15 outubro 2011

Eu e o Professor


No meu primeiro ano na Unicamp, nada foi como eu esperava. História não era o que eu achava...me sentia um ET quase todo o tempo, pois minha trajetória era tão diferente dos outros que não conseguia me sentir fazendo parte do grupo.
Eu vinha de escola pública, eu sempre tinha trabalhado e me via fazendo parte de um grupo que nunca tinha pago uma conta na vida, adolescentes no total sentido da palavra.
Uma hora ou outra eu cruzada alguém que também se sentia um et e a gente estranhava tudo naqueles rosados garotos burgueses.
Não que eu nao gostasse deles, até gostava, só não me identificava com praticamente ninguém. Aos poucos me ambientei e formei um grupo se seria coeso até o fim da graduação e se despedaçaria em trinta mil pedaços após a formatura, sobrando apenas aqueles que realmente tinham elaborado um laço de amizade muito profundo. Pra minha alegria, são meus amigos até hoje.
Estive a ponto de desistir, tinha passado em jornalismo também, mudaria de curso e pronto.
Mas foi ai que li o livro do Professor.
Foi o seu primeiro livro, considerado por ele até um tanto quanto ingênuo. Talvez ele tenha razão, se compararmos com os três posteriores( que, claro, li também)
Mas o livro era ótimo, inegavelmente.
O tal primeiro livro teve um impacto inesquecível nos meus vinte anos.






Me lembro de pensar que,se aquilo era fazer História, então aquilo eu queria aprender a fazer. Eu gostei de tudo: do objeto de pesquisa, da análise absolutamente peculiar das fontes, da maleabilidade única para lidar com a palavra.
Inegavelmente um grande historiador e um grande escritor.
Consegui uma bolsa trabalho, logo deveria prestar algum serviço pra unicamp. Tinha parado de trabalhar e não podia me dar ao luxo de viver de dinheiro de pai, nem combinava comigo.
Procurei Professor para auxilia-lo em sua pesquisa.Para surpresa de todos, ele aceitou. Era famosa sua recusa em aceitar bolsistas, pois efetivamente gostava da pesquisa e creio que não se via com um assistente pra fazê-la.
Talvez tenha aceitado ao ver meu jeito de deslumbrada que só as meninas de vinte anos podem fazer.( Claro, aos trinta isso se torna ridículo....rs)
Mas ao contar isso, me lembro de como fui toda sorridente pedir para ser sua bolsista, falei com ele em um lugar que nem existe mais, tomado pelas mudanças que houve no IFCH.
Ele me aceitou, mas não posso dizer que eu o tenha auxiliado.
Ele me orientou na minha primeira garimpada no Arquivo Edgard Leuenroth, comentou comigo minhas descobertas, riu de mim muitas vezes, corrigiu umas tantas, ensinou umas outras.As reuniões em que eu mostrava minhas primeiras descobertas, em que eu comentava as fontes que tinha trabalhado, foram, pra mim, inesquecíveis.
Eu me sentava na ponta da cadeira, falando demais pra esconder o embaraço, enquanto ele observava sorrindo e falando pontualmente.
Descobri todo um universo de jornais, revistas, boletins, micro filmes, História que ia se fazendo na minha vista.
Não desisti da História.
Fiz todos os cursos que pude com Professor, e voltei a fazê-lo 15 anos depois, como ouvinte, só pra matar a saudades.
Pra minha - grata - surpresa, ele se lembrava de mim. Mais contida do que aos vinte anos, ainda sorri internamente quando em uma aula ele disse." eu estava pensando no que a Vivien falou na outra aula"
Ele estava pensando no que eu tinha falado. Pensei "yesssssssssss...!!!"e tive vontade de dançar como o caranguejo da propaganda de cerveja,mas nao movi um músculo, claro. Não ter vinte anos tem suas obrigações....
No final da aula, uma menina bonitinha sorriu pra mim: "ele é o máximo, nao é?"
Sorri de volta. É ..ele é o máximo



****texto publicado originalmente em 2006.

16 comentários:

  1. Anônimo6:52 AM

    rs.. oi Vi, tudo bem?? então é muito gostoso se lembrar das coisas que realmente marcaram nossas vidas, melhor é se são marcas de felicidades!! e que história muié, tava até pensando em te encher mais o saco pra escrever um livro!! e já desidi rs.. vou fazer filosofia depois predendo imbarca pra teologia e se der tempo ahuahua psicologia e oh bagunça é comigo mermu!!! beijos até mais, mande lembranças pro daniel!

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  2. que lindo texto. cheio d eternura e afeto!!
    o professor merece ler isso, um dia

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  3. Tati, quem sabe um dia eu mostro?

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  4. Anônimo12:08 PM

    Por acaso é o livro q te dei?... hehehe

    Meus parabéns pelo seu blog.. tá ótimo.. dei muitas risadas com os textos

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  5. Anônimo11:12 PM

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  6. Anônimo11:14 PM

    Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  7. Anônimo11:17 PM

    "dançar como o caranguejo da propaganda de cerveja"... kkk

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  8. oi, sempre quis ir para a casa da mãe joana. Posso entrar?
    bjo

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  9. kkkkkk....eu tentei comentar lá, mas como te disse, não consegui.
    Ta convertida ao mundo dos blogs??? Pode entrar que aqui é mesmo a caaaaaasa da mãe joana...ahahhaah

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  10. A-DO-REI! Achei deu bloggggg sem querer, estava procurando a indicação do livro do |Sidney(1 ed) e achei vc e este texto! Gostei de te ler! Um grande beijo

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  11. Sil, fico feliz em saber que vc gostou.
    E leia o livro dele. Aliás, leia todos.;0)
    Volte sempre.

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  12. Eu me lembro tanto de alguns professores...não dá para esquecer, alguns foram muito especiais. Espero que algum ex meu, também se lembre de mim com carinho. Boa semana. Beijos

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  13. Vivinha
    Texto lindo, comovente.
    Conheço a história do professor...e eu completo com - Ao mestre com carinho.
    Bjs

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