19 setembro 2010
A Bienal que não houve ou O dia salvo por Kracjberg
Vamos começar aqui já deixando tudo bem claro: não sou historiadora da arte e me compreendo como alguém com um olhar no máximo curioso diante da arte, nunca com um olhar de conhecedor.
Mas como acredito que Marilena Chauí foi certeira ao questionar a fala do "discurso competente", me advogo o direito de dar meus pitacos, apenas enquanto indivíduo.
Porque, em útlima instância, se a arte só puder ser apreciada/criticada/discutida por conhecedores....ela perdeu parte da sua essência transformadora.
Dito isso, vamos às críticas.
Que porcaria de Bienal foi essa? Algúem me explica? E se alguém vier com o papo de discutir o vazio, juro que surto.
De todas as que fui - e sempre vou, porque adoro me emabananar em obras que não entendo e nem finjo que o faço, adoro ficar confusa, impressionada, divertida, assustada, diante das exposições - de todas as que fui essa, com certeza, foi a mais frustrante. Porque todas me provocaram algo e essa...bom, essa me provocou tédio.
Em mim e na meio dúzia de gatos pingados que rodavam em torno daquela exposição que parecia feira de ciências de colégio tosco.
A Bravo! comentou algumas obras, inclusive o escorregador ( parece que o artista estava dentro de um cinema, um técnico saiu irritado e o público começou a gritar "volta,Valério!", e em minutos todos gritavam a mesma coisa, o que leva a pensar sobre o comportamento de manada, essas paradinhas.Bacana, gostei.)
Mas sei lá...200 mil pro "Valério"? Isso dentro de um contexto que dizia que a Bienal estava com a grana reduzida?
Nem me alongo, porque vou me repetir, então, resumo da ópera:
Vazia, chata pra caramba, inodora, insípida.
E acho , realmente, que deixar um andar inteiro vazio é uma grande sacanagem, tanto com os artistas, quanto com o público: aí vira uma questão pragmática e política, é simplesmente retirar das pessoas o direito de interagir com produções artísticas.
Isso porque ainda li por ai que a Bienal não teria mais tanta importância, porque outras mostras assim acontecem na Europa e suprem esse papel
Eu li isso e me senti em Marte. Não preciso bem comentar, preciso?
É uma observação de um elitismo tão perverso que eu fiquei pasma ao ler.
Mas para salvar o dia havia uma exposição muito bacana na Oca, comemorando os 60 anos do MAM. Essa exposição está fantástica, com ênfase para o setor do Kracjberg, cuja obra eu já era fã...e diante do contraste da chatice anterior, só me deixou mais impressionada. A foto aqui do post é uma pequena amostra do trabalho dele, um polonês radicado no Brasil, totalmente envolvido com a questão ecológica.
A exposição toda está muito bacana, vale a pena ir.
O MAM também está interessante, com uma parte repleta de obras que são instrumentos musicais nonsense dos quais uma música igualmente doida pode ser tirada.
Foi um dia bacana, apesar do tédio da Bienal.
No dia seguinte, fomos na Cultura da Paulista, porque que havia lido duas resenhas muito interessantes sobre o Filho Eterno, uma do Alex Castro e outra do Antonio Marcos Pereira, e eu que nunca dei a menor pelota pra crítica, me acostumei a ver na Copa de Literatura um ótimo lugar para ter referências de livros bacanas.
E cá entre nós, um livro que fez o Alex Castro chorar em público? Ah, quase me rasguei de curiosidade, tinha que ler aquilo.
E O Filho Eterno, que li no mesmo dia e reli no dia seguinte, é uma mostra disso. Vou resenhar pra vocês, meus queridinhos, claro que vou. Mas dou a dica: comprem e leiam, porque é realmente um grande livro.
Mas a Sherazade aqui só conta no outro post.;0)
****publicado originalmente em 2008.
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Vivinha,
ResponderExcluirUm andar inteiro vazio?????Para se discutir o vazio????? Me engana que eu gosto, é substimar demais.
Ler seus textos, dá sempre um sabor de quero mais, vc desliza com as palavras. Parabéns
Bjs
Mamãe
Putz, já estou com água na boca pra ler sua resenha. O Sérgio Rodrigues também falou desse livro tanto no blog Toda Prosa quanto na Copa de Literatura. Alías, no blog ele transcreveu um techo do livro que me fez "duvidar" da qualidade do O Filho Eterno, mas ainda assim, fiquei muito curiosa pra ler.
ResponderExcluirBeijos
Não vi a Bienal, mas li vários comentários nessa linha do seu. Também antipatizo com esse tipo de postura blasé, acho que nada tem a ver com a gente, com o que somos por aqui: pura imitação de outras plagas! Adorei o "Filho Eterno", me comovi muito, e... também estou pensando em escrever sobre o livro!
ResponderExcluirPS - Sou sobrinha do escritor
***Mãe, foi uma deccccepção..o negócio é esperar a próxima ediçao. Obrigaaaaaaaaaaada, beijos.
ResponderExcluir;0)
***Márcia, essa coisa de transcrever techos do livro, descolados de seu contexto, podem fazer a gente duvidar até do Thomas Mann.;0)
Leia porque vale a pena meeeeesmo, beijos.
