05 outubro 2010
'"Tropa de Elite, osso duro de roer" - post sobre o primeiro filme
A primeira pessoa que vi falando do Tropa de Elite, foi a Andréa .Eu nem sabia o que era BOPE.De lá pra cá, fugi dos textos que falavam do filme, para tentar assistir com menos bagagem,com mais abertura para minha propria análise.De cara havia a questao, ser ou não fascista , não dava pra não pensar nisso.Porque apesar de não ler as análises, alguns dos temas das discussões sobre o filme sempre acaham chegando, só dá pra fugir totalmente, indo pra Marte. ( Ou preenchendo diários de classe, claro).
Não achei fascista, não achei que faz a apologia ao Bope. Mas abre o flanco para essa interpretação, afinal, mostra o ponto de vista do Nascimento e isso, muitas vezes, acaba desenvolvendo uma cumplicidade entre espectador e filme.
Então, para um expectador mais afeito a porrada e que tem simpatia por "justiceiros", parece ser uma apologia.
Por mais que seja óbvio - e é obvio - é importante falar sobre a questão plástica do filme e no seu tempo: o ritmo dele é instigante demais,ele é visualmente interessante e os atores são um show à parte. Se eu disser mais uma vez que adoro Magner Moura, vou acabar ficando ridícula.Mas eu não temo o ridículo quando ele é bem intencionado e assim, repito: o cara é simplesmente um dos melhores atores que já vi.
Gosto de filme com narrador, gosto dessa coisa que acaba sendo uma forma de modelar meu olhar, direcionar. Nesse caso, o narrador era um personagem que eu sentiria aversão logo de cara. E senti mesmo.
Pra mim não adianta mostrar o lado "papai em crise", "marido com apartamentinho ferrado" para eu simpatizar: a História prova que homens terriveis no trato social podiam ser adoráveis em casa. O filme "A Queda - as últimas horas de Hitler", apresenta o fuhrer sendo carinhoso com o cachorro, entre um surto e outro, por exemplo.
Ao msotrar o cotidiano, o personagem deixa de ser apenas o Outro e o vilão por exelência,como ficou reduzido o Baiano ( em apenas uma cena ele é visto com a mulher e filho),passa ser um cara comum. E os caras comuns não são monstros, são?
Ah, gente, são.
E a HIstória prova.Mas para algumas pessoas, pode parecer que não.Esse é um dos pontos que abrem o flanco para a interpretação "pró bope", creio.
Impossível não ver como a autoridade, ou melhor, como o grande prazer no abuso da autoridade e da violência estão impressos no Capitão Nascimento.
Em busca de valores éticos louváveis - como a repulsa a corrupção e a convivência pacifica entre policiais e traficantes - Capitao Nascimento se advoga o direito de "trazer a doze".Assim, ainda que sob um objetivo correto, Nascimento cede/entra/mergulha na lei da selva.
Se alguém me disser que os traficantes fazem o mesmo, vou ficar irritada.Porque se a lei for usar as memas estratégias e regras da marginalidade, voltamos a barbárie. Aliás, é exatamente isso que vivemos, o que é deprimente.
Me apavoro em pensar que vivo em um mundo onde um ou outro "capitao nascimento" decide quem vive e quem morre. Policial e padre, pra mim, só à distância.
E muita distância.
Obviamente sei que o cotidiano deles é estressante e coisa e tal, não creio que seja possível não surtar eventualmente ,ou tomar bola, como o Nascimento.Mas isso não significa que direi que apoio. Tenho repulsa por justiceiros e afins, tanto quanto qualquer outro tipo de violência.
No conto "A Coleira do Cão", Rubem Fonseca demontra, de forma absolutamente genial, como um policial acaba se envolvendo, se deixando seduzir pela possibilidade de usar qualquer método, de estar além da lei e mais do que isso, de efetivamente se sentir envolvido pelo poder da violência: de ser pego pela "coleira do cão".
Nesse conto,filmado pela Globo com o excelente Murilo Benício, um delegado honesto tenta trabalhar dentro de uma esfera de lagalidade, até perceber que todos na delegacia - menos ele, como descobriu - estavam atravancados com uma rede de corrupção e abuso de poder.
Até que ele mesmo se sente seduzido, tomado, pela chamada coleira do cão, onde o poder, associado a uma fálica arma o transforma.
Inevitável pensar no prazer que proporciona aqueles policiais a chegada, o terror, o tal tapa na cara. Um amigo de infância, hoje policial no Rio , diz pra quem quiser ouvir que "dar tapa na cara é bom pra caramba".
