31 julho 2009

Tipos de Homens







Bom,tem o intelectual espirituoso, que é o meu favorito. Diferentemente do intelectual padrão, ele não se sente na obrigação de gostar de filme iraniano, não faz cara de conteúdo e não lê por obrigação.
É aquele cara que conversa com naturalidade, bom humor - mas humor na medida, não é um macaco pulando - sabe ser sagaz de um tanto que faz você pensar que ouvi-lo é uma delicia. Principalmente de manhã, antes do café, ainda com a cabeça no travesseiro.
Fala sobre política sem ser dogmático, tem uma relação de fé, mas nenhuma religião.

Outra opção da enquete era o sarado de academia.Um saco. Acorda e dorme olhando os bíceps, come coisas integrais, lê página de esportes. Não vai ao cinema, vê dvd em casa e tem preconceito contra cinema nacional, que não conhece.
Usa tênis dia e noite, traça as colegas de malhação e é um babaca de carteirinha.
Alguém aguenta isso?


A terceira opção era o artista em crise. Bom, tem quem goste, recebeu votos e tudo.Mas eu, particularmente, durmo só de pensar. Está em crise criativa, pinta ou escreve coisas incompreensíveis, assiste aos espetáculos de mil horas do Zé Celso Martinez Correia, jura que adora mímica e bebe vinho barato. Bebe vinho caro, quando tem grana, mas como nunca tem, encara um porcaria mesmo.É até gente boa, serve pra ser amigo ou pra apresentar pra aquela amiga desesperada, mas não dá pra perder cinco minutos não.
Geralmente, edipiano e profundo.Ou uma tentativa de ser profundo.

O militante boêmio seria, certamente, minha escolha há vinte anos. Naquela época, nada era mais sexy pra mim: olheiras, copo na mão e revolução no discurso.
Hoje eu poderia até ser amiga, mas acordar ao lado desse é coisa pra mulher militante e boêmia. E não sou nada disso há muito tempo.
Esse é o cara que anima a roda, carismático e romântico. Mas com validade vencida.


Tipo "alfa" provedor tem suas qualidades, pode ser gentil, cavalheiro e isso é bom. Mas vamos combinar, os "alfa" tem uma nódoa de um machismo tacanho que só sendo muito lerda pra aguentar.
O cara paga a conta e grita isso, não gosta de maquiagem e não gosta de ler. Quando compra um livro, está na lista dos mais vendidos.
Leva em restaurante caro, mas não é gentil com o garçom.Tipo muito estranho.


O tipo "beta" é aquela coisa meio Edu Guedes, saca? Um tanto quanto assexuado, assumindo de vez seu lado mulher, vê novela,chora, faz a linha sensível.
Se eu encontro um tipo assim, soco a criatura até virar gente.Só digo isso. Passo.



Geek rpgista: eu adoro. Em geral são engraçados, do tipo que pode ficar horas falando sobre seriados antigos ou sobre Alan Moore. É meio tímido, mas surpreende no momento certo. Não bebe, toma litros de fanta uva e tem um personagem há anos com o grupo que joga.Dá caixa inteira de Star Trek no seu aniversário e liga várias vezes por dia.


Como eu disse, o tema aqui é brincadeira e convido você a brincar comigo. Escolha um e descreva do seu jeito. Vou gostar de ler.

******* Esse post foi publicado originalmente no ano passado, após uma enquete com os(as) leitores(as) sobre "tipos de homens".

28 julho 2009

"Mudaram as estações, tudo mudou.."







Semana passada houve um encontro muito importante pra mim. Fui na casa da Di, uma querida amiga da Unicamp que eu não via há anos e reencontrei ano passado, acompanhada de Mara, outra amiga querida, com a qual eu já havia recuperado contato há tempos. Só faltou a Frou, que machucou o pé e ficou em Campinas.
Esse ano faz 20 anos que a gente se conhece. Mara e Di são de 88 e eu e Frou de 89. Mara me "adotou" quando eu era uma caloura deslumbrada e continua sendo minha eterna veterana.
As meninas moravam na mesma república, onde havia festas divertidas, onde conheci o pai do Daniel.
Sim, eu vou falar as meninas, claro, porque quando a gente se reúne, parece que nenhum desses vinte longos anos se passou.
A intimidade é a mesma, o humor implacável da Mara exatamente o mesmo, a delicadeza da Di imutável. Isso é absolutamente único.
Fiz bons amigos em alguns lugares que trabalhei. Mas olho pra trás, para os dois últimos lugares, que fiquei anos e só consegui fazer - no máximo - colegas de trabalho cuja amizade finaliza assim que as aulas acabam.
No almoço em São Paulo, houve espaço pra sessão remember - claro - mas houve espaço pra nossa vida atual, nossos alunos, nossos filhos.
Fiquei pensando que privilégio é poder ter amigas assim, cujas décadas podem ser praticamente minutos.
Acho que a gente perde pessoas, por conta do cotidiano, até do descuido. Eu me esforço pra manter amigos assim por perto, porque no fim das contas, é isso o que importa.

