30 maio 2012

A entrada de serviço


















Já estou pra escrever sobre "Domésticas, o filme" há algum tempo.
Particularmente, gosto do diretor Fernando Meirelles, que nesse caso, também apitou no roteiro. O que conheço do trabalho dele, gosto.
A ficha técnica me faz pensar em um grupo de classe média intelecutalizada, tentando ( nesse caso, conseguindo) olhar o mundo com outros olhos que não o do eixo Vila Madalena-Leblon. Saca os sobrenomes: Cecília Homem de Mello,Andréa Barata Ribeiro,André Abujamra...sem desmerecer o trabalho, sempre penso nisso um pouco como "estamos aqui na conversando na casa do papai e tivemos uma idéia bacana pra um filme".
Ok, ainda assim, dá pra sair um filme interessante. E olha, saiu mesmo.
A trilha sonora é demais: hiper brega, dá a cor necessária para o filme, que transita entre o humor ( às vezes, negro) e o drama de forma genial.
O filme retrata o cotidiano de diversas domésticas - cinco em especial - dando ênfase para a fala das mesmas, que funcionam praticamente como "depoimentos".
Essa opção narrativa por si só, já vale o filme: pois dá voz a essas mulheres anônimas e não ouvidas, desloca o olhar para outro ponto, mostrando o mundo sobre a ótica dessa mulheres invisíveis.
Quem quer que tenha feito a pesquisa necessária para isso, caprichou, porque a estrutura das frases e a idiossincrasia das histórias está perfeita.
"Eu gosto assim..de feijão, arroz, sabe assim, bem farinha?"
Não sei quanto a vocês, mas alguns anos em Caxias me fazem ver que essa frase esquisita é completamente real, usada de forma cotidiana por várias pessoas.
E o olhar de Graziella Moretto no final? Quando diz que "ninguém escolhe ser doméstica, é uma sina", é absolutamente doloroso, é um daqueles momentos que marcam o filme de forma indiscutível.
Todas as histórias se entrecruzam, mostrando um universo desconhecido para a classe média e que me lembrou muito uma pesquisa feita na USP.
Um jovem da graduação - nas Ciências Sociais, creio - se vestiu de faxineiro e transitou pelo campus durante semanas.
Conforme ele relatou em seu projeto, foi ignorado pela maioria dos colegas e por todos os professores. Simplesmente, não viram que era ele. O que acarretou, ainda que ele tivesse consciência de que uma pesquisa e por tempo determinado, ainda assim, acarretou uma incrível angústia e abalo da auto-estima.
Ele havia se tornado invisível.





****publicado originalmente em 2009.

21 comentários:

  1. Vivien você conhece um documentário da BBC sobre comportamento humano? Um dos testes que eles fizeram foi vestir um homem de terno e gravata e simular que ele passava mal na rua. Acredita que só uma pessoa parou para tentar ajudar.

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  2. ***Cecy, não conheço, se der, me mande um link.
    Mas vi um programa sobre propaganda que fazia o seguinte teste: colocava o mesmo garotinho sentado na calçada, sozinho.
    Quando o garotinho estava vestidinho e cheiroso, várias pessoas paravam e tentavam ajudar.
    Quando colocaram o mesmo menino maltrapilho, ninguém parou.
    O pior, o triste de tudo isso, é que "a gente se acostuma, mas não devia".
    Beijos, querida, é sempre um prazer te ver por aqui.

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  3. Também vi esse documentário e não fiquei muito surpreso, fiquei constrangido e decepcionado. A maioria do ser humano não é solidário nesse tipo de situação, e nem sempre por má vontade, pode ser por timidez, só pra citar um exemplo. Mas a grande maioria não é solidário por puro descaso mesmo, assim eu considero.
    E Vi, mais uma postagem que me remeteu ao passado. Acredita que ainda não assisti? Lembra que eu fiquei curioso e disse que ia pegar na locadora? Procurei uma vez, não tinha, depois caiu no esquecimento total. rs
    Ah, ia me esquecendo: "ou não" - claro.
    Beijo

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  5. ***Márcio, essa questão da solidariedade deveria estar na ordem do dia. A gente acaba ficando cada vez mais frio, e isso é péssimo, socialmente.
    Quanto ao filme, fica a dica, assista, vale a pena, é o máximo. Tenho certeza que vc vai adorar.
    "Ou não", hehehe.
    beijos.

