatizar: a História prova que homens terriveis no trato social podiam ser adoráveis em casa. O filme "A Queda - as últimas horas de Hitler", apresenta o
fuhrer sendo carinhoso com o cachorro, entre um surto e outro, por exemplo.
Ao msotrar o cotidiano, o personagem deixa de ser apenas o Outro e o vilão por exelência,como ficou reduzido o Baiano ( em apenas uma cena ele é visto com a mulher e filho),passa ser um cara comum. E os caras comuns não são monstros, são?
Ah, gente, são.
E a HIstória prova.Mas para algumas pessoas, pode parecer que não.Esse é um dos pontos que abrem o flanco para a interpretação "pró bope", creio.
Impossível não ver como a autoridade, ou melhor, como o grande prazer no abuso da autoridade e da violência estão impressos no Capitão Nascimento.
Em busca de valores éticos louváveis - como a repulsa a corrupção e a convivência pacifica entre policiais e traficantes - Capitao Nascimento se advoga o direito de "trazer a doze".Assim, ainda que sob um objetivo correto, Nascimento cede/entra/mergulha na lei da selva.
Se alguém me disser que os traficantes fazem o mesmo, vou ficar irritada.Porque se a lei for usar as memas estratégias e regras da marginalidade, voltamos a barbárie. Aliás, é exatamente isso que vivemos, o que é deprimente.
Me apavoro em pensar que vivo em um mundo onde um ou outro "capitao nascimento" decide quem vive e quem morre. Policial e padre, pra mim, só à distância.
E muita distância.
Obviamente sei que o cotidiano deles é estressante e coisa e tal, não creio que seja possível não surtar eventualmente ,ou tomar bola, como o Nascimento.Mas isso não significa que direi que apoio. Tenho repulsa por justiceiros e afins, tanto quanto qualquer outro tipo de violência.
No conto "A Coleira do Cão",
Rubem Fonseca demontra, de forma absolutamente genial, como um policial acaba se envolvendo, se deixando seduzir pela possibilidade de usar qualquer método, de estar além da lei e mais do que isso, de efetivamente se sentir envolvido pelo poder da violência: de ser pego pela "coleira do cão".
Nesse conto,filmado pela Globo com o excelente Murilo Benício, um delegado honesto tenta trabalhar dentro de uma esfera de lagalidade, até perceber que todos na delegacia - menos ele, como descobriu - estavam atravancados com uma rede de corrupção e abuso de poder.
Até que ele mesmo se sente seduzido, tomado, pela chamada
coleira do cão, onde o poder, associado a uma fálica arma o transforma.
Inevitável pensar no prazer que proporciona aqueles policiais a chegada, o terror, o tal tapa na cara. Um amigo de infância, hoje policial no Rio , diz pra quem quiser ouvir que "dar tapa na cara é bom pra caramba".
O persongaem Neto, notadamente perturbado,com a cena hiper "Taxi driver" ,que seria o escolhido ( doido por doido...)para substituir o líder do BOPE é morto. Sua morte é vingada pelos companheiros. Sim, vingada, ou seja, um conceito fora da legalidade, onde o policial se torna também juiz e carrasco.
A responsabilidade dada ao coletivo, sintetizada na crítica ao uso do
baseado dos universitários é e não é interessante. Em um primeiro momento, com minha patológica aversão ao Estado, penso que o coletivo pode e deve exercer seu poder: usar drogas cria a marginalidade? Em parte, sim.
Mas a questão principal é: usar drogas, pura e simplesmente, cria a marginalsidade?
Não.
Eu sei que vcs vão dizer que estou usando um grande clichê, mas por incrível que pareça, para alguns espectadores do filme , ainda há que se apontar: as condições sócio econômicas criam a marginalidade, em alguns casos, fica impossível fugir dela.
O fato de haver usuários de drogas não tornou eu ou você que está lendo, traficantes. Mas se nossas condições fossem outras, poderia ter tornado.
Eu confesso que me incomodei um pouco com a visão tortuosa que foi transmitida acerca dos universitários. Concordo em parte, mas como
toda generalização é burra, creio que apresentar absolutamente todos os estudantes como "garotos-danoninho-esquerda-festiva" é exagero.E aquela aula que reduziu Foucault a papo de botequim com secundaristas foi o fim da picada. Ali era só pegar um professor para dar assessoria, porque um bom professor torna palatável textos densos. E se evitaria aquela cena - insólita - da aula.
Arnaldo Jabor inexplicavelmente acredita que tem a capacidader de traduzir o inconsciente coletivo, desta forma, diz que não foi o olhar sádico que teve peso sobre o público, mas a forma que o público se sentiu "vingado".Acho pertinente sua interpretação, mas acho tolo acreditar que uma chave explicativa dá conta da leitura do público.Aliás, ele disse isso baseado em quê? Achologia é terrível.
Fiquei pensando sobre as estratégias de treinamento do BOPE, em grande parte, parecidas com o treinamento espartano e também próximo ao que se vê expresso na pesquisa "Tortura Nunca Mais". Nesse caso, o policial tortura os amigos, passa por tortura. Depois disso, arrebentar com qualquer um fica fácil, principalmente se for o Outro, o inimigo, o diabo, ou sei lá como eles traduzem isso.
No momento da tortura, o cara confessa, mente, bota a mãe no meio, diz que assinou o livro do capeta com o sangue de bebês. Qualquer um que tenha lido
Guinzburg ou outro historiador que pesquisou o Santo Ofício percebe isso.
Assim, acho que algum personagem que relativizasse um pouco esse olhar maniqueísta de Nascimento, que questionasse suas ações poderia contrabalaaçar um pouco a narrativa.Ainda que sob a ótica do BOPE, acho que tenderia a possibilitar uma interpretação mais aberta e múltipla.
Então, ainda que eu não acredite que o diretor tenha elaborado um filme para tecer loas a esses métodos policiais, me deparo com William Wach soltando essa piadinha-pérola, ao falar sobre corrupção da polícia.
"
é..o capitão Nascimento não gostaria nada disso..."Pois é, o capitão América também não.
*****post originalmente publicado em 2007.
Pretendo ver o Tropa de Elite II, então, vamos esquentando os tamborins.