O persongaem Neto, notadamente perturbado,com a cena hiper "Taxi driver" ,que seria o escolhido ( doido por doido...)para substituir o líder do BOPE é morto. Sua morte é vingada pelos companheiros. Sim, vingada, ou seja, um conceito fora da legalidade, onde o policial se torna também juiz e carrasco.
A responsabilidade dada ao coletivo, sintetizada na crítica ao uso do baseado dos universitários é e não é interessante. Em um primeiro momento, com minha patológica aversão ao Estado, penso que o coletivo pode e deve exercer seu poder: usar drogas cria a marginalidade? Em parte, sim.
Mas a questão principal é: usar drogas, pura e simplesmente, cria a marginalsidade?
Não.
Eu sei que vcs vão dizer que estou usando um grande clichê, mas por incrível que pareça, para alguns espectadores do filme , ainda há que se apontar: as condições sócio econômicas criam a marginalidade, em alguns casos, fica impossível fugir dela.
O fato de haver usuários de drogas não tornou eu ou você que está lendo, traficantes. Mas se nossas condições fossem outras, poderia ter tornado.
Eu confesso que me incomodei um pouco com a visão tortuosa que foi transmitida acerca dos universitários. Concordo em parte, mas como toda generalização é burra, creio que apresentar absolutamente todos os estudantes como "garotos-danoninho-esquerda-festiva" é exagero.E aquela aula que reduziu Foucault a papo de botequim com secundaristas foi o fim da picada. Ali era só pegar um professor para dar assessoria, porque um bom professor torna palatável textos densos. E se evitaria aquela cena - insólita - da aula.
Arnaldo Jabor inexplicavelmente acredita que tem a capacidader de traduzir o inconsciente coletivo, desta forma, diz que não foi o olhar sádico que teve peso sobre o público, mas a forma que o público se sentiu "vingado".Acho pertinente sua interpretação, mas acho tolo acreditar que uma chave explicativa dá conta da leitura do público.Aliás, ele disse isso baseado em quê? Achologia é terrível.
Fiquei pensando sobre as estratégias de treinamento do BOPE, em grande parte, parecidas com o treinamento espartano e também próximo ao que se vê expresso na pesquisa "Tortura Nunca Mais". Nesse caso, o policial tortura os amigos, passa por tortura. Depois disso, arrebentar com qualquer um fica fácil, principalmente se for o Outro, o inimigo, o diabo, ou sei lá como eles traduzem isso.
No momento da tortura, o cara confessa, mente, bota a mãe no meio, diz que assinou o livro do capeta com o sangue de bebês. Qualquer um que tenha lido Guinzburg ou outro historiador que pesquisou o Santo Ofício percebe isso.
Assim, acho que algum personagem que relativizasse um pouco esse olhar maniqueísta de Nascimento, que questionasse suas ações poderia contrabalaaçar um pouco a narrativa.Ainda que sob a ótica do BOPE, acho que tenderia a possibilitar uma interpretação mais aberta e múltipla.
Então, ainda que eu não acredite que o diretor tenha elaborado um filme para tecer loas a esses métodos policiais, me deparo com William Wach soltando essa piadinha-pérola, ao falar sobre corrupção da polícia.
"é..o capitão Nascimento não gostaria nada disso..."
Pois é, o capitão América também não.
*****post originalmente publicado em 2007.
Pretendo ver o Tropa de Elite II, então, vamos esquentando os tamborins.
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Vivien, concordo com você quando cita que, qualquer tipo de violência, gera mais violência ainda. O caminho não é por ai não.
ResponderExcluirÓtima semana querida
Ronald, entrar no mesmo jogo é uma perversão que transformou o páis nisso.Caco Barcellos, no Rota 66, diz que se pena de morte desse resultado, São paulo seria um paraíso.
ResponderExcluirbeijos pra vc.;0)
Vivien, tá aí acabo de decidir: não vou ver o tal Tropa de Elite. Já ví violência demais ao vivo e prá mim: polícia é polícia e ladrão é ladrão. Hoje, parece que é uma frase em desuso. Ver molecadinha na rua recitando os versos cantados no filme dá uma agonia danada. Mundinho esse nosso, né não?
ResponderExcluirBeijo, menina
Valter, tb sinto essa agonia.
ResponderExcluirMas veja o filme, é uma obra bacana, vale a pena.
beijos.
