18 março 2010
alunos e avós I
Essa história tem uns dez anos. Eu trabalhava em uma escola deliciosa, com sala ambiente, turma pequena e interessante, onde experimentei e aprendi muito.
Uma das atividades que eu fazia e gostava muito era ajudar as crianças a escrever a biografia dos avós, trabalhos que saiam comoventes, lindos.
Uma das vezes, pedi a uma aluna que convidasse sua avó pra conversar com a turma. Elas toparam: preparei a moçadinha - uma turma maluca de quinta série, e já falei como as turmas de quinta série são...- pra receber nossa convidada.
Ela era uma senhora já bem idosa, bonita, simpática, cabelinho branco e colar de pérolas, "Composta" - diria minha avó.
Ela era ucraniana, falou sobre sua infância, as brincadeiras, família, tudo o que eles perguntavam.
A curiosidade deles era infindável, foi delicioso. Ela era o centro das atenções, da forma mais respeitosa que vocês puderem imaginar.
Contou que ainda muito jovem, fez um treinamento como paraquedista e foi para o exército, trabalhar como uma espécie de enfermeira, durante a segunda grande guerra. Contou sobre toda as mudanças trazidas pela guerra.
Explicou que foi se despedir dos pais, que choravam muito, e disse que em alguns meses eles se veriam novamente, não precisavam se preocupar.Ela fez uma pequena, emocionada e significativa pausa e acrescentou:
- Eu nunca mais vi meus pais.
A turma estava em um silêncio total. Jamais vou me esquecer da carinha deles, quando ouviram essa frase. Contou sobre sua vinda para o Brasil, sobre a pobreza que passou, sobre a barreira da língua. Disse o quanto se esforçaram para que todos os - oito - filhos estudassem, falou com orgulho sobre isso, sobre filhos e netos brasileiros.Saiu da sala com beijos das crianças e tão feliz quanto eles. E ficou na minha história pra sempre.***publicado originalmente em abril de 2007.
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Vivian,
ResponderExcluirBonita história. Tenho um livro infantil, não publicado ainda (Sobre O Telhado Das Árvores) que conta a história de minha relação, quando era pequeno, com minha avó. Também tenho um fraco por avós, talvez devido ao fato da minha ter sido tão especial. Fiquei até com saudades dela.
Beijão
Me transportei para sua sala de aula agora.
ResponderExcluirÉ interessante como eles se envolvem e gostam de atividades diferentes.
E ainda quando o caso é uma avó, aí mexe com a emoção da turminha.
Não tive o privilégio de conviver com meus avós. Quando nasci, todos já tinham ido embora, mas agora sou avó, e vejo a importância que tenhopara meu neto querido.
Linda história.
Um beijo
que droga, vivien, me encheu os olhos de lágrimas! Logo eu, que não gosto de velhos e tenho filho na 5a série, então sei como eles são debochados... mas não deu. Virei uma urubua xarope mesmo!
ResponderExcluirLinda história... essa vovó foi tuda nesse dia, aposto.
ResponderExcluirHistória bonita e comovente! Também fiquei com olhos lacrimosos.
ResponderExcluirNós, os brasileiros, temos pouca noçao do que as guerras provocam na vida das pessoas. Nossa percepçao vem do cinema e dos livros, principalmente.
Depois que vim morar aqui, e passei a ter contato com dezenas de famílias que perderam pais, filhos, avós, tios, amigos, na guerra, passei a ter uma dimensao mais próxima do que pode significar os atos bélicos e de terror. Aqui, acho que nao existe família que nao tenha sido marcada pela fome e pelas perdas de familiares. As histórias sao realmente chocantes. Esta é uma marca definitiva, indelével.
Imagino que esta avó que fez a visita a tua turma de alunos deve ter vivido momentos de extrema dor....e sobreviveu! Sao todos resilientes.
Teus posts sao maravilhosos!
Vi, as palavras nao tem lugar nestas horas...deixo me levar pela emoçao...
