Semestre passado eu estava com aulas todas as noites, quando via a novela era em um ou outro sábado e ficava mais perdida que cego em tiroteio.
Agora estou com algumas noites livres e estou assistindo. Mas ainda não estou entendendo muitas coisas, talvez vocês possam me ajudar.
A principal delas é por que não existe um movimento grande contra a propaganda "pró porrada" que ele faz sistematicamente. E deveria ter, deveria ter.
A pancada parece ser educativa para o autor...me lembro de ter visto o pai da fulana que maltratava os avós apanhando, em outra coisa maravilhosa que ele escreveu. Assim, pai banana se redime e espanca a filha. Educa. Que beleza.
Nessa novela isso se repete.
Entendo que alguém irritado tente sair na mão com outro, é compreensível e é real.
Mas o que me deixa passada é ver que isso é colocado de forma educacional.
Exemplo: a sem noção da garota-que -não -me -lembro - o-nome continuava dando em cima do sacanão- que- trai -a- mulher- professora de teatro, personagem escondidinho. A tal garota bate boca com a cornélia e toma uns tapas, compreensível, porque ninguém gosta de ser corna.
Mas aí entra a pedagogia da porrada....a mãe da garota - Alguém sabe o nome do personagem da Ana Botafogo?? - coloca a filha em uma sala e solta a seguinte pérola:
- ninguém vai te bater, porque quem tem que te bater sou eu....
E soca pancada na sem-noção.
Essa foi uma das inúmeras cenas onde a pancada parece ter um valor educativo, pedagógico.
Ainda uma vez digo que não tenho leitura teórica sobre comunicação de massa, mas me interesso sobre o tema. Aí fica a hipótese: a trivialização, a banalização da violência doméstica já é um mal em si. Mas a demonstração disso como algo não só admissível, como recomendável, é asqueroso. E sério, e muito sério.
Ah, Manoel Carlos, você e seu Leblon idílico estão mesmo na contramão da história.
***** texto originalmente publicado em março de 2007.
******2009*******
Manoel Carlos do Leblon continua aquele. Em sua nova novela, Viver a Viva, a sua didática porrada insiste em continuar a ser uma estratégia para se controlar a filha agressiva. Porque é sempre filha, aliás. Outro ponto a ser observado. Nesse caso, uma surra de cinto dada pela personagem Tereza em sua filha Isabel, a pentelha.
Por hora, vamos apenas localizar o seguinte: em três novelas relativamente próximas, em um instrumento de comunicação de massa e em horário nobre, o teledramaturgo exibe cenas de espancamento.
Seria interessante haver uma discussão apropriada que comparasse a real inserção de campanhas anti-agressão fisica em contraponto a cenas de óbvia exaltação da mesma, dentro de obras de ficção.
Não se trata de negar a violência, mas se trata de discutir como esta aparece dentro do contexto da comunicação de massa. E se trata de perceber o estrago que cenas ridículas como essa podem fazer.