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Quem me conhece, sabe que eu faço promessas internas.Por exemplo, quando tinha onze anos jurei que nunca namoraria um homem que lavasse carro no domingo, assistisse futebol e tivesse barriga de cerveja.
Bem que eu preciso de uma dietinha, mas os homens que passaram por minha vida não precisam. Nem lavam carro. Muito menos assistem futebol com barrigão de fora.
Uma das juras é que eu evitaria até o último segundo a possibilidade de tomar ônibus. Mas nesse caso, diferentemente do hipotético barrigudo, eu estava cansada de conhecer.Tomei muito ônibus: vazio, cheio, limpo, sujo, hora vazia, hora do rush.Chega, sem essa de ônibus.
Mas aqui eu andei, quando fui pra casa da Lu Farias, onde conheci aquela família linda e atenciosa, onde passei uma tarde muito bacana, papeando, tomando café e vendo que existem outros fãs de Babylon 5 no mundo.Essa possibilidade de conhecer melhor os amigos blogueiros é algo que me deixa feliz.
No ponto de ônibus,rumando para a casa da Lu, uma menina pequena me olhava:
- Que cor "é" seus olhos?
- castanhos - respondi.
- tira o óculos "preu" ver?
Não é o máximo como criança simplesmente consegue se comunicar com todos?
Por mais que eu deteste tomar ôninus - e eu já disse que detesto - é bacana perceber como dá pra se conhecer mais das pessoas, pra trocar coisas, pra ver outras vidas que não a minha apenas.
Minutos depois sentou uma velha. Constrangida, me pediu um real. Dei três, ela riu sua risada sem dentes, disse que ia dar "até pra comprar leite".
Eu já estava com vontade de chorar ali, velhos me comovem, velhos solitários me cortam o coração.
Essa velhinha mora sozinha, as filhas moram no interior do Paraná, disse que morava em São Paulo há anos, ainda ficava aqui porque era mais fácil para se tratar, para pegar remédios no posto de saúde, essas coisas.
Tirou os remédios da sacola, me explicou pra que serviam, na ânsia de papear com alguém.Um toque escatológico aliviou tudo, ela dizia:
- esse aqui é pra eu urinar bem, por causa do rim, sabe? ah, mas eu urino...urino que é uma beleza.
Eu ri da história de xixi da velhinha e continuamos conversando. Ela contando, eu escutando e pensando em um clichê que me pareceu doloroso: em uma cidade tão imensa, quantas pessoas seriam solitárias como aquela velha que andava sozinha, morava sozinha e conversava com uma estranha, após pedir um real.
A solidão dela me cravou nos ossos, doeu, assustou.
Ao entrar na casa da Lu, momentos depois, recebi uma golfada de felicidade: uma família amorosa, alegre, unida. Fiquei pensando na nossa sorte e fiquei pensando na velhinha.
**** texto publicado originalmente em julho de 2007.
Não poderia deixar um texto tão lindo sem comentário algum. Adorei!
ResponderExcluirEu também gosto de usar o Babylon às vezes. Tenho a versão 6. Já instalei vários dicionários gratuitos e também já comprei alguns outros.
ResponderExcluirUm grande beijinho!
Ma, volte sempre.;0)
ResponderExcluirCarmencita...mas o Babylon 5 que a gente estava falando era a série de ficção científica.;0)
ResponderExcluirMuito bonita e dolorida sua reflexão.
ResponderExcluirAndrea, a sensação de impotência me atordoa.
ResponderExcluirVivien, as pessoas são surpreendentes.
ResponderExcluirAs vezes são tão solitárias em meio a tanta gente.
Quando estamos assim em meio e envolvidos, abertos para ver as pessoas, percebemos um mundo que as vezes nos parece não ser o nosso.
É na verdade uma riqueza de diferenças, isto é claro.
Um beijo.
PS: Legal conhecer amigos, que nos parecem reais, tamanho é o carinho que temos.
Na minha volta pra casa também topei com o desespero de uma senhora que faltava 15 centavos pra pagar a condução. É puro cliclê também, eu sei, mas situações assim servem pra gente tirar o foco no nosso próprio umbigo muitas vezes ...
ResponderExcluirBeijos queridona :)
Anna, esse processo de descobrir pessoas é muito louco.beijos.
ResponderExcluirSe há uma coisa que melhorou na gestão da Marta foi o transporte de ônibus, sucateado pela (des)gestão Maluf-Pitta. Passou a seu uma experiência mais civilizada. Seu texto me lembrou algo sobre o que eu tenho refletido ultimamente: a questão dsa solidão. Ela tem um componente interno. Concluo que há sozinhos que não são solitários e há cercados de gente que o são. Beijo paulistano,
ResponderExcluirVivien gostei do post e da sua expressão "promessas internas".
ResponderExcluirTem também "pedido secreto". Uma vez, com cinco ou seis anos de idade, fiz um "pedido secreto" a Papai Noel. Não fui atendido, pois somente ele e eu sabíamos o que era. A partir daí não acreditei mais nele.
Abraços
a solidão é o mal do mundo. mesmo!
ResponderExcluirVivien, linda, só alguém com sua sensibilidade pra tirar um texto tão lindo de uma viagem de ônibus. Sou tão casca grossa, a menininha jamais teria coragem de me pedir pra tirar o óculos, hauahauha, ela ficaria com medo de mim!
ResponderExcluirNão tenho comentado seus textos porque agora, lá no trabalho, só consigo lê-los pelo leitor de feed. Aí não dá pra comentar... tá tudo bloqueado lá no trampo, um saco! Mas leio tudo o que você escreve, viu! E adoro!
