23 fevereiro 2007

Sobre o Quarto Poder


Eu fico impressionada com a imprensa brasileira. Evidentemente, não vou defender qualquer posicionamento que se advogue a direito de ser "neutro". Parto do pressuposto de que a neutralidade não existe e que um discurso supostamente "neutro" é apenas hipócrita.
Isso é um ponto.
O outro é a imprensa fazer campanha acirrada sobre um tema.Campanha sistemática. Isso é outra coisa, é isso é criticável quando feito da forma como vejo.
No caso, a campanha que me refiro é pela diminuição da idade para a punição legal. As notícias televisivas, por exemplo, se encadeiam de uma forma, com uma estrutura argumentativa que leva, sem sombra de dúvidas, a refletir positivamente sobre isso. Todas as entrevistas corroboram o argumento central: favorável a diminuição.

Que idéia de gênio!!!! Com esse sistema penitenciário que funciona à perfeição, evidentemente teremos uma diminuição na criminalidade, como ninguém pensou nisso antes?
Todas as argumentações são a favor dessa diminuição de idade....não vi, nos telejornais, sequer uma argumentação sólida e bem estruturada contrária a esse argumento.

Me interesso pela comunicação de massa, ainda que não tenha leitura teórica sobre o assunto.Mas me interesso e me impressiono...e depois de assistir a vários telejornais, me pergunto: não há outras opções, outras vertentes de análise, será que que essa é a única via possível?
Como tão bem disse o Bruno, " E me desanima saber que, se João Hélio fosse preto e pobre, ou mesmo se fosse filho de traficante, a comoção geral não teria chegado na mídia. E até você, que lê o meu blog agora, talvez não se importasse tanto."

Evidentemente a morte do garotinho me comoveu, obviamente penso que sua família está marcada com uma dor absurda.

Mas também não posso me esquecer que mortes horrendas ocorrem todos os dias, portas de barracos são chutadas por policiais e armas enfiadas na cabeça de crianças todo dia. E não vejo essa comoção jornalística.

Algumas manifestações beiram ao ridículo. "Queremos paz"

E o povo sai de branco e vai pra praia.

Só eu pirei ou isso também parece insólito pra vocês? Não me lembro de ter lido um bom artigo que efetivamente faça uma leitura social da criminalidade. Alguns pontuam "falta Educação"...falta sim.

E falta feijão, meu filho, porque saco vazio não pára em pé. Falta feijão. E saco vazio cheira cola, e saco vazio assalta velhinas armadas ( vocês se lembram da mulher que foi elogiada pelos jornais??), saco vazio não está nem aí: é matar ou morrer.

Uma diminuição da idade seria uma estratégia populista, equivocada e torta. Não concebo uma diminuição da criminalidade sem uma estratégia política que, efetivamente, altere e melhore a vida dos que estão condenados desde o berço.


16 comentários:

  1. Também não acredito em neutralidade ou imparcialidade da mídia. São muitos interesses econômicos em jogo. Afinal, qual é o jornal que irá noticiar algum fato que desabone um grande anunciante? Já percebeu que raramente sai alguma notícia negativa a respeito das Casas Bahia ou do Samuel Klein? Será uma coincidência esta loja ser o maior anunciante privado do país?

    De uma maneira geral, aliás, não acho que necessariamente a imprensa tenha que ser imparcial. mas ela tem que ser honesta. Qualquer orgão da mídia pode manifestar sua opinião, desde que deixe muito claro que o está fazendo. Os editoriais e as colunas servem pra isso. O que não é correto é manipular a notícia, de forma a induzir a interpretação dos leitores. A notícia tem que ser imoparcial.

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  2. Também acho essa coisa da diminuição da idade penal uma bobagem. E quem defende este discurso são os mesmo que defendem, normalmente, a pena de morte, a criminalização do aborto, etc.

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  3. Também acho essa coisa da diminuição da idade penal uma bobagem. E quem defende este discurso são os mesmo que defendem, normalmente, a pena de morte, a criminalização do aborto, etc.

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  4. Por algum motivo, meu comentário foi duas vezes. Apague o comentário em duplicidade(e este também).

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  5. Vivien, concordo com tudo o que escreveste aqui e, principalmente, com o final de teu texto: se no houver uma política apropriada que melhore a vida destes milhoes de condenados, nao avançaremos. Muito triste!
    Obrigada por tua visita e pelas palavras de ânimo! Um abraço.

