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Não é difícil dizer porque me fascinei tão rapidamente pelo movimento Anarquista.
Porque esses militantes, ainda no início do século passado, já compreendiam as mulheres como cidadãs, como pessoas que podiam estudar e produzir.
Havia espaço pra intelectuais como Berta Luz ou Maria Lacerda de Moura ( essa última, escrevendo livros com títulos como "Amai-vos e não vos multipliqueis" ou "Fascismo – filho dileto da Igreja e do Capital ") usando pedagogia Ferrer e se destacando como professora e anarquista.
O incrível nesses caras é que dentro de uma estrutura escolar violenta, autoritária, dogmática e cerceadora, eles criaram escolas mistas, onde os alunos podiam frequentar laboratórios, debater e - maravilha das maravilhas - eliminaram as avaliações com notas.
As avaliações deveriam servir para que o aluno percebesse suas falhas, seus limites, não para que fossem excluídos e/ou que houvesse uma competição feroz, ou pior ainda, que fossem vítimas de vinganças de professores hostis.
Claro que agora, com todos os alunos enlatados na concepção de que é necessário haver nota, fica difícil nadar contra a maré. Estudar sem esse tipo de avaliação requer uma autonomia, uma independência que os alunos poucas vezes são estimulados a ter.
Meu primo, professor da faculdade de medicina em uma univerdidade federal concorridíssima, diz que tem ímpetos de matar a criatura, quando um aluno pergunta:
" isso cai na prova?"
Preferia queimar todas as provas, buscando um aluno que estudasse por outros motivos, como queriam meus anarquistas.
Há alguns anos, pensei em escrever um trabalho comparando a concepção de imprensa que eles tinham, com a veiculada na chamada imprensa burguesa. Porque os libertários tinham a certeza de que a imprensa era um meio de divulgação de idéias, que era uma ferramenta. Nunca tentaram entrar no teatrinho da "imparcialidade".
Não escrevi esse trabalho, mas participei de duas pesquisas que incluiam os ácratas e isso me deu a oportunidade de ficar horas no Arquivo Edgard Leuenroth, lendo sofregamente jornais como A Plebe, O amigo do Povo, A Batalha, entre tantos outros.
Melhor do que isso, impossível.
Bom, há algo melhor sim. melhor seria se essa perspectiva anarquista, esse estímulo a autonomia, a cooperação, a ação do coletivo, fosse desenvolvida por todos. Mas eu confesso que já não espero mais isso.