03 agosto 2009
Sobre a ditadura das crianças
Andei pensando sobre crianças nesses dias. Mais precisamente, sobre o autoritarismo infantil.
Não é difícil perceber porque regimes totalitários utilizaram crianças e adolescentes a seu favor: nesse período da vida, longe da relativização da maturidade, é muito fácil ser profundamente maniqueísta. Tudo parece ser certo ou errado; branco ou preto. Crescer envolve perceber - nas palavras de uma amiga - que existe uma grande "variedade de cinzas entre o branco e o preto".
Mas os pequenos ditadores não percebem isso, e o que é pior, tem uma concepção equivocada do mundo como um grande mercado onde as pratelereiras estão repletas de opções para eles mesmos, eles se imaginam o centro, o motivo da existência da humanidade, que parece sempre dever algo aos pequenos reis.
O resultado me assusta.
Não tenho uma interpretação ingênua e romântica de um modelo antigo de família, um modelo que a história mostra que nunca existiu. Não olho o passado remoendo: oh, como tudo era tão bom...não, não penso assim.
Acredito que muitas das relações passadas eram calcadas em um modelo repressivo, onde as crianças e adolescentes não tinham voz.
No sentido de dar voz às crianças, os adultos ( pais, avós, tios, etc), se esforçaram para oferecer uma nova forma de estabelecer relações.
Mas parece que o tiro saiu pela culatra.
Acostumados a receber e receber, dotados de uma visão simplista de mundo dividido entre bem X mal, imbuídos da concepção de que o mundo feito para eles, os adolescentes, dedo em riste, exigem, julgam, insultam e magoam. Sempre atolados em uma perversa idéia de que foram ludibriados(!), que os adultos estão em débito.
Vale a pena lembrar que os criadores dos pequenos nazistas foram seus pais. Ao rechear aquelas jovens almas com ódio, passaram, tempos depois, a ser objeto desse próprio ódio.
O jovem ditador crê que nada deve a ninguém: ele é sempre aquele que recebe. O pequeno ditador, dedo em riste, não parece capaz de ver o que recebeu, porque está muito ocupado cultivando suas cobranças initerruptas e egocêntricas.
Nunca acredita que o que recebe possa ser suficiente. Ele exige, ele insulta. Por algum motivo, ele se julga nesse direito.
Temo pela sociedade que virá, com esses pequenos déspotas egoístas.
Como no vídeo abaixo, creio firmemente, que se nada for feito, se não combatermos esse egocentrismo perverso, o que nos restará será limpar o traseiro desses jovens imperadores sem autonomia.
@@@@@ Post originalmente publicado em maio de 2008, em "homenagem" a todas as crianças ranhetas, manhosas, autoritárias, interesseiras, grosseiras e os malucos que criam esses seres.
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nossa, super vi minha prima agora. Adolescente, claro. Menina, não foi a toa que eu desisti de dar aula.
ResponderExcluirps: deixei o link do blog no seu scrapbook, mas repito aqui:
blogueana2.blogspot.com
beijoca
Ana, esse problema é grave mesmo.
ResponderExcluirNem falo das manhas chatas, falo dessa sensação de "direitos ludibriados" com que alguns cobram sem cessar.
Aposto que nem imaginam que devem ter obrigações com as pessoas, pois gastam seu tempo cobrando.
beijos, querida.
Ana, apesar do convite que vc me mandou por email...não entro.
ResponderExcluirManda de novo?
beijos.
Vivinha,
ResponderExcluirExcelente post, perfeito.
Fui criada em uma época que os
mais velhos eram tratados com educação e respeitos pelas crianças
e adolescentes. Hoje, tudo se
inverteu, nós os mais velhos temos que servir às crianças, e somos desrespeitados por elas. Fico pensando???? perdí a minha vez.
Bjs
Olha, faz pouco estava aqui, comentando com minha filha, as explosões de ira do petiz ao lado, que tem apenas dois anos. Gritos, coisas jogadas longe, correrias pela casa. E era meia noite. Uau!
ResponderExcluirO que esperar?
maris
Eu acho que o mundo evolui tão rápido de 20 anos pra cá, que muitos valores e noções de conduta acabaram se perdendo no caos. Quando penso na maneira como fui criado e educado e em como se criam e se educam as crianças hoje em dia, a impressão que tenho é que a minha infância foi há 70 anos atrás e não há 30.
ResponderExcluirVivinha,
ResponderExcluirOs seus textos são sempre muito agradáveis de ler, mas alguns fazem pensar. Só gostaria de salientar que não me assusto muito com o despotismo infantil e adolescente, uma vez que amadurecer significa perceber que existem outras pessoas no mundo e que não somos o centro do universo (acreditar que somos o centro do universo qd crianças é normal), mas sim com a passividade dos adultos em aceitar as ordens (quando sua obrigação é mostrar os limites às crianças, para o bem da própria criança, para ela não se tornar um ser abominável). Não estou falando só de pais e avós, mas de professores, tios e demais adultos que acham que não podem mais impor limites aos desejos insaciáveis das crianças/adolescentes.
Por isso eu sempre penso na ilha deserta, onde adolescentes ficariam presos, brigando entre eles, até a vida adulta. Não por eles, mas pelos adultos que permitem isso.
A experiência em sala de aula nos dá exemplos e mais exemplos de como um NÃO pode ser ´traumático´ para o ser que desconhece essa palavra.
beijos
Frou
:o)
Ps: tomara que a geração sem limites faça diferente, não é? Afinal, eles vão sentir na pele a dificuldade de crescer e ser obrigado a perceber o outro.
