Acho que a primeira vez que o Daniel grudou pra valer em um livro, foi com Inferno da Patrícia Melo. A gente tinha acabado de assistir - novamente - Cidade de deus e estava conversando sobre o filme, quando sugeri que ele lesse esse romance. Não pensei que fosse cair tão de cheio na história, fiquei feliz em ver isso.
Além da agilidade deliciosa e da peculiaridade dos personagens, a autora demonstra uma familidade com os códigos de conduta internos da favela que impressiona.
Me lembrei de coisas que vi na Baixada. Os dez anos que passei lá estão impressos em mim, mesmo tendo me mudado em 1985. Apesar de não ser um cotidiano tão dramático quanto de uma favela - que nunca conheci por dentro - a Baixada é um lugar peculiar: pobre ( com vergonha da pobreza), cafona, alegre, multicultural sob alguns aspectos, colonizado culturalmente sob outros, quase familiarizado com a violência.
Daniel ri da minha cara quando conto sobre moda e gírias, em especial, ri dos códigos de conduta, que são estranhos a ele em função do tempo e do espaço.
Apesar de morar há tantos anos longe de Caxias, acho que muito da Baixada está guardado no recôndido ( adoro essa palavra ) da minha mente. Em especial, quando me irrito, batata, baixa a caxiense de frente. Então, algumas máximas voltam com força total , como "isso é falta de um tanque de roupa suja!!!" - cuja versão mineira de um amigo meu é "isso é falta de carpir um quintal!!!" - que eu acho ótima também.
Talvez realmente seja possível sair de um lugar sem tirar totalmente esse lugar de si mesmo.
Aquela questão de carregar o gueto em si mesmo, expressa por aí em músicas, é real. Não que eu me sinta "em casa" por lá. Na verdade, nunca me senti dentro de tribo nenhuma e já disse isso aqui.
Mas carrego alguns códigos, que não estão gravados em mim de forma racional, mas forma subjetiva e , portanto, intensa.
Patrícia Melo constrói personagens muito interessantes: reais, sem glamourização da pobreza e sem desabona-los. Reais e ponto.E a narrativa parece efetivamente vir de dentro da favela, da lógica da favela, da estranheza do asfalto.
Qualquer dia conto minhas aventuras caxienses, por hora, minha dica é ler Patrícia Melo.
Vamos ler Patrícia Melo então!
ResponderExcluirEngraçado que morei em três cidades diferentes, em três situações bem diferentes. No Rio, morei a maior parte do tempo no Catete, um dos bairros mais pobres da zona sul. Depois fui pra Itaocara, cidade minúscula, e ainda fui morar na periferia. Agora estou aqui em Resende, num bairro bem classe média-média. E saí carregando muitas características de todos os lugares por onde passei. Quero agora me mudar de novo... tô doida, né não?
Cláudia, acho que essas mudanças são sempre interessantes, vamos ficando um mosaico.;0)
ResponderExcluirVivien, para mim que venho da periferia(e como é difícil sair de lá!) códigos de conduta estão impressos à fogo, feito marca de gado.
ResponderExcluirNão encarar as pessoas quando anda-se nas ruas por exemplo(cê tá me filmando, aí otário?) cumprimentar a TODOS sem excessão quando se entra num buteco ou numa roda de conversa. Não se deve desconsiderar ninguém, é aregra. E mais uma infinidade delas. Não proferir certas palavras, não demonstar nenhum preconceito mesmo aqueles que todos alí sabem que vc tem, etc.
Bem lembrado o assunto.
Não conheço Patrícia Melo, nem o livro. Vou procurar.
Aqui em casa dizemos: Vá lavar louça!
Um beijo, menina
Não sabia dessa sua porçã carioca. Bom, na verdade, já havia percebido algo de peculiar na seu modo de ser... Boa dica para as férias esse livro.
ResponderExcluirA seção review já está completa no meu blog.
bj pra vc.
Vivien,
ResponderExcluirAnotado. Vamos conhecer a moça.
Beijão
Vivinha,
ResponderExcluireu acredito que não tiramos um lugar de dentro de nós mesmos, quando esse lugar foi marcante em nossas vidas. O condominio Nova Esperança (D. Caxias) que vivemos durante 10 anos, foi especial, alegre, com muito conforto e fomos muito felizes lá.
Bjs
Mamãe
Valter, bem parecido, em especial, a questão de cumprimentar todos, sempre, mesmo - e principalmente - os considerados perigosos.
ResponderExcluirÉ ou não é um tema bom pra post..? Ainda vou escrever.;0)
Tarcíso, eu te falei, vc é que estava em stand by....rs
ResponderExcluirTô indo lá te ler, os posts estão muito bacanas.
Lord, dica quente.;)
ResponderExcluirbeijão.
Mãe, fomos felizes lá, com certeza.;0)
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