***Janaina, seu tio tem um personagem sacadíssimo sobre essa postura blasé tupininquim...quando, em Agonia da Noite, dois amigos intelectuais, de pura sacanagem, inventam de dizer que uma fulana qualquer é uma tremenda pintora. No texto, vários jornalistas-macaco-imitadores tecem loas a tal "artista" e o leitor se mata de rir...;0)
Eu nem pretendo compreender tudo na Bienal, mas nem tive tempo de não-entender, porque não tinha nada...rs
beijos.
vivien:
ResponderExcluirpassei pelo blog da janaína e,pela referência do nome,não deixaria de vir aqui.casa da mãe joana merece
atenção.
romério
Estou completamente alienada, porque não vi e não li nada sobre, somente aqui e então estou assim 'mineirinha' bem 'blasé'. hahaha eu me divirto muito com a arte e lógico, se não nos surpreender, não é arte! Beijus
ResponderExcluirVivien,
ResponderExcluirApesar de gostar de entender qualquer manifestação artística, gosto mesmo é quando uma obra de arte me emociona, seja ela uma tela, uma escultura, uma canção ou um livro.
Faço coro com sua indignação. Eu poderia assinar seu post, aliás, tive exatamente a mesma impressão. Amei o Krajcberg na Oca e fiquei com vergonha de ter levado as crianças à Bienal, que lugar mais inapropriado para pessoas em formação, que vexame. Não sabia que eram 200 mil por um escorregador. Pô, que gastança ridícula, era só comprar um desses de parquinho e pronto. Fala sério: escorregador é o ponto alto de uma Bienal? Socorro!
ResponderExcluir***Romério, fico feliz, volte sempre!
ResponderExcluir***Luma, acho que a proposta deve ser essa...o tédio da arte!.haha
beijocas.
***Arnaldo, fecho com vc. Arte que é insípida? Não é arte, não mesmo.
beijos.
***Ana, o meu filho estava super ansioso pra ir, porque foi a primeira bienal dele e como ele está estudando arte contemporânea e está adorando, estava na pilha...ainda bem que a Oca nos salvou! haha.beijos.
Claps! Achei a mema coisa, só que não escrevi, fotografei; http://www.flickr.com/photos/ncphoto/2995972289/
ResponderExcluirBeijo!
Charô, estou indo ver agora, beijocas!
ResponderExcluirOi Vivi!
ResponderExcluirSemana passada tinha voltado de mancinho pros blogs. Agora consegui escrever aqui. Quero escrever no e-mail também, se vc tb quiser.
Será que os critérios (tb não "entendo" nada de arte)para a escolha de artistas para expor - no espaço que restou - nessa bienal não são tão obscuros do que os de outras bienais? Às vezes me assusta perceber o quanto não temos a menor noção do que se passa e é decidido nas esferas públicas.
Acho que o tédio é dos organizadores. Talvez se a gente tivesse mais por dentro da Bienal, de como ela se (des)organiza isso não ocorresse. Será?
O livro do Alex Castro... tenho um pouco de receio (profundíssimas emoções), mas muita vontade de ler.
Beijo com carinho e saudade.
Pôxa Vivi, deixei um baita de um comentarião - pra compensar a ausência, só não sei se ia gostar (hehehe)- e não sei onde foi parar!!!
ResponderExcluirGosto de estar de volta!
Vamos nos ver!!!
Bjs
Sibila, sempre fico contente em te ver comentando pela blogosfera. O legal vai ser quando vc tiver seu blog, coisa que sempre insisti pra vc fazer...;0)
ResponderExcluirAcho que essa questão das decisões da bienal - e o resultado disso - colocam a gente de frente pra esse problema: de como a gente é expropriado do direito de participar...
Quanto ao livro, não é do Alex Castro ( a resenha é dele), o livro é de Crsitovão Tezza.
Leia, vale a pena.
beijos.
Vivien, achei bonito seu gesto de dizer publicamente que, muitas vezes, não entende nada do que vê nas exposições de arte moderna.
ResponderExcluirVocê sabia que é "feio" não entender?! "Não pega bem"...
A gente tem de tentar entender ou fingir que entende... Afasta-se da "obra" por uns 2 ou 3 metros, cerra os olhos, põe e tira óculos, segura-os pelas hastes displicentemente como que meditando sobre a "maravilha" que exprime o quadro, a escultura, o pedaço de metal colorido. Depois balança a cabeça em sinal de aprovação, de admiração, e se manda... pra não morrer de tédio...
Um abraço. Gostei do seu post/crônica.
Adelino, ahahahhaha.....essa foi uma descrição perfeita!!!! adorei.
ResponderExcluirbeijos.
ridículo!!!!
ResponderExcluiresta bienal não contou.
bjs
Guga, essa foi totalmente café com leite.;0)
ResponderExcluirBeijos.
Vivien,
ResponderExcluirmas de novo a Bienal com um andar vazio? isso não foi o ano passado? putz é gente que não tá querendo arregaçar as mangas e trabalhar.
bjs
madoka
***Madoka,to republicando esse post, eleé de 2008...estou na expectativa desta bienal,mas algo me diz que ela vai ser outra decepção.
ResponderExcluirbeijos.