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  6. Que tal comecarmos a matar os moleques? Eh o proximo passo, nao eh?

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  7. Arnaldo, o que espero de um bom jornal é um debate. Assim, creio que uma reportagem deve poder me dar várias informações que cerquem o tema central.
    Afinal, se eu quiser ser bitolada e ver tudo de uma forma só...eu compraria a porcaria da Veja...rsrsr
    beijão procê.

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  8. Thelma, o que espero é ver esses temas discutidos....e melhor ainda, se não resolvidos, com possibilidades de.
    grande beijo pra vc, volte sempre e obrigada pela ajuda via email.;0)

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  9. Frou, o próximo raciocínio....e o facilitado por essa análise tacanha que a gente vê por ai....;0(((

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  10. *




    vivien, é preciso lembrar sempre que alguns pontos sobre a mídia que o público não leva em consideração:
    1- a mídia trabalha com o senso comum, com o que pensa a maioria, reproduz o que pensa uma sociedade, fala com multidões, não com pequenos grupos - os grandes veículos.

    2- o jornalimos não consegue ser imparcial ou neutro simplesmente porque os homens não conseguem ser imparciais e neutros. isso são definições que não encontram acolhida na prática. todos nos posicionamos, mesmo quando achamos que somos neutros. o que o jornalismo postula, então, é a OBJETIVIDADE, e não a neutralidade, verdade ou imparcialidade.

    é objetivo quem explicita da melhor forma de que ponto partiu pra construir a narrativa. narrativa essa, que será influenciada pela bagagem cultural e emocional do pauteiro/produtor/repórter/editor, pela empresa, pelas fontes envolvidas, pelos anunciantes e pela sociedade.

    é muito complexo tudo isso, são muitas variáveis envolvidas, e todas subjetivas.

    jornalismo ruim?
    sim, existem vários produtos ruins.
    mas há bons, também.
    há bons jornalistas e boas reportagens.
    assim como há maus e bons cidadãos e maus e bons leitores.

    o jornalismo é um reflexo da sociedade em que está inserido.
    cabe aos leitores fazerem o exercício da cidadania e optarem pelas melhores fontes.




    *

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  11. Xôn, trabalhar com o senso comum passa a ser uma outra discussão. Se a análise jornalística se limitar a isso, ela se torna desnecessária.
    Como disse, não creio que a neutralidade seja possível, talvez uma busca pela, como vc chamou, objetividade.
    No caso desse texto, estou falando especificamente dos telejornais - apesar de achar que boa parte a imprensa escrita é tão ruim quanto ele .
    No caso dos telejornais, ainda insisto, toda a argumentação tem um traçado claro, manipulativo e
    , muitas vezes, tacanho.
    Quanto a bons jornalistas, evidentemente temos muitos, mas atualmente, tenho encontrado os melhores aqui, na blogosfera.
    Alguns veículos estão tão distorcidos e tolos - como a Veja - que já desisti de ler há algum tempo.
    Ainda acho que a Carta Capital seja um bom exemplo de jornalismo de qualidade.
    Algumas revistas especificas e algumas partes da Folha.
    De resto....

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  12. Grande Vivien. Tou contigo e não abro. NÃO PASSARÃO!

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  13. Bruno, brigadão. Apareça, bj.

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  14. *


    escrevi um enorme post ontem e ele simplesmente sumiu.
    continuo não concordando com vários pontos que vc lenvata, dona vivien, que precisam ser analisados sob a luz do campo em que estão inseridos - pra não cairem no senso comum de que todo mundo sabe fazer e criticar jornalismo, ou seja, os jornalistas são desnecessários.
    mas isso fica pra outra vez.

    brabinha, vc, hein?
    :p



    *

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  15. Xôn,

    1) quem começou a usar "senso comum " como argumento foi vc, eu discordo.;0)

    2) não disse, em hipótese alguma, que os jornalistas são desnecessários. Disse que são passíveis de serem criticados e disse que existem ´péssimos jornalistas.
    Como existem péssimos professores ou péssimos médicos, e que devem ser criticados.

    3) VOCE vem dizer que sou brava???ahhahahah....essa foi boa.....;0)

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