24 julho 2009

Os monstros, o mico e os monges.







Ontem fui dar uma volta pela Liberdade. Achei o bairro caído, sujo, diferente das últimas vezes que estive por lá. O tal "Cidade Limpa" do Kassab certamente não foi bom para o bairro, que teve de retirar os letreiros em japonês, minando um pouco o clima do lugar. Pena.
Como eu e Daniel somos fãs da culinária japonesa, chegamos secos pra entrar em um restaurante. Rodamos bastante, tropeçamos em alguns que, segundo o Daniel, pareciam a ala B da Yakuza, onde ele imaginou um shushi man gordão, limpando o facão na camiseta suja e cuspindo.
Piadinhas nojentas à parte, passamos por alguns que pareciam caros: havia os caros e os esquisitos. Andando um pouco, achamos um mediano e entramos.
O restaurante era simpático, ninguém falava português e eu me entendi quase com mímicas com a simpática garconete.
Perguntei se o prato era suficiente pra duas pessoas, ela disse um monte de coisas com sons incompreensíveis para mim, no qual identifiquei "arroz". Ok.
Entendi que ela sugeriu siri. Siri com gengibre. Toda feliz da minha vida, pedi.
Chegou uma travessa cheia de yakimech, mas estava realmente sem graça. Daniel, verde de fome, resmungava:
- pô, virado eu como em casa...
Um pouco depois chegaram os siris. A travessa trazia os monstros inteiros, cheios de milhares de pernas, junto com duas pinças ( alicates?) em formato de pata.
Pedi para que ela nos ensinasse, ela pegou a pinça, toda torta e apertou um pedaço de um dos monstros. A carne ficou ali e eu não sabia como tirar. Com a mão, ela disse, ou melhor, mostrou.
Eu tentei, juro, mas as velhinhas da frente me encararam tanto que tive certeza de estar fazendo errado.
A última vez que comi siri, assim, inteiro, foi em um sítio, em uma rede. Parafraseando Rubem Braga ao falar de manga: pra comer direito, tinha que sujar até a lâmpada.
Eu esperava uma super casquinha e me vi em frente de cascas pernudas duras. Ai.
Pagamos, mandamos embrulhar e saímos com cara de nada.
Como eu não havia identificado nada no cardápio, achei que era comida de alguma região específica do Japão...sei lá, o equivalente a buchada de bode aqui, algo assim.
Descobri que o restaurante era chinês e eles estavam há quatro meses no Brasil.
Saí com fome.
Pouco tempo depois, passamos em frente a um templo budista. Monges davam bençãos e tocava uma música super envolvente, com uns mantras, interessante mesmo.
Os monges davam bençãos, refeições, logo uma pequena multidão pacífica se aglomerava ali. Infelizmente, não conseguimos entrar no Templo, pois isso só seria possível mais tarde.
O Museu da Imigração ainda estava fechado. Continuamos caminhando, vendo as lojas com milhões de objetos diferentes e Daniel apontou um porãozinho meio macabro: um lugar para acender velas na igreja das Almas dos Enforcados. Não riam, parecia filme de terror e quase corri.
Depois foi encarar o metrô e ir pra casa do meu irmão.
*****
Agora, me digam uma coisa, como viver em uma cidade cujas escadas rolantes já são mais rápidas do que as outras ( eu juro que são!) e você ainda tem que ficar à direita, porque o povo sobre correndo as mesmas escadas?
Cara, juro, eu me estresso só de olhar.
Mas foi bom. Depois conto mais, inclusive o reencontro com amigas queridas da Unicamp, no nosso "aniversário de vinte anos de amizade".

