20 maio 2008

O banho


Já disse aqui que esse ano não começou bem pra mim, problemas profissionais sérios que me fizeram ser meio estúpida com uma amiga que estava com crises balzaquianas, disse que não queria ouvir papinho sex and city porque tinha coisas muito mais drásticas pra pensar. Como contas, por exemplo. É real, mas eu não precisava ser grossa.Pedi desculpas, mas já tinha falado, é fogo isso.
Mas a angústia dos problemas práticos fazem a gente tomar umas atitudes meio patéticas. Exemplo: eu vou em uma igreja católica eventualmente. Nunca pra missa, porque o povo lá é da Renovação carismática e se uma missa já é algo com o qual eu não me identifico, esse povo doido me afasta ainda mais.
Não quero elocubrações teológicas, minha necessidade de fé é visceral e gosto disso. Não estou nem aí pra discutir a real existência de uma divindade, não me interessam questões filosóficas, minhá fé é reconfortante e chega. Evidentemente a relação homem-religião me interessa e quero discutir, mas a relação homem-fé é muito íntima, ancestral. Durmo se esse papo vem a tona.
Enfim, eu dizia que... eu curto a tal igreja, ela é meio estranha, tem uns rituais: escrever pedido em papel , amarrar fitinha, coisas assim. Um primo da minha mãe, que é me conhece bem e é muito meu amigo foi peremptório:
- Você gosta porque é meio macumba, fala a verdade....
Tai, tem um climinha meio ritualistico, meio pagão-cristão, meio macumba, que eu me amarro.
Outro dia fui lá: tem uma fonte de água benta (eu sei, nem me venham com argumentos racionais porque sei que vcs estarão certos, mas não tô nem ai..) e eu fui lá, com garrafinha, pegar a tal água. Aí decidi molhar a testa, aí...molhei testa pra abrir a mente...decidi molhar o coração,prá ver se esse desgraçado não me sacaneia mais.... rins, por motivos que já contei aqui.....e comecei a praticamente tomar banho na tal torneira-benta.
Minutos depois, durante meu banho-bento, chega um fulano: cabelo comprido, todo tatuado, carregando uma garrafa de dois litros. Sério, uma garrafa vazia de coca-cola pra encher de "água benta" da torneira. Pior do que eu, vocês já viram tudo.
Rapaz, o cara toca a jogar água também. Dois retardados tomando banho de água benta: a perua aqui, com salto alto e unhas vermelhas e o porra-louca lá, tatuado e cabeludo. Só alegria. Ou melhor, só desespero mesmo, surto em dupla.
Merecia uma foto.



******Esse texto foi postado no ano passado, hoje, além das minhas opções religiosas terem mudado - tema pra outro post - minha vida profissional também mudou.
Decidi republicar porque o tema "causos" foi citado no post anterior e porque esse post é um dos que R., um leitor fiel, gosta muito.

32 comentários:

  1. Vivien,
    Também tenho uma relação particular com a religião. Embora ateu, adoraria não ser. Preferia de ter sido criado (acho que religião vem do berço) para ter fé. Tenho certeza de que os que acreditam, encontram consolo mais facilmente do que eu. Deve ser reconfortante crer.
    Gosto de rituais e de igrejas. Me interesso pela hierarquia da igreja católica. Leio sobre bispos, promoções, quem vai ser quem e onde. Na época da escolha do papa acompanhei tudo com muito interesse. Me sinto estranho. Adoro as histórias da bíblia. Leio como se fossem literatura.
    Beijão

    ResponderExcluir
  2. Lord, acho reconfortante ter fé. A minha é uma salada, uma misclânea total que mistura icones do catolicismo, partes da umbanda, coisas do tarot, uma salada mesmo.
    As histórias bíblicas conheço pouco, como vc, leio como literatura, afinal, sempre tive uma queda pelo realismo fantástico.
    Quanto a participar efetivamente de uma religião, até queria, mas não consigo: meu olhar acaba sendo cético, crítico. Prefiro ficar na bruma das minhas crenças.;0)

    ResponderExcluir
  3. Anônimo10:10 PM

    Ai, Vivien, uma foto seria ótimo! Hahahahahah... desculpe, sei que o tom do post não é de chacota, mas ri muito com essa história, hahahahha...

    ResponderExcluir
  4. Vivien,

    Numa entrevista na TV (Cultura, eu acho), tempos atrás, ouvi Rachel de Queiroz dizer algo, mais ou menos, assim:

    "Adoraria ter fé, mas Deus não me deu..."