Ps - precisamos nos encontrar on line!!! Ai, ai!!!
Vivien, nos fechamos muito à realidade as nossas voltas. Mesmo com os mais humildes, ainda temos muito a aprender. Bjs..
ResponderExcluirVivinha,
ResponderExcluiré uma reflexão mesmo, só pessoas especiais como voce, é que enchergam a solidão na multidão.
Bjs
Mamãe
Ah, tá. :-)
ResponderExcluirUm grande beijinho!
Passando finalmente para ler seus posts sobre São Paulo. Amiga materializada, agora... :-)))
ResponderExcluirFicou lindo o post sobre a senhora!!!
Ah, depois vou ver se consigo passar na paulista para ver essa Fila...
Beijocas!!!
Vivien, às vezes é preciso deixar o casulo onde nos abrigamos(ou nos abrigaram) e ver o "mundo real".
ResponderExcluirNo mundo real, as pessoas falam em xixi, tomam remédios, falta dinheiro até pro leite.
O mundo real, não é o gueto. O gueto esconde-se atrás da portaria com interfone, do condomínio com segurança 24hs. Nas ruas, nos bairros pobres ou mesmo nos ônibus(quer algo mais democrático que um ônibus?) está o povo, esse desconhecido. Pelo ao menos para alguns.
Eu sou do povo. Converso, pergunto e respondo. Já me furtei a isso muito tempo, hoje procuro retomar o tempo perdido.
Beijo menina
Eu também gosto de Babylon V!!!
ResponderExcluirOlha, prometi algo parecido para eu mesmo: nunca, absolutamente nunca vou namorar mulher que tenha por objetivo de vida casar, ter filhos e virar dona de casa.
Não que casar e ter filhos seja um defeito, pelo contrário, homem que se preza tem que pensar nisso também, mas virar dona de casa, nem pensar... as mulheres que passaram pela minha vida, todas com profissão definida e independentes.
Também prometi nunca namorar gordinhas, por mais que elas sejam simpáticas...sei que isso é antipático, mas é na mesma toada, você não namora barrigudinhos né?
Anna, o negócio é ser solidário.;0)
ResponderExcluirMárcia, de qq forma...acho que é pra gente parar pra pensar.;0)
ResponderExcluirJayme, to pensando muito sobre essa questão ultimamente.;0)
ResponderExcluirAdelino, to pensando ultimamente que os pedidos internos acabam tendo um poder assustador.;0)
ResponderExcluirTati, assusta, né?;0)
ResponderExcluirClaudia, adoro ter vc aqui em Casa.;0)
ResponderExcluirRonald, aprender todo dia.;0)
ResponderExcluirMãe, alguma coisa tem que ser feita pra isso melhorar....
ResponderExcluirCarmencita,;0)
ResponderExcluirQuerida Lu Materializada, vá ver a exposição...vc vai adorar.;0)
ResponderExcluirValter, as vezes, fechada dentro do carro ou andando em shopping, fico mesmo fora do mundo. beijos.
ResponderExcluirFabio, hahhahahah.....
ResponderExcluirVivien. Enxerguei a cena. Coisas coletivas têm disso: ônibus, buteco, praça. Nem sempre a gente gosta. Mas é nossa cota obrigatória de socialismo.
ResponderExcluirbj
maristela
A M E I !
ResponderExcluir:)
Maristela, achei que minha cota de ônibus já tinha acabado...rs...mas essa experiência foi bacana.;0)
ResponderExcluirElisabete, fico lisonjeada...;0)
ResponderExcluirCriança e velho têm muito em comum... né não?
ResponderExcluirClélia, muito!!!!
ResponderExcluirbeijos.
Olá, Vivien!
ResponderExcluirA Clélia me indicou esse seu post!
Adorei ele!
Como é fácil ser "útil para as pessoas, né?!
Tudo que muitas precisam é de ouvidos para suas histórias, clamores, impaciências, enfim, problemas que ficam bem mais amenos (pelo menos temporariamente), quando dividimos com alguém!
...escrevi um texto recentemente que tem experiências semelhantes a essa que vc passou!
Lá eu falo da facilidade das pessoas se abrirem e contar suas vidas a qualquer um, num ônibus rotineiro!
Bjão!
eLi
:-]
Elim, obrigada pela visita, volte sempre.To indo lá ler.;0)
ResponderExcluirVivien,
ResponderExcluirViu como � legal andar de �nibus? � por isso que gosto tanto. L� est�o as melhores hist�rias. Voc� n�o teria contado o caso da velhinha, se emocionado, sentido vontade de chorar, dado risadas com o conte�do escatol�gico revelado, perderia todas essas emo�es se fosse dirigindo, sozinha. Andar de �nibus tem l� seus encantos.
Beij�o
Lord, acho que o bacana disso tudo é tropecar com as historias e imitar mercedes sosa..."eu so peço a Deus..que a dor não me seja indiferente.."beijos.
ResponderExcluirQue texto lindo. Bem, pelo jeito nos chocamos por coisas parecidas... pareça sempre lá em casa também!
ResponderExcluirBeijo, Eliza
Eliza, toda hora a gente tropeça com coisas que deveriam ser diferentes, né?
ResponderExcluirbeijos.
Vivinha,
ResponderExcluirVelhos e crianças adoram conversar.
A criança,não conhece ainda a vergonha e o velho porque não tem mais do que se envergonhar, adoram papear na rua, no ônibus ou em qualquer lugar.
Lindo post, como sempre.
Bjs