Adolecentes! Passagem importante da vida. As imformações que recebemos durante este periodo e o que for filtrado por nos eh o que levaremos pra toda vida.
ResponderExcluir***Mãe, pois é.
ResponderExcluirMas um dia esses ditadores mirins não serão crianças....e como serão as suas crianças??
beijos.
***Maris, muita gente fala sobre a falta de limites e,vamos combinar, pais que estimulam o narcisismo infantil estão criando monstrinhos...
beijos.
***Fê, concordo com vc.
Jogaram o bebê com a água do banho: na tentativa de exercitar a liberdade, muita gente criou pessoas egocêntricas.
beijos.
***Frou, vc está coberta de razão. A responsabilidade é dos adultos que adulam e criam, para essas crianças, a falsa idéia de que TUDO é possível e que TODOS devem servi-los.
beijos.
entendo o texto. mas em paralelo com este mimo todo, que sim existe, sinto nossas sociedades criando tanto seus filhos a base do "não"; "não" neurótico de negar mesmo o que deveria ser sim; de falar "perigo", "cuidado" mesmo quando se deveria deixar correr o risco. lembro de uma mulher que sentou no banco do outro lado do corredor num dos primeiros onibus norte americanos que subi que sempre que a filha se movimentava, ria ou falava recebia um "stop" com tapas. acho que o que falta não são criações com só sim nem com só não; são pais com tesão nas próprias vidas, que permitam filhos com tesão também. o sim para quando é sim, o não para quando é não. o calma para quando não deu para pensar ainda. mas oquei, ainda não tenho filhos. nem sobrinhos. pode ser só idealismos utópicos... um dia descubro e te conto...
ResponderExcluirElixa, entendo seu argumento e concordo. Não acho que viver cerceando e batendo resolva algo. Mas o fato é que os pequenos ditadores me causam arrepios...ao exigirem seus supostos direitos aos berros. Ando tropeçando muiiito com criaturas assim...rs...depois te conto melhor.
ResponderExcluirGrande beijo.
Acho que o bom senso é a resposta.
ResponderExcluirSaber dizer não, é importantíssimo.
Na minha opinião, temos que dizer sim, muitos "nãos" à eles.
Isso é educar.
Somos nós os responsáveis pelos adultos que serão.
Um beijo, bom final de semana
Aninha, é isso aí, imaginar que o adulto está a serviço do pequeno cliente é um horror...socorro, né?
ResponderExcluirbeijocas.
Ei! Eu sei que sumi... Mas tô de volta!
ResponderExcluirEu detesto essa propaganda, penso que ela ilustra bem seu texto.E concordo com tudo.
É a diferença que um "não" faz na vida de alguém, e na sociedade...
Bjos!
Babs, vc sumiu demaaais...sinto falta dos seus textos e dos seus comentários, bom ver vc de volta.
ResponderExcluirbeijos.
Vivien, os jovens pais de hoje foram as crianças mimadas de ontem, cheias de vontade. O ontem que falo é o de 30/35 anos atrás.
ResponderExcluirSou um pouco pessimista com relação a isto, pois acho que a chamada "mudernidade", liberdade de costumes etc foi muito mal interpretada e usada pelos próprios pais. Vai ser difícil consertar tudo isso.
Quanto à Humanidade de um modo geral, não obstante o que dissemos acima, acho até que relativamente ao passado bem remoto, melhoramos em muitos aspectos.
Abraço. Feliz final de semana.
Adelino, tb tenho receio desses "clientes" reclamões...beijos.
ResponderExcluirIh, penso assim também, e quando falo o povo se assusta. Tenho observado que já nascem egoístas, egocêntricos e autoritários. Convivo com algumas criancas, pequenininhas ainda, e já vejo isso antes de completarem um ano, ah, interesseiros também. Outro dia eu comentei que devem ser tracos da personalidade para garantir a sobrevivência, porque quando muito pequenos não tem mesmo como sobreviverem sozinhos, então já nascem com alta capacidade de manipulacão, daí o desenvolvimento que vai depender de quem está ao redor, deu folga eles se instalam. Provavelmente éramos assim também, mas aprendemos cedo o nosso lugar no mundo, já tem umas criancas e adolescentes, que talvez devido as concessões que vão recebendo dos familiares, vão levantando o dedo, e não tem quem baixe, ou tem?
ResponderExcluirAdorei seu post.
Beijo
***Luciana, e eu adorei seu comentário.;0)
ResponderExcluirSempre me dá prazer ver as pessoas discutindo, participando dos papos aqui deste blog.
Quanto aos mini-Hitlers, tenho pouco ou nenhuma paciência com essas criaturas: na maioria das vezes, retiro-os da minha vida, sem dó, nem piedade.
rsrs
beijos.
Vivien,adoro esse seu post. Sempre que leio me lembro de Mao e de como ele usou os jovens para fazerem sua Revolução Cultural.
ResponderExcluirO pior é que hoje estamos vivendo processos bem assustadores: pais que não sabem educar, que não ensinam respeito, disciplina, pais que acham que a escola é obrigada a educar seus filhos, pais que andam pra cima e pra baixo acompanhados de babás, inclusive nos fins de semana, enfim pais que consideram os filhos simples acessórios e acabam criando monstrinhos.
***CECY, se eu fui da geraç~~ao coca cola...eles sao geraçao prozac. Nao convivem com perdas, negativas...podem tuuuudo.
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