11 agosto 2008
Volto já
Queridos leitores e amigos, vou dar uma saidinha daqui, mas volto em breve.
Não se trata de nenhuma crise com a blogosfera, continuo adorando postar, mas tenho que colocar uns projetos em ordem.
Beijocas e todos.
04 agosto 2008
Deus é poliglota
Já comentei aqui com vocês que sempre tive uma relação tranquila com minha fé, nunca entrei em elocubrações teóricas, nunca filosofei, nunca questionei. Por um simples e prosaico motivo: eu gosto de ter fé. Ponto.
Confesso que também tenho pouquíssima paciência com quem acaba por questionar, porque vamos e venhamos, quem leu um ou dois livros de Nietzsche, umas beiradas de Marx e vem pagar de intelectual, hum, não, não, nem escuto. Meneio a cabeça com um sorriso paralizado, pensando como posso correr dali.
Claro que inúmeras pessoas questionam, de forma sistemática e profunda, a existência de Deus. O bacana é que, em minha experiência, quanto mais intelectualizado, mais tolerante é o indivíduo e menos propenso a vomitar regras e dogmas.
E eu continuo com minha prática: topo discutir religião, claro, que é a relação humana com qualquer concepção de divindade, mas não topo discutir a existência de uma divindade.
Porque acho idiota, gente. Acho totalmente impossível de provar cientificamente.
Impossível, totalmente impossível.
E tô pouco me lixando, porque de positivista, não tenho nada, nada mesmo.
Afinal, ainda que a importância da Ciência seja inquestionável, atribuir a ela um suposto poder absoluto é um tremendo equívoco. Afimar, meramente, que algo é ou não "científico" não termina uma discussão.
Porque as teorias de Lombroso eram aceitas como científicas e inquestionáveis, teorias racistas que chegaram a subsidiar o nazismo, por exemplo. As estratégias de normatização social que procuravam exterminar com toda "degenerescência"- nem que para isso, os asilos ficassem abarrotados de pessoas que fugiam aos padrões sociais vingentes - tudo isso era assinalado como científico. Atitudes autoritárias com essas e outras, provocaram rebeliões populares como a Revolta da Vacina.
O fato é que o autoritarismo que reside em berrar verdades absolutas é tão tacanho em um cientista quanto em um religioso.
Nós da História já abandonamos o conceito de verdade absoluta há tempos, se alguém quiser ficar com ele, beleza.
Desde o ano passado, estou indo em uma igreja Presbiteriana. Gente, adoro. Fui com uma amiga da Unicamp e foi amor à primeira vista. Gostei da comunidade, gostei da profundidade das reflexões do pastor, gostei da tolerância.
Apesar de, enquanto professora, saber da tradição cultural dos protestantes históricos, a imagem dos pentecostais estava muito forte em minha mente.
O que é um grave erro conceitual, certo? Confundir os Históricos com os Pentecostais, enfiar tudo na mesma gamela.
Mas a imagem dos pentecostais está impressa na mídia, com o eterno trinômio: terno barato + leitura canhestra da Bíblia + voz rouca aos berros.
Nessa igreja que frequento, presbiteriana, fui conhecer pastores cultos, que foram professores, conversando sobre seu doutorado e utilizando a literatura como interface nas pregações.
E, é claro, a tolerância.
Vocês sabem, tolerância, relativização dos conceitos, isso é condição sine qua non para que eu efetivamente participe de algo.
A despeito de um querido amigo blogueiro que tirou um sarro camarada dessa minha nova tendência, acho que realmente achei um canto pra mim.
Agradeço a outro amigo, o Bruno, por ter me levado em uma maneiríssima festa de candomblé, agradeço a Cláudia por me explicar as minúcias do catolicismo, aos amigos de outras orientações, aos amigos budistas, aos espíritas e é claro, as amigas bruxas, né, Tati?
Todo mundo me explicou um pouco, me ensinou um pouco e eu gostei de todos.
Um amigo me contou que João XXIII disse, em relação a multiplicidade de religiões:
" o que nos une é maior do que o que nos separa." Escolhi outro caminho não por ser o melhor, muito menos o único. Escolhi porque foi a língua que preferi falar.
Mas tenho certeza que seria feliz em qualquer outra, porque estou convencida de que Deus é poliglota.
01 agosto 2008
O Tempo não pára
Assisti "Cazuza" ontem. Já tinha visto no cinema, já tinha gostado e já tinha me desmilinguido de chorar.
(Não sou crítica de cinema, não tenho nem saco pra papos muito profundos, quando a pessoa começa a falar sobre a fotografia,
hummmm...durmo. Confesso: se a pessoa diz que o filme é "bárbaro" , eu tendo a não assistir, porque quem fala "bárrrrbaro" é sempre chato pra burro. E se gostar de Tarkowiski então.....zzzzzzzzzzzzzzz.................................)
Voltando ao filme: vou pelo óbvio, o Cazuza baixou no Daniel de Oliveira, só tem essa explicação. O garoto estava incorporado, a expressão, o tom de voz , o gestual, Cazuza, Cazuza puro.
Eu ainda acho que o Cazuza era um filhinho de papai chato pra diabo, mas gente, um artista com poucos. Gosto incrivelmente de praticamente tudo que ele escreveu e/ou cantou, me toca horrores. Já postei Exagerado outro dia, provavelmente eu coloque outras ainda, porque todo mundo merece Cazuza.
A angústia do tempo passado e perdido, o medo constante e irremediável da morte estão presentes de forma tão intensa no filme, que dói. Com isso, não posso e nem consigo negar, me identifico muito. Uma amiga uma vez me disse que tenho pressa de viver, acho que tenho mesmo. Acho que esse medo impulsiona essa pressa exagerada.
O Tempo Não Pára
Composição: Cazuza / Arnaldo Brandão
Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando uma agulha num palheiro
Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
Post publicado originalmente em novembro de 2006.