15 novembro 2010
A Lolita de Nabokov
Sempre que eu ouvia a expressão Ninfeta, imaginava que se referia a garotas adolescentes bonitas e sensuais. Qual não foi a minha surpresa ao ler Nabukov.
O protagonista, cônscio de sua pedofilia, descreve a ninfeta como meninas entre nove e doze anos (!), que mesclariam, para os olhos turvos do personagem, sensualidade e ingenuidade. Não que olhar para meninas de quinze anos não seja repulsivo vindo de um homem barbado, mas olhar para uma criança de nove consegue ser mais asqueroso ainda.
O livro é fantástico.( Eu sempre prefiro obras onde o leitor pode se embrenhar no imaginário das personagens, para além dos que colocam o foco na ação. Em outras palavras, me interessa mais como as personagens percebem a ação, como elas decodificam a ação, do que a ação em si.
Por isso gosto tanto de Virginia, Berlim, do Biajoni.)
No caso de Lolita, a trama efetivamente é chocante. O personagem, H.H. se perde em delírios pedófilos até que consegue encontrar sua presa ideal: a filha da dona da casa onde ele se hospeda.
Não vou abarrotar esse texto de spoilers, porque vocês devem efetivamente ler a fonte, os clássicos não são clássicos por acaso, enfim.
De forma que prefiro chamar a atenção do eventual leitor desta Casa para alguns pontos: a trivialidade da menina, uma adolescente absolutamente comum, que é sequestrada da sua infantilidade e presa a um universo porco de um adulto repulsivo. Ele mesmo percebe o quanto a destrói, seja com seu ciúmes doentio, seja com sua rotina de prostituição, onde os objetos de consumo juvenis são moeda de troca para sexo.
Uma das coisas que achei curiosamente cruel foi a forma como H.H. compreende as mulheres: não há meias palvras, ele sente repulsa por elas. São descritas de forma vulgar, pouco atraente, grosseira e tola. A própria Lolita, garante ele seria interessante por no máximo três anos, pois perderia a "nifescência" e se tornaria - horror dos horrores - uma jovem universitária.
Existe todo um universo curioso dentro de mentes doentias, Nabukov é consciente disso e explora toda a sordidez desse homem que teme mulheres. Por isso, pela maleabilidade estonteante com ele manuseia as palavras e pela pérfida forma como o personagem vê as pessoas, é necessário ler Nabukov.
Marcadores:
gente louca,
livros
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Interessante, eu não lembro mais do livro que li há muitoooos anos- e vc me traz um personagem mais pérfido do que o do filme- no filme não o vi assim. É assim? tb faz tempo que vi...
ResponderExcluirbjs e obrigada pelos comentários.
Laura
***Laura, acho que a grandiosidade do autor foi conseguir traduzir essa coisa pérfida, inclusive, colocando o personagem como consciente disso.
ResponderExcluirGosto muito de te ver por aqui, beijos.
Não li o livro, só vi a versão de 1997 com o Jeremy Irons. Quero assistir ao do Kubrick também.
ResponderExcluirJoana,
ResponderExcluirNa minha opinião, Lolita tornou-se um clássico não apenas pela maneira como o autor explora o delírio do personagem e o seu mundo, mas também porque muita gente se identificou com o personagem. É verdade, cada um lê um livro diferente, mas devo confessar que, se por um lado me fascina como o autor tentou ser sutil ao relatar a perversidade, por outro lado me enoja imaginar quantos deliravam com a obra.
***Allan, concordo INTEIRAMENTE com vc. Beijos.
ResponderExcluir***Anna, ontem, zapeando pelas telecines na alta madrugada, achei casualmente o filme. Queria asssistir, adoro J.Irons e achei a jovem atriz perfeira, mas o sono me venceu.
Beijos..
Li, a muitos anos e lembro do estados psicológicos dos personagens, mais do que das passagens. Das passagens, apesar de bastante descritivas, me lembro mais do acidente com o carro da mãe e do banho de rio. Nossa, como ele sofria e a ninfeta o maltratava!! coitadinho, né? Parece que este livro foi proibido por bom tempo na Europa e o autor teve que sair de seu país de origem. Alguns críticos dizem que o livro se mistura à realidade do autor. Beijus,
ResponderExcluir***Luma, o autor escreve um interessante comentário sobre a produção do livro. Adorei.
ResponderExcluirFoi proibido e quando publicado, os editores queriam mais cenas sensuais, pois o identificavam como romance erótico, coisa que não é por definição, mas por contingência...rs
Beijão.
E o pior que Lolita é um livro ruim. Mas pelo menos foi escrito por um cara corajoso e sincero.
ResponderExcluirbj
***Julio, defina "livro ruim".;0)
ResponderExcluirNão faço a menor ideia se ele foi sincero ou não, porque dizer isso implica em dizer que o autor se confunde com a personagem...e eu acho complicado, não conheço a biografia dele para fazer tal afirmação.
Beijão.
Vivinha
ResponderExcluirNooossa...complicado heim!!!! Esse tema não me agrada nem um pouco.
Bjs
Vivinha,
ResponderExcluirAcho que este clássico eu vou dispensar (e vc sabe como eu gosto de suas sugestões de leitura). Eu tentei assistir ao filme e não consegui. Parei de assistir antes que tivesse vontade de bater no Jeremy Irons, como aquele povo que ofendia a Betriz Segall... kkk (bom, este é outro assunto. Bom ator sofre...)
Frou
:o)
Não gosto muito destes assuntos, me faz lembrar de um velho "nojento" que me beijou quando era criança...
ResponderExcluir***Frou, hahahah....entendo vc. Precisa ter estomago mesmo. Acho importante ler e discutir, mas quando come;o a ouvir batatadas sobre a sensualidade da menina, dou um perdido no interlocutor...rs
ResponderExcluirbeijos.
***Sandra, eca,menina! beijos.