Eu concordo que mais violência não resolve, mas não resisto a comentar que o teu destino naquele filme seria o microondas (que, pra quem não lembra do Tim Lopes, é aquela pilha de pneus que eles usam para tocar fogo em quem vem para o meio da guerra fazer discurso social).
ResponderExcluirPS odeio armas de fogo, detesto todo tipo de violência, de polícia ou de bandido. Ainda por cima acho que o Vagner Moura foi mal escolhido para o papel porque ele tem cara de nenê chorão.
Urubua, eu cresci em uma cidade hiper violenta e pobre, nem de longe sou uma burguesa-de-ong...rs
ResponderExcluirAcredito em ongs e outras estratégias dessa natureza, mas não sou ingênua a ponto de pagar de amiguinha de traficante.;0)
beijos.
pro meu gosto, quem comete a maior violência do filme é aquele cheiradorzinho babaca que entrega a intenção do Matias de levar os óculos para o guri pessoalmente. Com aquela ele matou o Neto, os dois colegas dele de faculdade e o próprio Baiano. Sem dar um único tiro pessoalmente, e portanto de consciência tranquila. É o ponto alto do filme, faz a gente pensar sobre as formas e variedades da violência e sobre quantas a gente pode cometer sem deixar de se achar bonzinho.
ResponderExcluirO que, é claro, nos leva ao Foucault - e eu confesso que já vi aulas piores que aquela! Em salas de aula de universidade 'de verdade' (ou pelo menos não declaradamente ficcional) :(
Urubua, como eu disse, acredito no poder do coletivo e mesmo no individual, diante de situações como aquela.
ResponderExcluirNão saberia "medir" maior ou menos violência. Aquela apontada por vc foi um bom exemplo, mas torturar um garoto tb foi e não me atrevo a pensar em qual foi pior.
Quanto as formas de controle e múltiplos poderes, eu acho que o filme perdeu uma bela oportunidade de abrir uma possibilidade de leitura crítica.
beijos.
como eu sou um dos poucos seres mortais que ainda não viu o filme, não li o post... quem sabe daqui uns dois anos, quando deixar de ser suuuuuucesso, eu alugue um dvdzinho, né?
ResponderExcluirbeijos menina!
Vivien. Estou com o DVD há mais de duas semanas em casa e não quero ver por enquanto, porque estou naquela fase "frágil" da vida. Só sei que, há um tempo, passei entre motoqueiros que esperavam pra entregar pizza de um restaurante perto de casa e ouvi um cantar "tropa de elite osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você". Ôpa! Pega mesmo!
ResponderExcluirDe todo modo, o leque tá aberto para se discutir, mesmo que o diretor tenha optado por um caminho ficcional. Tanto que a gente tá falando agora. E, querendo ou não, essa é uma das caras deste país em que agora ficou chique falar "comunidade" em vez de "favela". Ó, hipocrisia.
bj
Assisti a versão oficial pirata, emprestado de uma aluna. Em várias perspectivas, adorei o filme. O paradoxo que envolve o ambiente da faculdade é particularmente bem elaborado.
ResponderExcluirVou falar pra Renata te ligar.
Bjão
Pra variar, a gente teve uma visão parecida do filme, Vivien. Mas o que tá duro de aturar é todo mundo - inclusive os guris aqui de casa - usando sem parar as frases do Capitão Nascimento. Ai, que saco!
ResponderExcluirE a violência de contar o filme para quem ainda não assistiu a ele?
ResponderExcluirViu, Urubua?!
Vivien
Você precisa digitar seu texto no Word antes. Dá para usar o corretor de textos. Quem não sabe que você ainda não mandou aviar a receita das suas novas lentes pode acabar achando que você está sob o efeito de entorpecentes durante a viagem de escrever o texto.
Podem pensar: parece até a Carmencita!
Vou guardar esta palavra com muito carinho:
"esavamente"
Enfim! É Füh... Né?
Um grande beijinho!
Leandro, veja sim, agora eu quero que vc leia, pô.;0)
ResponderExcluirMaris, acho que tem que ser discutido mesmo. Ontem vi que grupos de policiais, ao se dirigirem a uma rebelião em um presídio, iam cantando essa música - que , aliás, é mesmo legal - e já iam se fantasiando emocionalmente de bope.
ResponderExcluirAi, socorro.
beijos, querida.;0)
Tar, eu tb gostei muito do filme, mas particularmente, apesar de gostar do paradoxo apontado por vc, achei patética a cena da aula.
