09 abril 2010
O medo da teletela
Acho uma delícia revisitar os autores. Imagino o quanto do próprio leitor impregna a obra, a tal ponto de fazer a releitura, uma operação divertida e surpreendente.
Sempre me lembro que quando me divorciei, li A Peste - eu sei, eu sei, Camus foi escolha equivocada para o momento - e fiquei barbaramente impressionada com o livro. A idéia de estar acuado, limitado, impossibilitado de se deslocar, o medo presente, foram extremamente impactantes para mim.
Anos mais tarde, ainda que tenha gostado da mesma forma, não senti a asfixia da primeira leitura, pois minha localização, enquanto leitora, era outra.
Lembro perfeitamente do impacto que senti quando li 1984 pela primeira vez. Era adolescente e de lá pra cá, reli umas tantas vezes. Fiz isso por esses dias.
A ácida crítica de Orwell tem o poder de ser atual, ainda que a esquerda tenha se remodelado. Creio que todas as críticas gigantescas que ele faz, cabem em qualquer estrutura totalitarista, pois o controle é sempre sua base, mas é indiscutivelmente - infelizmente - que os socos atingem ao que muita gente - como eu, por exemplo - sonhou durante muito tempo.
Imagino que a esquerda só poderá ter uma nova face, que responda às necessidades comptemporâneas, se tiver a coragem de enfrentar discutir elementos como esse.
Discutir a ficção macabra que teve base em uma realidade não menos macabra, como foi o punho solene de Stálin.
Por mais que a direita me enoje - e me enoja totalmente - não posso mais deixar de ver o mundo sem as reformulações, sem a perestroika, sem a glasnot e sem...viva!..o Grande Irmão.
De certa forma, isso me deixa angustiada, me deixa com a síndrome de geração coca-cola, pois ao criticar e ter ojeriza ao capitalismo, não encontro esperança no que pensava ser o socialismo.
De mais a mais, conheço pessoas tão controladas, tão vigiadas, que vivem uma vida sem o mínimo de privacidade, em um arremedo assustador da ficção de Orwell.
O que prova, sem dúvida, que os controladores se mordem de medo de perder seus controlados....e isso seria tão, tão interessante.
***publicado originalmente em 2008.
Marcadores:
autoritarismo,
histeria coletiva,
livros,
neuras,
sonho
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Pois é minha amiga, o negócio, acima de tudo é o controle. A ideologia existe até o momento que galgamos o poder mas, daí prá frente, não temos líderes que vão realmente ao encontro das necessárias mudanças.
ResponderExcluirLiga não, de vez em quando apareço pois meu tempo está prá lá de escasso e vou visitando a galera sempre que possível.
Tenha uma semana repleta de alegrias e realizações
Ronald, perceber isso e se rebelar contra isso é o único caminho.
ResponderExcluirBeijocas.
nunca me aconteceu de reler um livro. vou procurar a peste, que também me impressionou muito. ah, obrigada pela visita.
ResponderExcluirTeresa, acho que reler é sempre um exercício bacana, costumo fazer isso sempre.
ResponderExcluirbeijos e volte sempre.
Vivinha,
ResponderExcluirNada é igual duas vezes, nem mesmo a leitura de um livro. Porque tudo depende do estado d´alma.
O que eu achei interessante foi a escolha do livro " A peste" no momento da separação. Falo apenas na coincidência do nome, cruzes????
Bjs, mamãe
Excelente texto.A massa sempre foi controlada.As mulheres, então,pagam até hoje o preço do controle total por milhares de anos. Um olho eletrônico para pegar insurretos é mais um, para quem permite.
ResponderExcluirMãe, o olhar define tuuudo.
ResponderExcluirbeijos.;0)
Magui, concordo com vc, a idéia do controle me é abjeta.
beijos.
Vc leu o Admirável Mundo Novo na mesma época? Não sei de qual eu tinha mais medo...
ResponderExcluirFrou
Frou, nossa....essas imagens de controle total me deixam desesperada.
ResponderExcluirbeijos.
Vivien, muitíssimo obrigada pelo comentário e me desculpa a demora responder! ^^
ResponderExcluir***Paradis, obrigada, logo voltarei por lá, adorei.
ResponderExcluirbeijos.