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  6. Vivien vou procurar, eu sei que passou um tempo no Canal GNT. Vou ver se no site tem alguma indicação

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  7. Anônimo12:34 PM

    Eu assisti, eh divertido mas um pouco *acido*..Gosteo..bjuuu

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  8. ***Cecy, depois me conte o que achou.;0)beijos.

    ***Coisas de Menina, é uma realidade ácida, né? beijos.Volte sempre.;0)

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  9. Anônimo4:13 AM

    Oi Vivi,
    me inquieta muito a abismal diferença de mundos "Leblon-V. Madalena" (bairro em que moro)e nossa tchoptchura ignorância. Tenho uma amiga que freqüenta, é amigona mesmo de muita gente do Capão, bairro de periferia daqui. A pedido dela, certa vez me convidaram - permitiram - a ir numa festa lá. Já tinha batido uns papos com um dos líderes locais, que, sem hipocrisia, achei bem legal. Perdi a festa.
    O caso do cara pesquisador faxineiro mostra certa dureza do olhar acadêmico, situações de cegueira dos esclarecidos. Gabinetões. Experimentei(to) isso.
    Êta nóis!
    Bjs.

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  10. Valeu a dica! Vou procurar o filme. No meu trabalho, já me senti invisível algumas vezes, porque lido com pessoas que se acham "AS autoridades" e muitas vezes agem como se eu não estivesse ali. É mesmo horrível...

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  11. ***Sibila, me lembro da reação de um professor ( etudioso do movimento operário!!!) em relação às greves de trabalhadores da Unicamp. Seria cômico se não fosse trágico.
    Como vc disse, é a dureza do pensamento acadêmico, que parece ver poesia nas classes populares, quando elas são fonte e papel, mas quando respiram..hum...aí são outros quinhentos...rs
    beijos.

    ***Cláudia, eu imagino a sua cara pra eles....ahhaha....isso vale um post, heim?
    beijos.

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  13. Anônimo2:07 AM

    Esse filme é um dos meus favoritos. Adoro a Quitéria e os pelados artísticos. É da onde eu venho. Nunca fui doméstica mas bemque poderia ter sido (sem elogios, deve ser difícil pacas essa profissão). Adoro!!!E um beijão querida.

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  14. Vivinha
    Se vc recomenda, tenho certeza que é bom.
    Preciso ir mais vezes aos cinemas.
    Bjs

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  15. ***Charô, a Quitéria é demais mesmo. E concordo com vc, deve ser uma profissão ingrata.
    beijos.;0)

    ***Mãe, eu revi aquele dia, na Ju. Vc vai gostar, beijos.

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  17. Vivien, eu tenho o DVD e embora me divirta, fico triste com muitas cenas. Boa semana minha querida, fique bem. Bj

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  18. ***GlóriaFada, acho que a história toda é muito triste, beijocas.

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  19. Anônimo12:42 PM

    Hey professora!
    Sim, sempre dou um pulo no seu blog e ele esta maravilhoso.
    Agora vamos falar sobre Fernando Meirelles - Domesticas e afins.
    Um orgulho que tenho é ter conhecido Meirelles pessoalmente. Serio, foi uma coisa épica. Um dos dias do Festival de Cinema de Paulínia ele estava lá e serio UAU - o festival esse ano foi uma experiencia incrível, que irei levar para vida todo, serio valeu mais que qualquer palestra sobre "qual profissão segui" sai de lá com a mais clara certeza do mundo: Irei fazer cinema e YEAH! HADHASH
    Mas enfim, não tem diretor que mais me orgulho que Fernando Meirelles, e domestica é impecável.

    Aguardando seu retorno a escola (:

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  20. ***"Harry", quando eu era pequena, havia um desenho em que motos falavam...e havia um pequeno triciclo chaaato que repetia a exaustão:

    "eu te disse, não te disse? eu te disse..."


    rs


    é exatamente assim que me sinto, vc é talhado para o cinema, se joga.;0)

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  21. Nao deixe de assisitir a este fime:
    The Help
    A novel by American author Kathryn Stockett. T
    Vale a pena!

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