16 julho 2009

Harry adolescente






Chega a ser comovente ver Harry Potter no cinema. Com a vantagem de conseguir o mesmo grupo de atores durante toda a saga, o filme faz com que a gente exclame interiormente, tal qual as velhas tias: "nossa, como eles cresceram...".
É bacana.
Comecei a ler os livros sobre os pequenos e divertidos bruxos para Daniel, quando ele era pequeno. Como já comentei aqui, ele passou a ler sozinho e posteriormente deixou de gostar desses livros, mas eu continuei e li todos. Gosto realmente.
Como gosto de vários outros infanto-juvenis, como Os Meninos da Rua Paulo e Tom Sawyer.
Vi todos os filmes com minha prima Michelle, que chamo de filha e com a qual tenho milhares de coisas em comum, inclusive a simpatia por Hogwarts.
O filme foi uma adaptação bastante interessante, como os anteriores, mas deixa a desejar na cena final, completamente impactante no livro.
O final, repleto de tramas em aberto, deixa o espectador - assim como deixou o leitor - com a curiosidade a mil. Não conto aqui, pra não dar spoiler, ok?
As cenas de quadribol continuam dinâmicas de deliciosas - ainda aguardo um jogo virtual assim...- Snape continua ambiguo e macabro, mas as tramas são menores em relação aos outros livros, por dar espaço ao momento "love story" adolescente.
Mas fica bonitinho, não cai na pieguice, e acho que fica inevitável lembrar das agruras dos "amores eternos" que assolam nossa adolescência.
No mais: destaque para as crises de Draco Malfoy, que refletem bem alguns dilemas adolescentes em relação às expectativas dos pais e mentores e em relação à sua própria identidade.
Além disso, novamente a Penseira de Dumbledore, local para se derramar as lembranças, guardadas em frascos e nas quais se pode mergulhar é absolutamente fascinante. Já estava presente no livro anterior e tem função preponderante no último - e imperdível - da saga.
Helena Bonham Carter como Belatrix Lestrange está absolutamente perfeita: louca, louca e louca.
Assistam e se divirtam, beijos.

08 julho 2009

Será que fizemos as perguntas certas?

Conversando com algumas pessoas, percebi que uma fala se repetia: a culpa da imprensa em relação a degradação pública de Michael Jackson. Fiquei pensando sobre isso.
Concordo sim, sem dúvida, mas comecei a relativizar.
Quando meus amigos diziam "os jornalistas fizeram isso e aquilo", não consigo me furtar de pensar que os jornalistas, salvo raras exceções, são funcionários como outros, ou seja, cumprem ordens e fim. Quem imagina uma grande liberdade de ação descarta o poder do capital do dono dos meios de comunicação, cujo desejo é, em última instância, lucro e mais lucro.
Noticia ruim vende bem, escândalo vende mais ainda. Alguns chutam o pau da barraca, como os famosos tablóides ingleses, chulos e fantasiosos. Outros jogam uma ou outra m*** sobre uma celebridade e esperam o resultado.
Amy Winehouse vende mais com notícias dos shows ou quando corre de soutien pela rua?
Fico me perguntando se todas as reportagens que vimos sobre as sucessivas e loucas transfornações de MJ fizeram todas as perguntas possíveis.
Porque eu sei que ele se transformou, sei que se escondia com máscara, mas não sei se foi investigado se a família o questionava sobre isso, não sei se foi investigado se um médico trasnfigurar uma pessoa à exaustão era ético.
Se ele pirou em público, além de fofocar sobre isso, o que exatamente foi perguntado?
Porque eu nem vou dar pitaco sobre seu branqueamento. O que sei eu sobre o que significa ser negro dentro de uma sociedade WASP? Será que essa massificação de um tipo de beleza foi expressa apenas por seu pai maluco?
Se eu não consigo assumir meu cabelo cacheado e faço escova, se preciso disso pra me sentir melhor, o que eu posso dizer sobre outras transformações?
Posso apenas verificar que MJ perdeu o senso de limite e que, efetivamente, não conseguia se enxergar.
Mas se o jornalista faz o que o patrão manda e se o patrão quer lucro a qualquer preço...quem deu esse lucro?
Enquanto continuarmos consumindo a decadência das pessoas, nem só a imprensa marrom vai suprir nossa sanha, mas a imprensa "convencional" vai fazer o mesmo.
No vídeo abaixo, cenas do último ensaio.


(Me enganei ou ouvi trechos do famoso discurso "I Have a dream" do reverendo Martin Luther King ao fundo? Vejam e me contem.)