04 agosto 2008

Deus é poliglota







Já comentei aqui com vocês que sempre tive uma relação tranquila com minha fé, nunca entrei em elocubrações teóricas, nunca filosofei, nunca questionei. Por um simples e prosaico motivo: eu gosto de ter fé. Ponto.
Confesso que também tenho pouquíssima paciência com quem acaba por questionar, porque vamos e venhamos, quem leu um ou dois livros de Nietzsche, umas beiradas de Marx e vem pagar de intelectual, hum, não, não, nem escuto. Meneio a cabeça com um sorriso paralizado, pensando como posso correr dali.
Claro que inúmeras pessoas questionam, de forma sistemática e profunda, a existência de Deus. O bacana é que, em minha experiência, quanto mais intelectualizado, mais tolerante é o indivíduo e menos propenso a vomitar regras e dogmas.
E eu continuo com minha prática: topo discutir religião, claro, que é a relação humana com qualquer concepção de divindade, mas não topo discutir a existência de uma divindade.
Porque acho idiota, gente. Acho totalmente impossível de provar cientificamente.
Impossível, totalmente impossível.
E tô pouco me lixando, porque de positivista, não tenho nada, nada mesmo.
Afinal, ainda que a importância da Ciência seja inquestionável, atribuir a ela um suposto poder absoluto é um tremendo equívoco. Afimar, meramente, que algo é ou não "científico" não termina uma discussão.
Porque as teorias de Lombroso eram aceitas como científicas e inquestionáveis, teorias racistas que chegaram a subsidiar o nazismo, por exemplo. As estratégias de normatização social que procuravam exterminar com toda "degenerescência"- nem que para isso, os asilos ficassem abarrotados de pessoas que fugiam aos padrões sociais vingentes - tudo isso era assinalado como científico. Atitudes autoritárias com essas e outras, provocaram rebeliões populares como a Revolta da Vacina.
O fato é que o autoritarismo que reside em berrar verdades absolutas é tão tacanho em um cientista quanto em um religioso.
Nós da História já abandonamos o conceito de verdade absoluta há tempos, se alguém quiser ficar com ele, beleza.
Desde o ano passado, estou indo em uma igreja Presbiteriana. Gente, adoro. Fui com uma amiga da Unicamp e foi amor à primeira vista. Gostei da comunidade, gostei da profundidade das reflexões do pastor, gostei da tolerância.
Apesar de, enquanto professora, saber da tradição cultural dos protestantes históricos, a imagem dos pentecostais estava muito forte em minha mente.
O que é um grave erro conceitual, certo? Confundir os Históricos com os Pentecostais, enfiar tudo na mesma gamela.
Mas a imagem dos pentecostais está impressa na mídia, com o eterno trinômio: terno barato + leitura canhestra da Bíblia + voz rouca aos berros.
Nessa igreja que frequento, presbiteriana, fui conhecer pastores cultos, que foram professores, conversando sobre seu doutorado e utilizando a literatura como interface nas pregações.
E, é claro, a tolerância.
Vocês sabem, tolerância, relativização dos conceitos, isso é condição sine qua non para que eu efetivamente participe de algo.
A despeito de um querido amigo blogueiro que tirou um sarro camarada dessa minha nova tendência, acho que realmente achei um canto pra mim.
Agradeço a outro amigo, o Bruno, por ter me levado em uma maneiríssima festa de candomblé, agradeço a Cláudia por me explicar as minúcias do catolicismo, aos amigos de outras orientações, aos amigos budistas, aos espíritas e é claro, as amigas bruxas, né, Tati?
Todo mundo me explicou um pouco, me ensinou um pouco e eu gostei de todos.
Um amigo me contou que João XXIII disse, em relação a multiplicidade de religiões:
" o que nos une é maior do que o que nos separa." Escolhi outro caminho não por ser o melhor, muito menos o único. Escolhi porque foi a língua que preferi falar.
Mas tenho certeza que seria feliz em qualquer outra, porque estou convencida de que Deus é poliglota.

15 comentários:

  1. Vivien, deixei uma tarefa pra ti lá em casa, mas fica a teu critério aceitar ou não.
    Bjim.

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  2. que bonito, querida!!

    também acho que ele fala [e está] em todas as línguas e adoro ter fé - a minha, toda misturada, rs*

    beijocas

    MM.