    Achei ótimo!

    bjo,
    Clé

    ResponderExcluir
  5. Andar com Fé
    Gilberto Gil


    Andá com fé eu vou
    Que a fé não costuma faiá
    Andá com fé eu vou
    Que a fé não costuma faiá

    Que a fé tá na mulher
    A fé tá na cobra coral
    Ô, ô
    Num pedaço de pão
    A fé tá na maré
    Na lâmina de um punhal
    Ô, ô
    Na luz, na escuridão

    Andá com fé eu vou
    Que a fé não costuma faiá
    Andá com fé eu vou
    Que a fé não costuma faiá

    A fé tá na manhã
    A fé tá no anoitecer
    Ô, ô
    No calor do verão
    A fé tá viva e sã
    A fé também tá pra morrer
    Ô, ô
    Triste na solidão

    Andá com fé eu vou
    Que a fé não costuma faiá
    Andá com fé eu vou
    Que a fé não costuma faiá

    Certo ou errado até
    A fé vai onde quer que eu vá
    Ô, ô
    A pé ou de avião
    Mesmo a quem não tem fé
    A fé costuma acompanhar
    Ô, ô
    Pelo sim, pelo não
    __________________

    Se eu quiser falar com Deus
    Gilberto Gil
    1980


    Se eu quiser falar com Deus
    Tenho que ficar a sós
    Tenho que apagar a luz
    Tenho que calar a voz
    Tenho que encontrar a paz
    Tenho que folgar os nós
    Dos sapatos, da gravata
    Dos desejos, dos receios
    Tenho que esquecer a data
    Tenho que perder a conta
    Tenho que ter mãos vazias
    Ter a alma e o corpo nus

    Se eu quiser falar com Deus
    Tenho que aceitar a dor
    Tenho que comer o pão
    Que o diabo amassou
    Tenho que virar um cão
    Tenho que lamber o chão
    Dos palácios, dos castelos
    Suntuosos do meu sonho
    Tenho que me ver tristonho
    Tenho que me achar medonho
    E apesar de um mal tamanho
    Alegrar meu coração

    Se eu quiser falar com Deus
    Tenho que me aventurar
    Tenho que subir aos céus
    Sem cordas pra segurar
    Tenho que dizer adeus
    Dar as costas, caminhar
    Decidido, pela estrada
    Que ao findar vai dar em nada
    Nada, nada, nada, nada
    Nada, nada, nada, nada
    Nada, nada, nada, nada
    Do que eu pensava encontrar

    Obs.: se quiser, depois, linkarei as músicas, com o Gil...

    ResponderExcluir
  6. É aquela história né Vivien. Se não fizer bem, mal também não vai fazer :)

    ResponderExcluir
  7. Anônimo6:27 AM

    Rarará, bem engraçada essa!
    Vivien, me considero agnóstica: não sei se Deus existe. Meus pais eram católicos, próximos à Teologia da Libertação. Eu sempre tive medo de alma doutro mundo (ridículo, até da alma deles!). Qdo pequena, em algum lugar escuro, ermo, clamava para q nehum santo ou Jesus me aparecesse. Numa aula de 1a. comunhão, a profa. pediu q fizéssemos uma reflexão procurando ouvir a voz de Cristo. Depois de uns minutos, logo pra mim a pergunta: "Então, Sibila, o q ouviu?" E Eu: "Puxa, tentei tanto, mas acho q Deus não quis falar comigo!" Fui reprovada por isso.
    Experiência c/ Daime: tomamos o chá em meio ao ritual, e, cara, pra mim, nem espirituali//, nem barato, apenas vômitos (tipo aquela cena do Monte Python). Se não depurei a alma, pelo menos o fígado! Bjs.

    ResponderExcluir
  8. religião não é a minha, mas tomar banho na pia com um cabeludão tatuado realmente deve fazer um bem danado. Em lugar público então, é tiro e queda :P

    ResponderExcluir
  9. Vi, eu tenho fé, fé no ser humano, fé que existe uma força superior que rege o universo...fé que deve existir algo do outro lado lado...
    Esta e a mnha religiao: a fé...a crença...a mandinga...a macumba...espiritualismo...mas sempre com fé.

    beijinhos minha amiga cheio de saudades do outro lado do oceano

    ResponderExcluir
  10. minha mãe ficava muito contrariada comigo quando falava pra ela o que eu pensava da igraja católica, ela dizia que temos que seguir a religião dos pais.
    continuo a ter fé, mas com a mesma opinião. faço uma salada como tu.


    como estás agora? quando fores a Paris nos conta, tá?
    faço votos que seja logo!

    bjs.