ResponderExcluirCoitado do Foucault, reduzido a papim de botequim.beijos, amigo.;0)
Cláudia, eu vi com o Daniel e tivemos leituras próximas, Foi muito bacana discutir com ele.Ms eu me assusto com a repercussão entre os adolescentes....vi umas ex-alunas colocando o símbolo do bope no orkut.
ResponderExcluirTriste.
beijos,querida.;0)
Carmencita..hahahahh
ResponderExcluirSabe que eu penso "ai, meu Deus, a Carmencita vai ler...será que tem erro???".
Tô indo corrigir, ainda bem que foi erro de digitação .(ufa)
Me lembrei de vc ontem, passou um filme alemão na Cultura e eu ouvi aquela língua linda que eu tanto gosto e que nunca aprendo.
beijos,querida.;0)
Vivien, adorei as considerações sobre o filme. Duas coisas me incomodaram: a violência (e a aceitação/aprovação do público) e como foram mostrados os estudantes. As pessoas simplesmente não reconhecem a tortura ali. Ok, eu imaginava. E acho que isso rendeu um bom papo pós filme, pq muita gente q se sentiu confortavel vendo, depois parou e pensou: puxa, é tortura.
ResponderExcluirAgora o lance dos estudantes me incomodou bastante. Em parte, pq acabei me identificando um pouco. Mas tentando me distanciar, acho muito pobre culpar usuário de drogas pela violência. E o debate sobre o uso de drogas? Quem fuma maconha é, necessariamente, um babaca classe média q caga pra todo o resto?? Isso é ridiculo. Mas tentei ver o filme como a posição de um lado só, do BOPE. Ele não se propoe a mais do que isso mesmo, então considerei um bom filme sobre a visao de um lado só.
***Haline, realmente, o recorte é claramente feito. Mas, como vc, a aceitação em relação a violência ( ouvi da filha de um amigo que eles "apenas estavam fazendo seu trabalho") como se a tortura e a execução estivessem incluídas na tarefa policial.
ResponderExcluirNa época, vários alunos colocaram o emblema do BOPE no orkut e isso me lembrava muito a idolatria que havia na Baixada em relação aos "justiceiros" (!).
Grande beijo, volte sempre.
Ei minha querida é um prazer imenso te conhecer e também conhecer seu blog fico feliz por ter gostado do monstrengo...risos...
ResponderExcluirTem sido uma delícia viver no meio daquelas pessoas maravilhosas que me fazem rir de tudo e viver a vida de forma mais leve...
Volte sempre eu também sempre que der virei cá ler o que vem da sua alma...
Na maioria das vezes não consigo postar comentários mas virei sempre que puder...um beijo grande pra vc e para o Daniel(Amo este nome)
Ah, achei interessante uma coisa no seu perfil UMA PESSOA QUE AMA A CASA EM QUE VIVE eu também amo o meu cantinho não há lugar no mundo melhor que a minha casa...
Boa semana
Lu
i este filme sem prestar mt atenção- vi em casa- levantei mtas vezes. Não gostei apesar de concordar c vc qu eo WMoura está excelente e o film einstiga.
ResponderExcluirPois é, policial e padre só longe-eu penso o mm.
Mtas coisas q vc diz eu concordo- culpar os jovens universitários pelo consumo e manutençãodo tráfico é uma furada, justificar a violência como resposta outra furada, colocar o policial em conflito p que simpatizemos é outro pto q me incomoda- eu não quis reve ro filme- tudo q vc diz ai eu concordo- os métodos dos torturadores, tudo...
enfim...OPbrigada pelos comentários- é mt bom qd alguém lê o q se escreve e responde- ando meio esquecida lá- estou usando mesmo como catarse- escrevo o que sinto p me sentir menos só. Bjão Laura
***Luciana, volte sempre, obrigada.
ResponderExcluirGrande beijo.
***Laura, acho que blog sempre tem algo de catarse.;0) Grande beijo.
Vivien, demorei um ano pra ver esse filme. Não aguentava mais ouvir as frases do capitão Nascimento em sala de aula. O discurso do filme me preocupava.
ResponderExcluirVi e pra minha surpresa gostei mas, fiz a mesma análise que você: o medo de como as pessoas iam interpretar o filme. Uma noção de bandidos e mocinhos....
Debati em aula,debati em roda de amigos,debati com marido,que é criminalista e um ardoroso opositor de torturas e afins, debati como sempre faço sobre a banalização da violência, da aceitação da tortura, enfim lutei....
Agora espero ansiosa pra ver o segundo