17 junho 2008

Ensaio Sobre a Preguiça


Faz mais de vinte anos, eu tinha dezesseis anos e trabalhava em uma empresa que funcionava 24 h por dia. Literalmente. Meu turno era das seis ao meio dia, tinha conseguido essa pseudo-promoção aprendendo a digitar na hora do almoço: passei então a trabalhar como digitadora e em turnos de seis horas.

Nosso grupo era formado por meia dúzia de pessoas, o mais velho, o meu "chefe" - eles adoravam distribuir carguinhos porcaria pra ver se conseguiam controlar a turba assassina de funcionários - deveria ter pouco mais de vinte anos.

Os outros funcionários chegavam às oito: tínhamos , então, duas horas sem vigilância.

Começamos comprando coisa na padaria e fazendo um café da manhã coletivo. Mas isso começou a ficar cada dia mais longo, cada dia, enrolávamos mais.

A estratégia era a seguinte: ligávamos os pcs e ficávamos vagabundeando, até quase oito horas.

A nossa média de produtividade caia a cada dia, e "ninguém" sabia o motivo....

Digitadores tão rápidos perdendo produtividade...um mistério.

O mistério foi descoberto um dia. Estávamos na recepção: todo mundo deitado pelos sofás, eu , sem sapatos, com a cabeça no colo do meu "chefe", que mexia no meu cabelo ( ô, delicia) e ainda cantava pra mim. Tempinho bom....

A porta fez um barulho, não dava tempo de correr, apesar de alguns terem tentado: um dos donos havia chegado.Foi aquela situação constrangedora em que ninguém sabe o que dizer.

Quem tentou correr, foi pego no meio, tipo desenho animado. Levantamos vermelhos, sem dar nem desculpa. Eu calcei meus tênis - porque nessa outra vida eu usada tênis e não pintava as unhas, era uma outra Eu - subi para trabalhar, morrendo de vergonha.

Subimos meio rindo, meio assustados. Nunca ninguém falou disso, mas nunca mais tomamos nosso super café da manhã de duas horas.



****** texto publicado originalmente em 19/03/07

35 comentários:

  1. *



    o chefe, além de folgado, era expert em seduzir as funcionárias cabeludas.
    tô chocado aqui.





    *

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  2. Xôn, era só um cafuné.....rs
    E o "chefe" era pouco mais do que um garoto.

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  3. Chefe safado. Conheço bem o tipo.

    Naquele tempo não estava na moda o esquema de processar a empresa por assédio sexual? Você poderia levantar uma grana preta!!!

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  4. E continuaram com o emprego?

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  5. ah, como era bom o tempo em que os funcionários não se enganavam dizendo que eles têm uma 'obrigação moral' com o empregador... Precisamos recuperar a boa e velha luta de classes, de preferência nessa versão com chefe de 20 anos fazendo cafuné!

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  6. Fiquei com preguiça de comentar.

    Um grande beijinho!

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  7. Anônimo8:51 AM

    História legal, muito legal. É uma delícia viver essas coisas na adolescência.

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  8. Anônimo11:09 AM

    O que um susto não faz com a gente, não? Até nos põe para trabalhar.
    Boa estória.

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  9. Arnaldo, não era safado não....rs
    E foi a única pessoa que tentou me ensinar a batucar no pandeiro: fui um desastre e ele desistiu.;0)

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  10. Tati, vc acha que eles iam achar um monte de gente pra trabalhar a troco da mixaria que a gente ganhava???..rs

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  11. Urubua, a gente ainda nao tinha introjetado a vigilancia foucoutiana....ahhahah ( ih, escrevi errado...)

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  12. Carmencita, sua preguiçosa....;0)

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  13. Cláudia, gostoso é poder contar os causos pra vcs....;0)

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  14. Lino, até consegue isso....um horror.!;0)

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  15. Anônimo4:40 PM

    Fiquei imaginando a outra vc correndo sem tenis pela empresa....

    Bj

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  16. Anônimo4:41 PM

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  17. Anônimo4:41 PM

    Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  18. Bahhhh....que situaçao constrangedora! Mas o salário pedia, né?

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  19. Tar, a minha outra eu não correu...foram os outros, eu calcei os tenis e subi, morrendo de vergonha...rs

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  20. O mundo precisa de mais chefes assim!

    Amo cafuné!!!!

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  21. Ana, to contigo. Precisa mesmo.;0)

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  22. que maravilha de emprego!! que delícia!!
    lá entao ninguem conhecia aquilo de 'vigiar e punir', entao??
    ô, pessoas sanas!!!! fazem falta nesse mundo onde "todos vigiam e controlam todos para que ninguem faça o que todos querem fazer".

    ô, fófis....! qdo virá em minha casa??

    estás convidada. vós e vosso rebento figura - aí podiamos chamar nosso amigo em comum e sua noiva, né?

    beijos,
    cris.

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  23. Cris, ninguem tinha lido Foucault, a gente nem sabia que o fulano existia.;0)
    Vamos combinar sim, com certeza.E nosso amigo agora resolveu me sacanear...veja o comentário dele...rrsrsr

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  24. Anônimo1:31 PM

    ah, que bom cafuné no trabalho... faz tempo...

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  25. Eliza, era bom demais da conta.;0)
    beijocas.

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  26. querida,
    ligue pra mim par conversarmos sobre o tal inferno astral fora de temporada.

    Está tendo um efeito El Niño psicológico.
    hahahhahaha
    beijso
    to no aguardo

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  27. Oi Vi!
    Era pra ser uma passada rápida, pra dar um oi e agradecer a visita, mas não resisti e li o post republicado. Delícia. Saudades dessas histórias gostosissimas que tu contas tão bem. Gostei do novo layout do blog, mais ainda da foto sexy.
    Bjão

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  28. Bah, Vivian, fiquei tão feliz em chegar aqui e encontar o Sean e a Thelma que nem sei o que dizer pra ti. Não sei há quanto tempo via esses dois.

    Cafuné é muito bom!
    Bjim.

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  29. só para deixar meu novo endereço:
    http://mastix.tumblr.com

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  30. Anônimo7:28 AM

    Opa! Sinistro!

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  31. mas aposto que não se arrpendeu, esse pulões são até bons hehehe

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  32. ***Tati Gurua...heeeelp!
    Te ligo, beijos.

    ***Lipe, sumidérrimo!!! Um prazer te receber nessa casa hoje e sempre, beijocas.

    ***Rosamaria, esses comentários são velhos....rs
    grande beijo pra vc, sua foto está linda.

    ***Gabriela, já vou atualizar,
    beijos.

    ***Magui, delicioso, bateu saudades, beijos.

    ***Moni, claro que não, rimos muiiiito depois. beijos.

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  33. Vivinha,
    Eita...tempinho bom, heim?????
    Bjs
    Mamãe

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  34. Mãe, muiiiiiiiito.;0)
    beijos.

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