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Na segunda feira dessa semana, minha
tia Sueli faleceu. Minha tia já havia casado com meu
tio Antonio Carlos antes do meu nascimento, assim, para mim, ela sempre esteve na mimnha família, ela sempre esteve por aqui.
Tia Sueli era o avesso da vovozinha convencional : ela era muito engraçada, falavra milhões de palavrões, brincava com todo mundo. E era, sem dúvida, uma eterna apaixonada pelo marido, que aliás, ela chamava assim mesmo, de "Marido". A ponto do Daniel, quando pequeno, achar que o nome dele era "tio Marido".
Me lembro dela olhar para meu tio e dizer pra mim, sorrindo e brincando:
-
Olha o meu marido, ele não está bonito?
Os dois ficaram juntos durante 45 anos, entre namoro e casamento. Juntos mesmo, com uma cumplicidade rara, única e feliz.
Na madrugada de segunda feira, estávamos lá com eles, dando o apoio que conseguíamos para ele, para minhas primas, para todos. Eu não saberia descrever a dor dele e o vi chorar pela primeira vez na minha vida. Me senti tão impotente, diante dos dois, que gosto tanto, que foram meus padrinhos de casamento, que sempre estiveram perto de nós.
Eu nem tinha como chegar lá, estava à pé e liguei pra
Frou. Como amizade de verdade não tem hora, minha amiga me levou até o velóro às duas da manhã, sem pestanejar.
Valeu,
Frou.
Com todos lá, calados e acabrunhados, vi meu tio ao celular.
-
Os "meninos" estão chegando."Os Meninos" são os irmãos dele e de minha mãe, que ao todo formam oito : sete "meninos" e uma "menina".
E realmente, eles vieram do Rio, em cinco horas, enfiando o pé no acelerador.
Difícil descrever para vocês o que senti quando meus tios sairam do carro. Eram meus tios, duas primas, duas tias ( uma tão jovem que chamamos de "tiazinha"). Eram "os meninos".
A sensação de proteção foi imediata, foi como se uma força sobre humana tivesse chegado e tudo iria dar certo.
Eles e minha mãe ficaram ao lado do meu tIo Antonio Carlos
todo o tempo, literalmente. Simplesmente o seguiram para todo o lado, como se pudessem carregar um pedaço do seu fardo, tornando-o mais leve. Como se pudessem dividir sua dor, para que não fosse tão grande.
Não consigo descrever em palavras o que houve, mas foi uma prova de amor fraterno muito intensa e muito linda.
Meu tio falava sobre as pequenas coisas, as coisas ínfimas que deixamos que abalem as relações, as besteiras pelo que discutimos, como tudo isso é pequeno, como ele se arrpendia de não ter dito mais vezes que a amava. Eu acho que ele disse, de deiversas formas, mil vezes que a amava: ao ser atencioso ao extremo, ao fazer suas vontades, ao ser companheiro, ao estar presente, ao amar de verdade.
Perder a minha tia me fez olhar pras pessoas com outra perspectiva, me fez ver como preciso aproveitar o tempo que estamos juntos.
Tenho certeza que tia Sueli está em paz, está em um lugar melhor, divertindo os anjos com suas histórias, seu jeito e seus c**** inevitáveis e deliciosamente peculiares. Só quero que meu querido tio, minhas primas, todos eles, encontrem tranquilidade apesar da saudade.