10 abril 2010

@EncForadoEixo



A coisa já começou certa pelo título: uma proposta que tira o foco dos grandes centros e passa a oferecer discussões em outras paragens.
Eu vi o #encForadoEixo divulgado no twitter, vi que ia ser aqui em Campinas e fui.
Cheguei totalmente estranha no ninho, imediatamente percebi que a maioria transitava por áreas ligadas à publicidade e não é esse meu foco de interesse. ( A não ser quando é pra ler os textos perspicazes e críticos da Denise, Lola e Baxt). Enfim.
Confesso que pensei como Angeli faria a festa, traduzinho caricaturalmente os tipos presentes...porque todos somos tipos, vamos combinar. ( Nada pessoal, queridos, quando vou a encontros de historiadores, penso a mesma coisa.)
O encontro teve um caráter informal que me agradou e que vai ao encontro da própria internet, que ao aproximar pessoas que forma substancial, quebrou certos paradigmas de conduta.
O início foi antológico: um professor da PUCC, Wagner Mello, abriu as apresentações.
Começou demonstrando total falta de familiaridade com as novas propostas midiáticas e educação, pois, ao se sentir incomodado com o banner eletrônico que reproduzia uma página de twitter, FICOU EM PÉ NA FRENTE, eu juro sobre o pc, ele fez isso. Ficou lá, em pé, para que as pessoas prestassem atenção somente nele.
Olha, alguém que não compreendeu que nativos digitais conseguem assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, não pode falar de novas mídias e educação.
Ele divagou sem transparência conceitual: citou alguns autores de forma superficial que ficaram ali, sem que houvesse, efetivamente, uma condução de seu raciocínio.
E citou Aristóteles em inglês. Gente, foi uma tentativa bobinha de dar um ar acadêmico à apresentação. Quer citar no original? Cita em grego, então...rs
De resto, a apresentação mostrou tentativas ainda rudimentares de se implantar elementos relacionados à novas mídias dentro da faculdade campineira.
E não pensem que vou puxar sardinha para minha universidade não, porque não vou. Já ouvi cada batatada na Unicamp sobre internet e afins que nem sei como sobrevivi.
Acredito que a Educação como um todo continua encerrada em um olhar extremamente preconceituoso em relação à rede e suas - gingantescas - possibilidades. Para além disso, há que se perceber um receio patológico em minha classe em relação à mudança de paradigmas ( Eu sempre juro que não vou repetir clichês, mas é mais forte do que eu, me domina.)
Ao final da apresentação, depois de ter sido convidado a falar sobre cases de sucesso por um integrante do auditório e NÃO fazendo isso a contento - por razões óbvias - o palestrante foi indagado por @cerasoli da seguinte forma:
- Professor, esquecemos de perguntar: qual é sua arroba?
O professor, diante do mediador atônito, solta uma sonora gargalhada e diz:
- Isso depois eu respondo.
Pessoas, pessoas, ou ele não entendeu a pergunta, ou não tem twitter. Seja um caso ou outro, o que ele estava fazendo ali?
Para deixar o público feliz, entretanto, tivemos a presença de @luizcarioca, redator e blogueiro, que acertou a mão o tempo todo. Ou quase.
Citou os autores na mosca e colocou um vídeo que eu procurava já tempos, pois só havia assistido em um curso, Michel Serres, relativizando as "perdas" da tecnologia.
G-e-n-i-a-l.
O redator narrou experiência profissional, contou situações, deixou claro que opta por experimentar algo para realmente compreender seu processo, como fez com seu Blog: criou um para entender sua dinâmica.
Eu disse pra ele que achava que tinha mandando um grande unfollow, mas nem me lembrava o motivo, mas ele já havia avisado a plateia que sua fala nem sempre é suave, mas pode pegar na veia mesmo. Por isso, volta e meia, recebe uns unfollows nervosos. Melhor assim, nada pior do que povo que faz média.
É importante salientar que @luizcarioca tem um domínio fácil do público e que, certamente, todo mundo ficaria muito mais tempo ouvindo-o falar sobre sua forma de enxergar a rede.
Claro que ao se definir como anarquista eu imaginei Kropotkin rolando em cólicas: publicidade/consumo e anarquia só podem estar na mesma frase se for para um negar o outro, né, crianças?
Após um coffe que propiciou um papo com as pessoas, a palestra final foi do @interney: essa passeou por outras paragens.
Edney Souza, o @interney, se absteve de citar autores: fez uma apresentação correta, enxuta, pragmática. Optou por não discutir essas questões em nível acadêmico e mandou bala fazendo uma apresentação que era um relato do trabalho feito pelas agências publicitárias que utilizam novas mídias, especificamente, a @pólvora.
Para meus espanto total, pouquíssimas pessoas tinham visto o vídeo do greenpeace, censurado pela Nestlé, fato que o inspirou a dar um cutucão bem dado. Afinal, povo, a plateia ali não era formada por profissionais que se interessam por novas mídias e blablablá? Putz, mexe a bunda, cidadão.
Também me surpreendeu a pouca quantidade de perguntas para ele: visto que é uma das pessoas pioneiras nessa área, não havia nada que eles quisessem saber?
Estranho.
Mas creio que a plateia tenha gostado, pois a apresentação teve um forte cunho profissional: o cara sabia o que estava falando. Não estava baseando em hipóteses ou suposições, estava falando sobre algo do seu cotidiano.
Eu gostei do Encontro, certamente irei nos outros: só não prometo elogiar tudo ou ser "neutra", porque ninguém faz História e sai acreditando em "neutralidade". Mas prometo ser justa, ou procurar ser.