ResponderExcluirBeijinhos carinhosos do outro lado do oceano
Tô na turma dos que ficaram com os olhos molhados! Que idéia fantástica essa que você teve! Sorte dos seus alunos. Beijinho!
ResponderExcluirVivien, não é que estes olhos já céticos teimaram também em marejar? Que delícia é poder ter avós, essa fonte generosa de sabedoria. E que bom é saber contar histórias assim como você sabe.
ResponderExcluirSina
ResponderExcluirDjavan
Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome pra poder falar de amor
Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz
A luz de um grande prazer é irremediável neon
Quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon
O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom
Emocionante mesmo teu texto, Vivien!
ResponderExcluirÓtima tua idéia de atividade escolar!
Se depois que a gente é mãe valorizamos mais as nossas, a mesma coisa acontece quando nos tornamos avós. É maravilhoso!
que delícia!!
ResponderExcluirLord, também sinto muias saudades de minha avó. Essa história aqui mexeu muito comigo na época e nunca mais esqueci.;0)
ResponderExcluirAnna, outro dia vi uma entrevista com o Midlin e ele disse que ouviu a frase mais linda do mundo dita por sua neta. Ao saber que ele não tinha convivido com seus próprios avós, a garotinha arregalou os olhos "coitado!! vc não sabe o que perdeu...".;0)
ResponderExcluirUrubua, vc sabe como eles são....rs
ResponderExcluirE eles ficaram super comovidos mesmo, foi muito bacana ter participado daquele momento.;0)
Cláudia, foi importante pra ela e pra todos nós.;0)
ResponderExcluirThelma, só quem passou pelas perdas de uma guerra sabe o que significa. Pensei muito sobre isso tb.;0)
ResponderExcluirDri, foi o que as crianças fizeram.;0)
ResponderExcluirAna Paula, minha mãe sempre diz que se comove por aqui, mas histórias de avós sempre são tocantes mesmo.;0)
ResponderExcluirJayme, contar histórias é o que mais gosto de fazer, dividir esses "causos" é muito importante pra mim.;0)
ResponderExcluirClélia, é ouro de mina.;0)
ResponderExcluirRosamaria, foi muito bacana ter participado daquele momento.;0)
ResponderExcluirLulu, que bom que vc gostou.;0)
ResponderExcluirOi Viien, chegando atrasada, que belezura de texto e de história real! Beijoca.
ResponderExcluirSibila, que bom que vc gostou.;0)
ResponderExcluirVivien,
ResponderExcluirFalando, ainda, em pai & mãe, lembrei-me de mais uma linda canção, do Gil, gravada, em forma de chorinho, em seu songbook, por Ney Matogrosso (ouça-a, clicando no título):
Pai e mãe
Gilberto Gil
(intérprete: Ney Matogrosso)
Eu passei muito tempo aprendendo a beijar
Outros homens como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo pra saber que a mulher
Que eu amei, que amo, que amarei
Será sempre a mulher como é minha mãe
Como é, minha mãe? Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não se aborreça comigo
Quando me vir beijar outro homem qualquer
Diga a ele que eu quando beijo um amigo
Estou certo de ser alguém como ele é
Alguém com sua força pra me proteger
Alguém com seu carinho pra me confortar
Alguém com olhos e coração bem abertos
Pra me compreender
Bjo,
Clé
Clélia, só vc mesmo.;0)
ResponderExcluirVivien, uma das minhas alunas é neta do professor Joel Rufino. Ele já foi algumas vezes na escola e eu sempre me emociono com as falas dele
ResponderExcluir***Cecy, é sempre uma experiência única, né? Grande beijo.
ResponderExcluir***Essa história que eu conheço bem, entrou na minha vida já adulta, mas me marcou pra sempre. Parabéns pelo relato. ****
ResponderExcluirQue linda homenagem à minha Vózinha, e nem imaginava o quanto isso tinha sido marcante. Com certeza as histórias dela ficarão para sempre!!
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