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  3. Vivinha,
    Devo ter passado ao menos um pouquiiiiinho dessa fé. Não sou profunda conhecedora e seguidora cristã, nem pretenções para isso, a minha fé é sentir.A fé que tenho na existência DELE é inquestionável
    e inabalável.
    Bjs

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  4. Anônimo9:25 AM

    E Deus é tão poliglota que deve entender até quem não acredita em nada e/ou em tudo, o que dá na mesma, né? rs
    Frou
    :o)

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  5. ***Rosamaria, já vou lá. beijos.;0)

    ***Mônica, essa mistura é maravilhosa.beijos.;0)

    ***Mãe, não tenho dúvida que isso foi influencia sua. beijos.;0)

    ***Frou, ele tem fé nos sem fé.beijos.;0)

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  6. Vivien,
    acho que quanto mais certezas, mais dúvidas. Esse é o lado legal das religiões. Quando passa disso, vira fanatismo que é aliado da ignorância. Daí, é melhor sartar fora, né?
    Beijo, menina

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  7. Vivien, eu, por exemplo, sou ateu. Mas tenho uma regra básica: não encho o saco de ninguém com isso. De vez em quando brinco, mas nunca passo da brincadeira: sou ateu, graças a deus! Risos. E, para espanto de alguns, agradeço quando alguém me diz vai com deus, ou fica com deus... acredito que a pessoa está sendo sincera no desejo de algo bom para mim... Só perco a paciência quando alguém tenta me "provar" algo que não tem como, que é extremamente pessoal, quando tentam me converter. Acho que o grande lance da vida é o respeito pela opinião alheia, ainda que não concordemos com ela. Como diz uma amiga minha, ateu e vegetariano? Só falta ser gay... hehehehe

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  8. Eu não tenho fé por um simples e prosaico motivo: não consigo. Realmente não consigo acreditar. E também tenho certa preguiça em discutir o assunto Deus, embora ache que as religiões, sua história passada e sua influência atual sejam assuntos interessantíssimos.

    beijocas tolerantes!

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  9. Anônimo2:35 PM

    oi vivien, eu sou daquelas que leu um ou dois livros de Nietzsche, umas beiradas de Marx e não creio em igreja nenhuma. mas da fé não duvido nunca (até massagem de ovo da maya curto afinal das contas...). muito bonito seu texto. a minha grande crítica a religião é quando colocamos toda nossa esperança em algo que não dominamos, no desconhecido e assim paramos a vida que concretamente temos. quando em nome de um Deus que tanto sofreu pela humanidade abrimos mão de nosso prazer, de nossos sonhos. mas quando este Deus é o que dá força para seguir os próprios sonhos - como me parece seu caso - maravilhoso!
    ando com fé eu vou... beijo!

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  10. Anônimo2:42 PM

    Oi, Vivíssima,
    caramba! Sensacional esse seu texto! Ainda q menos assídua, sempre qdo conectada encontro textos ótimos, ótimos mesmo na blogosfera. Maravilha. Mas esse seu, arrasou. Tá tudo aí, tim-tim por tim-tim.
    A única coisa de q discordo é sobre a questão da intelectualidade como talvez o melhor caminho para ver o outro. Conheço muitos intelectuais q são realmente relativistas (ou assim se dizem) e respeitam a polifonia q vc evoca, mas muitos outros, não. E, de ouro lado, muita gente não-intelectualizada que é muito sábia (é, claro que há o contrário tb aqui, sem demagogias) e que sabe que Deus ou o mundo em que estamos, é poliglota. Beijão.
    E, mais uma vez, como gostei, gostei, gostei disso aqui! (pareceu o Chaves, o da TV)

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  11. Tenha ele o nome de Deus, Maomé, Buda, Alá.. O que importa, importou e sempre importará é que Ele nos escutará, seja qual for o nome que usemos para conversar com Ele.

    Beijos

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  12. ***Valter, todo fanatismo é tacanho, concordo com vc, beijos.

    ***Vladimir, penso como vc, detesto pessoas que ficam zumbindo em cima de mim, tentando me convencer disto ou daquilo.
    beijos.

    ***Meg, a fé é reconfortante, mas é íntima é não se obriga ninguém, certo?
    beijos tolerantes.

    ***Eliza, não penso que tenhamos que ler tudo, ter aquela cultura que se imaginava possível no Renascimento, por exemplo. Mas o que me incomoda é quando a figura leu uns poucos trechos de alguns autores e se advoga o direito de possuir a "verdade", saca?
    E eu adorei aquela sua história!!
    beijos.

    ***Sibila, eu sempre fico feliz em te ver por aqui!
    Eu acho que vc está certa, alguns intelectuais acabam se emaranhando no autoritarismo dos seus próprios egos.
    beijos.

    *** Sandra, assino embaixo! beijos.

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  13. Uia menina que post bonito e gostoso de ler.
    É por aí Vivien, o caminho mais fácil de seguir é aquele que temos como guia o Pai.
    A religião, não tem nome, importa é o que você encontra e te dá prazer, e te faz feliz.
    Um beijo meu bem.

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  14. Aninha, penso como vc, beijocas.;0)

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  15. Até algum tempo eu tinha certeza da minha fé em Deus mas nenhuma afinidade com qualquer religião.

    Ultimamente tenho prestado atenção no espiristismo, reencarnação, karma, mediunidade...

    Claro que as religiões são falhas! Afinal, foram criadas pelos homens!

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