11 comentários:

  1. Muito precisa a sua visão desta edição do evento,
    especialmente sobre a participação do Wagner.
    Impressionante como uma instituição acadêmica não se posiciona como agente de vanguarda para este e tantos outros assuntos.
    Bem legal o seu post, gostei!

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  2. Oi querida Vivien!!!
    Saudades de vc.
    O que significa 'sua arroba'? Por acaso é o seu endereço no twitter?
    Beijos,
    Mara

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  3. Belíssimo relato, Vivien.
    Tomara que realmente volte sempre e, principalmente, continue colaborando e comentando. Afinal, é no compartilhar entre diferentes que crescemos, não?
    Obrigado e continuemos nos falando, Jean (http://www.twitter.com/cerasoli)

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  4. ***Edu, esse posicionamento da Academia, para mim se revela como a ausência total de alteridade, de compreender o Outro e seu universo.
    Se a escola deseja efetivamente fazer diferença, aliás, mais do que isso, se ela deseja SOBREVIVER na sociedade da informação, tem que se reinventar.
    Beijos, volte sempre.

    ***Marita! Sim, é isso. Vc imagina minha cara de tacho ouvindo o cara responder daquele jeito?
    Deus é pai..rs
    beijos, saudades.

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  5. ***Jean, vou virar arroz de festa.;0)
    beijos, volte sempre.

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  6. Oi Vivien, muito legal ouvir o relato de quem esteve no evento. Não seja neutra nunca :) []´s

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  7. ***Edney, ah, não pretendo ser..rs..a suposta neutralidade é uma falácia, certo?
    Ou a criatura se posiciona ou desiste de escrever.;0)
    Bacana ter visto seu trabalho.
    beijos, volte sempre.

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  8. Vivien,
    adorei o post, obrigado pelos elogios.
    Sobre Kropotikin, aprecio muito do que ele fez, mas ele dizia que uma bomba vale mais do que mil panfletos. Olha no que deu, ao falar anarquista quem não imagina um terrorista assassino?
    Acho que um pai de família, um cidadão normal que acredita que um modelo diferente é possível, que faz algo, mesmo que pouco, pra mudar, e que se assume anarquista, vale mais do que mil bombas.
    abs, saúde e anarquia.

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  9. ***Luiz Carioca, gostei realmente de sua apresentação. Achei que vc colaborou de forma gigantesca para o sucesso do evento.

    Citando vc:

    "Olha no que deu, ao falar anarquista quem não imagina um terrorista assassino?"

    Resposta: Eu e todo mundo que estudou anarquismo na graduação.;0)

    Entendo sua posição, não obstante, não dá pra imaginar o anarquismo dialogando/convivendo com a sociedade de consumo, e mais, estando ligado de forma intrínseca a ela, como é o caso da publicidade. Afinal, é uma teoria política E econômica.

    Entretanto, há que se ver qualidade em ter alguns horizontes anarquistas em algumas esferas da vida. Mas não dá pra gente - e eu me incluo nessa análise, pois tb simpatizo MUITO com os ácratas - se auto-definir como anarquista.
    Afinal, Bakunin, Malatesta e a tchurma toda não relativizam a questão econômica.

    Grande beijo, espero ter a chance de ver vc apresentando outros trabalhos.

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  10. Vivien, so te digo uma coisa, nao generaliza a Academia assim. Pedagogos em geral são mais resistentes. Na minha área é muito diferente, ainda bem! Teria alguns comentários a mais sobre algumas coisas ai, mas teria que ser em off rs
    bj e parabéns por ter ido lá, é um passo pra saber lidar com a gurizada

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  11. ***Adriana, coidada da Pedagogia, sempre tomando ferro...rs..não mencionei a turma da Educação, apesar de eu ter minhas reservas quanto à forma como lidam com cultura digital. Bom, nesse caso, eu critiquei um professor que falava no encontro( marketing), as iniciativas comentadas da pucc ( várias áreas) e no caso da Unicamp, especificamente, apesar de não mencionar a área, eu pensei nas coisas que vi e ouvi no IFCH e na Física.
    Sei que sua área é diferente e já até fiz uma proposta para os organizadores, para te incluirem, assim como outras pessoas que se debruçam sobre esse tema de forma sistemática e profunda. Seria bacana ver vc por aqui.
    Quanto às observações off topic, me envie por email, please.;0)
    beijos.

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