    ResponderExcluir
  11. Cláudia, é pra rir mesmo!!!!...rs eu recebi um email de um amigo que disse que tinha dado vexame de tanto rir, fiquei toda feliz!!!...rs

    ResponderExcluir
  12. Clélia, eu sempre repito o que o Macaco Simão diz "eu quero ser católica...ams eles não deixam.."
    Ainda mais agora, com o "Lord Sith" no poder, agora não dá mesmo...rs

    ResponderExcluir
  13. Sibila:
    1) nunca tomaria o Daime...rs...morro de medo das minhas viagens , nada de alucinógino pra mim. E vomitar é uma experiencia muiiiito trash.

    2) e vc tem que ter um blog, Sibila!!! quero ler suas histórias!!!

    ResponderExcluir
  14. Dri, como disse a Clélia, "andar com fé eu vou".;0)

    ResponderExcluir
  15. Rosamaria, obrigada. Espero mesmo ir pra Paris logo, espero emprego novo, espero um monte de coisas. Com fé.;0)

    ResponderExcluir
  16. Maroto, frango eu só como grelhado....ahhahahahh

    ResponderExcluir
  17. Vivien,

    Lendo a primeira crônica do livro "Deus-dará", de Ana Miranda, pensei: a esperança é um tipo de fé.

    bjo,
    Clé

    ResponderExcluir
  18. Acho que faltou uma parte da frase:

    "Adoraria ter fé, mas Deus não me deu este dom..." [Rachel de Queiroz]

    ResponderExcluir
  19. Clélia, hahaahhahah.....perfeito.

    ResponderExcluir
  20. Vivien,

    Eu tenho certa má vontade com essa coisa de religião e, mais ainda com a coisa da igreja. O tema pelo qual eu mais me interesso é o da fé, essa sim, uma coisa que me instiga, apesar de eu não tê-la. Acho, entretanto, uma coisa muito boa, as pessoas terem algo que se apegar nos momentos de angústia, de sofrimento. Acredito sinceramente que esse sentimento acaba ajudando esas pessoas. Quem não o tem, como eu, precisa saber lidar com tais momentos de forma mais racional, o que não é tão confortável. Mas essa é uma coisa que não dá pra criar. Fé, ou se tem, ou não se tem.

    ResponderExcluir
  21. Arnaldo, concordo com vc. Daniel é ateu e acho que não dá pra "argumentar". Fé não se "aprende".
    Acho que é reconfortante.;0)

    ResponderExcluir
  22. Apesar de ter o 'filme' na cabeca eu gostaria de ver a foto... kkk

    ResponderExcluir
  23. Ah! A imagem para este texto esta linda.

    ResponderExcluir
  24. Frou, Bosch é tudibão.
    E eu tenho certeza que vc conseguiu imaginar a ceninha patética...rs

    ResponderExcluir
  25. Me leva lá. Eu levo sabonetinho da Natura e toalinha limpa.

    ResponderExcluir
  26. Tati, vou lá tomar banho essa semana....ahahhah
    Mas, diz ai, vc quer mesmo ver o tatuado, né??

    ResponderExcluir
  27. olhe, Vivien
    eu acho que se dá para juntar o bem com o bom e ainda um tatuado semi nu por perto, pesne bem...pode ser o paraiso.

    ResponderExcluir
  28. Oi, Vivien. Fé é fé! Ou tem, ou não tem. Acho que não dá para desenvolver uma. Vem do berço? Talvez! E quanto à água benta... Ri bastante. Aliás, dizem que "pretensão e água benta, cada um toma o que quer". Mal não faz, portanto, continue se benzendo.
    Abração.

    ResponderExcluir
  29. ***Tati, um paraíso interessante.;0)

    ***J.F., atualmente tenho outras opções religiosas, como disse no final, mas o tempo da água benta tb valeu.
    Beijos e volte sempre.;0)

    ResponderExcluir
  30. Viven, fez bem em voltar a publicar o texto. É bonito, sincero. Imaginei vocês dois como bem-te-vis se banhando. Já viu essa cena? No interior minha casa tem piscina e o bem-te-vi pontualmente se banha às 17h. Splash.

    Outra coisa: que bom que a vida mudou! Espero que tudo esteja melhor.

    ResponderExcluir
  31. Ana, a cena foi muito doida, coisa pra lembrar mesmo, porque banho conjunto de água benta...não é coisa pra todo dia.;0)
    As coisas mudaram, o que me deixa feliz. Alguns desejos, projetos e planos ainda estão no forno, mas uma hora, assam.;0)

    ResponderExcluir

Queridinho, entre e fique à vontade: