06 novembro 2006

o "happening"


Há vinte anos eu fazia teatro amador. Essa foi minha primeira coisa "inconfessável" dita aqui no blog,no meu primeiro post. "Inconfessável" porque teatro amador é de amargar mesmo.
Uma das coisas que a gente adorava fazer era happening, ou seja, uma cena em lugar aberto, pra "interagir" com o público, "estudar as reações" e outras papagaiadas que a gente repetia.
Traduzindo em miúdos, a gente criava uma situação em público e mandava ver, o povo não sabia que era teatro ( e era?) e acaba se intrometendo. Tenho que admitir que era divertido.
Mas não era por diversão, era com toda seriedade de quem está fazendo laboratório. Porque a gente ia mudar o mundo, vocês sabem....
Volta e meia um comprava sal de frutas, enfiava na boca e caia babando no chão....as pessoas paravam ( ou não), ajudavam ( ou não), riam ( ou não) e a gente pilhava, observada, palpitava. Depois levantava e ia embora.
Uma das vezes, alguém quis fazer algo mais ousado (?). A cena seria uma mulher ciumenta surtando com outra. OK.
Foram formadas as duplas: o casal da surtada e o casal da que faria a outra surtar. Eu estava no último casal.
Isso aconteceu em fins de 80, na frente do City bar. Olha que mico fantástico...
A gente - eu e meu "namorado" no happening - chegou e cumprimentou o outro casal, eu fui mais efusiva e a tal "namorada" simulava descontentamento, cruzava e descruzava os braços, bufava, bem discreta...rsrs
Não me lembro em qual momento ela começou a gritar comigo. Seu papel era daquelas mulheres mandoninhas, dedo em riste, insuportáveis, sacumé?
Também não sei quem começou, mas em segundos eu estava dando bolsadas na cabeça da infeliz e ela me chutando.,....tudo furiosamente, pois a gente achava - na nossa pouca ou nenhuma leitura acurada - que o método stanislawisky era isso, "entraaaaar" no personagem.
Eu fiquei com uma marca na perna por semanas, pois nessa época - em uma outra vida portanto...- meu uniforme era mini saia e tênis e era isso que eu usava quando a surtada me acertou.
Os outros do grupo colocavam pilha, alguns engrossavam a turma clássica do deixa-disso, tinha de tudo. Saí de cena e o "namorado" da que fazia papel de mandoninha - que tinha um ego bem interessante...daqueles que chegam alguns minutos antes da pessoa- resolveu aparecer.
Vai vendo.
Como a briga tinha dado ibope, ele não quis ficar pra trás, berrou, quase afogou a fulana na fonte, aumentando o barraco.
No final, quando o grupo mostrou que era encenação, quase voou uma garrafa da mão de um bêbado que estava ali, participativo no limite.
O mais curioso disso tudo, é que era realmente levado à sério, não era molecagem....era uma forma de "arte revolucionária" (??????) que iria mudar o panorama medíocre que existia...
A gente discutia com uma suposta propriedade, autores que a gente lia com a testa, quando lia.
Como um jovem pode ser pedantemente burro...! E como é divertido ver isso depois.

12 comentários:

  1. Eu adorava fazer isso de propósito, e olha que não era integrante de nenhum grupo de teatro amador. Tinha uma amiga mala sem alça que topava a história, com variações. Adorava entrar na C&A e chocar as mães de família (eu tinha uns 13 anos) falando alto dos meus dois filhinhos e do meu marido que me batia, mas tinha prometido mudar. Ou então, surtava no meio do trânsito, criando uma discussão amorosa com minha amiga, fingindo sermos lésbicas. A deixa era sempre a mesma - "Devolva o ventilador que minha mãe deu"! Ahahaha.
    PS- O endereço onde tem coisa mais nova não é aquele onde você postou, e sim www.marimesq.blogspot.com
    Beijão.

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  2. Mariana, devolva o ventilador é demais pra qq um...rsrsrsr...bj

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  3. Anônimo3:02 PM

    Vivien, eu adoraria ter visto isso!
    Inclusive você de mini saia e tênis! ha ha ha ha
    Eu tinha um amigo que sempre que eu pegava um cigarro para acender, ele dava um tapa federal no cigarro, que voava lomge e berrava comigo:
    -Eu já não te disse que não quero que você fume mais, sua vadia????
    Eu sempre gargalhava desontroladamente E ele, seríssimo, ainda dizia:
    -Viciada de merda, ainda bem que largou a heroína se não eu te dava era tapa na cara!!!

    Nunca mais encontrei ninguém tão maluco...

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  4. Tati, essa sua cena EU queria ter visto...rs...

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  5. E eu ficava bem gostosinha, viu??...ai, velhos bons tempos...ahahhaahah

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  6. Anônimo9:15 PM

    Ahahahahah!!!
    Parecia que eu estava vendo a presepada!!! Massa, Vivien!
    Também participei de um grupo amador e vivi situações como essa que você falou. Mas a gente fazia como "exercício para perder a timidez". :)
    Bjão

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  7. Felipe, eu tenho boas histórias pra contar dessa época. E tô esperando as suas!;0)

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  8. Anônimo9:24 AM

    hoje em dia tem as tais pegadinhas que são constrangedoras e nem sempre acabam bem. Além de não terem a graça deste tipo de 'laboratório' que vc fazia.
    bj

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  9. Adorei as histórias! Mas vocês nunca foram parar no xilindró não? :)

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  10. Guga, eles queriam fazer coisa pior...eu cortava o barato, como sempre eu era a "reprimida" do grupo....rs

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  11. Márcia, nunca...mas levamos bronca em um hospital.Glup.

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  12. Anônimo10:02 PM

    Vivinha,
    Deixe as suas experiencias profundas aflorarem... Va com fe, irma.
    :o)

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