05 maio 2009

A Novela Cor de Rosa do Bia








Em primeiro lugar, quero dizer que gostei do livro. Começo logo explicando isso, para que ninguém ache que as críticas que faço impliquem em não gostar da leitura, porque gostei.
Dito isso, vamos aos trabalhos. Optei por não fazer ruma resenha propriamente dita, porque isso implicaria em encher de spoilers aqui. Digamos que seja um comentário sobre a leitura.
Bom, mais uma coisa, uma coisinha. Vou tomar a liberdade de chamar o livro apenas de "Uma Novela Cor de Rosa", como Bia fez quando falou na FILC. (Assim evito piadas como a da Karen, que chamou "Ô, Bia, vem logo autografar a NOVELA da Vivi..", e não, ela não falou "novela", a doida.)
Então, vamos ao texto, de uma vez por todas.
Na minha opinião livro é oscilante: alterna cenas com vigor dramático e fortes cores cinematográficas - me arrisco a dizer que você consegue ouvir o barulho da batida do carro de Tiago - sem perder o rítmo e o foco, com cenas absolutamente dispensáveis.
Cenas que ficam perdidas e mal se sustentam, aparentando uma inserção no texto à forceps. Parecem estar ali apenas para marcar território, para alimentar a aura "ousada" já iniciada em Sexo Anal. Aliás, acho Virginia Berlim tão superior a Sexo Anal que realmente não compreendo porque se fala mais dele. Enfim.
O livro começa muito bem, mas perde o ritmo e fica entrecortado com cenas que poderiam ter sido reescritas. A cena em que Monique assedia o dr. Lobo é tão bizarra que poderia ser roteiro de pornochanchada anos 70. Mas obviamente esse era o intuito do autor, que constroi outras cenas que transitam entre o cômico e o escatológico sistematicamente.
As personagens femininas são um caso à parte, em uma trajetória que vem desde Virgínia Berlim, passando por Sexo Anal e culminando em Uma novela cor de rosa, elas são sempre notoriamente amorfas. Nem diria burras, elas são "um nada" - como na descrição de Virgínia - e seguem profissões que enchem seus dias sem maiores compromissos intelectuais. Valéria diz que poderia ser manicure ou cuidar de crianças, não há nenhuma ligação mais intensa com sua profissão ou com qualquer coisa mais profunda, são mulheres assustadoramente rasas. O curioso é que são muitas: uma horda de mulheres-nada.
Por alguma razão, as mulheres dos livros do Bia são absolutamente insossas, incultas e até tolinhas. Quando alguma é mais forte ou intensa, isso se dá no âmbito da sexualidade. Mulher mais poderosa é mulher comedora e pensa com os países baixos.
Ponto a ser discutido com mais vagar, mas por hora, apontado aqui neste texto.
Diferentemente de Sexo Anal, que mostrava o lado perverso da imprensa marrom, a história de Uma Novela Cor de Rosa perpassa um jornaleco de uma cidadezinha de 100 mil habitantes, não há, portanto, cenas grotescas que apresentem o lado B do jornalismo. No máximo, apresentam a parte burocrática e cotidiana. Isso é fascinante: o texto não procura mostrar o lado fascinante, mas o lado mesquinho, pequeno, rodrigueano mesmo.
Porque você pode esperar tudo de Biajoni enquanto escritor, menos que ele seja óbvio.
Curiosamente, parte significativa dos homens casados do livro é vidrada por travecos. As meninas são visitadas geralmente nas segundas feiras, que seria o dia dos casados da cidadezinha fazerem a festa, após a frustração do final de semana com a esposa.
O jornalista escroto de Sexo Anal reaparece aqui, apaixonado por Tiago, assim, inustitadamente, surge uma história de amor gay. Isso também não é explorado, Bia não cai em pieguismo politicamente correto simplista. É um amor, ponto.
Sem dúvida, Tiago é o personagem mais interessante - ainda que não inspire empatia propriamente dita - mas, comparado aos outros, é o mais complexo e curioso. O motivo de sua morte - não vou ser tão sacana e contar, fiquem sossegados - é fabuloso: é cínico, é doente, é brilhante.
O tom do livro permite ao leitor imaginar que tem em suas mãos um possível roteiro, como eu já disse, o tom cinematográfico é interessante, bem elaborado e o melhor de tudo, profundamente original.
Imperdivel.

6 comentários:

  1. Hummm... acho que dá para arriscar um "não li, mas gostei" rs. Mais um para minha (longa) lista...
    Beijo

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  2. ***Márcio, eu nunca fui adepta da opinião sem a leitura. Nesse caso específico, sugiro veementemente que vc leia, porque consumir literatura ousada e cheia de estilo é sempre um prazer.;0)
    Beijos.

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  3. Anônimo6:53 PM

    Eu leio o Biajoni e pretendo ler o B...
    Depois dos comentários, quero ver a Monique de perto. Parabéns, me deixou ainda mais curioso.


    Fábio Luiz

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  4. ***Fábio, leia e venha aqui contar tudo.
    Cuidado com a Monique...hahah
    Beijos.

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  5. Vivien, você pegou no ponto: as mulheres do Bia são insosas, indecisas, cheias de "vou largar tudo e fugir pro mato". E elas só são fortes e tem personalidade na horizontal...
    Gosto do jeito que ele escreve, devorei cada livro assim os que tive nas mãos, fiquei com aquela sensação de "quero mais".
    E, sem sombra de dúvida, prefiro o Virginia.
    Abraços.

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  6. ***Bellinha, mesmo tendo lido todos e gostado, gosto especialmente do Virgínia Berlim, como você.
    Obrigada pela visita, volte sempre e me conte o que achou da Novela.
    Beijos.

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